Tony Blair feliz com a invasão e destruição do Iraque a pedido do banco “JP Morgan”
TONY BLAIR NEGA LOBBY DE MURDOCH E É CHAMADO DE CRIMINOSO DE GUERRA
“Durante depoimento na ‘Comissão Leveson’, que investiga a relação entre os meios de comunicação e o mundo político britânico, o ex-primeiro ministro Tony Blair foi acusado por um documentarista de ser "criminoso de guerra".
Em uma semana de depoimentos importantes, conflitiva relação entre os meios de comunicação e o mundo político ficou em evidência com revelações sobre a pressão dos conservadores sobre a BBC.
Por Marcelo Justo, de Londres
A invasão do Iraque em 2003 o perseguirá até o fim de seus dias. Em meio ao seu depoimento na “Comissão Leveson”, que investiga a relação entre os meios de comunicação e o mundo político britânico, um homem irrompeu por trás do magistrado encarregado da sessão e acusou o ex-primeiro ministro Tony Blair de ser um criminoso de guerra. “Este homem deveria ser preso por crimes de guerra. O “JP Morgan” pagou a ele para fazer a guerra no Iraque. Três meses depois, invadimos o Iraque. Depois, ficou com o Banco do Iraque por 20 milhões. O“JP Morgan” pagou a ele 6 milhões de libras por ano depois que deixou de ser primeiro ministro”, gritou David Lawley-Wakelin, um documentarista de 49 anos, antes que o prendessem.
O primeiro ministro negou categoricamente a acusação. O juiz Leveson disse que ele não precisava responder, ao que Blair, rapidíssimo no reflexo, respondeu que estava de acordo, mas que esse era o problema dos meios de comunicação hoje em dia. “Parte do problema da política moderna – e isso não é uma crítica da mídia – é que pode haver mil pessoas em uma sala, mas se alguém se levanta e grita algo, essa pessoa é notícia. Os outros 999 poderiam ter ficado em casa e não aconteceria nada”, assinalou Blair.
A irrupção do cineasta efetivamente marcou o momento mais memorável do depoimento de Blair que se movimentou com extremo cuidado, sem dar um passo em falso. Em 1995, Blair, então líder da oposição trabalhista, cruzou meio planeta para apresentar-se na conferência anual da “News International”, a corporação de Murdoch. O grupo havia se oposto com ferocidade ao trabalhismo desde que colocou os pés no Reino Unidos, nos anos 70. A viagem de Blair era uma tentativa de superar esse obstáculo. A viagem foi um êxito. O “The Sun” abriu apoio ao “Novo Trabalhismo” que ganhou comodamente as eleições de 1997. Na “Comissão Leveson”, Blair ouviu a pergunta óbvia: em troca do quê o grupo Murdoch mudou de posição?
Blair disse que não houve nenhum tipo de acordo ou favor. O ex-primeiro ministro assinalou que Murdoch “nunca fez lobby sobre temas midiáticos”, mas reconheceu que ele era ciente da “posição da empresa”. Blair deu seis exemplos de medidas que adotou que iam contra os desejos de Murdoch, como a rejeição da tentativa da “BskyB” de adquirir o clube “Manchester United” e a decisão de aumentar quase o dobro o financiamento da BBC, corporação pública que tem sido a “besta negra” do grupo por décadas.
Em testemunho prévio, ex-membro da equipe de imprensa de Blair, Lance Price, indicou que Murdoch era o “membro nº 24 do gabinete” do ex-primeiro ministro e que Blair jamais mudaria de política na Europa sem consultá-lo. Blair esquivou-se com habilidade da pergunta. “É absurdo dizer que não iria adotar uma política sem sua permissão. Mas é certo que, se decidíssemos adotar uma política que importasse muito a um grupo em particular, trataríamos antes de prepará-lo para a mudança. Parece-me que não há nada de incorreto nisso”, disse Blair. O ex-primeiro ministro reconheceu que havia evitado confrontação com os poderosos magnatas midiáticos pelo risco de ser objeto de ataques constantes todos os dias. “Os proprietários e editores usam algumas publicações como instrumentos de poder, nas quais não fica claro o que é notícia e o que é comentário”, assinalou Blair.
Em uma semana de depoimentos chave na “Comissão Leveson”, que verá desfilar vários membros do gabinete, incluindo o atribulado ministro da Cultura Jeremy Hunt, a conflitiva relação entre os meios de comunicação e o mundo político ficou em evidência com revelações sobre a pressão dos conservadores sobre a BBC. Um vídeo de cinco minutos mostrou Craig Oliver, diretor de comunicação do primeiro ministro David Cameron, atacando e ameaçando Norman Smith, correspondente político da BBC pela “parcialidade de suas reportagens” e pelo modo que estavam cobrindo a situação de Hunt. Na gravação, feita sem que Oliver se desse conta, o diretor de comunicação do governo diz que havia se queixado para os executivos da BBC que teriam se comprometido a ser “menos imparciais”.
Em outro episódio que revela a desconfiança atávica dos conservadores em relação à televisão pública, o ex-chefe de imprensa do prefeito de Londres, Boris Johnson, Guto Harri, ameaçou a BBC de iniciar uma “gigantesca briga pública” com a ajuda de seus “bons amigos em 10 Downing Street” (a sede do governo britânico). Em um sinal dos vasos comunicantes que há entre os meios de comunicação e o governo, Harri é um ex-correspondente da BBC que anunciou na semana passada que deixaria de ser o encarregado da imprensa de Johnson para ser o diretor de comunicação da “News International”, a organização do grupo Murdoch. Pouco depois de ser eleito, o próprio Johnson escreveu uma coluna no “Daily Telegraph” atacando a BBC a quem acusou de ser um “antro de esquerdistas”.
O problema hoje para os conservadores é que a BBC segue tendo sólida reputação pública para os britânicos que a batizaram carinhosamente como “a titia” (auntie BBC) enquanto que as ações de Murdoch caíram e ameaçam afundar devido ao escândalo das escutas telefônicas.”
FONTE: reportagem de Marcelo Justo, de Londres, com tradução de Marco Aurélio Weissheimer. Publicada no site “Carta Maior” (http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=20231). [Imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’].
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