sábado, 10 de setembro de 2011

MARCHA "CONTRA A CORRUPÇÃO" [sic]

Marcha da "Família com Deus pela Liberdade"

Já dizia o Lobão: “DÉCADENCE AVEC ÉLEGANCE”

Por Hildegard Angel

“Ontem, postei no Twitter:

"O que acho desses "movimentos" anticorrupção mesclando "gatos & ratos": que a demonização da política é o atalho mais curto para uma ditadura".

Em seguida, complementei:

"Quem já viveu uma ditadura tem que estar atento e forte, sempre alerta, pois foi com esse discurso de "ladrões" que Lacerda incendiou o Brasil".

Enfim, no espaço máximo de 140 caracteres, expressei minha opinião, que, como bem diz meu "lema", pode não ser a melhor opinião, pode não ser a sua opinião, mas é a minha opinião....

E sabem o que aconteceu? Recebi como retorno, de uma certa @maria_lima, que não conheço, dois comentários sucessivos. Para o primeiro post: "decadente ridícula!". Para o segundo: "Discurso imbecil!"...

Só então, dada a grita indignada dos demais seguidores do Twitter, eu soube tratar-se, a desbocada, da coordenadora de política da sucursal de Brasília do jornal “O Globo”! Eu, que convivi em “O Globo” -onde "nasci" como jornalista e trabalhei mais de três décadas- com os educadíssimos irmãos Roberto, Rogério e Ricardo Marinho, o finíssimo Padilha, o rigoroso, mas sempre correto Evandro Carlos de Andrade, o cavalheiro José Augusto Ribeiro, o sempre amável Carlos Chagas, o elegante Milton Abirached, o sensível Pedro Gomes, o "lord" Carlos Menezes, o impecável Ali Kamel, o fraterno Agostinho Vieira, o cordial Ascânio Seleme, o discreto Rodolfo Fernandes e outros companheiros de grande categoria, levei um susto. Será essa a nova orientação de comportamento “das Organizações”? Não acredito...

Foi então que, puxando pela cabeça, lembrei-me de um post que recebi, no ano passado, quando, novata, ingressei no Twitter, enviado por "@maitêproença", me pedindo voto para Maria Lima, para um prêmio de mulher na imprensa. Como se tratava da Maitê, que aprecio, eu acreditei, votei e respondi à atriz, ainda via Twitter, informando o que fizera. Que mico! Fui alertada pelos seguidores que "@maitêproença" era um perfil falso, provavelmente inventado por alguém que queria emplacar o prêmio da tal candidata, que, aliás, ganhou o dito troféu e soltou foguete. É certamente uma ascendente. Sobe às alturas de uma alpinista...

Agora, vou dizer a vocês, neste espaço que não me limita, o que penso de um movimento "anticorrupção", convocado pelas redes sociais e inflado por lideranças empresariais, por uma imprensa muitas vezes comprometida com seus próprios interesses e uma canastra de senadores de diferentes naipes que não se combinam. O que acho é que falta objetividade...

Para que os gritos contra a corrupção não ecoem no vazio e não se limitem a um exercício coletivo de catarse, a uma reunião esporrenta sob o sol antes da chopada, é preciso ter um foco. Exemplo: anos atrás propus, numa coluna, que todas as pessoas em funções públicas neste país fossem obrigadas por lei a manter informações detalhadas sobre sua evolução patrimonial, sempre atualizadas na internet, acessíveis a todos, a partir de data anterior aos cargos. Essa obrigação se estenderia aos cônjuges e ao núcleo familiar do personagem. Simples e transparente, não? Assim, saberíamos quando, onde e como o parlamentar tal enriqueceu, o prefeito ou governador ou presidente da estatal comprou seu avião particular. Uma passeata com essa proposta seria bem mais frutífera, não acham?...

Agora me perguntem se apareceu um legislador, um deputado, um senador sequer interessado em propor uma lei com esse fim? NENHUM! Porque o que de fato se deseja não é "acabar com a corrupção", esse objetivo vago; o que se quer é manipular a opinião pública em prol de seus interesses particulares, sejam eles políticos, profissionais ou empresariais...

Hoje, converso com mulheres arrependidas por terem, em março de 1964, participado da tal “Marcha da Família com Deus pela Liberdade”, que deu no que deu. Elas saíram às ruas de terço na mão, insufladas pelo seu ídolo Carlos Lacerda, e pediam aos gritos e em faixas o ‘impeachment’ de João Goulart, o que foi usado como justificativa para o golpe militar. Inocentes úteis, coitadas, bem intencionadas, servindo à ambição ilimitada de um político que errou no cálculo, o tiro saiu pela culatra e ele próprio foi perseguido, se arrependeu, criou a tal ‘Frente Ampla’ com Jango e JK, lembram?...


Bem, isso é História, e a História deve ser contada e recontada, para que os erros do passado não se repitam. Vivemos um novo tempo. O Brasil não é o mesmo, nem as pessoas, muito menos as nossas Forças Armadas. Mas há um fato novíssimo: as redes sociais. Poderosas, avassaladoras, incontroláveis. São elas que agora nos obrigam, a nós, os formadores de opinião, a ter uma responsabilidade muito maior. Devido a elas, mais do que nunca, devemos ser, nós, os jornalistas, ainda mais consequentes, sérios e cuidadosos antes de ajudar a acender qualquer pavio, que não sabemos que comprimento terá e que incêndios poderá provocar. Para que no futuro algumas "marias lima" não se arrependam por terem confundido experiência com decadência...”

FONTE: escrito pela jornalista Hildegard Angel em seu blog  (http://noticias.r7.com/blogs/hildegard-angel/) [imagens do Google adicionadas por este blog ‘democracia&política’].

3 comentários:

abacaxi cascudo disse...

ótimo texto, coeso e sóbrio, não podemos nos deixar levar por impulsos antes de ver de onde vem a fumaça, se é fogo ou gelo seco. Corrupção sempre houve, em todos os governos, mas como diz no texto, os próprios parlamentares não querem leis contra eles, que acabem ou inibam essa prática.

Unknown disse...

Geldoni,
Também gostei do texto da colunista. Por isso, o transcrevi aqui.
Maria Tereza

Bernardo H A Lima disse...

Acho que sua generalização de movimentos anti-corrupção não é sóbria nem coesa. Você não sabe o que cada movimento propõe, nem conhece suas medidas/objetivos. E é só através do cuidadoso exame de suas propostas é que podemos julgá-los como demagogias, como movimentos que interessam a empresas, ou que interessam a partidos. Acho que o pior de tudo é o conformismo, é a paralização por falta de liderança ou de solução, e com isso, a cessação da atividade política. Nosso povo é e sempre foi nulo na expressão de seus direitos cíveis e políticos, e sua matéria só contribui pra isso, pra esse "não sabemos o que fazer, então não vamos fazer nada". Antes o modernismo até, que diz "não sabemos o que queremos, mas sabemos o que não queremos" - e partamos daí.
Se voce for do Rio de Janeiro, peço encaredicamente que compareça à passeata na praia de copacabana no dia 12 de outubro, e ouça o que se dirá nos alto-falantes. Abra seus ouvidos e aguçe seu sentido crítico, e depois diga, por si mesma, se concorda ou não com os ideais desse movimento.