Porto de Santos
Por Miguel do Rosário, no “O Cafezinho”
“Os jornais amanheceram, como de praxe, com manchetes apocalípticas. O ‘Globo’ veio com um déficit “Pior da história”. Eles jamais fizeram manchetes similares quando se trata dos juros (menores da história, antes dos recentes aumentos) ou do salário mínimo. Mas quando encontram um fato negativo, eles carregam nas tintas e põem na primeira página.
Acontece que não é bem assim. A imprensa
mente mesmo quando fala a verdade. Então, lá fui eu fuçar no “Sistema Alice”, o nosso
banco de dados público sobre comércio exterior, que é um dos melhores do mundo.
Tenho experiência nisso porque trabalhei por quase 15 anos escrevendo sobre
café para o jornal especializado que eu tinha, além de colaborar para sites
estrangeiros. Especializei-me em estatísticas de comércio exterior.
Compilei os dados da nossa balança comercial desde
1995 até hoje, preparei algumas tabelas e gráficos.
Não é correto jogar tanto peso na balança comercial
de um mês só, porque se fica a mercê de distorções sazonais. O certo, sobretudo
numa análise política que pretenda usar dados econômicos, é usar períodos
acumulados.
Apesar do déficit em julho, nos últimos 12 meses o
saldo comercial brasileiro permaneceu positivo, em US$ 4,5 bilhões. Nos anos
90, tivemos déficits seguidos em 1997, 1998 e 1999, sempre usando o período de
12 meses de agosto a julho, para efeito de comparação com os dados atuais. Em
1996/97 (ago/jul), o déficit foi de US$ 7,6 bilhões, em 1997/98 de US$ 6,3
bilhões e em 1998/99 de US$ 4,9 bilhões.
Importante ressaltar ainda que a importação
aumentou por causa das compras de combustível. O consumo crescente de
combustível, que onera a importação, é um sinal de vitalidade
econômica. Conforme o pré-sal começar a jorrar em grande quantidade, a
partir de 2016, e as refinarias ficarem prontas na mesma época, o Brasil
importará menos esse item e poderá até se tornar exportador de petróleo e
gasolina.
Os últimos dados de produção de petróleo e gás vêm
registrando forte alta, conforme registra o último boletim da “Agência Nacional de Petróleo” (ANP).
Observe a tabela abaixo. Os colunistas econômicos
da grande imprensa fazem um malabarismo curioso. Quando querem falar bem de uma
relação comercial entre Brasil e outro país, costumam usar a corrente de
comércio, que soma exportação e importação. Pois bem, a corrente de comércio
brasileira em julho foi a maior da história: US$ 43,5 bilhões. Isso é bom,
mostra comércio exterior dinâmico. O Brasil ganha dinheiro importando, porque o
Estado aufere impostos sobre todos os produtos que entram no Brasil. A
importação também paga os serviços de saúde e educação. A importação paga mais
impostos que a exportação, diga-se de passagem.
Considerando apenas as exportações, estas geraram
US$ 239,59 bilhões nos últimos 12 meses, o segundo maior nível da história. Em
2001/02, exportamos apenas US$ 55,6 bilhões.
Lamentar a importação é um vício vira-lata. Quanto
mais cresce a renda da população, num país onde o câmbio não é manipulado para
beneficiar apenas setores de exportação (como na China), a tendência é aumentar
a importação, porque é natural que as pessoas queiram consumir bens importados.
O problema da importação seria algo com que nos
preocuparmos se se observasse um processo de desindustrialização. Apesar das
grandes dificuldades que vive a nossa indústria, ela vem resistindo. Segundo o IBGE, a indústria brasileira registrou forte alta em
junho, de 1,3% sobre o mês anterior, e 3,1% sobre igual mês de 2012.
O setor de bens de capital, que é o principal
termômetro da indústria num país, porque corresponde à fabricação de máquinas
destinadas a indústrias, registrou crescimento de 18% em junho deste ano, na
relação com o mesmo mês do ano anterior.
Um comentário:
Pena que o sistema alice não esteja funcionando . Tirando isso,sua postagem é bastante interessante . Continue postando mais coisas assim .
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