(foto de Ricardo Stuckert/Instituto Lula)
Lula e a mídia malabarista
"O ex-presidente Lula defende regulação da mídia, critica violência da imprensa contra o PT, mas jornais fingem que não ouvem
As reações da mídia à fala de Luiz Inácio Lula da Silva, na sexta-feira (16), no 4º Encontro Nacional de Blogueiros e Ativistas Digitais, não poderiam ter sido mais emblemáticas. No evento organizado, em São Paulo, pelo Centro de Estudos de Mídias Alternativas Barão de Itararé, o ex-presidente defendeu a aprovação do marco regulatório contra o monopólio dos meios de comunicação no Brasil. Além disso, criticou duramente os ataques da imprensa contra a presidenta Dilma Rousseff e o PT. Falou, com um tipo de franqueza pouco comum na política brasileira, sobre sua relação com a blogosfera progressista: “Eu me dou o direito de dar entrevista para quem eu quero, na hora que eu quero”.
A frase foi um recado direto ao moralismo de ocasião do jornal “O Globo”, do Rio de Janeiro, que em abril se mobilizou para desqualificar uma entrevista de três horas de duração concedida por Lula a blogueiros e ativistas digitais na sede do "Instituto Lula", na capital paulista. Para interditar a comunicação de Lula com a blogosfera, o jornalão carioca partiu, sem sucesso, para a desqualificação rasa dos blogueiros e da disposição do ex-presidente em falar com eles – um misto de inveja e despeito com origens no absoluto descolamento da realidade em que vivem, na área de comunicação em rede, os jornalões brasileiros.
Um dia depois do discurso de Lula, coube à “Folha de S.Paulo” resumir em uma manchete (“Para Lula, cobrar metrô em estádio é ‘babaquice”) a impaciência do ex-presidente com as manipulações primárias da imprensa, conforme discursou à audiência de mais de 600 participantes do encontro de blogueiros.
O petista falou de questões estruturais da democracia, entre as quais a questão essencial do marco regulatório da mídia como condição para o avanço civilizatório no Brasil. Disse, ainda, da importância da convocação de uma assembleia nacional constituinte exclusiva para se fazer a reforma política.
Mas a “Folha” preferiu sair com uma fala paralela, colocada dentro de uma circunstância de informalidade muito típica dos discursos de Lula, sem nenhuma relevância até mesmo para o tema que a gerou – a Copa do Mundo de 2014. O expediente, manjado e jornalisticamente desprezível, serviu tanto para o diário paulistano escapar da discussão central (o monopólio da mídia) como para alimentar o discurso da direita rastaquera nas redes sociais contra Lula e o PT.
Essa solução, usada em graus diferentes pela velha mídia nacional, foi, no fim das contas, um recurso desesperado diante da chuva de argumentos enumerados por Lula para justificar a necessidade de um marco regulatório, tanto para as concessões públicas de rádio e tevê, como para a questão da propriedade cruzada – jabuticaba tupiniquim que permite aos conglomerados de comunicação possuírem, num mesmo estado e região, emissoras de rádio e tevê, além de jornais e revistas.
Assim, ao tratar do tema, Lula teve o cuidado de listar uma série de modelos adotados em diversos países, entre os quais os Estados Unidos e a Inglaterra. Fez questão de esclarecer que não se tratava de censura, e ainda fez graça com o sentimento antiesquerdista das redações brasileiras, de onde se extrai a doença infantil do antipetismo: “Para não dizerem que sou socialista, citei apenas países que são símbolos da democracia ocidental. Então, que não venham dizer que isso é censura”. E mais: “Não estamos tentando controlar os meios de comunicação. Nós exigimos é que haja neutralidade e seriedade nas informações neste País. As notícias que são produzidas aqui fazem uma guerra tentando mostrar que neste País está tudo desandado, que nada está dando certo”.
Lula usou o exemplo da perseguição implacável da mídia paulistana contra o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, do PT, presente ao encontro de blogueiros. “Haddad, se fosse responsabilidade sua, seria porrada todos os dias, mas como é deles, então, não está tudo bem”, disse, ao se referir ao colapso de abastecimento de água em São Paulo por conta da inépcia administrativa do governo de Geraldo Alckmin, do PSDB.
