segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Entrevista com André Lara Resende: “TEMOS QUE REVER O QUE CONSIDERAMOS PROGRESSO”

"salvando o planeta"

[Reportagem do jornal tucano “O Globo”, com observações em itálico, entre colchetes e em azul adicionadas por este blog ‘democracia&política’]

“Um dos criadores do real [OBS deste blog: isto é, André Lara Resende é um dos que reivindicam falsamente, assim como FHC, essa paternidade do Plano Real lançado, na realidade, por Itamar Franco/PMDB e seu Ministro da Fazenda Ciro Gomes, antes do governo FHC/PSDB], economista [André Lara Resende] diz que mundo não pode voltar a crescer para sair da crise porque atingiu o “limite do planeta”.

[OBS deste blog: essa bonita, mas cínica campanha engana os desavisados. Foi lançada no mundo pelos EUA e seus aliados (aqui com o fiel apoio da nossa mídia e dos demotucanos), para “congelar” o desenvolvimento das demais economias, preservando para sempre a hegemonia norte-americana e o seu usufruto das matérias-primas, recursos minerais, terras agricultáveis, água potável. O objetivo principal da campanha era frear o crescimento da China e de outros emergentes, sob o argumento de que isso “esgotaria os recursos do planeta”.

Se fosse concepção que diminuísse o usufruto de recursos do planeta pelas grandes potências ricas, para reparti-los pelos demais países mais pobres, visando a diminuir as diferenças, até que faria algum sentido.

Mas os EUA consideram absurda essa concepção mais humanitária. Querem continuar com seu “way of life” e impondo ao mundo suas cobiças e vontades sob o manto da “freedom” e “democracy”, com a força gigantesca de suas armas e causando centenas de milhares de mortes.

O governo FHC/PSDB/DEM, submissamente, obedeceu às diretrizes contracionistas dirigidas aos emergentes e diminuiu o tamanho do Estado brasileiro, introduziu "modernas" políticas de austeridade, de redução do progresso e da economia, de diminuição relativa do apoio aos pobres (método indireto de diminuir sua população), tudo conforme determinado, mas sem reciprocidade norte-americana e europeia. Os demotucanos, como se vê neste caso da reportagem de “O Globo” com o tucano André Lara Resende, não perderam as esperanças de obedecer e concretizar esse sonho norte-americano.

Pensamento cínico, análogo, os EUA têm quanto a armas atômicas. Eles podem, continuam a desenvolvê-las e não diminuem seus arsenais. Contudo, outros são preventivamente arrasados somente na hipótese de que algum dia possam pensar em ter arma nuclear. Outro exemplo de incoerente campanha dos EUA para frear o crecimento dos emergentes para “salvar o planeta” é a não adesão dos EUA ao Protocolo de Kyoto.

Os EUA não aceitam reduzir seu crescimento e emissões para “salvar o planeta”, a não ser que todos os países reduzam muito mais, para assim tornar perene a supremacia norte-americana.

Continua "O Globo"]:

Enquanto a evolução da crise mundial polariza o debate em torno de uma solução - entre os que defendem que os governos aumentem seus gastos para estimular o crescimento e os que sustentam que somente a adoção de planos de austeridade será capaz de acalmar os mercados -, o economista André Lara Resende analisa a questão sob novo ângulo. Um dos “pais do Plano Real” [sic], ele diz que existe nova restrição: o fato de que atingimos os “limites do planeta” e, por isso, “não podemos mais contar com a expansão da economia” como antídoto contra a crise.

- “A capacidade de continuar a crescer nos padrões a que estamos acostumados esbarra nos limites físicos do planeta” - afirma André Lara, hoje sócio da “Lanx Capital”, uma das maiores gestoras de recursos do país.

Recentemente, o economista jogou luz sobre o assunto ao escrever um artigo no jornal "Valor Econômico" [propriedade 50%/50% do Grupo "Folha" e Organizações Globo], em que recomendava o livro de Paul Gilding, "A Grande Ruptura", que também aborda o problema. Segundo André Lara, será preciso rever o que consideramos progresso, mas a sociedade não parece caminhar neste sentido:

- “Infelizmente, a recusa de ver e agir em relação aos limites ecológicos vai nos levar a uma transição muito mais desordenada e onerosa do que se nos tivéssemos sidos capazes de nos programar para ela" - diz, em entrevista por e-mail ao GLOBO.

O GLOBO: O senhor diz que o remédio keynesiano (economista John Maynard Keynes, que defendia a retomada do crescimento, através de gastos públicos e estímulos ao consumo) para superar a crise e o elevado endividamento público não pode mais ser aplicado hoje e diz que a insistência nesse modelo "pode ser uma ortodoxia anacrônica". Mas como sair da crise, já que só crescendo resolveríamos o problema econômico?

ANDRÉ LARA RESENDE: O crescimento reduz o tamanho relativo das dívidas, tanto privadas como públicas. É a forma menos onerosa e mais eficaz de resolver o problema da indigestão do endividamento excessivo, que ocorre após as grandes crises. Nos anos 30 do século passado, Keynes, com seu talento, sua capacidade de pensar de forma independente e imaginativa, mostrou como é possível usar os gastos públicos para reanimar uma economia estagnada. A situação dos anos 30 era diferente da atual em dois aspectos. Primeiro, porque a depressão levou a uma quebra generalizada, que eliminou o excesso de endividamento. O gasto público funciona como motor de arranque numa economia devastada, mas onde não há mais excesso de endividamento. Não é o caso hoje, porque a ação preventiva dos governos e dos bancos centrais evitou o colapso depressivo, mas em contrapartida, transferiu dívidas do setor privado para o setor público, que já está excessivamente endividado. Segundo - e esta é a restrição nova - porque a capacidade de continuar a crescer nos padrões a que estamos acostumados, por meio do aumento da produção e do consumo de bens materiais, para uma população mundial 40 vezes superior ao que sempre foi até a Revolução Industrial, esbarra nos limites físicos do planeta.

-A teoria econômica sempre associou o crescimento ao bem-estar. Há ganho de renda, consumo... É possível ter um sem o outro?

ANDRÉ LARA: Para a teoria econômica, crescimento e bem-estar sempre estiveram associados. Enquanto o nível de consumo é muito baixo, a correlação entre os dois é muito alta. Faz então sentido usar crescimento do produto, uma medida relativamente fácil de ser observada, como indicador de bem-estar. Sabe-se hoje, que a partir do momento em que as necessidades básicas estão superadas, o aumento da renda e da disponibilidade de bens materiais tem muito pouca correlação com o bem estar. Muito mais do que ao aumento do consumo material, o bem-estar passa então a estar associado à coesão social, à qualidade da vida comunitária e a uma menor desigualdade. Pode-se, com certeza, ter aumento de bem estar sem crescimento do consumo material. Para isso, é preciso romper com o equívoco mais agressivamente promovido na modernidade: o de que para ser feliz é preciso consumir, ainda que coisas cada vez mais desnecessárias.

-O que dizer aos milhões que vivem na miséria no mundo hoje? Como eles sairão da pobreza se precisaremos parar de crescer?

ANDRÉ LARA: A questão da pobreza, da miséria em que vive ainda grande parte da população mundial, é séria e precisa ser atacada com urgência, mas, se o extraordinário crescimento material dos últimos séculos não resolveu o problema da miséria até hoje, é porque nunca irá resolver. Levantar a bandeira do crescimento material, baseado no consumo de bens cada vez mais supérfluos, em nome do combate à miséria no mundo, é profundamente desonesto.

-E para os que estão saindo agora da pobreza e finalmente podendo comprar, caso da classe C no Brasil? Como dizer a eles que não podem consumir porque chegamos ao “limite do planeta”?

ANDRÉ LARA: A solução não é produzir e consumir mais bens materiais, mas sim reduzir a desigualdade de padrões de consumo [isso internamente no Brasil, pois os EUA não admitem essa concepção, a não ser em outros países]. Não é preciso impedir que os mais pobres tenham acesso a um padrão de vida decente, mas sim interromper a espiral de aspirações consumistas estapafúrdias de toda sociedade. Aspirações alimentadas pela propaganda, tanto explícita, como subliminar, mas, sobretudo, enganosa, de que quem mais consome é mais feliz.

-Essa ruptura seria o enterro formal do capitalismo como conhecemos hoje?

