quinta-feira, 28 de agosto de 2014

ENTREVISTADORES DO "JORNAL NACIONAL" APRENDEM RÁPIDO




Bonner e Poeta fazem entrevista esclarecedora, mas não suicida

Por Luiz Carlos Azenha

"William Bonner e Patrícia Poeta estavam mais calmos. Sem grosseria, conseguiram questionar Marina Silva em pontos fundamentais de seu discurso. Da parte deles, foi uma boa entrevista


[OBS deste blog 'democracia&política': 

Bonner e Patrícia aprendem rápido. Têm futuro. Eles logo se corrigiram. Bastou algumas reprimendas de blogs sujos, ensinando-os que não poderiam tratar o entrevistado com desrespeito, deboche, grosseria, agressividade de dedo em riste na cara, como fizeram com a senhora Presidente da República, sem deixá-la responder a seus ataques errados e injustos. Talvez por inexperiência como jornalistas, gastaram grande parte do tempo da entrevista com suas próprias afirmações raivosas, deixando pequena e entrecortada parte do tempo para o entrevistado tentar expressar qualquer ideia. Parabéns à Globo também, que certamente os ameaçou de imediata demissão. 

Dias depois de serem chamados à atenção, os dois apresentadores já se comportaram direitinho, completamente diferentes.  Pareciam bons profissionais. Fizeram a entrevista com Marina corretamente. Respeitosos e gentis como devem ser com uma senhora. Logicamente, sem nenhum interesse eleitoral. Somente jornalístico].  

O ponto central, o confronto entre “nova” e “velha” política, ficou claramente explícito sem que ambos tivessem de recorrer à deselegância, sem as interrupções em série que marcaram a conversa da dupla, por exemplo, com Dilma Rousseff.

A candidata Marina Silva, do PSB, saiu-se bem. Parecia no controle da situação.

Admitiu que a Polícia Federal do governo Dilma é respeitável.

Pediu aos telespectadores o benefício da dúvida que muitos dos seus aliados não dão, nem nunca deram, quando acusações são feitas ao PT.

São dois pontos sobre os quais a presidente Dilma Rousseff pode questioná-la em futuros debates.

Ficou, no ar, um odor de velha política.

Ficou explícita uma contradição no discurso de Marina: ela justificou sua impopularidade eleitoral no Acre por ter confrontado interesses poderosos.

Se o Bonner ou a Poeta fossem suicidas, fariam uma pergunta que a resposta de Marina praticamente implorava:

Como é que a senhora pretende enfrentar interesses poderosos como os que enfrentou no Acre, que lhe valeram tanta impopularidade, tendo como coordenadora do programa de governo uma acionista do poderosíssimo banco Itaú?

Mas essa pergunta, na Globo, já seria caso para umas férias forçadas."


FONTE: escrito por Luiz Carlos Azenha no seu portal "Viomundo"  (http://www.viomundo.com.br/opiniao-do-blog/mais-calmos-bonner-e-poeta-fazem-entrevista-esclarecedora.html). [Título e trecho entre colchetes adicionados por este blog 'democracia&política'].

COMPLEMENTAÇÃO

Mesmo com jogo de compadres no JN, imagem de Marina pode ter sido abalada

Por Helena Sthephanowitz

Marina respondia olhando para a câmera com gestos calculados, sem reações naturais a perguntas incômodas. Bom treinamento de mídia melhora comunicação. Mas, se perde autenticidade, corrói a imagem.


Calculismo: palavras e gestos com sotaque de ensaiados

A candidata à presidência Marina Silva (PSB) foi a entrevistada de quarta-feira (27), na bancada do Jornal Nacional. Apesar de as perguntas de William Bonner e Patrícia Poeta terem parecido incômodas à primeira vista, um olhar atento ao programa permite notar algo próximo de um "jogo de compadres", como dois times que combinam previamente o resultado bom para ambos.

O telejornal tinha de manter o estilo de interrogatório aplicado aos outros candidatos para não ser acusado de ser parcial. Mas o conteúdo das perguntas e as interrupções foram bem mais leves com Marina. Duas de três perguntas formuladas foram sobre o mesmo tema: contradições no discurso da ética e do que ela chama de “nova política”

Bonner evitou atingir diretamente a candidata. As réplicas e tréplicas feitas pelo apresentador também foram sobre o mesmo tema, sem se aprofundar nas questões. Perguntas sobre economia, tema comum aos outros entrevistados, ficaram de fora. Bonner evitou a pergunta que todos queriam ouvir. “A senhora vai terminar Belo Monte ou não?"

