quinta-feira, 21 de agosto de 2014

A CORRUPÇÃO DO OUTRO AEROPORTO EM FAZENDA DE AÉCIO-"GLOBO" VAI CRITICAR?


[Pista do aeroporto de Montezuma-MG, construída por Aécio Neves, quando governador, junto à uma das suas fazendas] (a
ntes de pousar, avisem o menino)


O que a Globo vai descobrir se o jatinho do JN pousar em Montezuma-MG: reforma de aeroporto abandonado vale duas unidades de saúde

Por Ricardo Amaral, no "Conversa Afiada"

"Dos 16 minutos cronometrados [da entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo], Dilma falou 10 minutos e meio; [o apresentador William] Bonner, 4 e meio, e Patrícia [Poeta, a apresentadora] quase 1 minuto. Dá 65% para ela e 35% para eles. Dilma pronunciou 1.383 palavras, contra 980 da dupla (766 só do Bonner), o que dá 60% x 40%. Isso é escore de debate, não de entrevista. A dupla encaixou 26 acusações ao governo e ao PT; algumas, com ponto de exclamação. Nos quatro blocos temáticos (corrupção, mensalão, saúde e economia) Bonner lançou no ar 13 pontos de interrogação, e Patrícia, dois. A presidenta foi interrompida 19 vezes. Tomou dedo na cara de Bonner e de Patrícia, que reclamou de uma resposta com um soquinho na mesa. Isso não é comportamento de jornalista. Na entrevista com Aécio Neves – que muitos acharam “dura”, embora tenha sido apenas previsível – a dupla fez quatro interrupções e cinco reiterações de perguntas."

Por Luiz Carlos Azenha, de Montezuma, Minas Gerais

"Estamos, outra vez, em temporada eleitoral. Temporada de entrevistas no Jornal Nacional, de debates, daquele jatinho [do JN] que cruza os céus do Brasil em busca de discutir os problemas nacionais. Em geral, são [apenas] os problemas federais. Como os leitores, ouvintes e telespectadores do quarteto midiático — Folha, Estadão, Abril, Organizações Globo — talvez já tenham notado, não existem problemas de fundo em São Paulo, nem em Minas Gerais — por coincidência, sob governos tucanos.

Talvez a produção do JN decida pousar em Montezuma, no extremo norte do estado de Minas, fronteira com a Bahia. Há quem estranhe que a emissora mais poderosa do Hemisfério Sul não tenha feito isso ainda, diante das denúncias de que um dos candidatos ao Planalto teria beneficiado a própria família com dinheiro público.

O Jornal Nacional está preocupadíssimo com a corrupção, como se viu na entrevista de William Bonner com a presidente Dilma Rousseff.

Assim sendo, é mais que justo que despache o jatinho até Montezuma.

A simpática cidade, de cerca de 8 mil habitantes, tinha uma pista de terra mandada construir pelo ex-governador mineiro Newton Cardoso. No final de 2007, quando Aécio Neves era governador de Minas Gerais, o aeródromo foi incluído no ProAero, o Programa Aeroportuário de Minas Gerais.

Segundo o Diário Oficial de Minas Gerais, o objetivo do programa tocado pela Secretaria de Estado e Obras Públicas (SETOP) era que Minas tivesse, em 2011, “69 aeroportos funcionando 24 horas por dia”. [Segundo divulgado, o governador somente teria conseguido construir dois, em Claudio-MG e em Montezuma-MG, por coincidência junto a fazendas de Aécio Neves e família]

Antecipando-se à Globo, apesar de seus parcos recursos, o Viomundo constatou que, no que se refere a Montezuma, o programa fracassou.

Não se você considerar justificável construir aeroportos para manter a saúde pública.

Hoje Montezuma, cidade de 8 mil habitantes, dispõe de uma pista asfaltada de cerca de 1.300 metros. É mais ou menos o mesmo tamanho da pista de Guarujá, no litoral paulista, cidade de 300 mil habitantes onde aconteceu o trágico acidente envolvendo o candidato Eduardo Campos.



Porém, o aeródromo de Montezuma está abandonado.

