Romilda Aparecida Ferreira
“No dia 29 de dezembro de 2011, quatro militares norte-americanos que prestavam serviços na embaixada dos Estados Unidos em Brasília contrataram um grupo de mulheres para "se divertir". Na saída do clube noturno brasiliense Apple, Romilda Aparecida Ferreira teria sido jogada para fora de um carro e atropelada. Quebrou a clávicula, costelas, perfurou o pulmão e ficou desmaiada. O veículo não prestou socorro e os militares foram "enviados de volta para casa".
Por Darío Pignotti, no jornal argentino “Página/12”
Romilda Aparecida Ferreira
"Se as relações de agentes norte-americanos com mulheres na Colômbia causaram escândalo internacional, pelo que tenho lido na imprensa, as agressões que os ‘marines’ cometeram contra Romilda Aparecida Ferreira foram mais graves, e merecem reparação da embaixada norte-americana" resume o advogado da vítima, Rodrigo Machado.
O caso Romilda, escondido durante meses pela embaixada norte-americana, confirma que são uma regra e não uma exceção os escândalos dos “boys” em prostíbulos quando partem em missão no "quintal da América".
“Romilda foi vítima de tentativa de homicídio. Foi jogada violentamente fora da camioneta, depois a camioneta passou por cima dela. Ela quebrou a clavícula, costelas, perfurou o pulmão e ficou desmaiada. O veículo, com placa oficial, não prestou socorro" declarou Machado.
"Pelo visto, até o momento, Washington protege os ‘marines’ que agrediram Romilda, ou pelo menos não deu a colaboração adequada às autoridades brasileiras para que os suspeitos sejam investigados. Tudo isso foi, em última instância, uma ofensa à soberania do Brasil, que não pode ser arquivada como se nada tivesse acontecido.”
O fato ocorreu no dia 29 de dezembro na saída do clube noturno brasiliense Apple, quando um grupo de mulheres foi contratado por quatro militares norte-americanos que prestavam serviços, não se sabe se permanentes ou provisórios, na embaixada.
Mas só se tornou público na terça-feira passada, justamente quando o secretário de Defesa, Leon Panetta, foi recebido por seu colega brasileiro Celso Amorim para dar curso aos acordos militares, por enquanto pouco ambiciosos, rubricados no mês passado pelos presidentes Barack Obama e Dilma Rousseff em Washington. A surra dada em Romilda eclipsou o encontro celebrado no Ministério de Defesa brasileiro, onde Panetta declarou estar indignado com o comportamento de seus rapazes e informou que eles "foram enviados de volta para casa", ao invés de permanecer no Brasil para testemunhar diante da Justiça.
O Itamaraty pediu explicações ao embaixador em Brasília, Thomas Shannon, ex-secretário de Estado Adjunto para o hemisfério, e não se descarta que o tema entre na agenda a ser tratada pelos chanceleres Antônio Patriota e Hillary Clinton.
Paralelamente, fontes do governo estadunidense informaram que, depois de tantas orgias e surras, o serviço secreto estabelecerá novas normas de conduta, “entre elas, deter o abuso de álcool, proibir o ingresso de hóspedes nos hotéis e não frequentar mais locais que não gozam de boa reputação”.
Quase ao mesmo tempo, em Brasília, a embaixada informava “estar ciente do incidente” e jurava ter cooperado “plenamente com as autoridades brasileiras pertinentes, incluindo a polícia”.
O advogado Rodrigo Machado discordou do uso da palavra “colaborar”. Segundo ele, "se realmente houvesse a intenção de ajudar a esclarecer o caso, a embaixada teria ordenado a seus ‘marines’ que permanecessem no Brasil. Isto não parece demonstrar vontade de que se faça justiça, mais parece que se tenta que o fato permaneça impune”.
Machado e Danilo Prudente, profissionais do escritório de advocacia de Cezar Britto, concederam uma entrevista iniciada durante a viagem de Brasília à Taguatinga, onde vive Romilda.
“Ela está virando a estrela do bairro, jornalistas de todos os lados, dos Estados Unidos vieram vários”, me conta um taxista no posto Ipiranga, em frente ao domicílio da mulher agredida.
A versão dos advogados de Romilda é diferente da apresentada pelo Departamento de Estado.
Victoria Nuland, porta-voz da chancelaria norte-americana disse, em Washington, que a bailarina não foi expulsa da camioneta por um marine, mas que ela “tentou abrir uma porta do carro e entrar em um veículo fechado e em movimento. Não conseguiu, caiu e se machucou sozinha”.
“O que dizem os Estados Unidos é contraditório com o que disseram todos os testemunhos, inclusive algum dos ‘marines’, à polícia de Brasília, e o que disseram as colegas de Romilda. Todos coincidiram em que ela foi tirada com violência da caminhoneta e atirada. Seria importante que os ‘marines’ estivessem aqui para participar na reconstituição”, afirmam os advogados do escritório Britto.
Danilo Prudente comenta que, entre janeiro e março, mantiveram negociações com enviados da embaixada para chegar a um acordo sobre o caso, sem que esse se tornasse público.
“Eu não quero fazer afirmações categóricas, mas temo que eles (a embaixada), na realidade estivessem negociando só para postergar as coisas, para que o escândalo não estourasse justamente antes que a presidenta Dilma visitasse Washington (princípio de abril)”.
E agrega: “É obvio que esse caso tem repercussão diplomática, que isso pode repercutir na relação bilateral, mas o que nos preocupa é que Romilda receba uma reparação justa e se faça justiça”.
FONTE: reportagem de Darío Pignotti, no jornal argentino “Página/12”, Transcrita no site “Carta Maior” com tradução de Libório Junior (http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=20066) [Imagens do google adicionadas por este blog ‘democracia&política’].
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