A mídia, que esconde a crise do Sistema Cantareira atrás de cortinas de eufemismos e malabarismos de retórica, sentiu-se particularmente atingida pelo discurso de Lula, que foi muito mais claro do que as dezenas de “especialistas” usados pelos jornais para transformar racionamento em "rodízio".
Diante também do ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha, pré-candidato do PT ao governo paulista, Lula atentou para o fato de que, simplesmente, os investimentos no setor hídrico não acompanharam o crescimento da maior e mais importante cidade do País. “Será que ninguém pensou em fazer mais um poço? Cadê o choque de gestão?”, questionou.
Lula aproveitou o tema para fazer piada com o termo “blogueiro sujo”, criado pelo tucano José Serra, na campanha eleitoral de 2010, para atacar a blogosfera progressista e de esquerda. Foi um tiro pela culatra: os blogueiros não só adotaram o termo para si, como passaram a usá-lo como peça de marketing.
“Aqui em São Paulo, ser chamado de ‘blogueiro sujo’ é culpa do Alckmin, porque o Cantareira secou”, brincou Lula, para alegria da audiência.
Essa, aliás, talvez seja uma diferença fundamental da comunicação de rede montada pelos progressistas e a tropa de cavalaria mantida pela mídia nas redações e em suas redes digitais ultra hierarquizadas: o bom humor.
No encontro de São Paulo, o que fez os blogueiros rir gerou, de imediato, reações casmurras na velha mídia nacional. Menos pela distinção dos interesses defendidos, mais por aquilo em que a imprensa se transformou nos últimos 12 anos de governos do PT: um "depositório" de ódios criado para subjugar, primeiro, o bom jornalismo, e que caminha num voo cego com o objetivo de, no fim das contas, subjugar a política em si.
E a mensagem crucial que Lula deixou aos blogueiros e ao País foi justamente esta: se depender dele, eles não conseguirão."
FONTE: escrito por Leandro Fortes, na Agência PT de Notícias (http://www.pt.org.br/lula-e-a-midia-malabarista/).
As reações da mídia à fala de Luiz Inácio Lula da Silva, na sexta-feira (16), no 4º Encontro Nacional de Blogueiros e Ativistas Digitais, não poderiam ter sido mais emblemáticas. No evento organizado, em São Paulo, pelo Centro de Estudos de Mídias Alternativas Barão de Itararé, o ex-presidente defendeu a aprovação do marco regulatório contra o monopólio dos meios de comunicação no Brasil. Além disso, criticou duramente os ataques da imprensa contra a presidenta Dilma Rousseff e o PT. Falou, com um tipo de franqueza pouco comum na política brasileira, sobre sua relação com a blogosfera progressista: “Eu me dou o direito de dar entrevista para quem eu quero, na hora que eu quero”.
A frase foi um recado direto ao moralismo de ocasião do jornal “O Globo”, do Rio de Janeiro, que em abril se mobilizou para desqualificar uma entrevista de três horas de duração concedida por Lula a blogueiros e ativistas digitais na sede do "Instituto Lula", na capital paulista. Para interditar a comunicação de Lula com a blogosfera, o jornalão carioca partiu, sem sucesso, para a desqualificação rasa dos blogueiros e da disposição do ex-presidente em falar com eles – um misto de inveja e despeito com origens no absoluto descolamento da realidade em que vivem, na área de comunicação em rede, os jornalões brasileiros.
Um dia depois do discurso de Lula, coube à “Folha de S.Paulo” resumir em uma manchete (“Para Lula, cobrar metrô em estádio é ‘babaquice”) a impaciência do ex-presidente com as manipulações primárias da imprensa, conforme discursou à audiência de mais de 600 participantes do encontro de blogueiros.
O petista falou de questões estruturais da democracia, entre as quais a questão essencial do marco regulatório da mídia como condição para o avanço civilizatório no Brasil. Disse, ainda, da importância da convocação de uma assembleia nacional constituinte exclusiva para se fazer a reforma política.
