Da “Carta Maior”
“Mais de 100 mil pessoas ocuparam a Praça do Sol,
em Madrid, na noite de 5ª feira. Protestos espalham-se por outras 80
cidades do país. As centrais sindicais exigem um plebiscito para definir o
futuro da sociedade e da economia.
As manifestações explodiram no mesmo dia em
que o Congresso --dominado pela direita
do PP-- aprovou o novo pacote de arrocho ditado pela cúpula do euro à
Madrid.
O governo conservador de Mariano Rajoy já não
comanda; Madrid está sob intervenção direta dos homens de negro de
Bruxelas que impõem medidas, fiscalizam ações e contas do Estado. Em troca de
empréstimos para salvar os bancos, cuja primeira parcela de €30 bilhões foi
liberada esta semana, o Eurogrupo determinou cortes adicionais da ordem de €65
bilhões no fragilizado tecido social espanhol. O pacote sancionado ontem,
5ª feira, impõe perdas salariais aos funcionários públicos, eleva
impostos e retalha, adicionalmente, orçamentos essenciais nas
áreas da saúde, educação etc.
Bombeiros aplaudiam manifestantes nas ruas,
eles também atingidos pelo arrocho orçamentário. O sacrifício é visto como
inútil até pelos economistas conservadores: a
Espanha já quebrou. Ao alimentar a recessão com mais arrocho, o
governo sabota sua própria capacidade de obter receita e pagar as contas.
Os capitais sabem e fogem do país; mais de 200 bilhões de euros
saíram este ano da Espanha: é o
dobro do volume que Bruxelas acena emprestar para salvar seus bancos.
A conta não fecha. Investidores preferem guardar o dinheiro na Alemanha,
e receber juro negativo, do que financiar o governo desastrado da
direita espanhola, que lhes paga taxas recordes insustentáveis de 7%. A
derrocada espanhola é a síntese de dois momentos do ciclo neoliberal:
a omissão estatal no ciclo de alta,
feito de supremacia das bolhas de crédito desregulado e especulativo;
e a ausência de soberania estatal agora, no colapso, quando
a finança submete toda a sociedade à opressão para salvar-se.
O que as ruas de Madrid estão dizendo,
finalmente, é que os espanhóis querem o Estado de volta, para
defendê-los; não como aguilhão para dilapidá-los. Trata-se de uma agenda
universal.”
FONTE: cabeçalho do site “Carta Maior” 6ª feira, 20/07/2012
(http://www.cartamaior.com.br/templates/index.cfm) [Imagem do Google adicionada por este blog
‘democracia&política’].
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