Lugo diz que narcopolítica e Rio Tinto [empresa mineradora anglo-australiana] foram motivos do golpe
POR TRÁS DO GOLPE A NARCOPOLÍTICA E
A RÍO TINTO
Por Fernando Lugo
Fernando Lugo
“Um mês atrás, numa sexta-feira 22
de junho, denunciamos que a Constituição Nacional foi manipulada para submeter
a vontade democrática do povo paraguaio e destituir o presidente constitucional
através de um [meteórico] julgamento político fraudado pelo Congresso Nacional.
A tragédia, acontecida uma semana
antes, e que produziu a morte de 17 compatriotas de Curuguaty, foi manipulada
vilmente para justificar a manobra antidemocrática dos parlamentares golpistas.
Contrariamente a nossa proposta de
instalar uma comissão independente de notáveis, acompanhada por organismos
internacionais, para esclarecer o acontecido em Curuguaty, o novo regime,
suspeitamente, tem demonstrado que não tem nenhum interesse em fazê-lo.
Os que tramaram contra o povo
paraguaio esperavam que déssemos um passo em falso e que, em nossa legítima
defesa diante do golpe, déssemos a eles oportunidade para provocar mais mortes
e voltar a utilizá-las em favor de suas conspirações. Optamos conscientemente
por não alimentar a espiral de violência e morte.
Mas isso nunca significou abdicar de
nossa luta pela democracia em nosso país, em defesa da soberania popular. Não
confundam nosso pacifismo com tolerância às violações da democracia.
Os que deram o golpe foram os
políticos conservadores que queriam 50 milhões de dólares para seus operadores
políticos através da Justiça Eleitoral. Os mesmos que esperam escapar do juízo
popular se escondendo nas listas de votação dos partidos conservadores.
Os que impulsionaram o golpe são os
que querem fechar o negócio com a multinacional “Rio Tinto Alcán”, traindo a
soberania energética de nosso país e os interesses de nossa nação.
Aqueles que estiveram com o golpe
são os que têm lucrado com um modelo de país para poucos, onde o destino de
nossa gente é a emigração, por isso, imediatamente, anunciaram que não
implementarão o imposto da soja.
E eles mesmos agora defendem
retroceder na aplicação da lei da faixa de segurança de fronteira para que
continue sendo invadida por grandes proprietários estrangeiros.
Por trás do golpe estiveram,
seguramente, aqueles setores incomodados com uma integração soberana e
transparente de nosso país na região, setores que almejam a pseudointegração
promovida pelos negócios ilícitos e a narcopolítica.
Em nosso governo, de forma
equilibrada e buscando conciliar interesses de um país muito dividido e de
antagonismos, queríamos dar e começamos a dar conteúdo social à democracia
paraguaia. Foi contra esse Paraguai, inclusivo e de todos e todas, soberano em
seus atos, que os golpistas se mobilizaram um mês atrás.
Com perseguições trabalhistas (já são centenas as demissões ilegais por
motivos ideológicos), com tentativas de suspender os senadores que
defenderam a democracia e preparando processos judiciais contra aqueles e
aquelas que resistem ao golpe, como é o caso da ministra da Saúde Esperanza
Martínez, vão tentar encobrir o mal estar social e político da Nação.
Mas saibam eles, os que lucraram com
o ataque à Constituição, que o Paraguai democrático e soberano, que o país que
cuida de seus filhos e filhas, não vai ser vítima do saque de interesses
econômicos oligárquicos e não aceita um governo ilegítimo.
Aqueles que patrocinaram e fizeram o
golpe de estado não são confiáveis para dirigir a nação, não estão
comprometidos com as garantias do exercício pleno da democracia — porque já pisotearam uma vez as garantias
fundamentais — e sabem que a cidadania tem todo o direito de perguntar-se
se respeitarão um processo eleitoral limpo e competitivo em 2013, com
antecedentes tão nefastos.
Por isso, não vamos retroceder neste
momento da luta pacífica para que volte a democracia a nosso país e que se
anule a paródia de juízo político de 21 e 22 de junho passados. Para que se
respeitem as decisões tomadas democraticamente pelo povo. Para que as
instituições voltem a funcionar de acordo com os compromissos constitucionais.
Para que nosso país volte ao concerto das nações com sua democracia completa e
não seja objeto de isolamento, como na época do ditador Alfredo Stroesnner, por
ser um país refém de oligarquias corruptas e da narcopolítica.
Em 20 de abril de 2008, o Paraguai
começou uma nova jornada política, onde o povo descobriu, através de eleições
limpas, que também podia mudar o país em favor da inclusão e do bem estar
sociais e recuperar a soberania sobre nossos recursos energéticos e naturais.
Fizemos isso com tranquilidade e equilíbrio, evitando os antagonismos e
polarizações.
Todos os indicadores econômicos e
sociais, assim como as conquistas obtidas nas negociações com o Brasil, mostram
que estávamos no caminho correto. Apesar disso, as oligarquias econômicas e
políticas não aceitaram a participação do povo na democracia e, com isso, um
projeto de Paraguai para todos e todas.
Fizeram um golpe contra o povo e sua
soberania e seus interesses e direitos históricos. Fizeram um golpe para
entregar o país aos interesses tacanhos de multinacionais e de enclaves e para
atender aos interesses clientelistas e prebendários de uma classe política
antiquada. Junto com o povo paraguaio voltaremos a reconquistar a democracia.
Por isso,
¡VIVA LA DEMOCRACIA!
¡VIVA EL PUEBLO PARAGUAYO!
Fernando Lugo, Asuncion, 22 julio 2012”
FONTE: escrito
por Fernando Lugo, presidente
deposto do Paraguai. Transcrito no portal “Viomundo” (http://www.viomundo.com.br/denuncias/lugo-diz-que-narcopolitica-e-rio-tinto-foram-motivos-do-golpe.html).
[Imagem do Google adicionada por este
blog ‘democracia&política’].
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