"ELEITOR SÓ VAI SE LIGAR NA ELEIÇÃO DEPOIS DA COPA"
Por Eduardo Miranda, Octávio Costa e Paulo Henrique de Noronha (redacao@brasileconomico.com.br) [Trechos entre colchetes acrescentados por este blog ‘democracia&política’]
"Um terço do eleitorado ainda não optou por ninguém", diz o presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro. Foto: Maíra Coelho/Ag. O Dia
O presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro [que sempre apresentou forte admiração pelo neoliberalismo de FHC/PSDB], diz que, com Carnaval e Copa, o ano passará rápido e a campanha eleitoral será curta
Um dos principais especialistas em pesquisa de opinião do país, o presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro [que sempre demonstrou seu viés tucano], disse que 2014 é um ano "que vai passar rápido" e que a população só vai começar a dar atenção às eleições depois da Copa do Mundo. "Antes disso, ninguém vai falar de política", afirma Montenegro, em entrevista exclusiva ao “Brasil Econômico”. Destacando que o nível de satisfação do brasileiro, hoje, é de 80%, Montenegro diz que a maioria da população desconhece siglas como COPOM, SELIC e PIB e está mais preocupada com o que afeta diretamente seu bolso, como a economia doméstica."O brasileiro quer saber é se a prestação vai caber no seu orçamento", explica.
Em relação à eleição de outubro, Montenegro diz que ainda é prematuro falar em favoritismo da presidenta Dilma Rousseff, que lidera as pesquisas do Ibope de intenção de votos. "A presidenta tem o desgaste de quem está no governo, mas tem também a caneta de quem está lá, em aparição constante" [porém não tão constante como o grande destaque da mídia aos candidatos e ideologias da oposição], analisa. Nos estados, ele acredita que as eleições serão muito difíceis e ainda estão imprevisíveis.
-Como o Sr. está vendo o cenário da pré-eleição presidencial?
Após as manifestações que ocorreram no meio de 2013, o fim do prazo para criação de novos partidos e filiação partidária, e ainda um fato político importante - que foi a adesão de Marina Silva ao PSB, já que não conseguiu a legalização de seu partido em tempo hábil -, notamos hoje que um terço do eleitorado ainda não optou por ninguém. Esse terço talvez não esteja satisfeito com as coisas, talvez esteja esperando a proximidade da campanha para definir seus candidatos. A verdade é que o brasileiro não gosta muito de política. Se o voto no país não fosse obrigatório, teríamos eleições similares às que tivemos no Chile agora - com algo em torno de apenas 40% votando.
-Como está o conhecimento do eleitor em relação aos candidatos à presidência da República?
Temos hoje o Eduardo Campos (governador de Pernambuco, PSB) e o Aécio Neves (senador, PSDB-MG), que não são conhecidos por toda a população. Por outro lado, temos a presidenta Dilma, com o desgaste de quem está no governo, mas também a caneta de quem está lá, em aparição constante. Acredito que 2014 vai passar muito rápido. Daqui a dois meses, temos o Carnaval; mais dois meses, teremos a Copa do Mundo; três meses depois, as eleições; mais dois meses, as festas de fim de ano novamente. Isso é o que vai pautar o ano. Antes do fim da Copa, ninguém vai falar de política, com exceção da imprensa, que é obrigada a encontrar fatos e noticiar o dia a dia. O eleitor só vai começar a se ligar a partir do dia 15 de julho, dois dias depois da final da Copa.
-Qual vai ser o tema dominante das campanhas no nível federal?
As eleições no Brasil têm se definido muito em função da economia. Tivemos quase uma década com Fernando Henrique Cardoso, que “arrumou a vida do brasileiro com o fim da inflação” [deve ser escárnio do entrevistado, pois ele sabe que FHC se apropriou do mérito do governo Itamar Franco que implantou o Plano Real], algumas “privatizações importantes” [a maior parte muito dadivosa para grandes grupos estrangeiros, vários deles estatais], “estabilização” [como "estabilização"? Com inflação exponencialmente crescente (12,53% no último ano FHC/PSDB) e SELIC tendo alcançado 45% !?!] e “respeito do mercado pelo país” [deve ser ironia do entrevistado. O “risco Brasil” julgado pelo mercado alcançou com FHC/PSDB o nível estratosférico de 2400, mais de dez vezes superior aos de hoje].
