PORQUE OS EUA TIVERAM DE IR CONVERSAR COM À RÚSSIA
Por Pepe Escobar, no "Sputnik News", com o título "Why the US is Finally Talking to Russia". Traduzido pelo "pessoal da Vila Vudu"
"Aí, uma mulher entra na sala e... Várias piadas começam assim. No nosso caso, a autocoroada Rainha do Nulandistão, Victoria “F*da-se a UE” entra na sala, em Moscou, para falar com os Vice-Ministros de Relações Exteriores da Rússia Sergei Ryabkov e Grigory Karasin.
Por Pepe Escobar, no "Sputnik News", com o título "Why the US is Finally Talking to Russia". Traduzido pelo "pessoal da Vila Vudu"
"Aí, uma mulher entra na sala e... Várias piadas começam assim. No nosso caso, a autocoroada Rainha do Nulandistão, Victoria “F*da-se a UE” entra na sala, em Moscou, para falar com os Vice-Ministros de Relações Exteriores da Rússia Sergei Ryabkov e Grigory Karasin.
Victoria "F*da-se a União Europeia" Nuland distribui "cookies" na Praça Maidan em Kiev
Piada? Oh, não; aconteceu bem assim. Por quê?
Comecemos com as reações oficiais. Karasin qualificou as conversações de “frutíferas”, mas disse que Moscou não aprova que Washington seja integrada às negociações no formato-Normandia (Rússia, Ucrânia, Alemanha e França) sobre a Ucrânia. Não, depois da incansável demonização não só do Kremlin, mas de toda a Rússia, desde o golpe de Maidan.
Ryabkov, por sua vez, fez saber que o estado atual das relações EUA-Rússia persiste... corrosivo.
É crucial não esquecer que a Rainha do Nulandistão só foi a Moscou depois de se reunir com o vassalo-de-carteirinha de Washington, presidente Poroshenko [Ucrânia], e o primeiro-ministro que ela mesma selecionou, o tal “Yats”; isso tudo antes de acompanhar o Secretário de Estado John Kerry na visita em trajes de gala que o Departamento de Estado fez a Sochi dia 12 de maio de 2015.
O acordo Minsk-2 – produto genuíno das negociações pelo formato Normandia – envolveu diretamente Berlim e Paris, as quais, afinal, viram pintada no muro a realpolitik e foram obrigadas a divergir da abordagem antagonista monomaníaca de Washington.
Dentro da União Europeia, permanece o caos em tudo que tenha a ver com a questão das sanções. Os países Bálticos e a Polônia repisam a linha histérica de “os russos estão chegando” da Guerra Fria 2.0, enquanto os adultos estão representados em Bruxelas por Itália, Grécia, Espanha e Hungria.
Assim sendo, Alemanha e França já têm problemas suficientes para manter em ordem a tumultuada casa da União Europeia. Ao mesmo tempo, Berlin e Paris sabem que nada que o governo de Obama, autodescrito como “Não Faça Merda Coisa Estúpida”, invente levará Moscou a abandonar as suas muito precisas linhas vermelhas.
Atenção àquelas linhas vermelhas
É crucialmente importante observar que a Crimeia já não parece estar sobre a mesa: é fato consumado. Mas há aqueles “instrutores militares” norte-americanos que foram despachados para o oeste da Ucrânia só para uma “missão de seis meses” (anotação histórica e lembrete: a guerra do Vietnã começou exatamente assim). Para Moscou, qualquer prorrogação dessa “missão” é linha vermelha absoluta.
E há também a linha vermelha máxima: a expansão da OTAN, a qual permanece inabalada, nos Bálticos, na Polônia, na Romênia e na Bulgária. E não ficará por aí; a expansão é parte da obsessão da OTAN eom firmar uma nova Cortina de Ferro, dos Bálticos ao Mar Negro.
Assim sendo, além das conversações, o próximo passo é ver se o governo Obama consegue realmente suspender o processo de armar Kiev.
A Ucrânia, para todos os objetivos práticos, é estado falhado, massivamente endividado, convertido já em colônia do FMI. A União Europeia não quer a Ucrânia – mas a OTAN quer. Para Moscou, o show de horrores só terá fim quando a Ucrânia, com ou sem as repúblicas populares de Donetsk e Lugansk, tornar-se neutra, sem ser parte da ameaça estratégica que é a OTAN.
Como examinei em “EUA acordam para a Nova Ordem (da Seda) Mundial”, a possibilidade de que a guinada estratégica do governo Obama, que parte para conversar, em vez de amaldiçoar/demonizar/ameaçar, pode significar que os verdadeiros "Masters of the Universe" finalmente teriam compreendido que há boa probabilidade de a emergente "Nova Ordem (da Seda) Mundial" deixá-los para trás.
