Da revista “Carta Capital”
Por Delfim Netto
“As expectativas em torno do
aprofundamento da crise financeira europeia começaram a dissipar-se lentamente
na semana passada, a partir dos acordos para socorrer o sistema bancário
espanhol com a liberação de 30 bilhões de euros, parcela inicial dos 100
bilhões que as autoridades monetárias calculam ser necessários para afastar o
desastre iminente.
Com o aumento do risco de convulsão
no sistema bancário e suas consequências na economia e nas sociedades, as novas
decisões da comunidade têm sido de dar um pouco de tempo aos países para que
resolvam seus problemas fiscais, reduzindo seus déficits sem aumentar ainda
mais a crise social que atingiu níveis críticos na maioria dos países.
Nos 17 países que utilizam a mesma
moeda, começa a surgir o sentimento de que eles precisam encontrar o caminho
para uma união muito mais sólida, que permita introduzir mecanismos que ajudem
a funcionalidade do sistema, como, por exemplo, ter um banco central no papel
de coordenador de todos os bancos centrais, com a capacidade de emprestador de
última instância e autoridade reguladora capaz de produzir ajustes na
velocidade que seja requerida.
O reconhecimento dessas necessidades
tem contribuído para melhora aparente da situação, mas a Europa tem de caminhar
para se organizar como federação, tal como a americana ou a brasileira. Quer
dizer, a França, a Espanha, a Itália etc. serão Estados de uma federação ou
confederação que tenha um organismo fiscal para o controle de todo o sistema.
Sei que é muito difícil, mas será muito menos custoso do que as guerras que têm
assolado o continente europeu nos últimos mil anos.
Toda essa discussão interessa
ao Brasil porque a continuada ameaça de que poderemos ter efetivamente na
Eurolândia uma crise bancária que terminaria em depressão de proporções como a
de 1929 (e poria os povos do continente no rumo de mais uma guerra) é uma nuvem
que está cobrindo o mundo inteiro, obrigado a viver a incerteza desse processo.
São os Estados Unidos e a China crescendo menos, é o Brasil que desacelerou o
crescimento, embora continue crescendo, são os empresários inseguros, não
sabendo mais qual é o futuro dos negócios, são os trabalhadores com dúvidas se
vão continuar empregados. E ainda são os banqueiros em pânico porque não sabem
quais seriam as consequências de uma crise bancária verdadeiramente profunda em
toda a Europa.
Há, entretanto, entendimento cada
vez mais amplo de como essas ameaças devem ser enfrentadas. “Todos sabemos o
que temos de fazer”, sentenciou Angela Merkel, escondendo o ceticismo, “só não
sabemos como vamos ganhar as eleições para fazê-lo”… Ironias à parte, minha
percepção é que a Europa vai levar alguns anos para se libertar da enorme
encrenca financeira em que se meteu, mas a nuvem, propriamente, vai se dissipar
um pouco mais rapidamente.
Essa nuvem produziu o
pessimismo que tomou conta do mundo. O nevoeiro atingiu o Brasil: o comportamento
dos empresários e de uma parte da sociedade acaba sendo condicionado pelo
fenômeno global.
O nível de pessimismo que se reflete
na mídia não tem justificativa, na realidade, em relação ao Brasil. Pelo menos
na minha leitura dos sempre confiáveis “indicadores antecedentes” organizados
pela insuspeita “Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico”
(OCDE). Eles apontam para a diminuição da atividade econômica nas principais
economias desenvolvidas, incluídos Estados Unidos, China, Rússia e Índia
(dentre os 34 maiores países), com “crescimento declinante” nos próximos meses.
No Brasil, no entanto, não haverá declínio. Pelo contrário, a economia vai
continuar a crescer!
Os “indicadores antecedentes” da
OCDE são concebidos para fornecer antecipadamente indícios de pontos de
inflexão entre a expansão e a desaceleração do nível de atividade econômica. A
principal exceção à tendência declinante geral foi o Brasil, que teve seu
indicador antecedente elevado de 99,0 pontos de abril para 99,2 pontos em maio,
o que, segundo a OCDE, é sinal de que o crescimento do País vai se acelerar.”
FONTE:
escrito por Delfim Netto na revista “Carta Capital” desta semana e transcrito
no portal de Luis Nassif (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/o-pessimismo-em-relacao-a-economia-brasileira).
[Imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’]
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