Embaixador dos EUA Gerald Feierstein, o novo ditador
EMBAIXADOR DOS EUA NO IÊMEN: O NOVO DITADOR
Soldados numa encosta
com vista para a estrada que liga a capital iemenita, Sanaa, com a província produtora de petróleo de Marib em 26 de junho de 2012. (Foto:
Khaled Abdullah)
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Jamal Jubran
“Sua Excelência, o
embaixador dos EUA, Gerald Feierstein, chega à casa do embaixador italiano,
para a recepção oficial, no Dia Nacional da Itália. Entra sem olhar para os
lados e dirige-se a um canto isolado no jardim, com uma taça de vinho tinto na
mão. Num segundo, é cercado por uma leva de altos funcionários do governo do
Iêmen, cada um com um pedido a fazer, em nome de seu respectivo departamento.
A cena é como o microcosmo
de o que é hoje o Iêmen, depois que se chegou a uma “solução de consenso” para a
crise política. Esse “consenso” decidiu pela remoção do presidente Ali Abdallah
Saleh, como exigiu a chamada “Iniciativa do Golfo”; e pôs fim à revolução
iniciada pelos jovens iemenitas.
Jornalista
Abdel Ilah Shaeh
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O mesmo embaixador
apareceu na televisão, em entrevista ao canal estatal, e declarou que “nós não
permitiremos” a libertação do jornalista Abdel Ilah Shaeh, condenado a cinco
anos de prisão por ter noticiado a matança de 35 mulheres e crianças num ataque
de avião-robô (drone) dos EUA, em dezembro de 2009. Feierstein
“informou” que Shaeh teria laços com a al-Qaeda e seria grave ameaça à
segurança dos EUA.
Inviabilizou assim, pela
segunda vez, o perdão presidencial que o respeitado jornalista obtivera de
Saleh, antes da eclosão da revolução, ano passado. Da primeira vez, bastou um
telefonema do presidente Barack Obama para que Saleh engavetasse o perdão e
mantivesse Shaeh atrás das grades.
Os EUA e seu enviado não
pararam por aí. Quando jornalistas iemenitas fizeram uma passeata de protesto
até a embaixada dos EUA, para protestar contra o que o embaixador dissera sobre
o jornalista preso, viram veículos usados para transporte de prisioneiros
entrando no bunker onde está instalada a embaixada norte-americana. Não
há quem não saiba que aqueles veículos transportam suspeitos de atividades
terroristas, trazidos da prisão central para serem interrogados no prédio da
embaixada, em sessões de interrogatório comandadas por especialistas em
terrorismo, do FBI.
A extensão da
interferência dos EUA em assuntos internos do Iêmen foi, em seguida, novamente
confirmada pela publicação, no Iêmen e por todo o mundo, de cartas vazadas,
escritas pelo embaixador dos EUA ao ministro do Interior do Iêmen, Abdul Qadir
Qahtan, nas quais o embaixador dava instruções ao ministro sobre substituições
na equipe de segurança, ditas “necessárias para devolver a paz à sociedade” no
Iêmen. Já não cabem dúvidas de que Feierstein assumiu, de fato, as
funções de governo no Iêmen: só as medidas consideradas “aprovadas” serão implantadas,
e só serão “aprovadas” as medidas que favoreçam a política dos EUA para o
Iêmen.
Como presidente de fato,
o embaixador dos EUA não vacilou: semana passada, visitou a cidade de Zinjibar,
na província de Abyan, acompanhado do diretor do USAID, para inspecionar as
condições da cidade depois que o exército do Iêmen expulsou dali militantes do grupo
“Ansar al-Sharia”. Esse grupo, ligado à al-Qaeda, controlou a região por quase
um ano, impondo ali sua versão da Xaria Islâmica. Houve protestos tímidos
contra aquela visita, nada diplomática, por alguns grupos políticos iemenitas,
mas não houve qualquer crítica formalizada.
