ANDRÉ SINGER: ‘TEMER COMETEU TRIPLA TRAIÇÃO’
"O cientista político avalia, em artigo publicado no sábado, que o vice-presidente da República não só "abandonou a companheira de chapa na hora em que ela mais precisava dele", mas também "a própria vocação do PMDB". "E o vice traiu, também, a si mesmo. A sua postura irresponsável animou Cunha a continuar manipulando de maneira descarada tanto o rito do impedimento quanto o Conselho de Ética", completa.
Do "Brasil 247"
O cientista social André Singer destaca em sua coluna de sábado que o vice-presidente, Michel Temer, cometeu uma "tripla traição". Ele não só "abandonou a companheira de chapa na hora em que ela mais precisava dele", mas também "a própria vocação do PMDB", opina o colunista.
"E o vice traiu, também, a si mesmo. A sua postura irresponsável animou Cunha a continuar manipulando de maneira descarada tanto o rito do impedimento quanto o Conselho de Ética", completa o colunista. Para ele, "o vice inventou uma série de desculpas esfarrapadas" na carta que entregou a Dilma nessa semana [que passou].
"Em lugar de propor a expulsão de Cunha do PMDB, que seria o destino óbvio para um sabotador contumaz, Temer voltou-se contra a estabilidade das instituições. O Brasil pagará preço alto se houver impeachment sem base consistente", opina ainda André Singer. "A tripla traição de Temer deveria ficar para a história como exemplo de péssima política", conclui.
"E o vice traiu, também, a si mesmo. A sua postura irresponsável animou Cunha a continuar manipulando de maneira descarada tanto o rito do impedimento quanto o Conselho de Ética", completa o colunista. Para ele, "o vice inventou uma série de desculpas esfarrapadas" na carta que entregou a Dilma nessa semana [que passou].
"Em lugar de propor a expulsão de Cunha do PMDB, que seria o destino óbvio para um sabotador contumaz, Temer voltou-se contra a estabilidade das instituições. O Brasil pagará preço alto se houver impeachment sem base consistente", opina ainda André Singer. "A tripla traição de Temer deveria ficar para a história como exemplo de péssima política", conclui.
Leia aqui a íntegra [ou a seguir]:
A traição de Temer
"Começo por uma confissão. Por bom tempo, desenvolvi a tese de que o PMDB seria o partido de centro no sistema brasileiro. A ideia era, creio, razoável. Agremiação moderada, serviria para frear os ímpetos de radicalização tanto do PT quanto do PSDB. Desse modo, o governismo peemedebista, estabelecido desde o período Sarney, teria alguma função sistêmica.
Contrariamente à hipótese, primeiro fui obrigado a reconhecer que o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), um dos principais nomes da sigla no período recente, atuava para radicalizar o cenário. O presidente da Câmara adotou desde o começo do ano o perfil de líder conservador radical, disposto a colocar fogo no circo para queimar o PT.
Acalentei, então, durante certa fase, a esperança de que, tal como corpo estranho, o político carioca fosse expelido do campo moderado. Nessa visão, a fúria expressa nas manobras cunhistas seria passageira. Terminada a sua vilegiatura, tudo voltaria ao normal.
A incrível atitude de Michel Temer nesta semana que passou, entretanto, me faz repensar todo o esquema. Sem qualquer razão de fundo, a não ser a óbvia ambição de poder, ele abandonou a companheira de chapa na hora em que ela mais precisava dele. Como não há qualquer divergência política que justifique o afastamento, uma vez iniciado o trâmite do impeachment, o vice inventou uma série de desculpas esfarrapadas.
Não que os episódios relatados na carta sentimental enviada domingo passado sejam falsos. Ao contrário, parecem de realismo pungente. O problema é que nenhum deles se refere ao passado, presente ou futuro do país. São mágoas pessoais dignas de intriga municipal das mais chinfrins.
Em lugar de propor a expulsão de Cunha do PMDB, que seria o destino óbvio para um sabotador contumaz, Temer voltou-se contra a estabilidade das instituições. O Brasil pagará preço alto se houver impeachment sem base consistente. Arrisco dizer que Temer não só traiu Dilma como a própria vocação do PMDB.
E o vice traiu, também, a si mesmo. A sua postura irresponsável animou Cunha a continuar manipulando de maneira descarada tanto o rito do impedimento quanto o Conselho de Ética. Os episódios de pugilato na Câmara nos últimos dias devem ser debitados também na conta do vice, que sempre cultivou a imagem de equilíbrio e ponderação.
Sem dúvida, Dilma fica mais fraca e isolada. Mas Temer mostrou que a sua candidatura ao Planalto tem dimensão apenas paroquial. Abre-se um perigoso vazio em que a presidente não tem força para atuar e a alternativa imediata revela-se um fiasco. A tripla traição de Temer deveria ficar para a história como exemplo de péssima política."
FONTE: escrito pelo cientista social André Singer na "Folha de São Paulo". Transcrito e comentado no portal "Brasil 247" (http://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/209249/Andr%C3%A9-Singer-%E2%80%98Temer-cometeu-tripla-trai%C3%A7%C3%A3o%E2%80%99.htm) e (http://www1.folha.uol.com.br/colunas/andresinger/2015/12/1718125-a-traicao-de-temer.shtml).
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