O mico do doutor Fachin
Por BEPE DAMASCO, jornalista, editor do "Blog do Bepe"
"Poucas vezes se viu uma autoridade da corte suprema brasileira metido em situação tão constrangedora como a do ministro Fachin. Horas depois de ter validado toda sorte de manobras e atropelos regimentais e constitucionais de Eduardo Cunha à frente do processo de impeachment contra a presidenta Dilma, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu, através de ofício enviado ao STF, o imediato afastamento de Cunha da presidência da Câmara dos Deputados e a cassação de seu mandato parlamentar.
Uma passada d'olhos nas razões apresentadas por Janot (um calhamaço de 139 páginas) basta para sentir vergonha alheia do ministro Fachin. No documento, o procurador-geral mostra, com riqueza impressionante de detalhes, que Cunha colocou seu mandato a serviço do achacamento de pessoas físicas e jurídicas, bem como da coação e da pressão sobre parlamentares, testemunhas de processos e adversários no submundo dos negócios escusos, no qual atua com desenvoltura há décadas.
Percebe-se, então, a gravidade do voto de Fachin. Ele simplesmente ignorou tudo que já é público e notório sobre a conduta de Cunha na presidência da Câmara e concedeu-lhe uma espécie de carta branca para seguir adiante com suas barbaridades na aplicação do rito do processo de afastamento da presidenta.
O ministro proferiu um voto 100% favorável a Cunha e 100% desfavorável ao bom direito, à causa republicana e democrática. Fachin, a rigor, valida a coação sobre deputados, denunciada por Janot, como método legítimo de ação política. Chocante.
Quando coonestou o voto fechado de Cunha, o ministro objetivamente agrediu tanto o interesse público (as pessoas têm o direito de saber como procedem os eleitos pelo povo) como o regimento da Câmara e a Constituição, pois eleição de comissões de impeachment não se inclui entre as excepcionalidades regimentais e constitucionais para o anonimato do voto.
É tudo muito estranho. Se desde sempre considerava que Cunha vinha tocando o processo do impeachment de forma irrepreensível, por que concedeu a liminar na ação do PCdoB ? Teria a pressão dos fascistas na porta de sua casa [na véspera] atemorizado o ministro ? O que que Fachin aconselha que seja feito com manifestações anteriores suas favoráveis ao voto aberto ? Que sejam atiradas na lata do lixo ?
O resumo do voto de Fachin é também uma afronta ao bom senso, capaz de fazer corar o menos informados dos cidadãos :
"Poucas vezes se viu uma autoridade da corte suprema brasileira metido em situação tão constrangedora como a do ministro Fachin. Horas depois de ter validado toda sorte de manobras e atropelos regimentais e constitucionais de Eduardo Cunha à frente do processo de impeachment contra a presidenta Dilma, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu, através de ofício enviado ao STF, o imediato afastamento de Cunha da presidência da Câmara dos Deputados e a cassação de seu mandato parlamentar.
Uma passada d'olhos nas razões apresentadas por Janot (um calhamaço de 139 páginas) basta para sentir vergonha alheia do ministro Fachin. No documento, o procurador-geral mostra, com riqueza impressionante de detalhes, que Cunha colocou seu mandato a serviço do achacamento de pessoas físicas e jurídicas, bem como da coação e da pressão sobre parlamentares, testemunhas de processos e adversários no submundo dos negócios escusos, no qual atua com desenvoltura há décadas.
Percebe-se, então, a gravidade do voto de Fachin. Ele simplesmente ignorou tudo que já é público e notório sobre a conduta de Cunha na presidência da Câmara e concedeu-lhe uma espécie de carta branca para seguir adiante com suas barbaridades na aplicação do rito do processo de afastamento da presidenta.
O ministro proferiu um voto 100% favorável a Cunha e 100% desfavorável ao bom direito, à causa republicana e democrática. Fachin, a rigor, valida a coação sobre deputados, denunciada por Janot, como método legítimo de ação política. Chocante.
Quando coonestou o voto fechado de Cunha, o ministro objetivamente agrediu tanto o interesse público (as pessoas têm o direito de saber como procedem os eleitos pelo povo) como o regimento da Câmara e a Constituição, pois eleição de comissões de impeachment não se inclui entre as excepcionalidades regimentais e constitucionais para o anonimato do voto.
É tudo muito estranho. Se desde sempre considerava que Cunha vinha tocando o processo do impeachment de forma irrepreensível, por que concedeu a liminar na ação do PCdoB ? Teria a pressão dos fascistas na porta de sua casa [na véspera] atemorizado o ministro ? O que que Fachin aconselha que seja feito com manifestações anteriores suas favoráveis ao voto aberto ? Que sejam atiradas na lata do lixo ?
O resumo do voto de Fachin é também uma afronta ao bom senso, capaz de fazer corar o menos informados dos cidadãos :
1) Cunha tem legitimidade e imparcialidade para conduzir o processo contra a presidenta ? Resposta : sim;
2) A comissão pode ser eleita com votação fechada ? Resposta : sim;
3) A eleição da comissão pode se dar através de chapas alternativas ? Resposta : sim;
4) O Senado da República tem prorrogativas para interferir no processo ? Resposta : não.
A indicação de Fachin para o STF gerou uma onda de protestos do mundo conservador, pois era visto como um "esquerdista" que usaria sua cadeira no Supremo para favorecer o PT. Seu passado como advogado de movimentos sociais atemorizava os reacionários. Ninguém poderia supor que, em tão pouco tempo, ele se tornaria ídolo dos golpistas, conforme muito bem apontou o Paulo Nogueira, no "Diário do Centro do Mundo". A essa altura, o ministro deve estar estourando um champagne para comemorar que jamais será chamado de petista.
No final da noite de quarta-feira, um post do meu amigo Rodrigo Concli nas redes sociais atrapalhou o meu sono. Indagava ele : "Quando é que o PT vai aprender a indicar ministro para o Supremo ?" Rodrigo, na boa, nunca. O republicanismo imbecil não deixa."
FONTE: escrito por BEPE DAMASCO, jornalista, editor do "Blog do Bepe". Publicado no portal "Brasil 247" (http://www.brasil247.com/pt/colunistas/bepedamasco/210109/O-mico-do-doutor-Fachin.htm).
A indicação de Fachin para o STF gerou uma onda de protestos do mundo conservador, pois era visto como um "esquerdista" que usaria sua cadeira no Supremo para favorecer o PT. Seu passado como advogado de movimentos sociais atemorizava os reacionários. Ninguém poderia supor que, em tão pouco tempo, ele se tornaria ídolo dos golpistas, conforme muito bem apontou o Paulo Nogueira, no "Diário do Centro do Mundo". A essa altura, o ministro deve estar estourando um champagne para comemorar que jamais será chamado de petista.
No final da noite de quarta-feira, um post do meu amigo Rodrigo Concli nas redes sociais atrapalhou o meu sono. Indagava ele : "Quando é que o PT vai aprender a indicar ministro para o Supremo ?" Rodrigo, na boa, nunca. O republicanismo imbecil não deixa."
FONTE: escrito por BEPE DAMASCO, jornalista, editor do "Blog do Bepe". Publicado no portal "Brasil 247" (http://www.brasil247.com/pt/colunistas/bepedamasco/210109/O-mico-do-doutor-Fachin.htm).
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