terça-feira, 20 de março de 2012

FX-2: A TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA É O NÓ

Rafale
LEILÃO DE CONHECIMENTO. A TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIA É O NÓ

“Adiado repetidamente desde o governo Fernando Henrique Cardoso, o projeto FX 2, de compra de novos aviões de caça para a FAB, passa por nova fase de disputa entre as empresas finalistas. A transferência de tecnologia é o nó

Por Thais de Luna, do “Correio Braziliense”

O processo de modernização da Força Aérea Brasileira (FAB), o conhecido Projeto FX 2, consiste em mais do que simplesmente comprar aeronaves que reforcem o sistema de defesa aérea do país. Após três anos no limbo, ao retomar — em 2006 — o processo de compra, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou: as únicas empresas aceitas na disputa seriam as que transferissem, integralmente, a tecnologia de fabricação de seus aviões para o Brasil.

Isso significa ter acesso aos métodos e materiais de produção, aos códigos-fonte que programam os aparelhos, ao conhecimento integral para executar todos os passos que permitam elaborar um caça do tipo no país. Diversas empresas aceitaram essa condição — embora algumas com ressalvas — e entraram no páreo. E as três finalistas, a sueca Saab, a norte-americana Boeing e o consórcio francês Rafale International, não veem a hora de o mistério de "quem será a vencedora" acabar.

Estima-se que a presidente Dilma Rousseff encerre essa longa novela até maio, novo prazo previsto para o anúncio da empresa que vai vender 36 caças para o Brasil.

O prazo parece ser respaldado pelo ministro da Defesa, Celso Amorim, ao sinalizar que a escolha deve ser divulgada até o início do próximo semestre. Com a proximidade cada vez maior da decisão de quem vai vender as aeronaves de combate para o país, as três companhias que estão no páreo decidiram intensificar suas manifestações de interesse no Projeto FX 2, com visitas a Amorim e a reafirmação do compromisso de repassar tecnologia ao Brasil.

SUECOS

Entre essas três corporações, a que vem agindo de maneira mais incisiva atualmente é a Saab, que concorre no FX 2 com o caça Gripen NG. Na semana passada, o presidente da empresa, Håkan Buskhe, acompanhou o presidente do Parlamento sueco, Per Westerberg, em visita ao Brasil.

Buskhe aproveitou a oportunidade para conversar com o “Correio” sobre como a parceria com a FAB poderia beneficiar o país sul-americano. "Nós oferecemos transferência de tecnologia completa, pois não acreditamos em apenas enviar caixas fechadas para nossos parceiros comerciais. Nosso projeto consiste em fazer com que o Brasil seja responsável por 40% do desenvolvimento das aeronaves, por 80% da fabricação das estruturas e que a integração, inclusive de dados, seja completa", descreveu (leia abaixo “Três perguntas para Håkan Buskhe, presidente da SAAB”).

Por isso, sustenta, a parceria com a FAB e a Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer) será um sucesso. "Vamos enviar os códigos-fonte dos sistemas dos aviões e trabalhar juntos. Desse modo, Brasil e Suécia vão, inclusive, dividir a propriedade intelectual sobre os caças", assinalou Buskhe.

Para ele, o grande diferencial da Saab para a Boeing e o consórcio Rafale International é o fato de que o grupo sueco "não está vendendo apenas um produto, mas um projeto a longo prazo". Para iniciar esse processo, a companhia, inclusive, desenvolveu uma parceria com o “Centro de Pesquisa e Inovação Sueco-Brasileiro” (CISB), com o objetivo de apoiar a inscrição de trabalhos de cientistas brasileiros nas áreas de segurança e defesa a fim de obterem bolsa de estudos do programa “Ciência sem Fronteiras”, do governo federal.

FRANCESES

A “Rafale International”, que pretende vender para o Brasil os caças Rafale F3 — fabricados pela Dassault — tem adotado estratégia semelhante à da equipe sueca para conquistar o apoio de pesquisadores do Brasil. "A parceria inclui transferência tecnológica irrestrita, que tem o aval do presidente francês Nicolas Sarkozy. Isso será possível devido ao fato de a França ser, ao lado dos Estados Unidos, um dos dois países no mundo ocidental que domina de forma autônoma todas as tecnologias avançadas necessárias para desenvolver sozinho uma aeronave de combate", informou o grupo, em comunicado.