ANDRÉ LARA: Ao esbarrarmos nos limites físicos do planeta, teremos necessariamente que rever o que consideramos progresso, o que exige rever nossa visão de mundo. O sistema de preços competitivos, como sinalizadores da produção e do consumo, será sempre uma ferramenta fundamental para a organização da economia. Não me parece possível, nem desejável, prescindir do sistema de preços, sobretudo, no momento em que a economia precisa passar por reorganização profunda. É preciso, isto sim, ter consciência das suas limitações. No caso dos bens públicos, para os quais o consumo não tem custo individual, mas há custo coletivo, o sistema de preços não cumpre seu papel.

-O Japão não cresce há quase 20 anos e tem elevado nível de qualidade de vida. O país pode ser um modelo a ser adotado neste novo padrão que a sociedade precisará ter?

ANDRÉ LARA: A estagnação da economia japonesa, que já dura mais de 15 anos, desde o estouro da bolha imobiliária por lá, pode ser vista como precursora das dificuldades que as demais economias avançadas enfrentam, desde a crise de 2008. A homogeneidade cultural e social do Japão é, sem dúvida, fator importante para que o país tenha resistido relativamente bem à economia estagnada.

-Alguns críticos dizem que a tese da ruptura brusca e traumática, e até com racionamento, surge da incapacidade de os economistas explicarem como se sai da crise. O que o senhor acha disso?

ANDRÉ LARA: Compreender as dificuldades e pensar como superá-las é responsabilidade coletiva. Não é atribuição exclusiva de economistas.

-Ao mesmo tempo em que o planeta dá sinais de esgotamento, os governos não parecem sensíveis ao tema. Como resolver o problema sem uma política pública clara e direcionada?

ANDRÉ LARA: Apesar de muito barulho, parece não haver ainda uma verdadeira consciência de que os limites físicos do planeta foram ou estão prestes a serem atingidos. Temos grande dificuldade de ver e aceitar o que nos obrigaria a mudar nossa visão de mundo. Infelizmente, a recusa de ver e agir em relação os limites ecológicos, vai nos levar a uma transição muito mais desordenada e onerosa do que se nos tivéssemos sidos capazes de nos programar para ela.

-O senhor diz que não há sinais de que esta nova abordagem esteja em gestação. Será preciso, então, que os governos imponham a ruptura do modelo para fazermos uma reorganização da economia, com o fim do crescimento baseado na expansão do consumo de bens materiais?


ANDRÉ LARA: Sem consciência de que estamos próximo dos limites vamos atingi-los sem estar preparados. Quando as evidências forem inegáveis, para tentar evitar grandes catástrofes, deverá finalmente haver mobilização e medidas excepcionais serão impostas.

SAÍDA DE PAÍSES DO EURO É INEVITÁVEL

-A União Europeia tem solução? A criação de um orçamento fiscal europeu se tornou mais possível agora?

ANDRÉ LARA: Sempre fui um entusiasta da União Europeia, que considero o mais importante experimento de nosso tempo. Trata-se de uma tentativa de governança supranacional, algo que considero fundamental para o futuro pacífico de um mundo necessariamente interligado e interdependente. A moeda única, hoje parece claro, foi uma precipitação. Moeda comum exige orçamento fiscal conjunto. Os estados nacionais não estavam preparados para aceitar essa delegação à União Europeia. Torço para que a crise leve ao aprofundamento da UE em direção à governança supranacional, ainda que, como parece ser inevitável, alguns países periféricos venham a ter que abandonar o euro, pelo menos transitoriamente.

-Que países periféricos e por quanto tempo?

ANDRÉ LARA: O candidato hoje é a Grécia, mas, se a saída for bem-sucedida, outros países com problemas poderão seguir seus passos.

-Muito se criticou as agências de rating em 2008. Previa-se que elas perderiam credibilidade e peso. Mas isso não parece estar acontecendo. Por quê?


ANDRÉ LARA: Considero as agências de rating algo completamente irrelevante.”

FONTE: reportagem do jornal tucano “O Globo”, com imagens, observações em azul em itálico, entre colchetes, adicionadas por este blog ‘democracia&política’. Reportagem transcrita no site [pró-EUA e Israel] “DefesaNet”  (http://www.defesanet.com.br/geopolitica/noticia/4667/ENTREVISTA----Andre-Lara-Resende--Temos-que-rever-o-que-consideramos-progresso)

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