terça-feira, 9 de junho de 2015

ESTE JUNHO SERÁ SANGRENTO NO ORIENTE MÉDIO




Junho anuncia-se sangrento 

Do "Mundo Cão", de Portugal

"O mês de Junho anuncia-se sangrento na arena internacional. É um mês decisivo para os senhores da guerra de vários matizes, que tentarão ganhar e definir posições ainda antes da assinatura do acordo dito de "prevenção nuclear" a assinar no dia 30 entre os Estados Unidos da América e a República Islâmica do Irã sob a batuta do presidente Hassan Rohani. 

O acordo, em si mesmo, fecha uma história batoteira que serviu para alimentar sanções e outras medidas de isolamento do Irã, sobretudo para conter a sua influência regional até que o regime de Teerã se “moderou”. 

Qualquer dirigente norte-americano, mesmo os que não o admitem, sabe que o Irã não tinha qualquer projeto nuclear militar na manga, o seu objetivo estratégico através da energia atômica é meramente civil. O regime iraniano pretende gerir as suas riquezas petrolíferas da maneira que melhor entende, de forma a não depender energeticamente apenas delas. É importante recordar, a propósito da enorme mentira mundial que foi a possível “bomba atômica” do Irã, o decreto religioso emitido em 1988 pelo líder histórico da revolução, o ayatollah Khomeiny, proclamando a renúncia da República Islâmica à utilização da energia atômica com fins militares.

O que significa então o acordo a assinar em 30 de Junho, negociado em segredo nos últimos dois anos entre Washington e Teerã, em paralelo, e muitas vezes à revelia, das chamadas "conversações 5+1" na Suíça? Significa que Estados Unidos e Israel, por um lado, e o Irã, pelo outro, vão partilhar esferas de influência no Médio Oriente estabelecendo, de certa maneira, um novo mapa da região. Escreveu-se Israel, mas sabe-se que o primeiro-ministro Netanyahu está contra esse arranjo, uma vez que ele traduz, se funcionar, uma possível rejeição norte-americana do projeto de "Grande Israel". Esse ponto levanta uma série de interrogações sobre o futuro do governo de Netanyahu recém-constituído, ao qual a administração norte-americana não parece agora disposta a facilitar a vida.

O acordo entre Washington e Teerã formaliza a rejeição, pelo Irã, do uso da energia atômica para fins militares, a renúncia à “exportação da revolução islâmica” e, em contrapartida, determina o levantamento das sanções internacionais contra a República Islâmica. O Irã conservará as suas esferas de influência na Síria, no Líbano, no Iraque e a questão palestina deverá regressar aos objetivos de Oslo. Os Estados Unidos e Israel reinarão sobre uma grande aliança no Golfo acrescida do Egito, que assentará num eixo militar entre Israel e a Arábia Saudita, cuja existência é cada vez mais nítida. A administração Obama não se compromete, porém, a garantir preto no branco a sobrevivência das atuais monarquias corruptas, o que se percebeu através do meio fracasso da recente cimeira das ditaduras realizada em Washington.

Os Estados Unidos pretendem, através dos arranjos com o Irã, estabilizar a situação no Médio Oriente de maneira a transferirem para a Ásia grande parte dos seus efetivos atualmente na região. A estratégica asiática, de maneira a fazer frente à China e à Rússia, é agora o principal objetivo imperial e por isso está a nascer no sultanato do Brunei a maior base militar norte-americana e mundial.

Na perspectiva do acordo a assinar no dia 30, desenvolvem-se agora intensas operações militares buscando a conquista de posições que, muito hipoteticamente, ficariam congeladas nesse dia. Daí o recrudescimento da ofensiva israelita-americana-europeia em território sírio, de que é exemplo a conquista, em dois dias, pelos terroristas do Estado Islâmico, de duas das principais cidades da Síria e do Iraque, Palmyra e Ramadi. Salta aos olhos que o Estado Islâmico faz parte da estratégia norte-americana e israelita para a fase que se segue à assinatura do acordo. Alguém acredita que um grupo terrorista alegadamente sujeito, há vários meses, a uma campanha de bombardeamentos aéreos norte-americanos mantenha vitalidade para lançar uma bem sucedida ofensiva, e logo em duas frentes? A guerra ocidental contra o Estado Islâmico é falsa porque esse grupo, sustentado logisticamente também por Israel, faz parte dos arranjos territoriais em curso.

A guerra pela conquista de posições antes do dia 30 vai marcar todo o mês de Junho. Daí falar-se também, cada vez mais insistentemente, na possível criação de um Estado Curdo no Curdistão iraquiano patrocinado pelos Estados Unidos, Israel, e tolerado pelo Irã.

Os arranjos existem no papel, o que não quer dizer que funcionem. O mais provável é que não funcionem, como demonstra toda a história do Médio Oriente desde os acordos entre o Reino Unido e a França (Sykes-Picot) a seguir à Primeira Guerra Mundial. As variáveis são mais que muitas, a começar pelo fato de a administração Obama estar em fim de carreira e em Israel existir, embora mais frágil que anteriormente, um governo que fará tudo para minar o entendimento entre Washington e Teerã. Acresce que a proliferação de grupos terroristas islâmicos e o estado de degradação a que chegaram as situações na Síria, no Iraque, no Iêmen e a questão palestina não se compadecem com geometrias diplomáticas, mesmo que parecessem realistas e aplicáveis – o que nem sequer é o caso. Não é certo, sequer, que depois de assinado o acordo a propaganda global silencie as mentiras sobre a opção nuclear militar iraniana." 

FONTE: do "Mundo Cão" (de Portugal); transcrito no portal "Vermelho"  (http://www.vermelho.org.br/noticia/265232-9).

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