O consórcio, que pretende treinar e aperfeiçoar os profissionais da indústria para que recebam a tecnologia oferecida, fez como a Saab, e iniciou trabalhos conjuntos com universidades, como a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), para a elaboração de projetos de pesquisa e desenvolvimento nos setores de educação e ciências espaciais.

NORTE-AMERICANOS

Por sua vez, a Boeing, concorrente com a aeronave F/A-18E/F Super Hornet, ressaltou que a parceria EUA-Brasil no setor militar também beneficiará as áreas de energias alternativas e biocombustíveis. "O FX 2 não é apenas uma competição sobre a venda de um avião. Trata-se de uma parceria de longo prazo que durará décadas e com a qual a indústria brasileira vai ampliar sua posição no mercado global", determinou o vice-presidente de Desenvolvimento de Negócios Internacionais para a Europa, Israel e as Américas da empresa, Joe McAndrew, ao Correio.

Quanto à suspensão norte-americana da compra de um lote de 20 Super Tucanos da Embraer, o embaixador dos EUA, Thomas Shannon, negou que a medida esteja ligada ao FX 2. "A decisão foi tomada em função de problemas internos da Força Aérea dos Estados Unidos", explicou ao jornal “O Estado de S. Paulo”. [A Boeing] é o único caso em que há relutância para maior transferência de tecnologia.

PROGRAMA FX/FX-2

O plano de reequipamento da FAB foi desenvolvido sob o nome de “Programa FX” durante o governo de Fernando Henrique Cardoso. As empresas que concorreriam no processo, inclusive, já haviam sido selecionadas quando o sucessor na presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, adiou a seleção com a justificativa de que precisava fazer ajustes no orçamento e focar em outras questões consideradas mais importantes, como os projetos sociais.

O processo foi retomado em 2006, com o nome de “FX 2”, e sofreu uma série de alterações, incluindo a exigência do direito de produzir os caças, sob licença, no Brasil e exportá-los na América do Sul. Os gastos estimados subiram de US$ 700 milhões para cerca de US$3 bilhões. Em 2009, Lula chegou a anunciar sua preferência pelas aeronaves francesas Rafale, mas, no fim das contas, deixou a decisão final nas mãos de Dilma Rousseff. Cabe a ela, agora, dar fim a essa história.

TRÊS PERGUNTAS PARA HÅKAN BUSKHE, PRESIDENTE DA SAAB

Gripen NG
Para a Saab, qual é a importância de ter o Brasil como parceiro comercial?

O Brasil tem sido um mercado importante para a Suécia há cerca de 100 anos. Cerca de um dos maiores centros industriais suecos é em São Paulo. Temos tradição de trabalhar em parceria com brasileiros. A Suécia tem população de 9,6 milhões de pessoas e, para que nossas indústrias se desenvolvam ainda mais com mão de obra qualificada, precisamos recorrer à colaboração com outros países.


Não conseguimos manter nossas companhias internacionais apenas na Suécia, precisamos crescer. E as relações com o Brasil, que é um país já inserido no mercado global, beneficiam esse desenvolvimento para nós e para a indústria brasileira.

--Como é possível usar a tecnologia militar no desenvolvimento de tecnologia civil, inclusive na área de aviação comercial?

Nós não fazemos apenas aeronaves militares, mas também sistemas relacionados, como aeroportos e administração de tráfego aéreo. Isso é base tecnológica que pode ser usada na aviação comercial, por exemplo. Nossos aviões são feitos de materiais leves, que, consequentemente, reduzem o consumo de combustível.


Isso é outro fator que, futuramente, a Embraer pode utilizar em suas aeronaves civis. Há outras características, no entanto, que realmente levantam esse questionamento da possibilidade de usar a tecnologia militar no setor civil. Um exemplo de que isso pode ser aplicado no dia a dia das pessoas é o “airbag” (dispositivo de proteção) presente nos carros. Ele começou a ser usado nos aviões após notarmos que quando o piloto precisava ejetar seu assento, caso a aeronave apresentasse problemas, ele acabava se ferindo com os cacos do vidro da parte da frente da cabine.

--Qual é o interesse da Saab em desenvolver parcerias com as universidades brasileiras, ajudando no programa “Ciência sem Fronteiras”?

