segunda-feira, 7 de maio de 2012

O IRÃ E SUA IMPORTÂNCIA ESTRATÉGICA


“A ‘República Islâmica do Irã’, que costumamos designar simplesmente como o Irã, está localizada de maneira tal que seu território ocupa tanto a Eurásia como o Oriente Médio. O Irã faz fronteira com o Iraque do lado noroeste, sendo que a Turquia fica um pouco mais acima deste mesmo lado. O Afeganistão e o Paquistão são vizinhos fronteiriços ao leste, sendo que ainda mais adiante para o mesmo leste encontra-se a China. Ao norte propriamente dito encontra-se a Rússia.

Por Anna Malm

O território o Irã é banhado por quase todos os lados por águas de mares, golfos, estreitos e lagos de grande significância política para o transporte do petróleo mundial. Trata-se do Golfo Pérsico, do Golfo de Omã - onde o estreito de Ormuz está localizado ligando esses dois braços marítimos - do Mar Árabe e finalmente do Mar Cáspio. Sua posição poderia dificilmente ser mais central, quanto às rotas marítimas que abastecem o mundo com o petróleo.

Teerã
A capital do Irã é Teerã, que também é o maior centro cultural-político-econômico do país. A civilização persa é uma das mais antigas do mundo sendo que sua medicina, astronomia, matemática assim como artes, literatura e filosofia formaram os fundamentos do mundo moderno, tendo sido também este o contexto no qual a identidade islâmica se desenvolveu.

Teerã
Sua população atual é de 79 milhões de habitantes sendo que o padrão de vida é alto. De 1900 a 1950, o país foi dirigido por uma monarquia constitucional, ou seja, já obedecendo às leis de um governo parlamentar. Há aqui também um monarca que foi deposto por não agradar ao poder colonial britânico e seus interesses econômicos em relação ao petróleo do país. As companhias de petróleo dos interesses britânicos não estavam satisfeitas e o monarca simplesmente perdeu seu poder e sua base política a favor dos interesses britânicos.

O filho do acima mencionado monarca pôde então retomar o poder, bem mais tarde, através de um golpe de Estado, em 1953. Esse golpe se efetuou com os auspícios da mesma Inglaterra, agora ajudada pelos Estados Unidos. Quanto à Inglaterra, tudo estava sendo feito para o bem da sua principal companhia petrolífera de então. O governo que tomou o poder sob os auspícios da Inglaterra e dos Estados Unidos foi o governo do monarca que conhecemos como o Xá do Irã.

Essa pode ter sido a primeira vez que os Estados Unidos agiram ativamente na arena internacional, nesse caso através de um golpe de Estado, para derrubar um governo que não se submetia a eles.

O último caso consumado, neste sentido, foi a guerra da Líbia que é um país do norte da África. A guerra da Líbia foi imediatamente seguida por um levante armado com muito envolvimento “estrangeiro” por toda a faixa petrolífera que fica localizada mesmo abaixo da que podemos chamar de faixa norte da África.

Todos os países africanos da abrangente faixa petrolífera encontram-se agora, depois da queda do governo da Líbia pelas mãos da OTAN, em guerra aberta ou dissimulada, guerras essas de maior ou menor intensidade. A mídia ocidental continua surda e muda como sempre.

A Síria ainda está na encruzilhada do destino, à espera de uma definição.

Mas voltando ao Irã de 1953. No Irã de então, as manipulações do sistema político dirigido pelos interesses econômicos coloniais-imperialistas da Inglaterra e dos Estados Unidos fizeram com que uma oposição iraniana, contra as manipulações estrangeiras, se fizesse notar. Essa oposição culminou na revolução popular de 1979, que estabeleceu a República Islâmica do Irã no governo do país.

O Irã é muito importante para a segurança energética do mundo, assim como para sua economia global. A reserva de gás natural do Irã é a segunda maior do mundo, e a sua reserva de petróleo é a quarta maior do mundo.

De acordo com Yuri Baranchik [1], a República Islâmica do Irã tornou-se um poder regional de peso e o Irã ocupa, agora, posição estratégica muito importante devido a uma série de fatores. Em relação à segurança energética, ressaltou-se então:

1) sua localização estratégica;
2) seus impressionantes recursos naturais;
3) seu acesso marítimo às rotas de fretes de cargas;
4) seu potencial para poder integrar diversos fatores numa teia de comunicações favoráveis ao desenvolvimento econômico da Eurásia.

De acordo com o autor, temos que a lógica das relações internacionais contemporâneas se baseia na primazia dos Estados Unidos, primazia essa tendo que ser constantemente reafirmada.

Desse modo, tanto as elites do Partido Democrático (liberal intervencionista) quanto as elites do Partido Republicano dos Estados Unidos aderem à ideia de que a força militar é a melhor forma de política exterior para o seu país. Nesse cenário, as fronteiras e as soberanias nacionais perdem, da perspectiva bélica dos mesmos, os seus contornos e o seu significado tradicional. No caso do Oriente Médio, para eles quanto maior for o território do que denominam como o “Grande Oriente Médio”, tanto melhor.

