A guerra
“soft” da OTAN contra a Rússia
Por Pepe Escobar, no "Asia Times Online", em "The Roving Eye", sob o título original “NATO's soft war on Rússia”. Traduzido pelo "pessoal da Vila Vudu" e postado no "Redecastorphoto"
Pepe Escobar
Guerra Fria 2.0
Pobre OTAN. Malditos soviéticos. A generosa "Organização do Tratado do Atlântico Norte" (OTAN) gastou duas décadas “tentando construir uma parceria” com a Rússia. Mas agora, “claramente os russos declararam a OTAN adversária deles. Assim sendo, temos de começar a ver a Rússia, não mais como parceira, mas como adversária” – nas palavras do vice-secretário-geral da OTAN, Alexander Vershbow, ex-diplomata norte-americano/empregado do Pentágono.
A lava ardente que pinga da boca de um abutre do Pentágono, a gemer que “a Rússia claramente está tentando reimpor a hegemonia”, é de dar vergonha no Vesúvio. Mas é só uma virada menor de roteiro, em "Os Descartáveis" (filme)[1], da OTAN.
A OTAN – ainda no processo de ser diariamente humilhada, humilhação épica, por um bando de pashtuns armados com Kalashnikovs no Afeganistão – começa agora a considerar “novas medidas defensivas” para deter a “Rússia-do-mal” e impedir que “agrida” membros da OTAN, principalmente os estados do Báltico. E implicará deslocar “número mais substancial de forças de combate aliadas para a Europa Oriental” – principalmente para a Polônia. Permanentemente. Ou, em pentagonês: “em rotação semipermanente de unidades em treinamento”. Como se ainda restasse alguma dúvida de que a Guerra Fria 2.0 aqui está para ficar.
A OTAN vai “debater” a questão – àquela maneira lá dela, de só agir em lama densa – durante o verão; e os resultados serão anunciados numa reunião no País de Gales, em setembro, presidida por Imperador Barack Obama, em pessoa.
O mapa da velha Guerra Fria...
Qualquer analista esperto, não digerido pela matrix pentagonal, sabe que potências europeias chaves, Alemanha e França, que têm sólidas relações econômicas e de negócios com a Rússia, jamais entrarão nessa conversa fiada de "Guerra Fria 2.0". Quanto a outros membros consideráveis da OTAN, estão simplesmente falidos e/ou têm melhor peixe (econômico) para fritar, em casa.
A opinião bem informada também sabe que, caso a "Guerra Fria 2.0" por acaso progrida, o revide será lindo. Por exemplo, para começar: a Rússia fecha a Rede Norte de Distribuição, rota pela qual a OTAN está tentando fugir da vergonha que passou, está passando e passará, no Afeganistão.
Vlad, o Contemplator
Apesar disso tudo, a boataria pró-OTAN nunca para; não se vê “sinal algum” de retirada das tropas russas da fronteira ucraniana; os EUA estão fornecendo ajuda militar “não letal” à Ucrânia (estão mandando o quê? Tacos de beisebol?); forças terrestres norte-americanas estão sendo enviadas para a Polônia. E tudo isso para combater militantes “separatistas” e “pró-Rússia” no leste da Ucrânia.
Lixo e mais lixo. Esse pessoal precisa estudar geografia, para nem falar do quanto precisam estudar a Carta da OTAN. A Ucrânia sequer é membro da OTAN, para começo de conversa. E a maioria dos ucranianos do leste não quer se autoanexar à Federação Russa. Querem ser províncias autônomas fortes, livres da interferência de Kiev, num quadro de Ucrânia federal, finlandizada. Basta alguém perguntar àqueles ucranianos que já controlam 23 cidades – e o número está aumentando – no Donbass, que produz 1/3 do PIB da Ucrânia.
Região do Donbass (rosa) abrange províncias (oblasts) como Carcóvia, Lugansk, Donetsk...
Ao mesmo tempo, os adultos continuam a conversar – diferente do que fazem os servidores de Obama e de sua escola de diplomacia de delinquentes juvenis. O presidente russo Vladimir Putin e a Chanceler alemã, Angela Merkel conversaram pelo telefone no Dia do Trabalhador. Putin, mais uma vez, repetiu que Kiev tem de pôr fim às repetidas investidas “antiterroristas” e cuidar de fazer amplo diálogo nacional. Mas não parece provável que façam.
O Ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, também se sentiu no dever de recordar ao chefe do Pentágono, Chuck Hagel, que a Rússia não “invadirá” coisa alguma se Kiev não usar força militar contra civis desarmados – exatamente do que trata a mais recente provocação, por Kiev, em Slavyansk.