No “Centro de Pesquisa e Inovação Sueco-Brasileiro” (CISB), queremos juntar empresas e universidades para trabalharem juntas no desenvolvimento de tecnologia. Garantimos o financiamento de bolsas de estudo. Queremos encorajar o trabalho coletivo, para que as nações se integrem.


Na Suécia, temos cerca de 10 mil mestres e pós-doutorados na área científica. Por isso, acreditamos que promover a troca de conhecimento, ao oferecer 100 bolsas de estudos para universitários brasileiros com bons projetos no setor de indústria, de tecnologia e de energia, será positivo para os dois países. A ideia é que esses estudos sejam viabilizados pelas companhias, agregando o conhecimento dos estudantes com a estrutura das empresas.”

FONTE: reportagem de Thais de Luna, do “Correio Braziliense”  (http://www.defesanet.com.br/fx2/noticia/5204/Leilao-de-conhecimento---A-transferencia-de-tecnologia-e-o-no) e  (http://www.defesanet.com.br/geopolitica/noticia/5206/Tres-perguntas-para-Håkan-Buskhe--presidente-da-Saab) [imagens do google adicionadas por este blog ‘democracia&política’].

7 comentários:

iurikorolev disse...

Eu já perdi a paciência para acompanhar este malsinado FX.
Novela que se arrasta há 13 anos.
E não sei como as empresas fornecedoras ainda a têm, ainda mais para uma encomenda pifia como essa.
A USAF quando encomenda compra mais de 1.000 caças.
Os caras querem TODA a tecnologia para comprar 36 caças...
Acho ridículo.

Probus disse...

O interessante nisso tudo é a exclusão do EXCELENTE Pacote Russo do FX-2, justificado por falta de "clareza" no repasse da tecnologia, como se França(Rafale, três componentes AMERICANOS), Suécia(inúmeros componentes não suecos) e EUA(conhecido larápio do mercado bélico na quebra de contratos) fossem claros...

A "andorinha" do Wen Jiabao tem um ronco assustador... o tal do Mighty Dragon J-20 vai abalar as estruturas de muito ENTREGUISTA braZileiro, do tipo JUNITI SAITO...

Militaire - J 20 - 2012 02 27 - 歼20 机动 非汉魂版本

http://www.youtube.com/watch?v=RxfncfOCvPk

歼20 (J20): Combat Maneuver Tests at Low Altitude - 2012.02.26 (HD720p)

http://www.youtube.com/watch?v=E-zL42UKrnI

J20:第71次公开测试飞行 - 2012年02月27日

http://www.youtube.com/watch?v=t--j2UrnlsQ

- - - - -

19/03/2012: General assegura: ditadura militar, “nunca mais”

Em palestra perante um auditório de extrema direita e de dirigentes da TFP, o comandante militar do Sudeste, general Adhemar da Costa Machado Filho afasta a possibilidade de intervenção militar para barrar o desenvolvimento democrático.

http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_secao=1&id_noticia=178533

Unknown disse...

Iurikorolev,
Realmente, essa novela se arrasta por tempo demasiado. Caça de 1ª linha é item indispensável de defesa. Não devemos ficar tanto tempo com nossa casa Brasil sem porta (item importante de defesa, mesmo em rua tranquila).
A encomenda brasileira não será "pífia". Comprar 36 caças é raríssimo hoje no mundo. Além disso, há necessidade de aquisições adicionais, pois os FX-2 deverão substituir os cerca de 50 F-5M e 12 Mirage 2000. Falou-se até no total de 136.
As exigências que o Brasil está fazendo quanto a acesso à tecnologia são normais pelo mundo afora. Não são novidade, nem absurdas. O ridículo era quando antes comprávamos sem exigir offset, como todo o mundo exigia. Os vendedores ficavam felizes, mais ricos e debochando da nossa ingenuidade.
Maria Tereza

Unknown disse...

Probus,
Também tenho admiração pela superior qualidade aerodinâmica e desempenho de vários caças russos. Inclusive, de menor custo unitário. Desconheço os motivos da exclusão deles da concorrência FX-2. Uma hipótese é que tenha sido causada por alguma incerteza na continuidade e completeza do apoio logístico ao longo de todo o ciclo de vida (até 2050, superior a 40 anos, como no caso dos Mirage III e F-5 da FAB).
Maria Tereza

Probus disse...