As perguntas até serviram como "vacina" para a candidata abordar os assuntos de interesse dela, que já vinham sendo cobrada a falar. Diferentemente de Aécio, Campos e Dilma, Bonner não tocou no assunto economia. Marina foi poupada de ter de explicar sobre as "medidas amargas" propostas por seus gurus econômicos e sobre suas intensas relações com o mercado financeiro, inclusive com a banqueira Neca Setúbal, herdeira e acionista do banco Itaú, que coordena seu programa de governo.

A pergunta mais incômoda foi sobre o "avião fantasma" usado na campanha por ela e que matou Eduardo Campos. Bonner perguntou se o pagamento feito por laranjas e sem registro de doações ou pagamentos à Justiça Eleitoral não era coisa da velha política. Marina enrolou, evitou explicações objetivas e procurou isentar-se e defender seu partido de responsabilidade. Tentou encerrar o assunto dizendo que o caso estava sob investigação pela Polícia Federal. Bonner insistiu, mas não muito. Praticamente repetiu a pergunta sem aprofundar nas suspeitas de caixa dois. Mesmo assim Marina sofreu desgaste em seu discurso sobre ética.

Questionada sobre qual seria a diferença entre a sua postura e a de políticos em geral quando confrontados com uma denúncia, Marina afirmou que o seu “compromisso com a verdade” não se tratava de “retórica”. Ela disse ainda que não tentava “tangenciar ou se livrar do problema”. Até ser confrontada pelos apresentadores do JN, Marina se recusava a responder a perguntas sobre o caso. Quando questionada, passava a palavra para o seu candidato a vice, Beto Albuquerque.

A segunda pergunta foi sobre a candidata ter ficado em terceiro lugar nas eleições de 2010 no Acre, seu estado natal. A apresentadora Patrícia Poeta perguntou se quem a conhecia não votava nela. Marina disse "é difícil ser profeta em sua própria terra", porque ela teve que confrontar interesses, ao lado de Chico Mendes. “Cheguei a ficar quatro anos sem poder andar na metade do meu Estado”, disse. “Mas não podia trocar o futuro das próximas gerações pelas eleições.” A explicação não convenceu muito, porque a carreira política dela foi alavancada justamente por ter lutado ao lado de Chico Mendes. Ela foi vereadora, deputada estadual e senadora duas vezes após confrontar os interesses. Nada disso explica ter perdido seu eleitorado em 2010.

A última pergunta repetiu o tema da tal "nova política", questionada por fazer "alianças entre diferentes" que ela condena nos outros. Bonner citou a escolha do vice Beto Albuquerque, que votou pela liberação do cultivo de transgênicos e a favor do uso de pesquisas com células-tronco embrionárias, de forma contrária às posições de Marina. Ela praticamente confirmou o que Bonner insinuou. Quando os outros fazem alianças ela chama de velha política. Quando ela faz a mesma coisa vira "nova política". Marina, ainda classificou como lenda a versão de que é contra o plantio de transgênicos. No entanto, em seu perfil na Wikipédia, Marina postou: “Durante sua administração no Ministério do Meio Ambiente, Marina Silva acabou perdendo a luta histórica contra os transgênicos”.

As contradições e desvios das respostas de seu assuntos abalam um pouco a imagem da candidata por mostrar antigas práticas que não batem com o discurso "do novo". E há um outro elemento que pode ter desagradado parte dos telespectadores. Marina estava muito bem treinada no uso da câmera. Sempre respondia olhando para a câmera e fazendo gestos com as mãos, típicos do treinamento de mídia. Foi fria e calculista nas respostas, sem reações naturais diante de perguntas incômodas. O bom treinamento de mídia, que pode ser uma virtude para melhorar a comunicação com o eleitor, se perder a autenticidade corrói a imagem da candidata. Afinal, ninguém quer eleger uma atriz."

FONTE da complementação: escrito por Helena Sthephanowitz no blog "Rede Brasil Atual"  (http://www.redebrasilatual.com.br/blogs/helena/2014/08/marina-silva-jogo-de-compadres-no-jn-pode-ter-abalado-a-imagem-8320.html).

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