Dilma, Aécio e Eduardo, agora a conversa ganhou clareza
Nome aos bois
Por André Singer, na "Folha de S. Paulo"
"Por um momento, o debate político voltou a ter a nitidez anterior a 2002. Tudo começou com a frase, surpreendente pela franqueza, que o pré-candidato do PSDB Aécio Neves soltou a empresários em São Paulo. O neto de Tancredo disse estar “preparado para tomar as decisões necessárias, por mais que elas sejam impopulares” (Folha, 2/4). Dez dias depois, o coordenador do programa econômico do senador, Armínio Fraga, não só confirmou a declaração como deu algumas pistas do que ela significa (O Estado de S. Paulo, 13/4).
Outra quinzena transcorrida, o economista Eduardo Giannetti da Fonseca, um dos principais formuladores da chapa Eduardo Campos-Marina Silva, reconheceu em um encontro na "Globonews" (26/4) não haver, entre os que pensam o programa da dupla socialista-sustentável qualquer diferença importante em relação à equipe tucana, no que diz respeito à economia brasileira.
Por fim, na véspera do Primeiro de Maio, a presidente Dilma Rousseff, provável candidata do PT, foi à TV responder aos adversários. Numa alusão clara à “coragem” aecista, Dilma prometeu que o seu governo “nunca será o da mão dura contra o trabalhador”.
O que está em jogo nos movimentos acima descritos é a posição das candidaturas majoritárias a respeito da necessidade de se fazer um "ajuste de caráter recessivo" no país em 2015 [à custa do trabalhador e em benefício dos empresários e banqueiros]. Há uma espécie de frente ampla capitalista em torno de tal perspectiva, que se expressa nas menções, cada vez mais comuns, às pretensas “dificuldades” que aguardariam o Brasil no ano que vem.
Segundo Armínio Fraga, na entrevista supracitada, é preciso adotar um "controle estrito do gasto público" [para sobrar mais dinheiro para o "superávit primário", para pagamento dos rentistas], adotando-se, talvez até em lei, um limite de dispêndio em relação ao PIB. Não é difícil perceber que tal enxugamento reforçaria o combate à inflação pela via do corte de demanda, já em curso por meio dos juros altos que o BC determina, satisfazendo, assim, o "anseio do mercado" por um choque [e por altas taxas SELIC que proporcionariam gordos lucros para os rentistas estrangeiros e nacionais; essa taxa chegou a 45%!!! no governo FHC/PSDB bondoso com o "mercado" e querido e protegido pela mídia].
Também Eduardo Campos ["o traíra", o novo homem do "mercado"] acha que “é imperioso recuperar a confiança dos investidores” (bit.ly/SiyI8Y). Embora se arrisque menos que Aécio no sincericídio, como convém a uma opção "de centro" [centro da direita], o compromisso do neto de Arraes não é muito diferente do assumido pelo neto de Tancredo. Haja vista a defesa que primeiro tem feito da "independência do Banco Central" [isto é, da dependência do BC somente ao "mercado"].
Empurrada pela queda nas pesquisas, Dilma deu um passo na direção oposta ao anunciar que vai continuar a valorização do salário mínimo, reajustará a Bolsa Família e a tabela do Imposto de Renda. Tais medidas implicam aumento do gasto. Resta saber se tal disposição se aprofundará ao longo da campanha e, sobretudo, se tomará corpo no próprio governo, em caso de vitória. Seja como for, por agora a conversa ganhou alguma clareza."
FONTE: escrito por André Singer, na "Folha de S. Paulo". O autor é cientista político e professor da USP, onde se formou em ciências sociais e jornalismo. Foi porta-voz e secretário de Imprensa da Presidência no governo Lula. Artigo transcrito no portal "Viomundo" (http://www.viomundo.com.br/politica/andre-singer-2.html).[Título, imagem do Conversa Afiada" e trechos entre colchetes adicionados por este blog 'democracia&política'].
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