Depois, tivemos a década do Lula, que foi importantíssima e promoveu inclusão social, crédito, casa, luz, encheu os aeroportos de pessoas que nunca tinham viajado de avião e fez com que muitos dessem um passo à frente. Isso foi possível graças à prioridade que ele deu a essas questões e graças também ao “país mais estruturado que ele pegou do governo anterior” [Creio que novamente seja sarcasmo. O entrevistado sabe que o Brasil mergulhava no caos quando FHC/PSDB passou o governo para Lula. Relembremos alguns fatos:
A Dilma está com avaliação boa - já esteve melhor - e quer dar continuidade a isso. O que o brasileiro, ou grande parte do eleitorado, mais gosta é de emprego - que é um ponto forte -, crédito e juros baixos, no sentido de saber se a prestação de uma compra vai caber no seu contracheque. Acho que a economia, novamente, vai ser determinante.
-Além da economia, mobilidade, educação e saúde também estarão no centro do debate?
Ainda não sabemos bem. Tudo começou com a questão dos 20 centavos nas passagens de ônibus. A sociedade precisa de metrôs de ônibus, mas o que é prioridade? Ao mesmo tempo, falta dinheiro, estrutura, saneamento. Na saúde, já havíamos levantado, através de pesquisas específicas, que as pessoas até acham que há hospitais, remédios, atendimento, mas faltam médicos. O governo, atento a isso, criou o programa “Mais Médicos”, mas isso também gerou insatisfação e um certo bairrismo em outros segmentos [da oposição e da elite de direita em geral].
-O brasileiro, de um modo geral, quer mudanças?
Nas últimas pesquisas, 66%, quase dois terços, disseram que sim. Talvez outras prioridades em relação a programas sociais e mais investimentos em infraestrutura. Mais adiante, vamos fazer pesquisas qualitativas para saber o que os eleitores entendem por “mudanças”. As pessoas não gostam muito de mudar. Sempre começamos as pesquisas querendo saber o nível de satisfação de vida, e esse nível está muito alto, em torno de 80%. Isso parece um pouco contraditório diante dos 66% que querem alguma mudança. Mas, na verdade, os que querem uma mudança drástica estão na casa dos 20%. Essa parcela, possivelmente, já está votando em candidatos da oposição. O que precisamos investigar é os outros 46%.
-O Ibope consegue ver nesses 66% alguma tendência em termos de estratificação social? É mais forte na chamada nova classe C ou na velha classe C?
Em termos de classe, é bem espalhado. Mas se falamos de região, dá para dizer que há uma concentração maior no Sudeste e no Sul do Brasil. O Nordeste evoluiu muito nos últimos 20 anos e, hoje, consequentemente, tem um nível de satisfação bem mais alto. Eles deram um salto de qualidade grande em tudo. A aprovação da Dilma lá é maior e o índice de pessoas que querem mudanças é menor. Outro detalhe é que esse desejo de mudança que aparece nas pesquisas não é personificado. A gente não sabe se são mudanças com o mesmo governo ou com outro governante.
-Fala-se muito que a oposição no Brasil está enfraquecida. Ela terá condição de ocupar um espaço maior quando começarem as campanhas?
Acho que sim. E essa participação é legítima. O Brasil precisa de uma “renovação” política [a oposição considera “renovação”, “mudança” a volta aos trágicos anos FHC/PSDB/DEM...]. A ditadura, no passado, ocupou tempo demais e tirou uma geração inteira do cenário. Agora é que o país está trocando de personagens. Porém, nomes como os de Fernando Henrique Cardoso e Lula continuam aparecendo. São pessoas importantes, mas que já tiveram seu tempo. Outra coisa é que o Brasil - e aí tem a ver com as manifestações [estimuladas e manipuladas pela mídia que luta pela volta da direita ao poder] - está muito "do contra". Muitas vezes, o eleitor não gosta do governo e, por isso, diz que vai votar no Aécio Neves ou no Eduardo Campos. Não vejo voto a favor, um voto pelas qualidades do candidato, alguém dizendo que acredita naquele programa de governo da oposição. Quando as pessoas votaram no Fernando Henrique, estavam acreditando nele [pois ele, com total apoio da mídia, enganava enganava a população com a usurpação dos méritos do Plano Real de Itamar]. Quando votaram no Lula, também estavam acreditando nele. A mesma coisa foi com a Dilma. A oposição precisa fazer com que o eleitor se interesse pelo seu programa, pelo seu candidato. O voto contra é muito para baixo.
-O fato de Aécio e Eduardo estarem se encontrando e conversando não faz parecer que ambos estão trabalhando para uma mesma candidatura?
