sexta-feira, 1 de maio de 2015

"ZELOTES": QUAL O LIMITE DO NOSSO ABESTALHAMENTO?





"ZELOTES": QUAL O LIMITE DO NOSSO ABESTALHAMENTO?

Por DAVID NOGUEIRA

"Em verdade, o caso Petrobrás foi explorado, e ainda é, de forma microscópica, pois os legítimos (e também os imorais) interesses em jogo são gigantescos.

1. "Zelotes": Qual o limite do nosso abestalhamento?

Está em curso, em nossas ensolaradas e aconchegantes terras, uma das maiores operações de combate à corrupção da história deste país. Na constatação da desfaçatez de alguns meliantes perante a própria razão de ser do Estado democrático, os meios de comunicação sussurram bochichos e, discretamente, soltam naquinhos de notícia sobre o fato... e isso, quando, corajosamente, ousam falar algo. A grande mídia (e seus donos) teima em nos fazer crer estarmos apenas diante de um roubo de meros galináceos... míseros marrecos, sendo alguns mais barulhentos do que outros, porém, apenas e tão somente, pequenos "galinídeos" e aparentados. Se o nobre e digníssimo Cara Pálida ousou pensar estarmos em tratativas, mais uma vez, do intrincado caso Petrobrás... enganou-se profundamente!

2. A fala oculta

Em verdade, o caso Petrobrás foi explorado, e ainda é, de forma microscópica, pois os legítimos (e também os imorais) interesses em jogo são gigantescos. O fato constrangedor é que nossa "oposição meio expediente" mostra-se pouco entusiasmada em fazer correções, mostrar alternativas, identificar novos caminhos de cunho republicano... ela se interessa apenas em turvar a paisagem, a fim de que nada seja visualizado em seus detalhes, minúcias e precisão. Ao não deixar ver, existe a esperança de que aquilo que for dito, falado, proferido em discursos empolgados, passe a ser a única, e somente única, verdade. É incrível, inacreditável, como se menospreza uma fala do senhor Pedro Barusco sobre os "desvios" da Petrobrás. Nela, o corrupto afirma terem os custos dessa gatunagem saído das margens de lucro das empresas e não de superfaturamento das obras e serviços. Em isso sendo verdade (há que se apurar tudo), como justificar o lançamento de 6 bilhões de prejuízos para a Petrobrás? No balançar das ondas, contudo, tudo parece normal... Nada é questionado de forma mais profunda pela nossa alvissareira grande mídia.

3. Zelotes

Enquanto os olhos e dedos dos grandes veículos centram fogo nisso, turva-se a operação Zelotes. Deflagrada em 26 março deste ano, essa ação, iniciada em 2013 para apurar possíveis desvios dentro do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF) já provou ser o maior trambique financeiro realizado pelos travessos tupiniquins desde que o Cristo Redentor chegou ao Brasil ainda com os braços cruzados! O roubo, e aqui não há dúvidas sobre quem seria ou não responsável pelo prejuízo, tem potencial de ultrapassar a casa dos 19 bilhões de reais, ou seja, de cara, mais do que três vezes os nebulosos números da Petrobrás. O CARF é um órgão responsável por resolver, administrativamente, contendas sobre dívidas de tributos fiscais. Suponhamos que a Receita diga ser o empresário "A" devedor de 10 milhões em impostos recolhidos indevidamente. O empresário não reconhece a dívida nesse montante e apela ao CARF para avaliar e julgar. A decisão que sair, seja favor ou contra o empresário "A", fica valendo.

4. Peixes grandes... enormes!

O fato relevante nisso tudo diz respeito a uma grave suspeita de suborno envolvendo os membros do CARF, responsáveis hoje em julgar disputas envolvendo valores superiores a 580 bilhões de reais! Em troca de um "agrado"(segundo a "Folha de São Paulo", poderia chegar a 10% do valor devido), os julgamentos passavam a ser "conduzidos" e débitos monstruosos desapareciam ou eram reduzidos a "trocados". Com isso, o dinheiro devido à educação, saúde, segurança, habitação... desaparecia nas contas privadas de agentes públicos, por um lado, e grandes empresários nacionais por outro. Um roubo deslavado. Conforme divulgado pela PF, os suspeitos desse esquema costumam andar de helicóptero e, dificilmente, fazem compras na 25 de Março, em São Paulo. Segue a lista inicial: Gerdau, RBS (Globo do Sul), Cimento Penha, JG Rodrigues, Café Irmãos Júlio, Ford, Mitsubishi, Santander, Bradesco, BostonNegócios...

5. Qual o papel da grande mídia???

Um escândalo desse tamanho... com recursos envolvidos dessa magnitude e, o mais importante, com empresas de abrangência nacional patrocinadas por altas figuras da nação, não merece cinco minutos de gritaria de nossa mídia? Não houve primeiras páginas dos jornais, das revistas e dos telejornais. Tudo caminha em módulo turvo. Fala-se da Petrobrás, do Governo, da Dilma, do Papa, da fuga das formigas roxas para o Peru, mas não se destaca o que realmente interessa. O Senado leu, na terça, dia 28.04, o Requerimento de Instalação da CPI do CARF. Um considerável número de financiadores dos movimentos pró-impeachment que ocupou as ruas nos últimos meses está até o pescoço nessa lama. Falta saber duas coisas: até onde nossa mídia delinquente esconderá isso do povo? Até onde os parlamentares terão coragem de jogar luz sobre esse esgoto gerador de crimes contra a nação?"

FONTE: escrito por David Nogueira, professor e jornalista, foi dirigente da CUT, da CNTE e ex-secretário de Comunicação do PT/RO; membro do diretório PT/RO. Artigo publicado no portal "Brasil 247" (http://www.brasil247.com/pt/247/artigos/179116/Zelotes-Qual-o-limite-do-nosso-abestalhamento.htm).[Imagens do google acrescentadas por este blog 'democracia&política'].

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