sexta-feira, 9 de setembro de 2011

A VERDADEIRA GUERRA NA LÍBIA COMEÇA AGORA




“Chega de falar da derrubada do Grande Kadafi. Agora, chegamos aos finalmentes: será Afeganistão 2.0, Iraque 2.0, ou uma mistura dos dois.

Por Pepe Escobar, no “Asia Times Online”

Os ‘rebeldes da OTAN' sempre garantiram que não querem ocupação estrangeira. Mas a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) –sem a qual não haveria vitória dos 'rebeldes'– não pode governar a Líbia sem coturnos em solo. Assim sendo, examinam-se hoje vários cenários virtuais no quartel-general da OTAN em Mons, Bélgica –a OTAN protegida sob o estofamento de veludo da ONU.

Segundo planos já vazados, mais cedo ou mais tarde podem aparecer por lá soldados das monarquias do Golfo Persa e aliados amigáveis, como a Jordânia e, especialmente, a Turquia, que é membro da OTAN e interessada em embolsar vastos contratos comerciais. Dificilmente alguma nação africana fará parte do grupo –dado que a Líbia foi "relocalizada" e, agora, é parte das Arábias.

O Conselho Nacional de Transição aceitará –ou será forçado a aceitar– se, ou quando, a Líbia entrar em espiral de total caos. Mesmo assim não será produto fácil de vender internamente -com as furiosamente disparatadas facções dos ‘rebeldes da OTAN' já empenhadas freneticamente em consolidar seus respectivos feudos e prontas para saltarem, umas nos pescoços das outras.

Não se vê nem sinal, até aqui, de que o Conselho Nacional de Transição tenha qualquer ideia sobre o que fazer para administrar a complexa paisagem política dentro da Líbia, além das repetidas genuflexões ante o altar das nações membros da OTAN.

"GUNS" E NADA DE "ROSES"

Na Líbia, praticamente toda a população está hoje armada até os dentes. A economia está paralisada. E já está em campo a mais feroz briga de gatos-do-mato pelo controle dos bilhões de dólares dos líbios congelados.

A tribo Obeidi está furiosa com o Conselho Nacional de Transição, porque não há nem sinal de investigação para saber quem matou o comandante militar do exército ‘rebelde' Abdul Fattah Younis dia 29 de julho. Já ameaçaram fazer justiça pelas próprias mãos.

Os principais suspeitos do assassinato são os homens da Brigada Abu Ubaidah bin Jarrah -uma milícia islâmica fundamentalista linha duríssima que rejeitou a intervenção da OTAN, recusou-se a combater sob comando do Conselho Nacional de Transição e declarou "infiéis" o Conselho e a OTAN.

Há também a pergunta que tantos tentam afogar em petróleo: quando o ramo da Al-Qaida na Líbia, a nuvem de guerrilha islâmica conhecida como “Grupo Islâmico de Combate na Líbia” [ing. "Lybia Islamic Fighting Group (LIFG)"], organizará seu próprio golpe para derrubar o Conselho Nacional de Transição?

Por toda Trípoli, veem-se os ecos gráficos do inferno das milícias armadas que se viu no Iraque. O general Abdelhakim Belhaj, que trabalhou para a CIA-EUA e foi prisioneiro da "guerra ao terror", original do círculo de Derna, o marco zero do fundamentalismo islâmico na Líbia, é o líder do novíssimo Conselho Militar de Trípoli.

Já houve acusações, feitas por outras milícias, de que Belhaj não combateu na ‘libertação' de Trípoli e, portanto, tem de deixar o posto -verdade ou mentira, é o que o Conselho anda dizendo.

Isso significa que, mais dia menos dia, a nuvem indefinida conhecida como "LIFG-al-Qaida" estará empenhada num dos lados da guerra de guerrilhas que virá contra o Conselho Nacional de Transição, contra outras milícias ou contra todos.

Em Trípoli, rebeldes de Zintan, nas montanhas do oeste do país, controlam o aeroporto. O banco central, o porto de Trípoli e o gabinete do primeiro-ministro são controlados por rebeldes de Misurata. Berberes da cidade de montanha de Yafran controlam a praça central de Trípoli, coberta com dísticos de "Revolucionários de Yafran" escritos com "spray". Todos demarcam claramente os respectivos territórios, como aviso.

Como o Conselho Nacional de Transição, como unidade política, já está se comportando como pato manco; como as milícias não sumirão no ar –não é preciso muita imaginação pra prever que a Líbia será um novo Líbano. No Líbano, a guerra começou quando toda a cidade dividiu-se, cada subúrbio de um grupo: ou sunitas, ou xiitas, ou cristãos maronitas, ou nasseristas ou druzos.

Além do mais, a libanização da Líbia também inclui a mortal tentação muçulmana –que se espalha como vírus por toda a Primavera Árabe.