O sistema de dois turnos é feito para que você tenha muitos candidatos. Um do PMDB, outro do PT, outro do PSDB, outro do DEM, do PSB e por aí vai. Depois, no segundo turno, é que você afunila para costurar as alianças. No entanto, aqui no Brasil tudo é feito no primeiro turno a fim de liquidar a fatura de uma só vez. Você tem um número de candidatos que pode se reduzir a qualquer momento mesmo no primeiro turno. Para mim, é estranho. Sou partidário do voto facultativo [pois assim, como acontece nos outros países onde o voto é facultativo, eliminaria o voto de grande parte do eleitorado mais pobre, favorecendo a vitória da elite tradicionalmente de direita], acho que o primeiro turno deveria ser disputado por todas as correntes (de centro, esquerda, direita, verde, liberal, sindicato, tradicionais) e as coligações ficariam para o segundo turno.
-Em economia [ou melhor, na atual “guerra psicológica’ promovida pela mídia], fala-se muito do "pessimismo do mercado". O brasileiro está pessimista ou é só desinteresse mesmo?
Sou otimista por natureza e acho que o Brasil cresceu muito nesses últimos 20 anos [ou 12?], mas a classe política vinha dando maus exemplos, até que o copo encheu e a água caiu fora dele. As pessoas tentaram dar um basta com essas manifestações. Para alguma coisa serviu, mas ninguém muda uma cultura da noite para o dia. A sensação de impunidade não pode continuar existindo. As pessoas precisam ter a certeza de que políticos [de partidos da direita] podem ir presos também. Outros casos importantes [como a corrupção de tucanos e demos, tradicionalmente abafada e engavetada pela Justiça e pela mídia] deveriam ser julgados para que essa percepção de impunidade comece a diminuir. Uma das grandes reformas que o Brasil precisa fazer é a reforma política, além da reforma do Judiciário. Meu irmão (Luis Paulo Montenegro) costuma dizer que a reforma política tem que ser feita já, para valer em 2026. Ele acha que se for para entrar em vigor agora, ela nunca sairá, porque o político fica pensando que as mudanças terão consequência no seu próprio mandato.
-Como será a abordagem da economia nas campanhas?
É preciso que fique bem claro: a maioria dos brasileiros não sabe o que é COPOM, SELIC, muita gente ainda não tem conta em banco, não sabe o que são juros de 8% ao ano. Os brasileiros têm dificuldade para entender o que é o PIB, o que representa um crescimento de 2,3%, não sabem o que é R$ 1 trilhão de dívida interna. Como já disse, o que eles sabem são três coisas: emprego, juros e crediário, isto é, se a prestação cabe no orçamento dele. Quanto à inflação, ele está preocupado com o preço nos supermercados e se aquele produto não vai sumir das prateleiras. Se o candidato for pelo outro lado, ninguém vai entender direito.
-Fala-se da possibilidade de as manifestações voltarem no auge da Copa do Mundo. Qual foi o impacto delas até agora na cabeça do eleitor?
Não tiveram impacto. Essas manifestações surgiram naturalmente. Os 20 centavos foram um símbolo e mostraram outras insatisfações. A única manifestação que teve peso foi uma no Rio de Janeiro que reuniu 300 mil pessoas. Nesse sentido, é preciso ter cuidado com as redes sociais. Todo mundo convocava para a grande manifestação do feriado de 7 de setembro, dizendo que o Brasil iria parar. E nada aconteceu. Com a escalada de violência dos Black Blocs, a classe média, que estava indo às ruas, começou a recuar, com medo. Como eram vândalos, os governos começaram a combatê-los. Da mesma forma e mal comparando, são equivalentes àquelas cenas das brigas da torcida do Vasco com a do Atlético Paranaense que vimos na TV. O brasileiro rejeita esse tipo de coisa. Aliás, o brasileiro, na média, é muito otimista.
-A oposição continua [promovendo] fazendo alarde em relação aos protestos...
Obviamente, os grandes partidos passam um pessimismo porque não estão no poder. O PT fez o mesmo com o Fernando Henrique. Não acredito que esses protestos voltarão, mesmo sabendo que vai aparecer uma meia dúzia de manifestantes. A Copa do Mundo é o momento em que o Brasil vai se unir. Além disso, é tudo muito dividido: vai ter jogo em Manaus, no Rio, em Belo Horizonte e em diversas capitais. Os estádios são parcerias dos governos federal, estadual, municipal e, às vezes, empresas privadas. É complicado um protesto contra tudo e contra todos. Talvez o futebol seja uma das poucas alegrias com preço barato e na televisão. Por isso, não acredito que vão destruir os estádios.
-O resultado do Brasil na Copa pode influenciar de alguma maneira a eleição?
Zero chances, zero! Em 1998, o Brasil perdeu a Copa para a França e o Fernando Henrique se reelegeu. Em 2002, FH presidente, o Brasil ganhou e quem levou a eleição foi o Lula. O eleitor de hoje em dia está muito avançado e sabe que isso não tem nada a ver com o governo.