O Presidente Putin percebeu que estava em rota de grande confronto com os EUA já desde o desmembramento da Iugoslávia, da aventura na Geórgia e ante o avanço sem fim da OTAN, sempre violando as promessas ocas nas quais Gorbachev acreditou.
Putin, carregando a foto do pai, herói de guerra, participa da homenagem aos mortos na IIª Guerra (9/5/2015)
A diferença é que agora – e o Pentágono sabe disso – Moscou acumulou cerca de 10 mil armas nucleares táticas. Na eventualidade – apocalíptica – de uma guerra entre Rússia e OTAN, sonho molhado de muitos neoconservadores nos EUA, essas armas nucleares táticas poriam fora de combate todas as pistas de pouso e decolagem de aeronaves comerciais e militares de todos os países da OTAN, em vinte minutos. O que deixaria a OTAN sem pistas para operações aéreas combinadas.
Além do mais, há também o sistema S-500 de mísseis de defesa, que pode proteger a Rússia contra qualquer forma de retaliação com mísseis nucleares enviados pelo Pentágono/OTAN. Nenhuma arma ofensiva dos EUA, incluídos os bombardeiros Stealth, pode penetrar o escudo do S-500. E o Pentágono também sabe disso.
Estratégia? Que estratégia?
A estratégia de tipo Dr. Zbig “Grande Tabuleiro de Xadrez” Brzezinski sempre foi atrair a Rússia para outro Afeganistão na Ucrânia, o que levaria ao colapso da economia russa; e o grande prêmio seria a tomada, pelo ocidente, de todo e petróleo e todo o gás natural da Rússia, e, por extensão, da Ásia Central. Os ucranianos seriam bucha de canhão, como foram os afegãos desde a Jihad árabe-afegã dos anos 1980.
Mas o governo Obama confiou demais nas próprias cartas, e a realpolitik está mostrando que a parceria estratégica Rússia-China só faz aprofundar-se e firmar-se cada vez mais, por toda a massa de terra eurasiana: a Eurásia, como empório comercial massivo em organização, de Pequim a Berlim, ou de Xangai a São Petersburgo e além, rumo a Rotterdam e Duisburg.
Sem a obsessão excepcionalista de algumas facções ativas dentro do Departamento de Estado, nenhum dos elementos dessa Guerra Fria 2.0 estaria operante, porque a Rússia é aliado natural dos EUA em vários fronts. Só isso basta para que se veja em que estado anda o “pensamento estratégico” do governo dos EUA.
Moscou, contudo, não se deixará apanhar desprevenida na atual ofensiva de mal disfarçada tentativa de seduzir, porque a inteligência russa sabe que tudo isso pode estar apenas encobrindo uma tática à moda do “Grande Tabuleiro de Xadrez” em duas etapas, enquanto o ocidente se reorganiza para ataque posterior, massivo.
Na verdade, nada de fato mudou, exceto o fato de que a doutrina original dissuasiva da era da Guerra Fria, de “Destruição Mutuamente Garantida", DeMG [orig. MAD, Mutually Assured Destruction], foi superada.
Hoje, os EUA ainda têm capacidade para "Rápido Ataque Global", RAG [orig. PGS, "Prompt Global Strike"]. A Ucrânia não passa de detalhe. O jogo só mudará realmente, de fato, quando a Rússia tiver vedado todo o próprio território, com os sistemas S-500 à prova de RAG/PGS. Acontecerá antes do que se pensa. E é por isso que os verdadeiros "Masters of the Universe" – através de seus emissários – sentiram-se forçados a sentar para conversar."
FONTE: escrito por Pepe Escobar, no "Sputnik News", com o título "Why the US is Finally Talking to Russia". Traduzido pelo "pessoal da Vila Vudu" e postado no site "Patria Latina" (http://www.patrialatina.com.br/editorias.php?cod=15430) e na "Redecastorphoto" (http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2015/05/pepe-escobar-porque-os-eua-tiveram-de.html). A rede castorphoto é independente; tem perto de 41.000 correspondentes no Brasil e no exterior. Estão divididos em 28 operadores/repetidores e 232 distribuidores; não está vinculada a nenhum portal nem a blog ou site. Os operadores recolhem ou recebem material de diversos blogs, sites, agências, jornais e revistas eletrônicos, articulistas e outras fontes no Brasil e no exterior para distribuição na rede.
Piada? Oh, não; aconteceu bem assim. Por quê?
Comecemos com as reações oficiais. Karasin qualificou as conversações de “frutíferas”, mas disse que Moscou não aprova que Washington seja integrada às negociações no formato-Normandia (Rússia, Ucrânia, Alemanha e França) sobre a Ucrânia. Não, depois da incansável demonização não só do Kremlin, mas de toda a Rússia, desde o golpe de Maidan.
Ryabkov, por sua vez, fez saber que o estado atual das relações EUA-Rússia persiste... corrosivo.
É crucial não esquecer que a Rainha do Nulandistão só foi a Moscou depois de se reunir com o vassalo-de-carteirinha de Washington, presidente Poroshenko [Ucrânia], e o primeiro-ministro que ela mesma selecionou, o tal “Yats”; isso tudo antes de acompanhar o Secretário de Estado John Kerry na visita em trajes de gala que o Departamento de Estado fez a Sochi dia 12 de maio de 2015.
O acordo Minsk-2 – produto genuíno das negociações pelo formato Normandia – envolveu diretamente Berlim e Paris, as quais, afinal, viram pintada no muro a realpolitik e foram obrigadas a divergir da abordagem antagonista monomaníaca de Washington.
Dentro da União Europeia, permanece o caos em tudo que tenha a ver com a questão das sanções. Os países Bálticos e a Polônia repisam a linha histérica de “os russos estão chegando” da Guerra Fria 2.0, enquanto os adultos estão representados em Bruxelas por Itália, Grécia, Espanha e Hungria.
Assim sendo, Alemanha e França já têm problemas suficientes para manter em ordem a tumultuada casa da União Europeia. Ao mesmo tempo, Berlin e Paris sabem que nada que o governo de Obama, autodescrito como “Não Faça Merda Coisa Estúpida”, invente levará Moscou a abandonar as suas muito precisas linhas vermelhas.
Atenção àquelas linhas vermelhas
É crucialmente importante observar que a Crimeia já não parece estar sobre a mesa: é fato consumado. Mas há aqueles “instrutores militares” norte-americanos que foram despachados para o oeste da Ucrânia só para uma “missão de seis meses” (anotação histórica e lembrete: a guerra do Vietnã começou exatamente assim). Para Moscou, qualquer prorrogação dessa “missão” é linha vermelha absoluta.
E há também a linha vermelha máxima: a expansão da OTAN, a qual permanece inabalada, nos Bálticos, na Polônia, na Romênia e na Bulgária. E não ficará por aí; a expansão é parte da obsessão da OTAN eom firmar uma nova Cortina de Ferro, dos Bálticos ao Mar Negro.
Assim sendo, além das conversações, o próximo passo é ver se o governo Obama consegue realmente suspender o processo de armar Kiev.
A Ucrânia, para todos os objetivos práticos, é estado falhado, massivamente endividado, convertido já em colônia do FMI. A União Europeia não quer a Ucrânia – mas a OTAN quer. Para Moscou, o show de horrores só terá fim quando a Ucrânia, com ou sem as repúblicas populares de Donetsk e Lugansk, tornar-se neutra, sem ser parte da ameaça estratégica que é a OTAN.
Como examinei em “EUA acordam para a Nova Ordem (da Seda) Mundial”, a possibilidade de que a guinada estratégica do governo Obama, que parte para conversar, em vez de amaldiçoar/demonizar/ameaçar, pode significar que os verdadeiros "Masters of the Universe" finalmente teriam compreendido que há boa probabilidade de a emergente "Nova Ordem (da Seda) Mundial" deixá-los para trás.
O Presidente Putin percebeu que estava em rota de grande confronto com os EUA já desde o desmembramento da Iugoslávia, da aventura na Geórgia e ante o avanço sem fim da OTAN, sempre violando as promessas ocas nas quais Gorbachev acreditou.
Putin, carregando a foto do pai, herói de guerra, participa da homenagem aos mortos na IIª Guerra (9/5/2015)
A diferença é que agora – e o Pentágono sabe disso – Moscou acumulou cerca de 10 mil armas nucleares táticas. Na eventualidade – apocalíptica – de uma guerra entre Rússia e OTAN, sonho molhado de muitos neoconservadores nos EUA, essas armas nucleares táticas poriam fora de combate todas as pistas de pouso e decolagem de aeronaves comerciais e militares de todos os países da OTAN, em vinte minutos. O que deixaria a OTAN sem pistas para operações aéreas combinadas.
Além do mais, há também o sistema S-500 de mísseis de defesa, que pode proteger a Rússia contra qualquer forma de retaliação com mísseis nucleares enviados pelo Pentágono/OTAN. Nenhuma arma ofensiva dos EUA, incluídos os bombardeiros Stealth, pode penetrar o escudo do S-500. E o Pentágono também sabe disso.