Mas a “Folha” preferiu sair com uma fala paralela, colocada dentro de uma circunstância de informalidade muito típica dos discursos de Lula, sem nenhuma relevância até mesmo para o tema que a gerou – a Copa do Mundo de 2014. O expediente, manjado e jornalisticamente desprezível, serviu tanto para o diário paulistano escapar da discussão central (o monopólio da mídia) como para alimentar o discurso da direita rastaquera nas redes sociais contra Lula e o PT.
Essa solução, usada em graus diferentes pela velha mídia nacional, foi, no fim das contas, um recurso desesperado diante da chuva de argumentos enumerados por Lula para justificar a necessidade de um marco regulatório, tanto para as concessões públicas de rádio e tevê, como para a questão da propriedade cruzada – jabuticaba tupiniquim que permite aos conglomerados de comunicação possuírem, num mesmo estado e região, emissoras de rádio e tevê, além de jornais e revistas.
Assim, ao tratar do tema, Lula teve o cuidado de listar uma série de modelos adotados em diversos países, entre os quais os Estados Unidos e a Inglaterra. Fez questão de esclarecer que não se tratava de censura, e ainda fez graça com o sentimento antiesquerdista das redações brasileiras, de onde se extrai a doença infantil do antipetismo: “Para não dizerem que sou socialista, citei apenas países que são símbolos da democracia ocidental. Então, que não venham dizer que isso é censura”. E mais: “Não estamos tentando controlar os meios de comunicação. Nós exigimos é que haja neutralidade e seriedade nas informações neste País. As notícias que são produzidas aqui fazem uma guerra tentando mostrar que neste País está tudo desandado, que nada está dando certo”.
Lula usou o exemplo da perseguição implacável da mídia paulistana contra o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, do PT, presente ao encontro de blogueiros. “Haddad, se fosse responsabilidade sua, seria porrada todos os dias, mas como é deles, então, não está tudo bem”, disse, ao se referir ao colapso de abastecimento de água em São Paulo por conta da inépcia administrativa do governo de Geraldo Alckmin, do PSDB.
A mídia, que esconde a crise do Sistema Cantareira atrás de cortinas de eufemismos e malabarismos de retórica, sentiu-se particularmente atingida pelo discurso de Lula, que foi muito mais claro do que as dezenas de “especialistas” usados pelos jornais para transformar racionamento em "rodízio".
Diante também do ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha, pré-candidato do PT ao governo paulista, Lula atentou para o fato de que, simplesmente, os investimentos no setor hídrico não acompanharam o crescimento da maior e mais importante cidade do País. “Será que ninguém pensou em fazer mais um poço? Cadê o choque de gestão?”, questionou.
Lula aproveitou o tema para fazer piada com o termo “blogueiro sujo”, criado pelo tucano José Serra, na campanha eleitoral de 2010, para atacar a blogosfera progressista e de esquerda. Foi um tiro pela culatra: os blogueiros não só adotaram o termo para si, como passaram a usá-lo como peça de marketing.
“Aqui em São Paulo, ser chamado de ‘blogueiro sujo’ é culpa do Alckmin, porque o Cantareira secou”, brincou Lula, para alegria da audiência.
Essa, aliás, talvez seja uma diferença fundamental da comunicação de rede montada pelos progressistas e a tropa de cavalaria mantida pela mídia nas redações e em suas redes digitais ultra hierarquizadas: o bom humor.
No encontro de São Paulo, o que fez os blogueiros rir gerou, de imediato, reações casmurras na velha mídia nacional. Menos pela distinção dos interesses defendidos, mais por aquilo em que a imprensa se transformou nos últimos 12 anos de governos do PT: um "depositório" de ódios criado para subjugar, primeiro, o bom jornalismo, e que caminha num voo cego com o objetivo de, no fim das contas, subjugar a política em si.
E a mensagem crucial que Lula deixou aos blogueiros e ao País foi justamente esta: se depender dele, eles não conseguirão."
FONTE: escrito por Leandro Fortes, na Agência PT de Notícias (http://www.pt.org.br/lula-e-a-midia-malabarista/).
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