terça-feira, 1 de maio de 2012

BANCA PRIVADA INTERNACIONAL LUTA POR SARKOZY, CONTRA HOLLANDE

Nicolas Sarkozy e François Hollande

AS JÓIAS DO PENSAMENTO ÚNICO

Por Flávio Aguiar

“Lembram do “pensamento único”, dos tempos ['neoliberais'] de FHC, Menem et alii? Acharam que ele estava morto? Mas o “pensamento único” é como um vampiro. A gente acha que ele morreu num filme. Mas ele renasce em outro, mais desempenado e arrogante do que nunca.

No caso em pauta, ele sucumbiu na América Latina, mas vem mostrando toda a sua garra – e as garras também – na Europa.

O seu novo empreendimento – e comentaristas ortodoxos já se aprestam a tanto – é desacreditar o programa de François Hollande (v., p. ex. “How Long Will Hollande’s Party Go On”, por Wolfgang Kaden).

Tais vozes apontam-lhe "a falácia da pretensão de promover o crescimento econômico com o concomitante crescimento do endividamento público".

O vocabulário é o de sempre: higienista e desqualificador. “O programa de Hollande estaria ‘infectadopelas idéias de Lord Keynes” – nessa altura mais odiado do que Marx. Representaria “um recuo de 40 anos no tempo”. Seria a prova de que Hollande e os que pensam como ele “não aprenderam nada” com a presente crise.

Além do acréscimo nas despesas públicas, o que mais exaspera esse pensamento é a possibilidade de que, se a ótica de Hollande prevalecesse, o Banco Central Europeu mudaria de natureza. Passaria a promover o crescimento, coisa indesejável, porque ele teria de se comportar como um verdadeiro banco, lançando letras, captando fundos, e assim estaria concorrendo deslealmente com a banca privada, que continua sendo a menina dos olhos e o menino prodígio dos “planos de austeridade”, que visam promovê-la a “reguladora” dos “novos Estados nacionais" que devem emergir dessa crise.

Para esse pensamento, quais são os males a combater? “Salários altos demais, que promovem pensões altas demais, tornam países pouco competitivos” [assim como a] “diminuição das horas trabalhadas, aposentadorias precoces, além do ensinamento maléfico, que viria das atitudes promovidas 'pela agenda esquerdista clássica', qual seja, a de que se pode viver acima dos próprios meios. E isso vale para trabalhadores e para países igualmente”.

Enquanto isso, sem falar nos gordos bônus dos altos executivos do sistema financeiro, o Banco Central Europeu distribuiu 200 bilhões de euros para governos endividados – para que eles possam continuar a “honrar seus compromissos com a banca privada” – e repassou 1 trilhão diretamente a essa banca, para que ela possa continuar a promover os ganhos especulativos de que está acostumada a viver.

Agora, o BCE passar a captar fundos para promover o crescimento, isso é insuportável para esse tipo de pensamento. E ele nem de longe consegue cogitar que tenha algo a ver com o que está acontecendo no mundo real: a catástrofe espanhola, o drama português, a tragicomédia britânica, o crescimento da extrema-direita na França, a tragédia grega, as crises na Holanda e na Romênia, o caldo de cultura favorável à xenofobia na Europa – com o caso dramático da Noruega, por exemplo.

Como se tudo isso não bastasse, Hollande fala em rever o pacto fiscal europeu – esse mesmo que está levando a Europa à inanição recessiva e boa parte do mundo com ela. Portanto, de tudo isso, só se pode tirar uma conclusão: "está na hora de Angela Merkel disciplinar Hollande, ou pelo menos mostrar a ele quem é que manda".

Tão enraizado é esse “pensamento único” que, mesmo dirigentes do SPD alemão (não todos), vêm chamando as idéias de Hollande de “ingênuas”.

Essa arrogância não tem cura. Ela não cogita a partir do real, mas somente a partir da fantasia de suas premissas modelares.

Como nos filmes de vampiro, o único remédio para ela é uma estaca no coração. Política, é claro. Não estamos falando de apologia da violência. Isso é coisa da direita, inclusive de sua vanguarda “moderna”: o “pensamento único” que, para preservar os próprios anéis, não hesita em cortar os dedos, as mãos e os sonhos... dos outros.”

FONTE: escrito por Flávio Aguiar, correspondente internacional da “Carta Maior” em Berlim  (http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=5574) [Título e imagens do Google adicionadas por este blog ‘democracia&política’].

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