Colunista Clovis Rossi, da tucana "Folha"
CLOVIS ROSSI E OS “NERVOSINHOS”
Por Miguel do Rosário
“[Esta semana,] publiquei alguns posts no blog “Tijolaço”. Segue mais um:
MOTIM NA FOLHA? ROSSI TAMBÉM CRITICA “NERVOSINHOS”
Se vale alguma coisa viver nossa época, é assistir a esses “motins” na grande imprensa. São raros, muito raros, e protagonizados exclusivamente por jornalistas veteranos, cujo longo tempo de permanência no jornal lhes dá autoconfiança para divergirem das linhas editoriais determinadas pelos proprietários e seus capatazes internos.
Na verdade, acontece apenas na “Folha”. “Globo”, “Estadão” e ”Veja”, os outros três do grupo dos quatro cavaleiros do apocalipse, mantêm cada vez mais rígido controle sobre eventuais dissidências internas. Quem fizesse, no “Globo”, algo parecido ao que faz Janio de Freitas e agora Clovis Rossi, fez hoje na “Folha”, seria sumariamente demitido no dia seguinte.
Aliás, por isso eu costumo dizer a meus amigos que, hoje em dia no Brasil, jornalistas são os profissionais com menos direito à liberdade de expressão entre todos os trabalhadores.
Rossi denuncia o quanto é ridículo que nossos endinheirados fiquem “nervosinhos”, pessimistas e indignados enquanto enchem a pança. Os pobres, diz Rossi, é que deveriam estar tristes com o que o governo gasta em juros.
Eu acrescentaria o seguinte: já que tem gente querendo protestar durante a Copa, poderiam pedir a volta da CPMF. José Gomes Temporão, ministro da Saúde no governo Lula, em artigo na última edição da “Carta Capital”, lembra que a CPMF (o imposto sobre o cheque) corresponderia a R$ 50 bilhões por ano. Ou seja, nos sete anos em que ela deixou de existir, e incluindo 2014, foram tirados R$ 350 bilhões da saúde. Esse valor é quantas vezes superior aos gastos com estádios da Copa (sendo que os estádios foram feitos, em sua maioria, com dinheiro privado, embora com financiamentos do BNDES)? Quantas pessoas poderiam ser tratadas, quantas vidas seriam salvas, se a CPMF não fosse derrubada após uma campanha midiática liderada, como sempre, pelo “Globo”, pela direita, e com apoio inclusive de setores irresponsáveis da ultraesquerda?
Outra coisa que eu agregaria ao texto de Clovis Rossi é que os “nervosinhos” estão quase todos aqui no Brasil, porque os investidores estrangeiros continuam acreditando no Brasil e tanto os investimentos produtivos (“investimento estrangeiro direto”), quanto os investimentos na bolsa, têm registrado aumento constante.
Por ironia triste da nossa história atual, só quem não acredita no Brasil são os ricaços do Brasil. Talvez porque leem demais nossa mídia urubuzeira. Investidores estrangeiros e os pobres do Brasil, imunes à mídia brasileira, continuam acreditando no país: os primeiros apostando alguns bilhões na construção de novas fábricas por aqui; outros trabalhando duro, e votando na esquerda para presidente.”
QUEM DEVERIA FICAR “NERVOSINHO”
“típico nervozinho do mercado”
"Há algo de profundamente errado em um país, em certo
Brasil, em que os ricos choram (e de barriga cheia), ao passo que os pobres
parecem relativamente felizes. Na ponta dos mais ricos, refiro-me à pesquisa da
consultoria “Grant Thornton” que “Mercado” publicou [esta semana] e que mostra
absurdo recorde de pessimismo entre os executivos brasileiros.
Na ponta dos pobres, valem as sucessivas pesquisas
que mostram satisfação majoritária com o governo Dilma Rousseff, a ponto de 11
de cada 10 analistas apostarem, hoje por hoje, na reeleição da presidente. Como
ninguém vota em governo que o faz infeliz, só se pode concluir que uma fatia
majoritária dos brasileiros, especialmente os pobres, está rindo.
Que a economia brasileira tem problemas, ricos,
pobres e remediados estão cansados de saber. Problemas conjunturais (o
crescimento medíocre dos anos Dilma ou a forte queda do saldo comercial, por
exemplo). Problemas estruturais que se arrastam há tantos séculos que nem é
preciso relacioná-los aqui. Daí, no entanto, a um pessimismo recorde vai um
abismo.
Um país em que há pleno emprego e crescimento da
renda não pode ser campeão de pessimismo nem pode ficar em 32º lugar, entre 45,
no campeonato mundial de pessimismo. É grotesco.
Grotesca igualmente é uma das aparentes razões para
o surto de pessimismo que vem grassando desde meados do ano passado. Seria a diminuição
do superávit primário, ou seja, do que sobra de dinheiro nos cofres públicos
depois de descontadas as despesas e tem servido exclusivamente para o pagamento
dos juros da dívida. Foi por isso que o ministro Guido Mantega apressou-se a
divulgar os dados de 2013, para acalmar os “nervosinhos”.
Quem deveria ficar nervoso, mas muito nervoso, não
apenas “nervosinho”, é exatamente quem está contente com o governo.
Basta fazer a comparação: os portadores de títulos
da dívida pública (serão quantos? Um milhão de famílias? Cinco milhões no
máximo?) receberam do governo, no ano passado, R$ 75 bilhões. É exatamente
quatro vezes mais do que os R$ 18,5 bilhões pagos às 14 milhões de famílias (ou
50 milhões de pessoas) que recebem o “Bolsa Família”.
Quatro vezes mais recursos públicos para quem tem
dinheiro para investir em papéis do governo do que para quem não tem renda.
Seria um escândalo se os pobres tivessem voz. Mas quem a tem são os rentistas
que ficam reclamando da redução do que recebem, como se houvesse, de fato, a
mais remota hipótese de que o governo deixe de honrar sua dívida. Fazem um
baita ruído com os truques contábeis que permitiram o superávit, mas não dizem
que, com truque ou sem truque, a dívida líquida diminuiu este ano, de 35,16% do
PIB em janeiro para 33,9% em novembro, última medição disponível.
Ou, posto de outra forma: o governo, supostamente
irresponsável, gasta menos do que arrecada e ainda pinga 1,3% de tudo o que o
país produz de bens e serviços na conta dos mais ricos e apenas 0,4% na dos
pobres entre os pobres. E os ricos ainda choram.”
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