Um “Grande Oriente Médio” significa, aos olhos dos acima mencionados, um Oriente Médio como gigantesca base militar americana, e isso no coração da Eurásia. Um “Grande Oriente Médio” significaria então para os Estados Unidos:

1) quase que total controle sobre o preço do gás e do petróleo;
2) domínio político-econômico sobre os poderes regionais da Eurásia, ou seja, a China, a Índia e a Rússia.

A Rússia, A China, a Índia e o Irã. Nesses quatro poderes regionais, sustenta-se a balança estratégica, não só da Eurásia, como também a balança estratégica mundial.

Quem ainda consegue acreditar que é o aspecto ou a perspectiva de um Irã nuclear que incomoda os Estados Unidos [e por consequência seus irmãos em armas]? A China tem muito mais para incomodar os Estados Unidos a esse respeito do que o Irã nunca teria, mesmo se o Irã viesse a ter um relativamente pequeno arsenal nuclear. O único provável alvo para um Irã com armas nucleares seria, da perspectiva do autor, e como também da minha, Israel. O autor ressalta, então, que nesse caso, o próprio Irã iria, com certeza, transformar-se numa total catástrofe nuclear. A história, a experiência e a lógica nos mostram claramente que isso não faz sentido.

O problema é então, outro. O próprio fato de existir um Irã com capacidade tecnológica, incluindo o domínio do setor da energia nuclear, representaria derrota política para os Estados Unidos no contexto, e ainda por cima prova concreta da possibilidade atual e realista de um mundo multipolar, mundo multipolar esse com diversos centros de poder político-econômicos em cooperação conjunta, ou concorrência.

Isto não só acabaria com a primazia dos Estados Unidos, como também mostraria, com toda a desejável clareza, as bases periclitantes dos arranjos nos quais o complexo industrial-militar estabelece os Estados Unidos como uma superpotência e o dólar como a única moeda de reserva internacional. Isso significa a moeda destinada a compras e vendas no mercado internacional e isso, muitíssimo especialmente, quanto à compra e venda do petróleo e seus derivados no mercado internacional.

A economia atual dos Estados Unidos é propulsionada por um endividamento desenfreado no mercado financeiro e essa não teria grandes chances de sobreviver com uma liderança americana enfraquecida. A supremacia dos mesmos se tornaria coisa do passado. A meu ver, um passado a ser esquecido, depois de bem analisado e entendido.

O autor Yuri Baranchik argumenta, ainda, que não é a necessidade do petróleo propriamente dito que motiva as ações dos Estados Unidos no contexto aqui estudado. O que motiva as ações dos mesmos é a sua necessidade de controlar, tanto o mercado petrolífero, como o preço do petróleo no mercado internacional.

Os Estados Unidos têm fontes próprias para seu consumo energético doméstico. Portanto, quanto às suas sanções que agora levam o preço do petróleo às alturas, isso não os afeta diretamente, se visto desse específico aspecto.

No entanto, as sanções unilaterais americanas, com que eles ainda tentam chantagear outros países, fazem, por outro lado, com que as economias da União Europeia, assim como a da China e da Índia, entre outros países, venham a sofrer as consequências. Eles mesmos pretendendo passar ao largo da tempestade.

É interessante notar aqui a triste figura que a União Europeia é levada a representar, também nesse caso, como em muitos outros.

O autor ressaltou, então, que poder controlar o Irã politicamente significa para os Estados Unidos o mesmo que poder controlar o fornecimento energético da China e da Índia.

Nos tempos coloniais de outrora, os países europeus só podiam adquirir suas importações coloniais através de um revendedor global, o qual conhecemos hoje em dia como a monarquia britânica.

Um controle do mercado e do preço do petróleo facilitaria ainda por cima uma marcha dos Estados Unidos a superioridade tecnológica sobre seus competidores, concluiu Yuri Baranchik.

Ressaltamos, então aqui, que o Irã é um membro fundador tanto da ONU quanto da OPEP – Organização dos Países Produtores de Petróleo. A importância do Irã não acaba com a sua importância estratégica. A importância internacional do Irã também se mostra na sua posição atual como símbolo da luta pelo direito da autodeterminação dos povos e da primazia da lei e do direito a ser exigidas nas relações internacionais. Aqui o Irã torna-se símbolo maior a ser seguido.”

REFERÊNCIAS E NOTAS:

[1] Yuri Baranchik, “Will the U.S. Launch an Agression Against Iran?” no jornal on-line da Strategic Culture Foundation -  http://www.strategic-culture.org/

FONTE: escrito por Anna Malm, correspondente na Europa do “Irã News”. Artigo transcrito no portal “Vermelho”  (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=182513&id_secao=9). [Imagens do Google adicionadas por este blog ‘democracia&política’].

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