-Há uma especulação de que Fernando Henrique pode ser vice na chapa de Aécio. Isso teria algum impacto na eleição?
Não acredito nisso, mas ficaria triste se acontecesse. Fugiria à ideia da renovação. E Fernando Henrique não aceitaria, ele já tem seu nome na história, fez um grande trabalho [deboche?]. Ele não pode acreditar nessa história de que é imortal mesmo. Imagina pensar que assumiria o governo se acontecesse alguma coisa ao Aécio! É uma coisa surrealista. Daqui a pouco, dirão que Lula será vice de Dilma.
-Fala-se de uma renovação maior nas próximas eleições na Câmara, maior que a média, por conta das manifestações, da Ficha Limpa, que tende a ser mais rigorosa...
Nisso, eu acredito. E acredito, também, que muita gente não vai votar, que vai aumentar a abstenção. Até mesmo porque hoje em dia, como voto eletrônico, é difícil o eleitor sair de casa só para votar branco. Antigamente, ele rabiscava a cédula com prazer. Hoje em dia, a multa por não comparecer é muito ridícula, barata. Então, o que pode haver é uma abstenção maior. E pode haver uma renovação maior, também.
-Nos estados, para os cargos majoritários, pode haver um fenômeno parecido com esse?
Temos estados com eleições tradicionalmente difíceis, como é o caso do Rio Grande do Sul. Acho que quem está no governo lá nunca conseguiu se reeleger. O Tarso Genro (PT), atual governador, está muito bem avaliado e mesmo assim terá uma eleição difícil coma Ana Amélia Lemos (PP) como adversária. Em São Paulo, pode acontecer de tudo. O Geraldo Alckmin é a cara de São Paulo, mas o PSDB já está há muito tempo no poder. E há algumas denúncias contra o governo dele. Ao mesmo tempo, o Fernando Haddad (PT) não passa por um bom momento na prefeitura. São Paulo tem, ainda, o Paulo Skaf (pré-candidato do PMDB) numa terceira via.
-E o Alexandre Padilha (ministro da Saúde e pré-candidato do PT ao governo de São Paulo)?
São Paulo e Minas Gerais são estados muito conservadores. Padilha vai ter um longo caminho, uma guerra. Se, mais à frente, o Haddad estiver bem, isso pode facilitar a vida dele (Padilha). De um modo geral, as eleições serão muito difíceis para todo mundo. Sempre pode haver o fator do desconhecido, do descrédito. É certo que essa classe que fez as manifestações vai dar uma resposta nas urnas. Só não se sabe se a favor ou contra. Numa eleição federal, ela não é importante, mas pode ter uma influência grande nos estados.
-Como está a situação do Rio?
No Rio, os candidatos têm índice de rejeição muito alto. É uma eleição do contra. E todos têm chances, não há um favorito. O Rio teve um dos melhores governos dos últimos 30 anos, mas, infelizmente, a população anda bem chateada com o governador Sérgio Cabral. A pessoa jurídica foi bem, mas a pessoa física, na cabeça do eleitor, não está bem. Talvez por essas notícias com o helicóptero etc. O Rio é um estado muito político e efervescente o tempo todo.
-E nos demais estados?
Minas, também, terá uma eleição complicada e ardida: é Fernando Pimentel (PT) contra Pimenta da Veiga (PSDB). Na Bahia, o Jacques Wagner e o PT não estão muito bem avaliados. Em Pernambuco, é a mesma dificuldade. O Eduardo Campos (PSB), presidenciável e atual governador do estado, pode ter com o seu candidato (o ex-ministro da Integração Nacional Fernando Bezerra) a mesma dificuldade que o Lula tem com o Padilha. Em Pernambuco, o Armando Monteiro (senador e pré-candidato do PTB) está muito forte.
-Essas eleições estaduais têm impacto na sucessão presidencial?
Não. O eleitor não vota vinculado. Pelo contrário: às vezes, ele gosta de colocar alguém no federal diferente do estadual para um checar o outro, fazer contraponto. O eleitor brasileiro não gosta de entregar tudo para um só. Em alguns casos, até pode coincidir, mas não por serem do mesmo partido.
-Recentemente, o vice-presidente Michel Temer disse, em entrevista ao “Brasil Econômico”, que o PMDB dá o tom da política no Brasil. Vai continuar assim?
