16 de abril de 2014. Forças Armadas são enviadas a províncias do leste em que manifestantes rejeitam a autoridade do governo interino e pedem a federalização ou a independência. O governo mantém a operação militar contra civis.
Por Neil Clark, em "Russia Today"
Se a Rússia tivesse gasto US$ 5 bilhões na mudança de regime do Canadá e, depois, uma companhia energética líder nomeasse para o seu quadro de diretores o filho de um político de alto cargo no governo russo.
Só imagine...
Se o governo sírio tivesse sediado uma reunião em Damasco dos “Amigos da Grã Bretanha” – um grupo de países que apoiam a derrubada violenta do governo de David Cameron. Que o governo sírio e seus aliados dessem aos “rebeldes” antigoverno na Bretanha milhões de libras e outros apoios e não condenassem os grupos “rebeldes” quando eles matassem civis britânicos e bombardeassem escolas, hospitais e universidades.
Que o Ministério de Relações Exteriores da Síria rechaçasse as eleições gerais programadas para o próximo ano no Reino Unido como uma “paródia de democracia” e dissesse que Cameron precisa renunciar antes de as eleições serem realizadas.
Imagine...
Se em 2003, a Rússia e seus aliados mais próximos tivessem lançado uma invasão militar de larga escala contra um país rico em petróleo no Oriente Médio, tendo alegado que "o país possuía armas de destruição em massa" (ADM) que "ameaçavam o mundo" e, depois, nenhuma ADM fosse encontrada...
Que até um milhão de pessoas fossem mortas no derramamento de sangue que se seguiu à invasão e que o país ainda estivesse em caos mais de 10 anos depois. Que as companhias russas tivessem entrado para beneficiarem-se do trabalho de restauração e reconstrução após a “mudança de regime”.
Imagine...
Se jornalistas pró-russos que tivessem repetido fielmente as alegações de que o país do Oriente Médio (que a Rússia invadiu em 2003) tinha ADM não pedissem desculpas depois ou mostrassem qualquer remorso apesar do enorme número de mortos; mas, ao invés disso, continuassem com seus trabalhos bem pagos para propagandear mais guerras ilegais e “intervenções” contra outros países independentes, e atacassem os jornalistas honestos que não mascatearam as mentiras de guerra.
Só imagine...
Se mais de 40 pessoas protestando contra o governo central fossem mortas queimadas por extremistas pró-governo na Venezuela. Que o governo venezuelano tivesse lançado uma ofensiva militar contra o povo que protestava por maior autonomia ou pela federalização após as visitas de chefes do SVR [Serviço de Inteligência Estrangeira] russo e de Dmitry Medvedev a Caracas.
Imagine...
Se, no último agosto, mais de 600 pessoas que protestavam em acampadas contra o governo em Minsk, Belarus, tivessem sido massacradas por forças armadas. Que nessa primavera, os tribunais de Belarus tivessem declarado a sentença de morte a mais de 600 apoiadores dos partidos da oposição.
Só imagine...
Se a Rússia tivesse passado os anos seguintes ao fim da velha “Guerra Fria” cercando os Estados Unidos com bases militares e pressionando o Canadá e o México para juntarem-se a uma aliança militar russa. Que, no início deste mês, a Rússia tivesse realizado grandes exercícios militares no México.
Imagine...
Se tivéssemos ouvido chamadas telefônicas vazadas entre um alto funcionário do Ministério russo das Relações Exteriores e o embaixador russo no Canadá, em que eles discutiam quem deveria ou não deveria estar no governo canadense. Que seu candidato aprovado subsequentemente se tornasse o novo, não eleito primeiro ministro, após uma “mudança de regime” financiada pela Rússia. Que o alto funcionário russo do Ministério de Relações Exteriores também tivesse dito: “Que se f*** a União Europeia”.
Imagine...
Se a Força Aérea síria tivesse bombardeado um armazém de armas em Israel e também acertado comboios em que oficiais de segurança disseram estar transportando armas para forças antigoverno na Síria.
Só imagine...
Só imagine...
Se mais de 40 pessoas protestando contra o governo central fossem mortas queimadas por extremistas pró-governo na Venezuela. Que o governo venezuelano tivesse lançado uma ofensiva militar contra o povo que protestava por maior autonomia ou pela federalização após as visitas de chefes do SVR [Serviço de Inteligência Estrangeira] russo e de Dmitry Medvedev a Caracas.