Pelo menos 600 salafistas que combateram na resistência sunita iraquiana contra os EUA foram libertados pelos ‘rebeldes' e deixaram a prisão de Abu Salim. É fácil prever que tirarão o máximo proveito possível das muitas Kalashnikovs e dos lança-granadas Sam-7, soviéticos, de ombro, para combate antiaéreo, aproveitando-os para reequipar sua milícia islâmica ultralinhadura -sem se afastar de sua própria agenda e de sua própria guerra de guerrilhas.

BEM-VINDOS À NOSSA ‘DEMOCRACIA' RACISTA

A União Africana (US) não reconhecerá o Conselho Nacional de Transição. Está acusando os ‘rebeldes' da OTAN de matar indiscriminadamente negros africanos, metidos todos num mesmo saco, identificados como "mercenários".

Segundo Jean Ping, da União Africana, "o Conselho Nacional de Transição parece confundir pessoas de pele negra e mercenários (...) [Dão a impressão de que, para eles] todos os negros são mercenários. Um terço da população líbia é negra. Para o Conselho Nacional de Transição, são todos mercenários."

O pequeno porto de Sayad, 25 km a oeste de Trípoli, foi convertido em campo de refugiados para africanos negros apavorados com a nova "Líbia livre". A organização “Médicos sem Fronteira” descobriu o campo dia 27 de agosto. Os refugiados dizem que, desde fevereiro, começaram a ser expulsos pelos donos das empresas e lojas onde trabalhavam, sempre acusados de serem mercenários -e, desde então, têm sido sistematicamente perseguidos.

Segundo a mitologia ‘rebelde', o regime de Muammar Kadafi seria protegido essencialmente por "murtazaka" ("mercenários"). A verdade é que Kadafi empregou apenas um contingente de combatentes africanos negros –do Chad e do Sudão e tuaregues do Niger e do Mali. A maioria dos africanos negros subsaarianos que vivem na Líbia são trabalhadores migrantes, com empregos legais.

Para ver em que direção está andando essa coisa toda, é preciso olhar para o deserto. O imenso deserto líbio não foi conquistado pela OTAN. O Conselho Nacional de Transição praticamente não tem acesso a nenhuma gota d'água líbia e não chega a parte considerável do petróleo. Kadafi tem a chance de "trabalhar o deserto", de negociar com várias tribos, de comprar e firmar a solidariedades delas e de organizar uma guerra de guerrilha de longo prazo.

A Argélia está envolvida em luta terrível contra a Al-Qaida-no-Maghreb. Os 1.000 km da longa, porosa fronteira entre Argélia e Líbia continua aberta. Kadafi pode facilmente plantar seus guerrilheiros no deserto do sul, com paraíso seguro na Argélia -ou até no Niger. Essa possibilidade já pôs o Conselho Nacional de Transição em estado de terror pânico.

A operação ‘humanitária' da OTAN já despejou no mínimo 30 mil bombas sobre a Líbia, nos últimos poucos meses. Pode-se dizer com segurança que muitos milhares de líbios foram mortos nos bombardeios. O bombardeio não para nunca: mais um pouco, os únicos alvos da OTAN serão os mesmos -civis e não civis- que, em teoria, há alguns dias, a OTAN estaria ‘protegendo'.

Um Grande Kadafi derrotado pode vir a revelar-se muito mais perigoso que um Grande Kadafi no poder. A verdadeira guerra está começando agora. Será infinitamente mais dramática -e será trágica. Porque agora será uma guerra norte-africana darwiniana, guerra de todos contra todos, na qual só o mais forte sobreviverá.”

FONTE: escrito por Pepe Escobar, publicado no “Asia Times Online” e transcrito no portal “Vermelho”  (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=163368&id_secao=9) [imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’].

3 comentários:

Probus disse...

O MAIOR ATENTADO TERRORISTA DA HISTÓRIA

Por Laerte Braga

Cento e sete suicídios de veteranos da guerra do Iraque assombram a base de Fort Hood, nos Estados Unidos. Três vezes durante o conflito a base militar enviou divisões àquele país. O número de suicídios é o maior desde 2003.

Melissa Dixon, tatuadora, percebe que os soldados que voltam das guerras travadas mundo afora pelo império norte-americano, trazem consigo um nível alto de stress.

“Alguns deles têm problemas com as mulheres e seus entes queridos, ficam brigando entre e outros têm amigos que cometeram suicídios”.

Em outras bases, como a de Fort Bragg, na Carolina do Norte, onde está a 82ª Divisão Airborne o número de suicídios desde 2003 foi de setenta e sete. A onda de suicídios é generalizada e só no ano passado trezentos soldados, na ativa ou na reserva, se mataram.

Há um programa específico das forças armadas para previnir e evitar suicídios de militares nos EUA.