A revista "CartaCapital" tentou explicar a insanidade:

"Em março de 2008, o Departamento de Estradas de Rodagem mineiro adiantou-se e escolheu uma empreiteira para pavimentar a pista de terra de Montezuma. Contratou a Pavisan, por 268.460,65 reais. Segundo um ex-executivo da empresa, que lá trabalhava à época, a obra foi um mau negócio. O valor seria irrisório e não cobriria os custos. Ele não vê razão econômica para o estado investir no local, pois perto de Montezuma há cidades maiores que poderiam ter sido contempladas com um aeroporto. Qual seria a justificativa? A proximidade com as terras da família de Aécio? Facilitar o contato aéreo entre pai e filho? E se o negócio era ruim, por que a empreiteira topou? A Pavisan fechou vários contratos com o governo mineiro durante a administração de Aécio. O dono da construtora, Jamil Habib Cury, ocupou cargo público na gestão do tucano. Foi diretor do Instituto de Desenvolvimento Integrado de Minas Gerais. Estava no posto quando a Pavisan foi escolhida para a pavimentação em Montezuma. Consta ainda na lista de doadores das duas campanhas vitoriosas de Aécio ao comando do estado, em 2002 e 2006. Na última, doou 51 mil reais.


A placa acima é de uma Unidade Básica de Saúde que está sendo reformada, bem diante do aeroporto abandonado de Montezuma.

Quer dizer que o governo de Aécio Neves torrou, em dinheiro de 2011, reajustado pela inflação de William Bonner, duas unidades básicas de saúde da Patrícia Poeta para asfaltar um aeroporto-fantasma?

Teria sido pelo fato de que a família do candidato tucano ao Planalto é proprietária, no município, de quase mil hectares de terras, na "Perfil Agropecuária e Florestal"?



Acima, reproduzimos trecho da declaração de renda do candidato.

Quando as obras foram feitas em Montezuma, com Aécio governador de Minas, o pai dele era o dono das terras, obtidas através de usucapião.

O pai de Aécio foi deputado estadual entre 1955 e 1963 e deputado federal entre 1963 e 1987. Ou seja, estava em posição de poder ou tinha o filho em posição de poder quando tocava demandas judiciais para ficar com a propriedade.

Era dono das terras e tinha o filho em posição de poder quando a reforma do aeroporto aconteceu, mais ou menos a 30 quilômetros de sua propriedade.

Mera coincidência?

O então governador e hoje candidato sabia que, potencialmente, ao promover a reforma poderia valorizar sua futura propriedade?

Em nossa passagem por Montezuma, entrevistamos duas pessoas que viram o agora senador desembarcando no aeroporto reformado. Aécio pousou lá. Em outra ocasião, foi o cantor Amado Batista, na véspera de fazer um show numa cidade do sul da Bahia.

Uma moradora da cidade disse que o aeroporto foi um dos principais investimentos estaduais já feitos em Montezuma. Segundo ela, antes da obra os montesumenses eram obrigados a caminhar em rodovias da região, correndo risco de atropelamento.

Agora, dispõem de um aeroporto para se exercitar. As caminhadas acontecem de manhã, bem cedinho, ou no final da tarde.



É isso mesmo: a obra do ProAero foi convertida em uma imensa pista para que a população local mantenha a forma física.

Perguntei a um dos usuários sobre o risco de um avião pousar inadvertidamente. Ele respondeu mais ou menos com as seguintes palavras: “Dá para ouvir o barulho. Qualquer coisa a gente se joga no mato”.

O aeroporto nunca foi homologado pela ANAC, a Agência Nacional de Aviação Civil [Segundo divulgado pela agência, não foi homologado porque nunca foram apresentados 
à ANAC, pelo governo e familiares de Aécio, todos os documentos indispensáveis à homologação. É crime usá-lo enquanto não homologado. O mesmo acontece com o outro "aécioporto", em Claudio-MG. Por isso, conforme reportagens aqui já transcritas, as chaves dos aeroportos até hoje estariam com a família de Aécio Neves e eles somente estariam sendo utilizados a critério deles].

Ainda assim, segundo os montesumenses que ouvimos, em tempos “de política” pousam ali aviões trazendo candidatos.

Este ano, quem sabe, será a vez do jatinho do Jornal Nacional.

PS1 do Viomundo: Já imaginaram se o Lula tivesse mandado reformar um aeroporto perto das terras — inexistentes — do filho dele, que para metade dos brasileiros é dono da Friboi (falso!) e tem como sede de fazenda a Escola Superior de Agicultura (ESALQ) de Piracicaba (falso!)? Quantas equipes a Globo despacharia para cobrir o escândalo?

PS2 do Viomundo: Na semana que vem, publicaremos a reportagem completa sobre nossa visita à cidade, bem como um mini-doc sobre o Choque de Gestão em Montezuma. A produção de conteúdo exclusivo do Viomundo, inclusive esta reportagem, foi bancada pela contribuição generosa de nossos assinantes".


FONTE: portal "Viomundo", do jornalista Luiz Carlos Azenha (http://www.viomundo.com.br/denuncias/o-que-globo-vai-descobrir-se-o-jatinho-jornal-nacional-pousar-em-montezuma.html). [Título e trechos entre colchetes acrescentados por este blog 'democracia&política']

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