Imagine...
Se, no último agosto, mais de 600 pessoas que protestavam em acampadas contra o governo em Minsk, Belarus, tivessem sido massacradas por forças armadas. Que nessa primavera, os tribunais de Belarus tivessem declarado a sentença de morte a mais de 600 apoiadores dos partidos da oposição.
Só imagine...
Se a Rússia tivesse passado os anos seguintes ao fim da velha “Guerra Fria” cercando os Estados Unidos com bases militares e pressionando o Canadá e o México para juntarem-se a uma aliança militar russa. Que, no início deste mês, a Rússia tivesse realizado grandes exercícios militares no México.
Imagine...
Se tivéssemos ouvido chamadas telefônicas vazadas entre um alto funcionário do Ministério russo das Relações Exteriores e o embaixador russo no Canadá, em que eles discutiam quem deveria ou não deveria estar no governo canadense. Que seu candidato aprovado subsequentemente se tornasse o novo, não eleito primeiro ministro, após uma “mudança de regime” financiada pela Rússia. Que o alto funcionário russo do Ministério de Relações Exteriores também tivesse dito: “Que se f*** a União Europeia”.
Imagine...
Se a Força Aérea síria tivesse bombardeado um armazém de armas em Israel e também acertado comboios em que oficiais de segurança disseram estar transportando armas para forças antigoverno na Síria.
Só imagine...
Se políticos russos proeminentes participassem de protestos antiausteridade no oeste da Europa e distribuíssem biscoitos aos manifestantes, apoiando a sua reivindicação pela renúncia dos governos.
Imaginar o que aconteceria se qualquer dos eventos acima acontecesse e compará-lo ao que aconteceu, na realidade, é bastante instrutivo, já que nos mostra o que está errado no mundo hoje.
Ações foram tomadas pelos EUA e seus aliados que seriam consideradas totalmente ofensivas se tomadas por outros países. Tudo o que temos de fazer é trocar os nomes dos países envolvidos para enxergar a dupla moral.
Se a Rússia tivesse atacado uma nação rica em petróleo do Oriente Médio em 2003 e jornalistas pró-russos vendessem o mesmo tipo de propaganda pró-guerra sobre as ADM que os neoconservadores e falsos esquerdistas promoveram no Ocidente, quando os EUA invadiram o Iraque, então podemos estar certos de que a Rússia teria sido declarada um pária internacional, e que os jornalistas que agiram como torcedores pela invasão ilegal seriam desacreditados pelo resto das suas vidas.
Mas os Estados Unidos não são sujeitos às sanções ou tratados como marginais. Seu presidente em 2003, George W. Bush e seu aliado mais próximo, Tony Blair, ainda têm que ser julgados por crimes de guerra, e os “ilustres” da mídia que apoiaram a invasão do Iraque ainda estão a postos, agora pressionando por uma nova Guerra Fria contra a Rússia e uma nova “intervenção” militar contra a Síria.
Se a Rússia tivesse gasto US$ 5 bilhões derrubando o governo democraticamente eleito do Canadá ou do México e instalado uma junta pró-russa no seu lugar, podemos estar certos de que, dentro de algumas horas, uma invasão militar de larga escala dos EUA teria acontecido, para remover o novo “governo” do poder. Os canais de notícias televisivos ocidentais e os ilustres da elite estariam apoiando entusiasticamente a ação estadunidense – declarando-a como uma “resposta à agressão russa” e dizendo que era totalmente justificada. Mas quando a mudança de regime é feita pelos Estados Unidos na Ucrânia, e uma junta pró-EUA é instalada no poder em Kiev, é uma história muito diferente.
As mesmas pessoas que berrariam “sujos” se a Rússia arquitetasse um golpe no Canadá ou no México celebraram a derrubada ilegal do governo legítimo da Ucrânia. Nós já sabemos como os EUA responderiam se outro país buscasse posicionar armas nucleares próximas ao seu território – em 1962, o mundo chegou à beira da guerra na crise dos mísseis em Cuba. Mas, enquanto uma terceira guerra mundial seria indubitavelmente ameaçada novamente se forças russas realizassem exercícios militares no México, não se considera provocativo que a OTAN faça exercícios militares na Estônia.