O general George Casey foi aposentado e não ficou bem esclarecida a sua passagem para a reserva. A causa teria sido um elevado nível de stress e uma tentativa de suicídio. É uma exceção entre os militares de alta patente, já que o maior número de suicidas é de baixa patente. O general, ano passado, admitiu que passou para a reserva por conta de stress, que segundo ele, “arrasou com todos os seus relacionamentos”.

Entre os suicidas, na cidade de Killeen, cidade militar desde a Segunda Grande Guerra, um massacre. Um veterano entrou num restaurante, matou vinte e três pessoas e suicidou. O fato aconteceu em 1991.

A mãe do sargento Gregory Eugene Giger disse que seu filho ficou deprimido após um divórcio que começou quando ele estava o Iraque. Enforcou-se com uma gravata. “Era um texano alto e quieto, que estava devastado pela separação. Acredito que havia muitas coisas que ele guardava para si mesmo”. Foi a afirmação de Helen Giger, mãe do sargento.

Michael Timothy Franklin matou sua mulher e cometeu suicídio. Outro veterano de guerra. Um mês antes Armando Galvan Aguillar Júnior, 26 anos, foi preso pela polícia em Fort Hood após uma perseguição de carro. Era conhecido como “Mando”, tinha retornado do Iraque e estava em tratamento para stress pós traumático e depressão. Em sua última noite de vida bebeu trinta latas de cerveja e atirou em sua própria cabeça com uma arma calibre 45, que lhe fora emprestada por um amigo também veterano que curiosamente, estava tentando cometer suicídio.

ÍNTEGRA NO LINK ABAIXO:

http://redecastorphoto.blogspot.com/2011/09/o-maior-atentado-terrorista-da-historia.html

Unknown disse...

Probus,
Os soldados norte-americanos, na quase totalidade, vão para as guerras do Iraque e Afeganistão na ilusão de que são heróis da pátria e do mundo, que vão lutar em prol da democracia e liberdade e por isso serão eternamente glorificados. Se eles soubessem que foram arriscar a vida em vergonhosas guerras de roubo de petróleo e outros bens, e para enriquecer ainda mais magnatas da indústria de armamentos e de serviços militares, certamente a quantidade de suicídios seria mil vezes maior.
Maria Tereza

Probus disse...

EXATO, é a tal da Servidão Voluntária, Lavagem Cerebral MESMO.

Discurso Sobre a Servidão Voluntária

Etienne de La Boétie

Palavras iniciais: Etienne de La Boétie morreu aos 33 anos de idade, em 1563. Deixou sonetos, traduções de Xenofonte e Plutarco e o Discurso Sobre a Servidão Voluntária, o primeiro e um dos mais vibrantes hinos à liberdade dentre os que já se escreveram.

Toda a sua obra ficou como legado ao filósofo Montaigne (1533 – 1592), seu amigo pessoal que, diante de uma primeira publicação – pirata – do Discurso em 1571, viu-se obrigado a se pronunciar a respeito da Obra, que procura minimizar em seus efeitos apodando-lhe o epíteto de “obra de infância” e “mero exercício intelectual”. Montaigne, com todo o seu inegável brilho intelectual, era um Homem do Estado e disso não escapava.

Entre muitos pontos importantes e relevantes do Discurso em si, ressalta-se:

- O poder que um só homem exerce sobre os outros é ilegítimo.

- A preferência pela república em detrimento da monarquia.

- As crenças religiosas são frequentemente usadas pelas monarquias para manter o povo sob sujeição e jugo.

Etienne de La Boétie afirma no Discurso a liberdade e a igualdade de todos os homens na dimensão política.

Evidencia, pela primeira vez na história, a força da opinião pública.

Repele todas as formas de demagogia.

Incursionando pioneiramente pelo que mais tarde ficará conhecido como psicologia de massas, informa da irracionalidade da servidão, desde o título provocativo da Obra, indicada como uma espécie de vício, de doença coletiva.

O Discurso, que no século XVI Montaigne considerava difícil prefaciar, hoje em dia é ainda tristemente atual.

O ser humano encontra-se em amarras auto-infligidas por toda a parte. Como dizia Manuel J. Gomes, importante tradutor de La Boétie para o português:

“Se em 1600 era tarefa difícil escrever um prefácio a La Boétie, hoje não é mais fácil. Hoje como nos tempos de La Boétie e Montaigne, a alienação é demasiado doce (como um refrigerante) e a liberdade demasiado amarga, porque está demasiado próxima da solidão. E da loucura.”

http://www.culturabrasil.org/boetie.htm

http://www.conversaafiada.com.br/mundo/2011/02/25/comparato-a-libia-e-o-brasil-a-servidao-voluntaria/

http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/comparato-a-servidao-voluntaria.html

http://www.cartacapital.com.br/politica/a-servidao-voluntaria

http://www.advivo.com.br/blog/luiz-eduardo-brandao/a-servidao-voluntaria