Cuidado que ele conta ao embaixador americano
FERNANDO RODRIGUES
“Telegramas confidenciais de diplomatas dos EUA indicam que o governo daquele país considera o Ministério das Relações Exteriores do Brasil como um adversário que adota uma "inclinação antinorte-americana" [por defender interesses brasileiros e não curvar-se aos EUA].
[JOBIN TRAÍRA? EMBAIXADOR DOS EUA MENTE?]
Esses mesmos documentos mostram que os EUA enxergam o ministro da Defesa [dos EUA?], Nelson Jobim, como ‘um aliado’ em contraposição ao quase inimigo Itamaraty.
Mantido no cargo no governo de Dilma Rousseff, o ministro é ‘elogiado’ e descrito como "talvez um dos mais ‘confiáveis’ [para os EUA] líderes no Brasil".
A ‘Folha’ leu com exclusividade seis telegramas de um lote de 1.947 documentos elaborados pela Embaixada dos EUA em Brasília, sobretudo na última década.
Os despachos foram obtidos pela organização não governamental ‘WikiLeaks’. As íntegras desses papéis estarão hoje no site da ONG, que também produzirá reportagens em português. O site da ‘Folha’ divulgará os telegramas completos.
Num dos telegramas, de 25 de janeiro de 2008, o então embaixador dos EUA em Brasília, Clifford Sobel, relata aos seus superiores como havia sido um almoço mantido dias antes com Nelson Jobim. Nesse encontro, o ministro brasileiro contribuiu para reforçar a imagem negativa do Itamaraty perante os norte-americanos.
Indagado sobre acordos bilaterais entre os dois países, Jobim citou o então secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores, Samuel Pinheiro Guimarães.
Segundo o relato produzido por Clifford Sobel, "Jobim disse que Guimarães 'odeia os EUA' e trabalha para criar problemas na relação entre os dois países" [Por ser patriota e nacionalista, e privilegiar interesses brasileiros, Guimarães é rotulado de “inimigo”, diferentemente dos tradicionalmente submissos e gentis tucanos, como Jobim, muito favoráveis aos EUA e elogiados pelo governo norte-americano].
Não há nos seis telegramas confidenciais lidos pela ‘Folha’ nenhuma menção a atos ilícitos nas relações bilaterais Brasil-EUA. São apenas descrições de encontros, almoços e reuniões.
Ao mencionar um acordo bilateral, Clifford Sobel diz que caberá ao presidente Lula decidir entre as posições de um "inusualmente ativo ministro da Defesa interessado em desenvolver laços mais próximos com os EUA e um Ministério das Relações Exteriores firmemente comprometido em manter [a soberania brasileira e] controle sobre todos os aspectos da política internacional".
Num telegrama de 13 de março de 2008, Sobel afirma que o Itamaraty trabalhou ativamente para limitar a agenda de uma viagem de Jobim aos EUA.
Ao relatar a visita (de 18 a 21 de março de 2008), os EUA pareciam frustrados: "Embora existam boas perspectivas para melhorar nossa relação na área de defesa com o Brasil, a obstrução do Itamaraty continuará um problema".
CAÇAS DA FAB
Apesar de elogiado, Jobim nunca apresentou em reuniões nenhuma proposta especial aos EUA a respeito da licitação dos 36 aviões caça que serão comprados pela Força Aérea Brasileira.
Em todos os relatos confidenciais, os diplomatas dos EUA em Brasília mencionam frases de Jobim que coincidem com o que o ministro declarou em público.
Em uma ocasião, por exemplo, os norte-americanos escrevem: "Compras de fornecedores dos EUA serão mais competitivas quando (o país) autorizar uma produção brasileira de futuros sistemas militares".
Procurado pela ‘Folha’, o Departamento de Estado dos EUA se recusou a comentar as comunicações sigilosas.
Uma porta-voz do departamento enfatizou que os países mantêm boas relações. A Casa Branca não respondeu à reportagem até a conclusão desta edição.”
FONTE: escrito pelo colunista da Folha de São Paulo Fernando Rodrigues e publicado no Folha.com (http://www1.folha.uol.com.br/poder/838185-documentos-confidenciais-revelam-que-para-eua-itamaraty-e-adversario.shtml) [título e trechos entre colchetes colocados por este blog. A imagem e sua legenda foram obtidos no portal “Conversa Afiada”, de Paulo Henrique Amorim].
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