Se os governos de Belarus e da Venezuela tivessem respondido tão brutalmente contra os manifestantes antigoverno quanto o fez o regime militar do Egito, no último agosto, ou enviado tanques e usado armas pesadas contra o seu próprio povo como fez a junta respaldada pelo Ocidente em Kiev, então podemos estar certos de que os grandes “humanitaristas” da falsa esquerda estariam guinchando não apenas por sanções punitivas, mas por ataques aéreos também, e para que os presidentes Lukashenko e Maduro fossem enviados ao Tribunal de Haia.
Todos sabemos, também, o que teria ocorrido se tivesse sido a Força Aérea Síria a que tivesse bombardeado o armazém de armas e comboios em Israel, e não o contrário. Por que toleramos tal hipocrisia descarada?
Não há bases legais ou morais para dizer que os EUA e seus aliados deveriam poder fazer essas coisas que, se feitas por outros países, seriam condenadas como erradas e punidas com a imposição de sanções e/ou ataque militar ou invasão. O direito internacional e o princípio de não-interferência em outras nações deveriam aplicar-se igualmente a todos: independentemente do sistema político ou da forma de governo do país.
As mesmas pessoas que berrariam “sujos” se a Rússia arquitetasse um golpe no Canadá ou no México celebraram a derrubada ilegal do governo legítimo da Ucrânia. Nós já sabemos como os EUA responderiam se outro país buscasse posicionar armas nucleares próximas ao seu território – em 1962, o mundo chegou à beira da guerra na crise dos mísseis em Cuba. Mas, enquanto uma terceira guerra mundial seria indubitavelmente ameaçada novamente se forças russas realizassem exercícios militares no México, não se considera provocativo que a OTAN faça exercícios militares na Estônia.
Se os governos de Belarus e da Venezuela tivessem respondido tão brutalmente contra os manifestantes antigoverno quanto o fez o regime militar do Egito, no último agosto, ou enviado tanques e usado armas pesadas contra o seu próprio povo como fez a junta respaldada pelo Ocidente em Kiev, então podemos estar certos de que os grandes “humanitaristas” da falsa esquerda estariam guinchando não apenas por sanções punitivas, mas por ataques aéreos também, e para que os presidentes Lukashenko e Maduro fossem enviados ao Tribunal de Haia.
Todos sabemos, também, o que teria ocorrido se tivesse sido a Força Aérea Síria a que tivesse bombardeado o armazém de armas e comboios em Israel, e não o contrário. Por que toleramos tal hipocrisia descarada?
Não há bases legais ou morais para dizer que os EUA e seus aliados deveriam poder fazer essas coisas que, se feitas por outros países, seriam condenadas como erradas e punidas com a imposição de sanções e/ou ataque militar ou invasão. O direito internacional e o princípio de não-interferência em outras nações deveriam aplicar-se igualmente a todos: independentemente do sistema político ou da forma de governo do país.
O governo britânico não tem mais direito de interferir nos assuntos internos da Síria do que o governo sírio tem de interferir nos assuntos internos da Grã Bretanha. Os EUA não têm mais direito à “mudança de regime” em países vizinhos da Rússia do que a Rússia tem à “mudança de regime” nos países vizinhos dos Estados Unidos.
Precisamos de nova ordem internacional baseada na equidade de todas as nações soberanas: um novo “Mundo de Iguais”, como visionado pelo Fórum de Belgrado. Se pudermos imaginar e trabalhar para instaurá-lo ao expor a atual hipocrisia ocidental e as morais duplas quando elas ocorrem, então o mundo será um lugar muito mais seguro.
FONTE: escrito por Neil Clark, jornalista, escritor e apresentador, em "Russia Today". Seu blogue, vencedor de prêmios, é este (em inglês). Postado no portal "Vermelho" com tradução de Moara Crivelente, da Redação do Vermelho (http://www.vermelho.org.br/noticia/242501-9).
Precisamos de nova ordem internacional baseada na equidade de todas as nações soberanas: um novo “Mundo de Iguais”, como visionado pelo Fórum de Belgrado. Se pudermos imaginar e trabalhar para instaurá-lo ao expor a atual hipocrisia ocidental e as morais duplas quando elas ocorrem, então o mundo será um lugar muito mais seguro.
FONTE: escrito por Neil Clark, jornalista, escritor e apresentador, em "Russia Today". Seu blogue, vencedor de prêmios, é este (em inglês). Postado no portal "Vermelho" com tradução de Moara Crivelente, da Redação do Vermelho (http://www.vermelho.org.br/noticia/242501-9).
Nenhum comentário:
Postar um comentário