A think-tankelândia nos EUA está freneticamente tentando mascarar a histeria da OTAN sobre “agressividade russa”, como se fosse “resposta ponderada”. Só enganam os desinformados. Depois de terem produzido um estado falido na Líbia e fiasco no Afeganistão, o Robocop OTAN-global, está à procura de “propósito” e significado: não pode parar de fabricar inimigos.
Aplica-se um verniz ao nada, com o que está sendo descrito como mudança “do ponto focal estratégico” – do Afeganistão? – para os países Bálticos plusPolônia, Eslováquia, Hungria e República Tcheca. O Pentágono, como o vice-presidente Joe Biden, prometeu “treinamento ampliado” com “parceiros orientais da OTAN”.
Olha aí o que o Obama me mandou!
Putin, entrementes, aplica Sun Tzu. Pode deixar-se ficar também, calmamente, pernas cruzadas, a contemplar as águas do Volga. Bem longe da loucurada sobre Moscou invadir “agressivamente” os estados do Báltico. Seria facílimo. Poderia ser feito num estalar de dedos; e a OTAN jamais saberia o que a atingiu. Mas Moscou não quer, ou não precisa, de escalada desse tipo.
Resumo: o Robocop OTAN-global só sobrevive se enfrenta ameaça mortal. Assim sendo, que melhor plataforma para ‘harmonizar’ a OTAN, que uma Rússia “hostil”? É isso, ou, então, a OTAN ficará lá, lambendo as feridas que os pashtuns abrem nela, no Hindu Kush.
Nota dos tradutores
[1] Orig. The Expendables (filme do herói de Rambo, Sylverter Stallone, de 2010). No Brasil e em Portugal foi exibido como “Os mercenários”. Optamos por “descartáveis”, mais próximo do sentido de "expendables".
FONTE: escrito por Pepe Escobar, no "Asia Times Online", em "The Roving Eye", sob o título original “NATO's soft war on Rússia”. Traduzido pelo "pessoal da Vila Vudu" e postado por Castor Filho no seu blog "Redecastorphoto" (http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2014/05/pepe-escobar-guerra-soft-da-otan-contra.html).
Guerra Fria 2.0
Pobre OTAN. Malditos soviéticos. A generosa "Organização do Tratado do Atlântico Norte" (OTAN) gastou duas décadas “tentando construir uma parceria” com a Rússia. Mas agora, “claramente os russos declararam a OTAN adversária deles. Assim sendo, temos de começar a ver a Rússia, não mais como parceira, mas como adversária” – nas palavras do vice-secretário-geral da OTAN, Alexander Vershbow, ex-diplomata norte-americano/empregado do Pentágono.
A lava ardente que pinga da boca de um abutre do Pentágono, a gemer que “a Rússia claramente está tentando reimpor a hegemonia”, é de dar vergonha no Vesúvio. Mas é só uma virada menor de roteiro, em "Os Descartáveis" (filme)[1], da OTAN.
A OTAN – ainda no processo de ser diariamente humilhada, humilhação épica, por um bando de pashtuns armados com Kalashnikovs no Afeganistão – começa agora a considerar “novas medidas defensivas” para deter a “Rússia-do-mal” e impedir que “agrida” membros da OTAN, principalmente os estados do Báltico. E implicará deslocar “número mais substancial de forças de combate aliadas para a Europa Oriental” – principalmente para a Polônia. Permanentemente. Ou, em pentagonês: “em rotação semipermanente de unidades em treinamento”. Como se ainda restasse alguma dúvida de que a Guerra Fria 2.0 aqui está para ficar.
A OTAN vai “debater” a questão – àquela maneira lá dela, de só agir em lama densa – durante o verão; e os resultados serão anunciados numa reunião no País de Gales, em setembro, presidida por Imperador Barack Obama, em pessoa.
O mapa da velha Guerra Fria...
Qualquer analista esperto, não digerido pela matrix pentagonal, sabe que potências europeias chaves, Alemanha e França, que têm sólidas relações econômicas e de negócios com a Rússia, jamais entrarão nessa conversa fiada de "Guerra Fria 2.0". Quanto a outros membros consideráveis da OTAN, estão simplesmente falidos e/ou têm melhor peixe (econômico) para fritar, em casa.
A opinião bem informada também sabe que, caso a "Guerra Fria 2.0" por acaso progrida, o revide será lindo. Por exemplo, para começar: a Rússia fecha a Rede Norte de Distribuição, rota pela qual a OTAN está tentando fugir da vergonha que passou, está passando e passará, no Afeganistão.
Vlad, o Contemplator
Apesar disso tudo, a boataria pró-OTAN nunca para; não se vê “sinal algum” de retirada das tropas russas da fronteira ucraniana; os EUA estão fornecendo ajuda militar “não letal” à Ucrânia (estão mandando o quê? Tacos de beisebol?); forças terrestres norte-americanas estão sendo enviadas para a Polônia. E tudo isso para combater militantes “separatistas” e “pró-Rússia” no leste da Ucrânia.