Já praticamente ninguém
protesta. Todas as autoridades começam a receber as intromissões de Feierstein
e o status do Iêmen, de estado ocupado e submetido, como fatos da vida.
Qaderi
Ahmad Haidar
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O analista Qaderi Ahmad
Haidar diz que o país já está sob domínio efetivo dos EUA, da “Iniciativa do
Golfo” e de mecanismos criados para implementar esse domínio. “O quadro ao
qual se assiste hoje é deplorável, lamentável” – disse ele ao jornal [libanês]
“Al-Akhbar”. “Ninguém jamais esperaria que a revolução iniciada pelos
jovens iemenitas acabasse assim”.
O embaixador dos EUA faz
inúmeros pronunciamentos, sem qualquer atenção às normas diplomáticas básicas
que regem as relações entre estados. Não perde ocasião de mostrar-se em jornais
e televisões, para discutir, “esclarecer” e “explicar” questões internas do
Iêmen – como se fosse uma espécie de presidente “não oficial”.
Recentemente, numa dessas
aparições públicas, o embaixador disse que:
“Estamos agora na segunda
fase da ‘Iniciativa do Golfo’. Estive ontem com o presidente. Entendemos que
todos devem participar do ‘Diálogo Nacional’. O presidente Obama assinou uma
ordem executiva que permite punir indivíduos ou grupos que obstruam a
implementação do acordo [a chamada “Iniciativa do Golfo”]. Estamos
trabalhando para reestruturar o exército e as forças de segurança. Estamos
satisfeitos com o que já se conseguiu... Estamos na trilha certa.
O embaixador falar em
primeira pessoa, comentando assuntos internos do Iêmen, foi detalhe que chamou
a atenção de Muhammad Ayesh, editor do jornal independente “al-Awwali”.
Para Ayesh, o embaixador “sente-se”, não só como “governador do Iêmen”, mas
como líder levado ao poder por uma revolução que transformou o país e o pôs,
literalmente, “no trono!”.
“No Iêmen, a classe
governante, os políticos e os militares, renderam-se completamente. Entregaram
os negócios do país às potências ocidentais. E, agora, se dedicam
exclusivamente às disputas internas, entre eles mesmos” – diz Ayesh. O
jornalista observa, também, que os grupos e facções em que o país está dividido
não conseguiram chegar a um acordo sobre depor armas e retirar as forças
armadas das principais cidades. “O único acordo que conseguiram fazer foi
feito com a interferência do embaixador dos EUA”.
O jornalista e analista
político Mansour Hael concorda. Para ele, a explicação de o embaixador dos EUA
estar convertido em “chefe político e militar do país” deve ser buscada na
fraqueza e na fragmentação dos grupos políticos no Iêmen. A falta de
instituições e a evidência de que as instituições que há nada significam e nada
conseguem fazer deixaram campo livre, que o embaixador dos EUA ocupou, a ponto
de, hoje, ter já a última palavra em inúmeras questões internas do Iêmen.
“Os iemenitas chegaram ao ponto de se
deixar governar por um Estado hoje dividido horizontal e verticalmente. O
governo de unidade nacional está rachado, e há um fosso também entre as
organizações da sociedade civil e os partidos políticos” – diz Hael, que
edita o jornal “al-Tajammu”. “Com isso, o embaixador dos EUA não
encontra dificuldades para manusear todos os fios que movimentam todos os
fantoches da vida política no Iêmen”.
FONTE:
escrito por Jamal Jubran, de
Sanaa, Iêmen. Publicado no “Al-Akhbar”,
do Líbano, com o título original “US Ambassador in Yemen: The New
Dictator”. Castor
Filho “pessoal da Vila Vudu” (http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2012/07/embaixador-dos-eua-no-iemen-o-novo.html).
[Título e imagem do Google (mapa) adicionados
por este blog ‘democracia&política’].
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