Veja o caso do DEM, antigo PFL. Ele ficou no poder por muito tempo, mas sempre a reboque do PSDB. Aí, veio o resultado: hoje, é um partido pequeno, que está desmilinguindo, porque nunca teve uma cara própria. Acho que o DEM está pagando por isso. O PMDB tem que tomar cuidado. Mas, como ele é um partido muito grande, cabe outra análise. O PMDB tem muitos índios e poucos caciques. Ele é forte nos estados, mas ainda não tem uma liderança nacional. E eles nem querem testar. O PMDB sempre estará no governo, independentemente de quem ganhe. Se a Dilma ganhar, é fundamental o PMDB para dar governabilidade. Se o Aécio ganhar, é fundamental o PMDB para dar governabilidade. Se o Eduardo ganhar, idem. E com qualquer outro partido, porque ele tem entre 20% e 25% dos deputados e senadores. Agora, ele não tem uma cara, uma liderança.
-O Temer disse que o partido terá candidato em 2018.
O certo é ter. Na política, o certo é cada partido ter o seu programa, suas ideias e lideranças. No segundo turno, faz a composição.
-As pesquisas do Ibope já revelam o perfil dessa nova classe C, esse novo eleitor?
Temos os jovens, e muitos participaram das manifestações, que ainda não são obrigados a votar e estão sem motivação para isso. Quanto à classe social, não trabalhamos muito com esse dado nas pesquisas. A pessoa mudou de classe, subiu um degrau, mudou de casa, adquiriu eletrodomésticos, mas não mudou de cabeça, não mudou de cultura, não mudou de amigos. A mudança de classe não significa que as pessoas ficaram mais cultas, mais pró ou contra o governo, mais gratas ou ingratas. E pode não haver mudança no voto, a probabilidade é o eleitor continuar pensando do jeito que já pensava. Alguns partidos, os mais elitizados e formadores de opinião, acham que o voto tem que ser obrigatório porque têm medo de que esse eleitor não vote. Mas a partir do momento em que o Brasil prioriza e acelera o processo de educação, um dia o voto obrigatório vai acabar.
-Deputados e senadores mudarão suas campanhas diante das manifestações?
As manifestações foram importantes, mas há outras coisas relevantes acontecendo no Brasil. O crescimento da internet, o julgamento do mensalão [e a continuação da proteção da Justiça aos partidos e políticos da direita, que, segundo o histórico,continuarão impunes], enfim, muita coisa mudou. É preciso tomar cuidado, porque qualquer candidato que apareça nessas manifestações para se aproveitar da situação pode provocar um efeito negativo na própria campanha. A não ser que seja alguém autêntico, que pense daquela maneira. Se for político tradicional, o efeito será contrário.
-A Dilma tem mais apoio do eleitorado feminino por ser mulher?
Acho que não. Há mais homens votando nela do que mulheres. Depois que a pessoa chega ao posto de presidente da República, ela não é avaliada por uma questão de gênero ou idade. Ela é avaliada como presidente.
-Dilma é favorita ou não?
As pesquisas estão dando 43% das intenções de voto para Dilma, 14% para Aécio e 7% para o Eduardo, no primeiro turno.
-No segundo turno, a vitória é dela?
Sim, mas ainda tem muita água para passar por baixo da ponte.
-Seria prematuro dizer que ela é a favorita?
Seria. Acho que quem está no poder leva uma vantagem de aparição. O jogo fica mais equilibrado durante a campanha tradicional. Só não leva vantagem se estiver muito mal avaliado, com uma rejeição enorme. Agora, não dá para saber o que vai acontecer. Todo mundo foi pego de surpresa no dia 4 de outubro com a decisão da Marina de apoiar o Eduardo Campos.
-As redes sociais na internet reduzem o peso da televisão?
A TV já anda meio chata e também precisando de uma reforma política. Tanto é que os programas, em si, não são tão vistos. O que são vistas são as inserções comerciais. Tudo o que é obrigatório não é legal. Você tem um aumento de pessoas com TV paga, e elas fogem da propaganda eleitoral. Já os comerciais entram naturalmente. E aí, a TV vale porque quem tem mais tempo, tem mais anúncios de 30 segundos. Quando se fala em aumentar o tempo de TV, é mais por conta dos anúncios. O programa mesmo só é visto na última semana por pessoas que ainda estão na dúvida sobre o candidato.
-E os debates?
Esses, sim, são importantes. Às vezes, eles não têm muita audiência, mas a repercussão é grande.
-O José Serra vai ser candidato ao governo de São Paulo?
Não acredito, mas até a convenção, no dia 30 de junho, pode haver mudança. O jogo se define no meio da Copa, e os partidos terão até o dia 5 de julho para registrar as chapas de presidente e vice. Se bem que a Marina Silva, por exemplo, cai cada vez mais nas pesquisas depois que saiu dos noticiários. Ela está diminuindo em relação ao Eduardo.
-E o Serra, não?
O Serra é mais conhecido, já disputou outras eleições. Mas a partir do momento em que o Aécio for aparecendo no noticiário, a tendência é (o Serra) cair.”