Lixo e mais lixo. Esse pessoal precisa estudar geografia, para nem falar do quanto precisam estudar a Carta da OTAN. A Ucrânia sequer é membro da OTAN, para começo de conversa. E a maioria dos ucranianos do leste não quer se autoanexar à Federação Russa. Querem ser províncias autônomas fortes, livres da interferência de Kiev, num quadro de Ucrânia federal, finlandizada. Basta alguém perguntar àqueles ucranianos que já controlam 23 cidades – e o número está aumentando – no Donbass, que produz 1/3 do PIB da Ucrânia.
Região do Donbass (rosa) abrange províncias (oblasts) como Carcóvia, Lugansk, Donetsk...
Ao mesmo tempo, os adultos continuam a conversar – diferente do que fazem os servidores de Obama e de sua escola de diplomacia de delinquentes juvenis. O presidente russo Vladimir Putin e a Chanceler alemã, Angela Merkel conversaram pelo telefone no Dia do Trabalhador. Putin, mais uma vez, repetiu que Kiev tem de pôr fim às repetidas investidas “antiterroristas” e cuidar de fazer amplo diálogo nacional. Mas não parece provável que façam.
O Ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, também se sentiu no dever de recordar ao chefe do Pentágono, Chuck Hagel, que a Rússia não “invadirá” coisa alguma se Kiev não usar força militar contra civis desarmados – exatamente do que trata a mais recente provocação, por Kiev, em Slavyansk.
A think-tankelândia nos EUA está freneticamente tentando mascarar a histeria da OTAN sobre “agressividade russa”, como se fosse “resposta ponderada”. Só enganam os desinformados. Depois de terem produzido um estado falido na Líbia e fiasco no Afeganistão, o Robocop OTAN-global, está à procura de “propósito” e significado: não pode parar de fabricar inimigos.
Aplica-se um verniz ao nada, com o que está sendo descrito como mudança “do ponto focal estratégico” – do Afeganistão? – para os países Bálticos plusPolônia, Eslováquia, Hungria e República Tcheca. O Pentágono, como o vice-presidente Joe Biden, prometeu “treinamento ampliado” com “parceiros orientais da OTAN”.
Olha aí o que o Obama me mandou!
Putin, entrementes, aplica Sun Tzu. Pode deixar-se ficar também, calmamente, pernas cruzadas, a contemplar as águas do Volga. Bem longe da loucurada sobre Moscou invadir “agressivamente” os estados do Báltico. Seria facílimo. Poderia ser feito num estalar de dedos; e a OTAN jamais saberia o que a atingiu. Mas Moscou não quer, ou não precisa, de escalada desse tipo.
Resumo: o Robocop OTAN-global só sobrevive se enfrenta ameaça mortal. Assim sendo, que melhor plataforma para ‘harmonizar’ a OTAN, que uma Rússia “hostil”? É isso, ou, então, a OTAN ficará lá, lambendo as feridas que os pashtuns abrem nela, no Hindu Kush.
Nota dos tradutores
[1] Orig. The Expendables (filme do herói de Rambo, Sylverter Stallone, de 2010). No Brasil e em Portugal foi exibido como “Os mercenários”. Optamos por “descartáveis”, mais próximo do sentido de "expendables".
FONTE: escrito por Pepe Escobar, no "Asia Times Online", em "The Roving Eye", sob o título original “NATO's soft war on Rússia”. Traduzido pelo "pessoal da Vila Vudu" e postado por Castor Filho no seu blog "Redecastorphoto" (http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2014/05/pepe-escobar-guerra-soft-da-otan-contra.html).
O autor, Pepe Escobar (1954), é jornalista, brasileiro, vive em São Paulo, Hong Kong e Paris, mas publica exclusivamente em inglês. Mantém coluna ("The Roving Eye") no "Asia Times Online"; é também analista de política de blogs e sites como: "Tom Dispatch", "Information Clearing House", "Red Voltaire" e outros; é correspondente/ articulista das redes "Russia Today", "The Real News Network Televison" e "Al-Jazeera". Seus artigos podem ser lidos, traduzidos para o português pelo "Coletivo de Tradutores da Vila Vudu" e João Aroldo, no blog redecastorphoto.
Livros do autor:
− Globalistan: How the Globalized World is Dissolving into Liquid War, Nimble Books, 2007.
− Red Zone Blues: A Snapshot of Baghdad During the Surge,Nimble Books, 2007.
− Obama Does Globalistan, Nimble Books, 2009.
− Globalistan: How the Globalized World is Dissolving into Liquid War, Nimble Books, 2007.
− Red Zone Blues: A Snapshot of Baghdad During the Surge,Nimble Books, 2007.
− Obama Does Globalistan, Nimble Books, 2009.
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