Maria Tereza,

1) Porque o BraZil insistir numa licitação COMPLETAMENTE desatualizada, visto que, até estes três caças da OTAN já sofreram atualizações??

Observe: Porque os ianques genocidas não nos oferecem um NAe recheado de Boeing EA-18G Growler em troca de óleo????

2) Porque insistir em caças de QUARTA GERAÇÃO se já existem OFERTAS de Projetos de caças de QUINTA GERAÇÃO no mercado??

3) Será que ninguém enxerga que o BraSil NÃO tem tempo hábil para FABRICAR "sua" DISSUASÃO aqui e, ainda, terá que colocar na ATIVA estes caças???
Daqui a 20, 30 anos?? TOT é EXCELENTE, mas...

Eu, particularmente, estou de ouvidos atentos às tais "COMPRAS de OPORTUNIDADE" do meu heroi Celso Amorim e, (na dúvida, não ultrapasse) quando o Vladimir Putin assumir o comando da Rússia. Afinal, o Celso Amorim escapa assim de qualquer pressão, onde TUDO e TODOS os Equipamentos Bélicos pelo MUNDO afora, USADOS ou NOVOS, poderão ser COMPRAS de OPORTUNIDADES.
Sem contar que o Putin NÃO vai deixar o BraSil(um BRICS) sob a TUTELA dos Armamentos da OTAN. Eu lembro até uma frase do LULA:

"Estes caças ainda virão para o BraSil de graça!!"

4) EXATO Maria Tereza, o Custo/Benefício dos caças russo e o "desempenho" é muito superior, além de serem de caráter "Compra Estratégica Bélica" entre BRICS, então, os caças russos...

5) Portanto, se os motivos da exclusão dos russos da Licitação do FX-2 não está clara, o Brigadeiro JUNITI SAITO, em nome da SOBERANIA NACIONAL e, de seu ALTO CARGO de SEGURANÇA, deveria deixar BEM claro aos CIDADÃOS este assunto em Plenário. Talvez, o LUIZ MARINHO, o ALOIZIO MERCADANTE, o PAULO SKAF, o CEL OLIVA MERCADANTE, o FREDERICO CURADO e o SAMI HASSUANI possam contribuir na EXPLANAÇÃO do Brigadeiro supra a nação.

6) Quanto a LOGÍSTICA russa: Eles vendem para muitos países do UNASUL, um dos seus maiores cliente é a VENEZUELA. Fora isso, a Rússia é o segundo maior exportador de armas bélicas no mundo, seu maior cliente é um BRICS, a Índia, onde tem inúmeros contratos e, está negociando com a CHINA(outro BRICS) um grande contrato de caças Sukhoi Su-35S

Maria Tereza, por favor, os Mikoyan Gurevich MiG-21 são um sucesso até hoje, voam ainda em muitos países e, seu sucessor é o FTC-2000, onde a aerodinâmica e aviônica do MiG-21 foi toda atualizada, copiado dos russos em reversa pelos chineses.

GAIGC FTC-2000 advanced jet trainer

http://www.youtube.com/watch?v=y2Pq074AK4g

China JL-9 山鹰教练机 FTC-2000 中国空军

http://www.youtube.com/watch?v=aHt9--J5axk

Unknown disse...

Probus,
Muito bons e pertinentes comentários.
Acredito, pelos antecedentes, que a análise do Saito e da FAB seja puramente técnica. As políticas exterior e industrial abrangem decisões extra-FAB.
Os caças de 5ª geração ainda são caríssimos, multiplicariam por quase 10 vezes as despesas do Brasil (US$ 300/400 milhões por avião, sem contar o triplo ou quádruplo em armamento e para suporte logístico). Quando podem ser vendidos, ainda são cobertos por muito "pano preto".
Maria Tereza

vladmir.avellar disse...

A grande extensão territorial (continentalidade) é é fator de grande relevância na escolha de um caça de defesa/ataque para a FAB. Portanto, temos caças com excelentes relação custo/benefício: o SU-35, versátil, com o maior alcance territorial de todos, alto poderio bélico e desempenho, e o mais barato; Super Hornet F-18, versátil, longo alcance, alto poderio bélico e preço mediano.