Por Mário Augusto Jakobskind
“O mundo gira. Enquanto o governador do Estado do Rio de Janeiro, provavelmente
aconselhado por algum marqueteiro, tenta posar de vítima, quando na verdade não
passa de um algoz dos "jovens manifestantes" [e vândalos, sempre associados], pelo mundo acontecem
fatos relevantes absolutamente ignorados pela “mídia de mercado”, que segue
desempenhando a função, não propriamente de quarto poder, mas de aparelho
ideológico de concepções “conservadoras”, como diria o jornalista Ignácio
Ramonet, do “Le Monde Diplomatique”.
Pois bem, na Venezuela, os opositores da revolução bolivariana assacaram
uma deslavada mentira contra o presidente eleito Nicolás Maduro. Os golpistas,
tendo por base declaração de um tresloucado ex-embaixador do Panamá na “Organização
dos Estados Americanos” (OEA), de nome Guillermo Cochez, segundo o qual Maduro
não é venezuelano pois “nasceu na Colômbia, na cidade de Cúcuta, na fronteira
com a Venezuela”, aproveitaram o embalo para, mais uma vez, tentar derrubar o
Presidente que substituiu Hugo Chávez.
O candidato derrotado, Henrique Capriles, tentando criar um fato
político, sempre com discurso ao estilo de outros golpistas na América Latina,
exigiu que Maduro apresentasse sua certidão de nascimento, e assim
sucessivamente. Outros seguidores de Capriles chegaram a colocar em questão a
constitucionalidade do mandato de Maduro, já que a legislação não permite que
estrangeiros ocupem a Presidência da República da Venezuela.
Mas a tramoia golpista durou pouco, porque o desmentido das próprias
autoridades colombianas não demorou a aparecer. A denúncia foi rigorosamente
investigada no setor do Registro Civil da cidade de Cúcuta, que chegou à
conclusão, segundo informou Carlos Alberto Arias, diretor nacional do setor,
que o documento apresentado pelo ex-embaixador panamenho na OEA era mesmo
falso.
A história da América Latina registra falsificações do gênero que
serviram de pretexto, ou para golpes de Estado, ou tentativas de desestabilizar
governos democráticos. No Brasil, o “Plano Cohen”, de responsabilidade do então
capitão integralista Olimpio Mourão Filho, em 1937, mostrava um suposto plano
comunista de assalto ao poder, servindo de pretexto para o golpe do Estado
Novo. Esse mesmo Mourão Filho, 27 anos depois, comandava tropas de Minas Gerais
que culminaram no golpe que derrubou o presidente constitucional João Goulart e
mergulhou o país em longa noite escura de torturas e assassinatos de
oposicionistas.
No anos 50, mais precisamente em 17 de agosto de 1953, o então
famigerado deputado Carlos Lacerda inventava no seu jornal “Tribuna da Imprensa”
uma falsa carta que recebeu a denominação de “Brandy”, em que um deputado
argentino intermediava encontro secreto do então Ministro do Trabalho, João
Goulart, como emissário do Presidente Getúlio Vargas. Ficou constatada a
mentira, mas Lacerda continuou impune, e posteriormente tornou-se um dos
responsáveis pela tentativa de golpe de estado, em 1954, evitado porque Vargas
saiu da vida para entrar para história, ao se suicidar em agosto de 1954.
Fatos históricos como os mencionados são importantes de serem lembrados,
inclusive para tentar entender o momento presente, como o da Venezuela com a
mentira apresentada pelo ex-embaixador do Panamá na OEA, Guillermo Cochez, o
mesmo boquirroto que, em janeiro deste ano, havia investido contra a Venezuela
em um discurso raivoso, na entidade onde servia.
Por essas e muitas outras, todo o cuidado é pouco em se tratando de
setores conservadores e de direita. Até porque, sai ano entra ano, figuras como
esse Cochez, como Capriles e tantos outros pelo continente latino-americano não
se cansam de tentar desestabilizar governos que não rezem pela cartilha de
Washington.
Na Venezuela, as tentativas golpistas não se resumem à falsa denúncia
contra Maduro. O Ministro das Relações Interiores da Venezuela, Miguel
Rodríguez Torres, informou que elementos da direita mantiveram contatos com
setores ideológicos no exterior afinados com a doutrina golpista, com o
objetivo de assassinar o Presidente Maduro. E o Ministro deu nome aos bois, bem
como os locais onde ocorreram reuniões conspiratórias que tiveram por objetivo
assassinar o Presidente Nicolás Maduro.
Segundo Rodriguez Torres, duas reuniões ocorreram no mês de abril em
Bogotá e Miami. Participaram, entre outros, o ex-presidente colombiano, Álvaro
Uribe, o ex-presidente de fato de Honduras, Roberto Micheletti, um delegado
enviado pelo terrorista Luis Posada Carriles (*), um oficial colombiano da ativa e um oficial da Agência Central
de Inteligência dos Estados Unidos (CIA). O plano discutido previa "iniciar contato com a direita venezuelana e
promover ações desestabilizadoras”.
Naturalmente que essas informações não foram divulgadas até agora pela
mídia de mercado e, se o forem, provavelmente serão manipuladas no sentido de o
leitor concluir que não passam de teorias conspiratórias da história. É o que
acontece rotineiramente nos jornalões e telejornalões.”
(*) Terrorista
responsável pela explosão de um avião da Cubana de Aviação nos céus da
Venezuela, matando dezenas de atletas que tinham participado de uma competição
esportiva. Carriles foi condenado pela Justiça venezuelana, mas fugiu da prisão
com a ajuda CIA.
FONTE: escrito por Mário Augusto Jakobskind, correspondente no Brasil do semanário uruguaio “Brecha”. Foi colaborador do “Pasquim”, repórter da “Folha de São Paulo” e editor internacional da “Tribuna da Imprensa”. Integra o Conselho Editorial do seminário “Brasil de Fato”. É autor, entre outros livros, de “América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE”. (http://www.diretodaredacao.com/noticia/falsificacoes-que-visam-golpes-de-estado).[ Pequeno trecho entre colchetes adicionado por este blog ‘democracia&política’].
FONTE: escrito por Mário Augusto Jakobskind, correspondente no Brasil do semanário uruguaio “Brecha”. Foi colaborador do “Pasquim”, repórter da “Folha de São Paulo” e editor internacional da “Tribuna da Imprensa”. Integra o Conselho Editorial do seminário “Brasil de Fato”. É autor, entre outros livros, de “América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE”. (http://www.diretodaredacao.com/noticia/falsificacoes-que-visam-golpes-de-estado).[ Pequeno trecho entre colchetes adicionado por este blog ‘democracia&política’].
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