terça-feira, 12 de janeiro de 2016

O APARENTE DESVIO DO OBJETIVO POLÍTICO-PARTIDÁRIO DA LAVA-JATO





[OBS deste blog 'democracia&política': 

Foi tão inusitado, surpreendente, improvável, o vazamento de delações contra o PSDB e FHC que isso provoca reflexões. "Aí tem coisa"... 

Notícias de delações contra o PSDB e outros partidos da direita ("do mercado") não vazavam. Eram guardadas sob rigoroso sigilo e não investigadas. Sempre foi assim, inclusive pelo MP/PGR e STF há duas décadas. Então, por que agora emerge da Operação Lava-Jato a delação de o PSDB/FHC ter recebido propina da Petrobras equivalente a R$ 1 bilhão? Apesar de FHC também ser "amigo de Lula", não faz sentido. 

A operação foi muito bem planejada para o foco de atingir "o governo central" (Lula, Dilma, o PT e aliados), conforme já antevisto e explícito no trabalho acadêmico do Juiz Moro ao analisar a operação "Mãos Limpas" da Itália. Os demais ilícitos dos partidos da oposição "não vêm ao caso".

Metódica, progressiva e organizadamente, em conluio com a grande mídia, numa complexa estratégia, as notícias somente contra o governo PT e seus aliados vinham sendo elaboradas e vazadas a conta-gotas como grandes escândalos midiáticos.

Agora, fomos surpreendidos com grave delação contra FHC e o governo PSDB ! Isso é dissonante. Está fora da lógica da operação. Nos deixa céticos. Há alguma armadilha sendo preparada. Será uma cilada? Será que foi para dar credibilidade à etapa seguinte, essa sim coerente com o verdadeiro foco da Lava-Jato?

Essas conjecturas me fazem destacar a seguir o inteligente artigo do jornalista Fernando Brito]:      

A operação “Conta-Gotas” da Lava Jato chegou onde queria: acusar Lula

Por FERNANDO BRITO [no seu blog "Tijolaço"]

O método revela os fins.

"Está mais que claro que o “vazamento” dos termos da delação premiada é muito mais do que uma simples infração funcional de algum policial [de ascendência oriental ou não] ou promotor da Lava Jato que, ansioso por “colocar na roda” os nomes mencionados e as acusações aparentemente sem qualquer prova do ex-diretor da Petrobras, Nestor Cerveró tivesse entregue a um ou mais repórteres.

Se tivesse sido isso, é óbvio que a primeira menção ,que iria para os jornais seria a que foi hoje, quatro dias depois de começarem a “pingar” os vazamentos. Seria o conteúdo da tal delação na Folha de hoje: uma suposta “gratidão” do ex-presidente Lula a ele por ter “viabilizado” o pagamento de um empréstimo de R$ 12 milhões supostamente feito ao PT pelo Banco Schahin.

Que jornalista, de posse da delação integral, “guardaria” por alguns dias a “bomba”, ainda mais porque outros jornais também vinham publicando trechos da delação?

Nem vou tratar do estapafúrdio que seria entregar um contrato de US$ 1,6 bilhão como simples “pagamento” de um empréstimo que, em dólares de 2004 (quando a cotação variou entre R$ 3,65 e R$ 2,90), somaria US$ 3,67 milhões, ou 0,23% do prêmio supostamente dado à Schahin.

Prefiro ficar na eloquente cronologia dos vazamentos.

Há quatro dias, “vaza”. com grande alarde, o trecho em que o Ministro Jaques Wagner é citado como beneficiário de dinheiro, em 2006, de uma empreiteira – da qual Cerveró não se recorda o nome – que faria um prédio da Petrobrás em Salvador, cujas obras se iniciaram em dezembro de 2011 – cinco anos depois, portanto.

Depois, para sair na segunda – bem cedo – vaza o trecho em que Cerveró diz que houve uma propina de US$ 100 milhões [equivalentes hoje a R$ 1 bilhão] para o Governo Fernando Henrique Cardoso na operação de compra das instalações da argentina Perez Companc. Como? Ah, Cerveró não diz e não parece, pelo documento, que sequer se lhe tenha perguntado.

Os leitores deste blog sabem que aqui, desde os primeiros vazamentos, questiona-se a falta de indícios de materialidade em tudo o que tem sido vazado.

Cumprida essa etapa e estabelecido o “doa em quem doer” de Cerveró, passa o vazador a dar o filé aos jornalistas: é hora de servir Lula!

A construção deliberada é tão evidente que salta aos olhos de qualquer um. Os jornais reproduzem apenas pequenos trechos da delação, o que, claro, parece confirmar que o “vazador” não lhes fornece o documento inteiro, mas os trechos “pinçados” que interessam para dirigir a mídia.

Que, com todo o prazer, entrega-se à Operação Conta-Gotas e se acumplicia aos objetivos políticos de seus mentores."

FONTE: postagem de FERNANDO BRITO em seu blog "Tijolaço" transcrita e comentada (título, observação inicial e trechos entre colchetes, em azul) por este blog 'democracia&política'.  (http://tijolaco.com.br/blog/a-operacao-conta-gotas-chegou-onde-queria-acusar-lula/).

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