sábado, 26 de setembro de 2009

RETOMADA BRASILEIRA DESLUMBRA G20

"Brasileiro diz que país criará 1 milhão de empregos neste ano e crescerá 5% em 2010 e compara atual crise com a queda do Muro de Berlim

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou a cúpula do G20 para tentar deslumbrar os seus colegas, especialmente os do mundo rico, com números notáveis sobre a economia brasileira, como o crescimento de 5% que anunciou para o próximo ano, em sua fala de encerramento.

Quando o comunicado final da cúpula diz que o Fundo Monetário Internacional prevê que a economia global cresça "perto de 3% até o fim de 2010", o avanço brasileiro fica de fato impressionante.

Além disso, Lula anunciou a seus pares que o Brasil criará neste ano 1 milhão de empregos com carteira assinada, outro contraste com a preocupação manifestada pelo conjunto de líderes no texto final, no qual afirmam que "o desemprego permanece inaceitavelmente alto".

A quase euforia com que o presidente brasileiro comentou os resultados do G20 levou-o a uma comparação talvez exagerada com a queda do Muro de Berlim, que vai fazer 20 anos em novembro e simbolizou a derrota do comunismo.

Para Lula, a queda do muro permitiu que "a esquerda tivesse liberdade para pensar", sem as verdades supostamente absolutas contidas no "Manifesto [Comunista]".

Já a crise econômica do presente "permitiu que ninguém pudesse dizer que era dono da verdade". Lula disse que só ele sabia a diferença que havia entre reunir-se com os governantes do mundo rico antes e depois da crise.

Tascou outra comparação: "Quando está todo mundo no hospital, fica todo mundo mais humilde".

Não satisfeito com os números festivos, o presidente ainda disse que, "desta vez, o Brasil tem o que ensinar". Referiu-se, então, à solidez do sistema financeiro brasileiro e ao papel dos bancos públicos.

De fato, a regulação do sistema financeiro no Brasil exige que os bancos tenham 11% de capital próprio sobre o que emprestam, quando a média no mundo é de apenas 8%. A proposta que o G20 encampou de regulação dos bancos prevê justamente aumentar o capital próprio, coisa que já está feita no Brasil.

A felicidade do presidente não foi empanada nem pelo fato de que a reforma do FMI (Fundo Monetário Internacional), primeira prioridade do Brasil para a cúpula de Pittsburgh, tenha ficado aquém do desejado. O grupo dos Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) queria 7% a mais em suas cotas (e dos demais emergentes e países em desenvolvimento). Levaram "pelo menos 5%", como diz o comunicado final.

"Daqui a pouco, a gente consegue 7%", afirmou o presidente, lembrando a sua experiência de dirigente sindical, com o que deixou implícito que a proposta brasileira era apenas uma posição negociadora e, como tal, não inflexível.

Motivos

Mas a euforia do presidente tinha dois outros motivos: primeiro, o fato de o G20 ter recebido o selo de principal fórum de discussão da economia mundial, papel que cabia até o ano passado ao G8.

Lula batalhou persistentemente para essa troca de clube de elite na economia global.
Além disso, o fato de terem sido anunciadas medidas para a regulação do sistema financeiro, no qual têm assento "os brancos de olhos azuis" que Lula culpou pela crise, na véspera da cúpula anterior, em Londres, em abril.

O presidente disse que, até a crise, os banqueiros diziam que os Estados deveriam ser dirigidos como se fossem bancos, que não quebram. "Os bancos quebraram [na crise] e levaram milhões de pessoas com eles", fechou o brasileiro.

Até "a desgraça da crise" acabou merecendo uma nota positiva: "No meio da desgraça da crise, surgem possibilidades de fazer mudanças que não se fariam sem ela".

FONTE: artigo de CLÓVIS ROSSI publicado hoje (26/09) na Folha de São Paulo, um dos grandes jornais da campanha pró-PSDB/Serra 2010.

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