sexta-feira, 9 de agosto de 2013

FALSIFICAÇÕES QUE VISAM A GOLPES DE ESTADO NA AMÉRICA LATINA

Por Mário Augusto Jakobskind

“O mundo gira. Enquanto o governador do Estado do Rio de Janeiro, provavelmente aconselhado por algum marqueteiro, tenta posar de vítima, quando na verdade não passa de um algoz dos "jovens manifestantes" [e vândalos, sempre associados], pelo mundo acontecem fatos relevantes absolutamente ignorados pela “mídia de mercado”, que segue desempenhando a função, não propriamente de quarto poder, mas de aparelho ideológico de concepções “conservadoras”, como diria o jornalista Ignácio Ramonet, do “Le Monde Diplomatique”.

Pois bem, na Venezuela, os opositores da revolução bolivariana assacaram uma deslavada mentira contra o presidente eleito Nicolás Maduro. Os golpistas, tendo por base declaração de um tresloucado ex-embaixador do Panamá na “Organização dos Estados Americanos” (OEA), de nome Guillermo Cochez, segundo o qual Maduro não é venezuelano pois “nasceu na Colômbia, na cidade de Cúcuta, na fronteira com a Venezuela”, aproveitaram o embalo para, mais uma vez, tentar derrubar o Presidente que substituiu Hugo Chávez.

O candidato derrotado, Henrique Capriles, tentando criar um fato político, sempre com discurso ao estilo de outros golpistas na América Latina, exigiu que Maduro apresentasse sua certidão de nascimento, e assim sucessivamente. Outros seguidores de Capriles chegaram a colocar em questão a constitucionalidade do mandato de Maduro, já que a legislação não permite que estrangeiros ocupem a Presidência da República da Venezuela.

Mas a tramoia golpista durou pouco, porque o desmentido das próprias autoridades colombianas não demorou a aparecer. A denúncia foi rigorosamente investigada no setor do Registro Civil da cidade de Cúcuta, que chegou à conclusão, segundo informou Carlos Alberto Arias, diretor nacional do setor, que o documento apresentado pelo ex-embaixador panamenho na OEA era mesmo falso.

A história da América Latina registra falsificações do gênero que serviram de pretexto, ou para golpes de Estado, ou tentativas de desestabilizar governos democráticos. No Brasil, o “Plano Cohen”, de responsabilidade do então capitão integralista Olimpio Mourão Filho, em 1937, mostrava um suposto plano comunista de assalto ao poder, servindo de pretexto para o golpe do Estado Novo. Esse mesmo Mourão Filho, 27 anos depois, comandava tropas de Minas Gerais que culminaram no golpe que derrubou o presidente constitucional João Goulart e mergulhou o país em longa noite escura de torturas e assassinatos de oposicionistas.

No anos 50, mais precisamente em 17 de agosto de 1953, o então famigerado deputado Carlos Lacerda inventava no seu jornal “Tribuna da Imprensa” uma falsa carta que recebeu a denominação de “Brandy”, em que um deputado argentino intermediava encontro secreto do então Ministro do Trabalho, João Goulart, como emissário do Presidente Getúlio Vargas. Ficou constatada a mentira, mas Lacerda continuou impune, e posteriormente tornou-se um dos responsáveis pela tentativa de golpe de estado, em 1954, evitado porque Vargas saiu da vida para entrar para história, ao se suicidar em agosto de 1954.

Fatos históricos como os mencionados são importantes de serem lembrados, inclusive para tentar entender o momento presente, como o da Venezuela com a mentira apresentada pelo ex-embaixador do Panamá na OEA, Guillermo Cochez, o mesmo boquirroto que, em janeiro deste ano, havia investido contra a Venezuela em um discurso raivoso, na entidade onde servia.

Por essas e muitas outras, todo o cuidado é pouco em se tratando de setores conservadores e de direita. Até porque, sai ano entra ano, figuras como esse Cochez, como Capriles e tantos outros pelo continente latino-americano não se cansam de tentar desestabilizar governos que não rezem pela cartilha de Washington.

Na Venezuela, as tentativas golpistas não se resumem à falsa denúncia contra Maduro. O Ministro das Relações Interiores da Venezuela, Miguel Rodríguez Torres, informou que elementos da direita mantiveram contatos com setores ideológicos no exterior afinados com a doutrina golpista, com o objetivo de assassinar o Presidente Maduro. E o Ministro deu nome aos bois, bem como os locais onde ocorreram reuniões conspiratórias que tiveram por objetivo assassinar o Presidente Nicolás Maduro.

Segundo Rodriguez Torres, duas reuniões ocorreram no mês de abril em Bogotá e Miami. Participaram, entre outros, o ex-presidente colombiano, Álvaro Uribe, o ex-presidente de fato de Honduras, Roberto Micheletti, um delegado enviado pelo terrorista Luis Posada Carriles (*), um oficial colombiano da ativa e um oficial da Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA). O plano discutido previa "iniciar contato com a direita venezuelana e promover ações desestabilizadoras”.

Naturalmente que essas informações não foram divulgadas até agora pela mídia de mercado e, se o forem, provavelmente serão manipuladas no sentido de o leitor concluir que não passam de teorias conspiratórias da história. É o que acontece rotineiramente nos jornalões e telejornalões.”

(*) Terrorista responsável pela explosão de um avião da Cubana de Aviação nos céus da Venezuela, matando dezenas de atletas que tinham participado de uma competição esportiva. Carriles foi condenado pela Justiça venezuelana, mas fugiu da prisão com a ajuda CIA. 

FONTE: escrito por Mário Augusto Jakobskind, correspondente no Brasil do semanário uruguaio “Brecha”. Foi colaborador do “Pasquim”, repórter da “Folha de São Paulo” e editor internacional da “Tribuna da Imprensa”. Integra o Conselho Editorial do seminário “Brasil de Fato”. É autor, entre outros livros, de “América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE”.  (http://www.diretodaredacao.com/noticia/falsificacoes-que-visam-golpes-de-estado).[ Pequeno trecho entre colchetes adicionado por este blog ‘democracia&política’].

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