sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

LAVA-JATO ESCONDEU PROPINA A AÉCIO POR SEIS MESES



(
Imagem: Fábio Sexugi: "Minha sugestão à Veja para sua próxima capa")


Propina a Aécio levou seis meses para vazar

A Lava-Jato só ataca um lado

O portal "Conversa Afiada" reproduz artigo de Luis Nassif:

Falta um 11º mandamento na lista bíblica de Dallagnol

Há duas maneiras de ler a Lava Jato: pelas manchetes e pelas entrelinhas.

"Já que as manchetes são óbvias, vamos a uma releitura através das entrelinhas do que saiu publicado nos últimos dias.

O repórter policial da "Folha", Frederico Vasconcellos, divulgou trechos de um trabalho de Ségio Moro de 2004, sobre a "Operação Mãos Limpas", da Itália. Já havia sido divulgado e analisado no Blog [do Nassif] há tempos. Como é repórter policial, restringiu-se aos abusos paralegais analisados por Moro na "Mãos Limpas", e vistas por ele como imprescindíveis para a "Lava Jato". Tipo, em linguagem policial: tem que manter o suspeito na prisão o máximo de tempo possível afim de que ele abra o bico.

Mais sofisticado, o colunista Mário Sérgio Conti aborda outros ângulos do trabalho, exaustivamente discutidos no Blog. Um deles, o uso desabusado da imprensa, através do vazamento de notícias visando comandar a pauta.

Aborda também os aspectos geopolíticos da cooperação internacional - a rede internacional de autoridades de vários países, montada inicialmente para o combate à narcotráfico e ao terrorismo e, depois, estendida para outras atividades ilícitas, sob controle estrito das autoridades norte-americanas.

Aqui, mostramos claramente que a cooperação internacional tornou-se uma peça da geopolítica norte-americana, visando impedir concorrência "desleal" de empresas de outros países contra as americanas.

Conti faz uma baita ginástica para a conclusão óbvia: na cooperação internacional, os Estados Unidos entram com motivação econômica. O óbulo: "Para os toscos, é um garrote vil do imperialismo norte-americano". Para ele, que é sofisticado, "a corrupção beneficia as burguesias locais, mormente (sic) de países periféricos, em detrimento da classe dominante do Império". E justifica como um gesto de autodefesa dos EUA – aquele país cujas ferramentas de espionagem não pouparam sequer presidentes de nações amigas.

Pelo conteúdo, o artigo foi montado em cima de entrevistas com membros da Lava Jato, que admitem o jogo. Segundo eles, "admite-se que a motivação americana (e não apenas ela) tem boa dose de mercantilismo". Mas, no frigir dos ovos, acreditam que seja benigna, pois "ajuda o Brasil a resolver seus problemas".

A maneira como as corporações norte-americanas instrumentalizam suas instituições torna o Brasil um peixe fácil. É para "ajudar o Brasil a resolver seus problemas" que a Lava Jato tratou de criminalizar financiamentos à exportação de serviços, que o MPF tenta a todo custo envolver o BNDES e espalhar suspeitas sobre ações diplomáticas na África.

Nem se culpe juiz, procuradores e delegados. Eles apenas se valem de forma oportunista da fragilidade institucional brasileira, da visão rala de interesse nacional, de uma presidente politicamente inerte e de um Ministro da Justiça abúlico para ocupar espaços.

A manipulação da mídia ficou clara em um episódio ocorrido quarta-feira (30). Nos depoimentos, qualquer menção a Lula é vazado no mesmo dia.

Quarta-feira, o repórter Rubens Valente, da "Folha" - que não pertence ao circuito mídia-Lava Jato - levantou o depoimento de um delator apontando propinas a Aécio Neves. É de junho passado. Passou seis meses inédito.

No período da tarde de quarta-feira, a Lava Jato tratava de vazar correndo outro depoimento, indicando pagamento de propinas ao presidente do Senado Renan Calheiros, a um senador da "Rede", Randolfo Rodrigues.

Todo dia, o procurador Deltan Dallagnol aparece em sua campanha pelos 10 pontos a serem alterados na lei para combate à corrupção.

Se fosse uma campanha efetivamente isenta, o 11º ponto seria a obrigação do Procurador Geral da República e do Supremo Tribunal Federal (STF) de abrir os dados em relação a todo pedido de vista ou todo inquérito engavetado. E de se criar formas que impeçam o uso político do vazamento seletivo de inquéritos.

No STF, o ex-Ministro Ayres Britto engavetou por dez anos, sem nenhuma explicação, o inquérito sobre o mensalão [tucano] "mineiro". Tinha que apresentar em uma sessão, foi tomar um café no intervalo, e na volta simplesmente deixou de falar sobre o inquérito.

Do mesmo modo, desde 2010 dorme na gaveta do PGR um inquérito contra Aécio Neves, acusado de ter conta no paraíso fiscal de Liechtenstein em nome de uma offshore. Como o próprio Procurador Geral observou, na denúncia contra Eduardo Cunha, o uso de offshores visa esconder a verdadeira identidade dos titulares da conta. E se visa esconder, é porque o dinheiro é de procedência duvidosa.

De fato, o país precisa ser passado a limpo. E a Lava Jato tem feito um trabalho completo de desvendar as maracutaias de um lado. Mas esconde e blinda os malfeitos do outro lado.

Se ataca só um lado - a ponto de deixar por um fio o mandato de uma presidente inerte - e poupa o outro, é evidente que instrumentaliza o combate à corrupção em favor de interesses corporativos e políticos.

Essa hipocrisia não pode perdurar muito, ainda mais em um ambiente de redes sociais."

FONTE: escrito pelo jornalista Luis Nassif em seu blog no Jornal GGN; transcrito no portal "Conversa Afiada"  (http://www.conversaafiada.com.br/brasil/propina-a-aecio-levou-seis-meses-para-vazar).

Nenhum comentário: