Documento da AID-"Agência de Inteligência da Defesa" (EUA)
Ocidente facilitará ascensão do Estado Islâmico “para isolar regime sírio”
Por Brad Hoff, no "Levant Report", com o título "2012 Defense Intelligence Agency document: West will facilitate rise of Islamic State “in order to isolate the Syrian regime”". Excertos traduzidos pelo pessoal da Vila Vudu. Transcrito no "Redecastorphoto"
"Considerando que todas as correspondências no foco estratégico são doença crônica na aliança entre excepcionalistas norte-americanos + excepcionalistas sionistas + excepcionalistas wahhabistas (...), a guerra que a Síria luta hoje tem de ser interpretada como a luta de resistência mais crucialmente importante em toda a Eurásia.
Dia 18 de maio de 2015, o grupo conservador "Judicial Watch" publicou uma seleção de documentos protegidos por sigilo até aquela data, e que foram obtidos do Departamento de Defesa e do Departamento de Estado dos EUA por ordem judicial de tribunal federal.
Enquanto até agora a imprensa-empresa comercial dominante só comentou parte dos itens relacionados ao modo como a Casa Branca tratou o ataque ao consulado norte-americano em Benghazi, já se sabe que os documentos da "Agência de Inteligência da Defesa" (AID) que circularam em 2012 trazem importante admissão e confirmação num “quadro muito mais amplo”: que estavam querendo criar um “Estado Islâmico” no leste da Síria, para pôr em execução políticas ocidentais para a região.
Muito espantosamente, lê-se no relatório recentemente divulgado que:
"O OCIDENTE, PAÍSES DO GOLFO E TURQUIA [que] APOIAM A OPOSIÇÃO [síria] (...) HÁ POSSIBILIDADE DE ESTABELECER UM PRINCIPADO/MICRONAÇÃO [orig. PRINCIPALITY, entidade política não reconhecida, micronação] SALAFISTA DECLARADA OU NÃO DECLARADA, NO LESTE DA SÍRIA (HASAKA E DER ZOR), E ISSO É EXATAMENTE O QUE DESEJAM AS POTÊNCIAS QUE ESTÃO APOIANDO A OPOSIÇÃO, PARA ISOLAR O REGIME (...).
O relatório da AID, antes classificado como “SECRETO//SIGILOSO PARA ESTRANGEIROS” [orig. “SECRET//NOFORN”] e datado de 12/8/2012, circulou amplamente entre várias agências do governo, entre as quais CENTCOM, a CIA, FBI, DHS,NGA, Departamento de Estado e várias outras.
O documento mostra que já em 2012 a inteligência dos EUA previra o crescimento do Estado Islâmico no Iraque e Levante/Síria (ISIL/ISIS), mas, em vez de delinear o grupo claramente como organização inimiga, o documento trata aquele grupo terrorista como "ativo estratégico dos EUA".
Por mais que há muito tempo analistas e jornalistas já tenham documentado o papel de agências da inteligência ocidental na formação e treinamento da oposição armada na Síria, essa é a confirmação “oficial” de mais alto nível interno na inteligência dos EUA, da teoria segundo a qual os governos ocidentais, sim, veem o ISIS como ferramenta a serviço deles para fazer a “mudança de regime” na Síria. O documento agora distribuído confirma com detalhes, esse cenário.
Provas judiciais, provas em vídeo, além de admissões feitas por funcionários de alto nível envolvidos nas operações (ver o que disse o ex-embaixador na Síria, Robert Ford, que tudo admitiu, aqui e aqui) já comprovaram que o apoio material que o Departamento de Estado e a CIA deram/dão aos terroristas do ISIS ativos na Síria já existia, pelo menos, em 2012 e 2013 (para exemplo claro de “prova com valor judicial”, vide o relatório de Conflict Armament Research, organização com sede na Grã-Bretanha, que traça as origens dos foguetes antitanque croatas que foram encontrados com o ISIS e os rastreia até um programa conjunto de CIA-sauditas, graças as números de série identificáveis nas armas).
O recém divulgado AID report resume como segue os pontos relacionados ao ISI (em 2012, “Islamic State in Iraq”, “Estado Islâmico no Iraque”) e ao ISIS que apareceria pouco depois:
–- Al-Qaeda comanda a oposição na Síria;
–- O ocidente identifica-se com a oposição;
–- O estabelecimento de um nascente Estado Islâmico só se tornou realidade com o surgimento da insurgência síria (nenhuma referência à retirada das tropas dos EUA, do Iraque, como catalisador do surgimento do EI [que vários autores já chamam hoje de “Estado (Nada)Islâmico (NTs)], que é o que inúmeros políticos e especialistas têm repetido; vide seção 4.D., abaixo);
–- O estabelecimento de um “principado salafista” [orig. “Salafist Principality”] no leste da Síria é “exatamente” o que querem as potências exteriores que apoiam a oposição síria (que o relatório identifica como “o Ocidente, países do Golfo e Turquia”) para enfraquecer o governo do presidente Assad;
–- Sugere-se o estabelecimento de “paraísos seguros” em áreas conquistadas por insurgentes islamistas assemelhadas ao modelo líbio (que geraram as chamadas “zonas aéreas de exclusão” como um primeiro ato da “guerra humanitária”. Vide 7.B.);
–- O Iraque é identificado à “expansão xiita” (8.C);
–- Um Estado Islâmico sunita poderia ser devastador para um “Iraque unificado” e poderia levar a “renovar a facilitação [orig.renewing facilitation] à entrada, na arena iraquiana, de elementos terroristas vindos de todo o mundo árabe” (Vide a última linha não editada no documento integral em PDF).
Toyotas cedidas pelos EUA aos terroristas do ISIS
Aqui alguns excertos das sete páginas do relatório da Agência de Inteligência da Defesa agora divulgado ao público (negritos de Brad Hoff):
R 050839Z AUG 12
A SITUAÇÃO GERAL:
A. INTERNA MENTE, OS EVENTOS ESTÃO TOMANDO DIREÇÃO CLARAMENTE SECTÁRIA.
B. OS SALAFISTAS [sic], A FRATERNIDADE MUÇULMANA E A AL-QAEDA NO IRAQUE SÃO AS PRINCIPAIS FORÇAS QUE MOVEM A INSURGÊNCIA NA SÍRIA.
C. OCIDENTE, PAÍSES DO GOLFO E TURQUIA APOIAM A OPOSIÇÃO; E RÚSSIA, CHINA E IRÃ APOIAM O REGIME SÍRIO.
D. Al QAEDA – IRAQUE (AQI):… B. AQI APOIOU A OPOSIÇÃO SÍRIA DESDE O INÍCIO, IDEOLOGICAMENTE E TAMBÉM PELA IMPRENSA-EMPRESA COMERCIAL (...)
E. HOUVE UMA REGRESSÃO DA AQI NAS PROVÍNCIAS OCIDENTAIS DO IRAQUE DURANTE OS ANOS DE 2009 E 2010; MAS, DEPOIS DO SURGIMENTO E CRESCIMENTO DA INSURGÊNCIA NA SÍRIA, AS POTÊNCIAS RELIGIOSAS E TRIBAIS NA REGIÃO COMEÇARAM A SIMPATIZAR COM O LEVANTE SECTÁRIO. ESSA SIMPATIA APARECEU EM SERMÕES DAS 6as-FEIRAS, QUE CONVOCAVAM VOLUNTÁRIOS PARA APOIAR OS SUNITAS [sic] NA SÍRIA.
HIPÓTESES EM AVALIAÇÃO SOBRE O FUTURO DA CRISE:
A. O REGIME SOBREVIVE E TEM CONTROLE SOBRE O TERRITÓRIO SÍRIO.
B. OS EVENTOS CORRENTES LEVAM A GUERRA ‘POR PROCURAÇÃO’ (...): FORÇAS DA OPOSIÇÃO ESTÃO TENTANDO CONTROLAR AS ÁREAS NO LESTE (HASAKA E DER ZOR), ADJACENTES ÀS PROVÍNCIAS NO OESTE DO IRAQUE (MOSUL E ANBAR), ALÉM DAS FRONTEIRAS TURCAS VIZINHAS. PAÍSES OCIDENTAIS, OS ESTADOS DO GOLFO E A TURQUIA ESTÃO APOIANDO ESSES ESFORÇOS. ESSA É A HIPÓTESE MAIS PROVÁVEL SEGUNDO OS DADOS DE EVENTOS RECENTES, QUE AJUDARÃO A PREPARAR PARAÍSOS SEGUROS, SOB A PROTEÇÃO DA LEI INTERNACIONAL, SEMELHANTE AO QUE TRANSPIROU NA LÍBIA, QUANDO BENGHAZI FOI ESCOLHIDA COMO CENTRO DE COMANDO DO GOVERNO TEMPORÁRIO.
C. SE A SITUAÇÃO SE DESDOBRAR, HÁ POSSIBILIDADE DE ESTABELECER UM PRINCIPADO SALAFISTA DECLARADO OU NÃO DECLARADO NO LESTE DA SÍRIA (HASAKA E DER ZOR), E ISSO É EXATAMENTE O QUE DESEJAM AS POTÊNCIAS QUE ESTÃO APOIANDO A OPOSIÇÃO, PARA ISOLAR O REGIME, VISTA COMO A PROFUNDIDADE ESTRATÉGICA DA EXPANSÃO XIITA (IRAQUE E IRÃ).
D. O ESTADO ISLÂMICO NO IRAQUE PODE TAMBÉM DECLARAR UM ESTADO ISLÂMICO MEDIANTE A UNIÃO DO ISI COM OUTRAS ORGANIZAÇÕES TERRORISTAS NO IRAQUE E SÍRIA, O QUE CRIARÁ GRAVE PERIGO EM RELAÇÃO À UNIFICAÇÃO DO IRAQUE E PROTEÇÃO DE SEU TERRITÓRIO."
FONTE: escrito por Brad Hoff, no "Levant Report", com o título "2012 Defense Intelligence Agency document: West will facilitate rise of Islamic State “in order to isolate the Syrian regime”". Excertos traduzidos pelo pessoal da Vila Vudu. Transcrito por Castor Filho no "Redecastorphoto" (http://redecastorphoto.blogspot.com.br/). [Título e pequenas modificações de forma inseridos por este blog 'democracia&política'].
O autor, Brad Hoff, é Diretor Editorial do "Relatório Levant". É ex-fuzileiro naval e foi professor de história antiga e moderna em várias escolas no Texas - tanto nos níveis universitários e do ensino médio. Brad viveu e viajou extensivamente por todo o Oriente Médio, passando a maior parte de seu tempo na Síria antes da insurreição de 2011.
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