FONTE: entrevista com o presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, conduzida por Eduardo Miranda, Octávio Costa e Paulo Henrique de Noronha do jornal “Brasil Econômico” (http://brasileconomico.ig.com.br/noticias/eleitor-so-vai-se-ligar-na-eleicao-depois-da-copa_138043.html). [Trechos entre colchetes em azul adicionados por este blog ‘democracia&política’].
A Dilma está com avaliação boa - já esteve melhor - e quer dar continuidade a isso. O que o brasileiro, ou grande parte do eleitorado, mais gosta é de emprego - que é um ponto forte -, crédito e juros baixos, no sentido de saber se a prestação de uma compra vai caber no seu contracheque. Acho que a economia, novamente, vai ser determinante.
-Além da economia, mobilidade, educação e saúde também estarão no centro do debate?
Ainda não sabemos bem. Tudo começou com a questão dos 20 centavos nas passagens de ônibus. A sociedade precisa de metrôs de ônibus, mas o que é prioridade? Ao mesmo tempo, falta dinheiro, estrutura, saneamento. Na saúde, já havíamos levantado, através de pesquisas específicas, que as pessoas até acham que há hospitais, remédios, atendimento, mas faltam médicos. O governo, atento a isso, criou o programa “Mais Médicos”, mas isso também gerou insatisfação e um certo bairrismo em outros segmentos [da oposição e da elite de direita em geral].
-O brasileiro, de um modo geral, quer mudanças?
Nas últimas pesquisas, 66%, quase dois terços, disseram que sim. Talvez outras prioridades em relação a programas sociais e mais investimentos em infraestrutura. Mais adiante, vamos fazer pesquisas qualitativas para saber o que os eleitores entendem por “mudanças”. As pessoas não gostam muito de mudar. Sempre começamos as pesquisas querendo saber o nível de satisfação de vida, e esse nível está muito alto, em torno de 80%. Isso parece um pouco contraditório diante dos 66% que querem alguma mudança. Mas, na verdade, os que querem uma mudança drástica estão na casa dos 20%. Essa parcela, possivelmente, já está votando em candidatos da oposição. O que precisamos investigar é os outros 46%.
-O Ibope consegue ver nesses 66% alguma tendência em termos de estratificação social? É mais forte na chamada nova classe C ou na velha classe C?
Em termos de classe, é bem espalhado. Mas se falamos de região, dá para dizer que há uma concentração maior no Sudeste e no Sul do Brasil. O Nordeste evoluiu muito nos últimos 20 anos e, hoje, consequentemente, tem um nível de satisfação bem mais alto. Eles deram um salto de qualidade grande em tudo. A aprovação da Dilma lá é maior e o índice de pessoas que querem mudanças é menor. Outro detalhe é que esse desejo de mudança que aparece nas pesquisas não é personificado. A gente não sabe se são mudanças com o mesmo governo ou com outro governante.
-Fala-se muito que a oposição no Brasil está enfraquecida. Ela terá condição de ocupar um espaço maior quando começarem as campanhas?
Acho que sim. E essa participação é legítima. O Brasil precisa de uma “renovação” política [a oposição considera “renovação”, “mudança” a volta aos trágicos anos FHC/PSDB/DEM...]. A ditadura, no passado, ocupou tempo demais e tirou uma geração inteira do cenário. Agora é que o país está trocando de personagens. Porém, nomes como os de Fernando Henrique Cardoso e Lula continuam aparecendo. São pessoas importantes, mas que já tiveram seu tempo. Outra coisa é que o Brasil - e aí tem a ver com as manifestações [estimuladas e manipuladas pela mídia que luta pela volta da direita ao poder] - está muito "do contra". Muitas vezes, o eleitor não gosta do governo e, por isso, diz que vai votar no Aécio Neves ou no Eduardo Campos. Não vejo voto a favor, um voto pelas qualidades do candidato, alguém dizendo que acredita naquele programa de governo da oposição. Quando as pessoas votaram no Fernando Henrique, estavam acreditando nele [pois ele, com total apoio da mídia, enganava enganava a população com a usurpação dos méritos do Plano Real de Itamar]. Quando votaram no Lula, também estavam acreditando nele. A mesma coisa foi com a Dilma. A oposição precisa fazer com que o eleitor se interesse pelo seu programa, pelo seu candidato. O voto contra é muito para baixo.
-O fato de Aécio e Eduardo estarem se encontrando e conversando não faz parecer que ambos estão trabalhando para uma mesma candidatura?
