sexta-feira, 5 de junho de 2015

POR QUE NÃO XINGAM DE "ESCRAVOS" AOS MÉDICOS DOS BILIONÁRIOS PLANOS DE SAÚDE?



[Cômico: ingênuos médicos escravos de planos de saúde xingando outros médicos de "escravo"...]

Associação mostra que aqui médico de plano ganha menos que cubanos. E ninguém vaia!

Por Fernando Brito

"Você lembram do episódio das vaias [e xingamentos de "Escravo!"] de um grupo de jovens médicos cearenses aos médicos cubanos que chegavam a Fortaleza, em 2013, para o “Mais Médicos”?

Por ironia, acabei hoje caindo numa página, não datada, da Associação Médica Cearense que denunciava as condições aviltantes com que os planos de saúde remuneravam seus médicos conveniados, escrito pelo Dr. Antonio Celso Nunes Nassif.

Lá, como você pode conferir, o médico – com consultório particular e as despesas correspondentes a ele – recebia R$ 42 reais por consulta, segundo a tabela então vigente de "Classificação Brasileira de Hierarquização de Procedimentos Médicos" (CBHPM) e fazia o cálculo de quanto ele ganharia se tivesse 170 pacientes “novos” por mês – ”reconsulta no mesmo mês não remunera”, segundo o site da AMC – ninguém faltasse e não houvesse um horário vago, daria quatro horas de “expediente” no consultório. Sem férias, feriados etc…

Com isso, o médico – depois das despesas de consultório, recepcionista, telefone, limpeza etc e antes do Imposto de Renda – ficava com uma renda de R$ 2.220,77.

Apliquei os índices atuais da CBHPM, recém-atualizada, que fixa a consulta simples (código 10101012) em um valor de R$ 63, o que muitas das operadoras de planos não pagam ainda, aliás. Em 2012, um diretor do Sindicato dos Médicos da rica São Paulo dizia que “há planos que pagam R$ 12 por consulta”.

Mas vamos pela melhor hipótese e apliquemos o aumento de 50% no valor da CBHPM.

Aplicando esse fator de reajuste para receitas e despesas, a renda daquele médico – nos mesmos critérios do Dr. Nassif – será R$ 3.331,15.

Mas o médico cubano não foi chamado de “escravo” com um salário de R$ 3.000, mais alimentação, moradia, férias, passagens e ainda mantendo seu salário que recebia em seu país?

É, de fato, muito pouco, mas é, na prática, mais que o pago médico brasileiro descrito pelo Dr. Nassif em seu artigo, do qual não tenho por que duvidar.

Tanto não duvido que é cada vez mais difícil encontrar médicos que atendam em consultório pelos planos de saúde, sobretudo os mais modestos, e a qualidade do atendimento aos segurados esteja caindo vertiginosamente.

Mas os médicos mais jovens, que não têm grande clientela formada, têm que aderir aos planos para ter pacientes ou se submeterem a clínicas que não lhes pagam mais que esses valores.

Mas, curiosamente, não há uma grita generalizada da mídia contra isso.

Muito menos se faz manifestações para chamá-los de “escravos”.

FONTE: escrito por Fernando Brito em seu blog "Tijolaço"  (http://tijolaco.com.br/blog/?p=27254). [Título,legenda e trecho entre colchetes acrescentados por este blog 'democracia&política'].

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