Estratégia? Que estratégia?
A estratégia de tipo Dr. Zbig “Grande Tabuleiro de Xadrez” Brzezinski sempre foi atrair a Rússia para outro Afeganistão na Ucrânia, o que levaria ao colapso da economia russa; e o grande prêmio seria a tomada, pelo ocidente, de todo e petróleo e todo o gás natural da Rússia, e, por extensão, da Ásia Central. Os ucranianos seriam bucha de canhão, como foram os afegãos desde a Jihad árabe-afegã dos anos 1980.
Mas o governo Obama confiou demais nas próprias cartas, e a realpolitik está mostrando que a parceria estratégica Rússia-China só faz aprofundar-se e firmar-se cada vez mais, por toda a massa de terra eurasiana: a Eurásia, como empório comercial massivo em organização, de Pequim a Berlim, ou de Xangai a São Petersburgo e além, rumo a Rotterdam e Duisburg.
Sem a obsessão excepcionalista de algumas facções ativas dentro do Departamento de Estado, nenhum dos elementos dessa Guerra Fria 2.0 estaria operante, porque a Rússia é aliado natural dos EUA em vários fronts. Só isso basta para que se veja em que estado anda o “pensamento estratégico” do governo dos EUA.
Moscou, contudo, não se deixará apanhar desprevenida na atual ofensiva de mal disfarçada tentativa de seduzir, porque a inteligência russa sabe que tudo isso pode estar apenas encobrindo uma tática à moda do “Grande Tabuleiro de Xadrez” em duas etapas, enquanto o ocidente se reorganiza para ataque posterior, massivo.
Na verdade, nada de fato mudou, exceto o fato de que a doutrina original dissuasiva da era da Guerra Fria, de “Destruição Mutuamente Garantida", DeMG [orig. MAD, Mutually Assured Destruction], foi superada.
Hoje, os EUA ainda têm capacidade para "Rápido Ataque Global", RAG [orig. PGS, "Prompt Global Strike"]. A Ucrânia não passa de detalhe. O jogo só mudará realmente, de fato, quando a Rússia tiver vedado todo o próprio território, com os sistemas S-500 à prova de RAG/PGS. Acontecerá antes do que se pensa. E é por isso que os verdadeiros "Masters of the Universe" – através de seus emissários – sentiram-se forçados a sentar para conversar."
FONTE: escrito por Pepe Escobar, no "Sputnik News", com o título "Why the US is Finally Talking to Russia". Traduzido pelo "pessoal da Vila Vudu" e postado no site "Patria Latina" (http://www.patrialatina.com.br/editorias.php?cod=15430) e na "Redecastorphoto" (http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2015/05/pepe-escobar-porque-os-eua-tiveram-de.html). A rede castorphoto é independente; tem perto de 41.000 correspondentes no Brasil e no exterior. Estão divididos em 28 operadores/repetidores e 232 distribuidores; não está vinculada a nenhum portal nem a blog ou site. Os operadores recolhem ou recebem material de diversos blogs, sites, agências, jornais e revistas eletrônicos, articulistas e outras fontes no Brasil e no exterior para distribuição na rede.
O autor, Pepe Escobar (1954) é jornalista, brasileiro, vive em São Paulo, Hong Kong e Paris, mas publica exclusivamente em inglês. Mantém coluna no "Asia Times Online"; é também analista de política de blogs e sites como: "Sputinik", "Tom Dispatch", "Information Clearing House", "Red Voltaire" e outros; é correspondente/articulista das redes "Russia Today", e "Al-Jazeera". Seus artigos podem ser lidos, traduzidos para o português pelo "Coletivo de Tradutores da Vila Vudu" e João Aroldo, no"redecastorphoto".
Livros do autor:
– Globalistan: How the Globalized World is Dissolving into Liquid War, Nimble Books, 2007.
− Red Zone Blues: A Snapshot of Baghdad During the Surge, Nimble Books, 2007.
− Obama Does Globalistan, Nimble Books, 2009.
− Adquira seu novo livro Empire of Chaos, publicado no final de 2014 pela Nimble Books.
– Globalistan: How the Globalized World is Dissolving into Liquid War, Nimble Books, 2007.
− Red Zone Blues: A Snapshot of Baghdad During the Surge, Nimble Books, 2007.
− Obama Does Globalistan, Nimble Books, 2009.
− Adquira seu novo livro Empire of Chaos, publicado no final de 2014 pela Nimble Books.
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