O sistema de dois turnos é feito para que você tenha muitos candidatos. Um do PMDB, outro do PT, outro do PSDB, outro do DEM, do PSB e por aí vai. Depois, no segundo turno, é que você afunila para costurar as alianças. No entanto, aqui no Brasil tudo é feito no primeiro turno a fim de liquidar a fatura de uma só vez. Você tem um número de candidatos que pode se reduzir a qualquer momento mesmo no primeiro turno. Para mim, é estranho. Sou partidário do voto facultativo [pois assim, como acontece nos outros países onde o voto é facultativo, eliminaria o voto de grande parte do eleitorado mais pobre, favorecendo a vitória da elite tradicionalmente de direita], acho que o primeiro turno deveria ser disputado por todas as correntes (de centro, esquerda, direita, verde, liberal, sindicato, tradicionais) e as coligações ficariam para o segundo turno.
-Em economia [ou melhor, na atual “guerra psicológica’ promovida pela mídia], fala-se muito do "pessimismo do mercado". O brasileiro está pessimista ou é só desinteresse mesmo?
Sou otimista por natureza e acho que o Brasil cresceu muito nesses últimos 20 anos [ou 12?], mas a classe política vinha dando maus exemplos, até que o copo encheu e a água caiu fora dele. As pessoas tentaram dar um basta com essas manifestações. Para alguma coisa serviu, mas ninguém muda uma cultura da noite para o dia. A sensação de impunidade não pode continuar existindo. As pessoas precisam ter a certeza de que políticos [de partidos da direita] podem ir presos também. Outros casos importantes [como a corrupção de tucanos e demos, tradicionalmente abafada e engavetada pela Justiça e pela mídia] deveriam ser julgados para que essa percepção de impunidade comece a diminuir. Uma das grandes reformas que o Brasil precisa fazer é a reforma política, além da reforma do Judiciário. Meu irmão (Luis Paulo Montenegro) costuma dizer que a reforma política tem que ser feita já, para valer em 2026. Ele acha que se for para entrar em vigor agora, ela nunca sairá, porque o político fica pensando que as mudanças terão consequência no seu próprio mandato.
-Como será a abordagem da economia nas campanhas?
É preciso que fique bem claro: a maioria dos brasileiros não sabe o que é COPOM, SELIC, muita gente ainda não tem conta em banco, não sabe o que são juros de 8% ao ano. Os brasileiros têm dificuldade para entender o que é o PIB, o que representa um crescimento de 2,3%, não sabem o que é R$ 1 trilhão de dívida interna. Como já disse, o que eles sabem são três coisas: emprego, juros e crediário, isto é, se a prestação cabe no orçamento dele. Quanto à inflação, ele está preocupado com o preço nos supermercados e se aquele produto não vai sumir das prateleiras. Se o candidato for pelo outro lado, ninguém vai entender direito.
-Fala-se da possibilidade de as manifestações voltarem no auge da Copa do Mundo. Qual foi o impacto delas até agora na cabeça do eleitor?
Não tiveram impacto. Essas manifestações surgiram naturalmente. Os 20 centavos foram um símbolo e mostraram outras insatisfações. A única manifestação que teve peso foi uma no Rio de Janeiro que reuniu 300 mil pessoas. Nesse sentido, é preciso ter cuidado com as redes sociais. Todo mundo convocava para a grande manifestação do feriado de 7 de setembro, dizendo que o Brasil iria parar. E nada aconteceu. Com a escalada de violência dos Black Blocs, a classe média, que estava indo às ruas, começou a recuar, com medo. Como eram vândalos, os governos começaram a combatê-los. Da mesma forma e mal comparando, são equivalentes àquelas cenas das brigas da torcida do Vasco com a do Atlético Paranaense que vimos na TV. O brasileiro rejeita esse tipo de coisa. Aliás, o brasileiro, na média, é muito otimista.
-A oposição continua [promovendo] fazendo alarde em relação aos protestos...
Obviamente, os grandes partidos passam um pessimismo porque não estão no poder. O PT fez o mesmo com o Fernando Henrique. Não acredito que esses protestos voltarão, mesmo sabendo que vai aparecer uma meia dúzia de manifestantes. A Copa do Mundo é o momento em que o Brasil vai se unir. Além disso, é tudo muito dividido: vai ter jogo em Manaus, no Rio, em Belo Horizonte e em diversas capitais. Os estádios são parcerias dos governos federal, estadual, municipal e, às vezes, empresas privadas. É complicado um protesto contra tudo e contra todos. Talvez o futebol seja uma das poucas alegrias com preço barato e na televisão. Por isso, não acredito que vão destruir os estádios.
-O resultado do Brasil na Copa pode influenciar de alguma maneira a eleição?
