Por Marcos Coimbra, em “CartaCapital”
“Por coincidência, justamente quando
o julgamento do mais famoso “mensalão”, que alguns chamam “do PT”, foi marcado,
a Procuradoria-Geral da República encaminhou ao Superior Tribunal de Justiça
(STJ) sua denúncia contra os acusados de outro, o “mensalão do DEM” do Distrito
Federal.
Governador Arruda (DEM) flagrado recebendo
o que seria propina de dinheiro público desviado
Trata-se mesmo de um acaso, pois a única coisa que os dois compartilham é o nome. Equivocado por completo para caracterizar o primeiro e inadequado para o segundo.
Naquele “do PT”, nada foi provado
que sugerisse haver “mensalão”, na acepção que a palavra adquiriu em nosso
vocabulário político: o pagamento de (gordas, como indica o aumentativo)
propinas mensais regulares a parlamentares para votar com o governo. No outro,
essa é uma das partes menos importante da história.
Alguns acham legítimo – e até bonito
– empregar a expressão como sinônimo genérico de “escândalo” ou “corrupção”,
mas isso só distorce o entendimento. O que se ganha ao usar mal o português? No
máximo, contundência na guerra ideológica. Chamar alguma coisa de “mensalão”
(ou adotar neologismos como “mensaleiro”) tornou-se uma forma de ofender.
Fora o nome errado igual, os dois
são diferentes.
Ninguém olha o “mensalão” de
Brasília como se tivesse significado especial. É somente, o que não quer dizer
que seja pouco, um caso de agentes políticos e funcionários públicos,
associados a representantes de empresas privadas, suspeitos de irregularidades.
Por isso, se o STJ acolher a
denúncia, o processo terá tramitação normal. Sem cobranças [da mídia e da
oposição] para que ande celeremente. Sem que seja pintado com cores mais fortes
que aquelas que já possui. Sem que se crie em seu torno um clima de “julgamento
do século” ou sequer do ano.
É provável que aconteça com ele o
mesmo que com outro mais antigo, o “mensalão do PSDB”. Esse, que alguns dizem
ser o “pai de todos”, [apesar de ter sido descoberto cinco anos antes], veio a
público [somente] no mesmo período daquele “do PT”, mas avança em câmera lenta [A mídia, o PGR, a Justiça e a oposição parecem fingir que o esqueceram] .
Está ainda na fase de instrução, sem qualquer perspectiva de julgamento.
Por que o que afeta o PT é mais
importante?
A resposta é óbvia: porque atinge o
PT. Se os “mensalões” da oposição são tratados como secundários e se outros são
irrelevantes (como os que a toda hora são noticiados em estados e municípios),
deveria existir no do PT algo que justifique tratamento diferente.
Há quem responda com uma frase
feita, tão difundida, quanto vaga: seria o “maior escândalo da história
política brasileira”. Repetida como um mantra pelos adversários do PT, não é
substanciada por nenhuma evidência, mas circula como se fosse verdade
comprovada.
“Maior” em que sentido? Os recursos
públicos movimentados seriam maiores? Mais gente estaria envolvida?
É difícil para quem lê as alegações
finais do Ministério Público Federal (MPF) compreender o montante que, em sua
opinião, teria sido desviado e como. O documento é vago e impreciso em algo tão
fundamental.
Essa indefinição pode ser, no
entanto, positiva: deixa a imaginação livre. Qualquer um pode inventar o valor
que quiser.
O “mensalão do DEM”, ao contrário,
tem tamanho especificado: 110 milhões de reais. Nele, o MPF não se confundiu
com as contas.
Se o critério para considerar maior
o petista for a quantidade de envolvidos, temos um curioso empate: dos 40
acusados originais, número buscado pelo MPF apenas por seu simbolismo, restam
37, tantos quanto os denunciados no escândalo de Brasília.
E há diferenças notáveis. No
“mensalão do DEM”, os agentes públicos foram citados por desviar dinheiro para
enriquecimento pessoal, o que, em linguagem popular, significa roubar. No “do
PT”, nenhum.
De um lado, valores certos, acusados
em número real, motivações inaceitáveis. Do outro, o oposto.
Quando o procurador-geral [o
estranho e suspeito Roberto Gurgel] declarou que “a instrução comprovou que foi
engendrado um plano criminoso para a compra de votos dentro do Congresso
Nacional”, esqueceu que nem sequer uma linha de suas alegações o demonstrou.
Arrolou 12 deputados (quatro do PT), que equivalem a 2% da Câmara, número
insuficiente para sequer presumir que houvesse “um esquema de cooptação de
apoio político”, a menos que inteiramente inepto.
O PGR Roberto Gurgel (comportamento arquivador
muito estranho suspeito de proteger a quadrilha Cachoeira-Demóstenes-DEM)
No caso [do DEM] de Brasília, nada
está fantasiado, é tudo visível, o que não significa que tenha sido provado de
forma juridicamente correta.
No fundo, essa é a questão e a
grande diferença entre os dois. Quando a hora chegar, o “mensalão do DEM”
deverá, ao que tudo indica, ser analisado de maneira técnica. Se o “do PT” o
fosse, pouco da acusação se sustentaria.
Tomara que os ministros do STF
consigam independência para julgá-lo de maneira isenta, livres das pressões dos
que exigem veredictos condenatórios.”
FONTE: escrito por Marcos Coimbra, na revista “CartaCapital”. Transcrito
no portal “Viomundo”
(http://www.viomundo.com.br/politica/marcos-coimbra-os-mensaloes-um-comparativo.html)
[Imagens do Google, suas legendas e trechos entre colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’].
2 comentários:
É incrível como essa mídia distorce a notícia, supervaloriza a violência, faz questão de mostrar um Brasil que não dá certo, tenta ser o maior partido de direita do País, além de tentar transformar o PT no pior do piores do mundo..Somente com a divulgação de textos como esse nas redes sociais, nos grupos de correios eletrônicos de cada um é que temos como comprovar para os menos esclarecidos, a verdade por trás das notícia da globo, da veja, da época...
Ronilda,
Você está certíssima.
Maria Tereza
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