Por Haroldo
Lima
“O setor do
petróleo e gás aparece como oportunidade grandiosa, especialmente pelas
perspectivas que se abrem com o pré-sal como conjunto e, agora, com o "Campo de
Libra".
As
manifestações de junho e o "Dia de Luta" das centrais sindicais,
recém-ocorridos, focaram problemas sentidos pela população e levantaram justos
pleitos. Mas houve quem pretendesse introduzir, entre as reivindicações
populares, duas insólitas: contra a
privatização do pré-sal e pela suspensão do primeiro leilão previsto para essa
área. A privatização do pré-sal
não está em cogitação e a suspensão da rodada seria um enorme atraso para o país.
Na história
recente do Brasil, privatização foi
um processo concreto ocorrido na década de 1990 [Gov FHC/PSDB], no qual
empresas públicas foram adquiridas por empresas privadas, com a transferência
de propriedade.
Na área do
petróleo, o risco de privatização aconteceu algumas vezes, com a hipótese de
privatizarem a Petrobras. A última vez em que isso esteve em cogitação foi em
1995, quando houve a quebra do monopólio estatal do petróleo. Era insistente o
rumor de que, em seguida, viria a privatização da estatal. O presidente do
Senado à época, José Sarney, tomou a iniciativa de dizer que só poria a ruptura
do monopólio em votação se o Presidente da República se comprometesse, por
escrito, a não encaminhar a privatização da Petrobras. E, em 9 de agosto de
1995, o presidente Fernando Henrique remeteu ao Senado carta formalizando esse
compromisso.
O risco acima referido era de efetiva privatização da empresa. Não tem nada a ver com os contratos de concessão e de partilha que vigoram no Brasil, geridos pela ANP, seguindo a Lei e a orientação governamental.
Nos contratos de concessão, a União permite
a uma empresa, ou consórcio, extrair óleo de um campo por um tempo determinado,
durante o qual a União, sem investir nada, participa da produção. A concessão
não gera direito de propriedade sobre campo produtor. O concessionário dispõe
do petróleo extraído na medida em que respeite as exigências técnicas e pague
as obrigações. Isso não acontecendo, a própria produção pode ser suspensa.
Quando o
pré-sal foi descoberto, o então presidente Lula dirigiu uma reunião do Conselho Nacional de Política Energética
em que, por proposta do então diretor-geral da ANP, quarenta e um blocos
localizados na região da descoberta foram retirados da lista dos que seriam
licitados. A ideia era preservar aqueles blocos até que fosse decidida a melhor
maneira de explorá-los. Terminou ficando estabelecido em lei que, no pré-sal,
daquele momento em diante, só contratos
de partilha da produção seriam firmados. Como em alguns países de vasta
extensão territorial, o Brasil ficou com um sistema misto: em área de pouco risco
– como o pré-sal – vigoraria a partilha
de produção; nas restantes, onde existe alto risco, continuaria a concessão.
Na partilha, todo o óleo extraído vai para
a “PetroSal”, que será criada como empresa com 100% de controle estatal,
segundo a lei. Essa empresa paga ao consórcio contratado, que sempre será
operado pela Petrobras, a parte que lhe é devida no contrato. Recentes
informações da diretora-geral da ANP, Magda Chambriard, realçam a magnitude do
empreendimento que envolve o “Campo de Libra”: 8 a 12 bilhões de barris
recuperáveis de petróleo, previsão de produção de um milhão de barris por dia,
12 a 18 plataformas em operação, 60 a 90 barcos de apoio. Será uma logística
impressionante.
As economias
de boa parte dos países desenvolvidos do mundo debatem-se em crise, massas
populares vão às ruas para não perderem direitos. A economia brasileira
permanece com baixo crescimento. Mas, diferentemente de outros países, o povo
aqui vai às ruas não porque estão querendo lhe retirar direitos, mas porque
quer e precisa de mais direitos. Tudo isso requer uma base econômica robusta e
dinâmica.
O setor do
petróleo e gás aparece como uma oportunidade grandiosa, especialmente pelas
perspectivas que se abrem com o pré-sal como conjunto e, agora, com o “Campo de
Libra”.
“Libra” faz
parte do antigo “bloco BS-4”, da Bacia de Santos, cuja concessão foi requerida
pela Petrobras à ANP no ano 1998, na chamada “Rodada Zero”. Com essa concessão,
a Petrobras, em fevereiro de 2000, fez cessão de direitos de 60 % do bloco para
a Shell (40%) e a Chevron (20%). A Shell reteve uma pequena parte do bloco,
onde descobriu dois pequenos campos, e o devolveu à ANP em 2002 e 2003. A
partir daí, a ANP formatou novos blocos e os apresentou na 6ª Rodada em 2004.
Ninguém se interessou por eles, que voltaram à União. Em 2007, perto dessa
região, a Petrobras chegou a “Tupy”, marco da descoberta do pré-sal, que foi
rebatizado para “Campo de Lula”. E, finalmente, em 2010, a ANP localizou dois
pontos no antigo “BS-4” e autorizou a Petrobras a perfurá-los. Encontrou “Libra”,
a maior descoberta já ocorrida no Brasil, e “Franco”, outra grande, cedida à
Petrobras no regime de cessão onerosa.
“Libra”,
como todo o pré-sal, tem tudo para ajudar a retomada do desenvolvimento do
Brasil. Seu aproveitamento não deve sofrer delongas, nem suscitar dúvidas
descabidas. Foi fruto da tenacidade peculiar aos brasileiros, e da sorte, que
só aparece para quem trabalha e persevera.”
FONTE: escrito por Haroldo Lima e publicado no jornal “Brasil 247” (http://www.brasil247.com/pt/247/brasil/110708/Pr%C3%A9-sal-para-o-desenvolvimento-inadi%C3%A1vel.htm)
[Imagem
do google adicionada por este blog ‘democracia&política’].
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