Zero chances, zero! Em 1998, o Brasil perdeu a Copa para a França e o Fernando Henrique se reelegeu. Em 2002, FH presidente, o Brasil ganhou e quem levou a eleição foi o Lula. O eleitor de hoje em dia está muito avançado e sabe que isso não tem nada a ver com o governo.
-Há uma especulação de que Fernando Henrique pode ser vice na chapa de Aécio. Isso teria algum impacto na eleição?
Não acredito nisso, mas ficaria triste se acontecesse. Fugiria à ideia da renovação. E Fernando Henrique não aceitaria, ele já tem seu nome na história, fez um grande trabalho [deboche?]. Ele não pode acreditar nessa história de que é imortal mesmo. Imagina pensar que assumiria o governo se acontecesse alguma coisa ao Aécio! É uma coisa surrealista. Daqui a pouco, dirão que Lula será vice de Dilma.
-Fala-se de uma renovação maior nas próximas eleições na Câmara, maior que a média, por conta das manifestações, da Ficha Limpa, que tende a ser mais rigorosa...
Nisso, eu acredito. E acredito, também, que muita gente não vai votar, que vai aumentar a abstenção. Até mesmo porque hoje em dia, como voto eletrônico, é difícil o eleitor sair de casa só para votar branco. Antigamente, ele rabiscava a cédula com prazer. Hoje em dia, a multa por não comparecer é muito ridícula, barata. Então, o que pode haver é uma abstenção maior. E pode haver uma renovação maior, também.
-Nos estados, para os cargos majoritários, pode haver um fenômeno parecido com esse?
Temos estados com eleições tradicionalmente difíceis, como é o caso do Rio Grande do Sul. Acho que quem está no governo lá nunca conseguiu se reeleger. O Tarso Genro (PT), atual governador, está muito bem avaliado e mesmo assim terá uma eleição difícil coma Ana Amélia Lemos (PP) como adversária. Em São Paulo, pode acontecer de tudo. O Geraldo Alckmin é a cara de São Paulo, mas o PSDB já está há muito tempo no poder. E há algumas denúncias contra o governo dele. Ao mesmo tempo, o Fernando Haddad (PT) não passa por um bom momento na prefeitura. São Paulo tem, ainda, o Paulo Skaf (pré-candidato do PMDB) numa terceira via.
-E o Alexandre Padilha (ministro da Saúde e pré-candidato do PT ao governo de São Paulo)?
São Paulo e Minas Gerais são estados muito conservadores. Padilha vai ter um longo caminho, uma guerra. Se, mais à frente, o Haddad estiver bem, isso pode facilitar a vida dele (Padilha). De um modo geral, as eleições serão muito difíceis para todo mundo. Sempre pode haver o fator do desconhecido, do descrédito. É certo que essa classe que fez as manifestações vai dar uma resposta nas urnas. Só não se sabe se a favor ou contra. Numa eleição federal, ela não é importante, mas pode ter uma influência grande nos estados.
-Como está a situação do Rio?
No Rio, os candidatos têm índice de rejeição muito alto. É uma eleição do contra. E todos têm chances, não há um favorito. O Rio teve um dos melhores governos dos últimos 30 anos, mas, infelizmente, a população anda bem chateada com o governador Sérgio Cabral. A pessoa jurídica foi bem, mas a pessoa física, na cabeça do eleitor, não está bem. Talvez por essas notícias com o helicóptero etc. O Rio é um estado muito político e efervescente o tempo todo.
-E nos demais estados?
Minas, também, terá uma eleição complicada e ardida: é Fernando Pimentel (PT) contra Pimenta da Veiga (PSDB). Na Bahia, o Jacques Wagner e o PT não estão muito bem avaliados. Em Pernambuco, é a mesma dificuldade. O Eduardo Campos (PSB), presidenciável e atual governador do estado, pode ter com o seu candidato (o ex-ministro da Integração Nacional Fernando Bezerra) a mesma dificuldade que o Lula tem com o Padilha. Em Pernambuco, o Armando Monteiro (senador e pré-candidato do PTB) está muito forte.
-Essas eleições estaduais têm impacto na sucessão presidencial?
Não. O eleitor não vota vinculado. Pelo contrário: às vezes, ele gosta de colocar alguém no federal diferente do estadual para um checar o outro, fazer contraponto. O eleitor brasileiro não gosta de entregar tudo para um só. Em alguns casos, até pode coincidir, mas não por serem do mesmo partido.
-Recentemente, o vice-presidente Michel Temer disse, em entrevista ao “Brasil Econômico”, que o PMDB dá o tom da política no Brasil. Vai continuar assim?
Veja o caso do DEM, antigo PFL. Ele ficou no poder por muito tempo, mas sempre a reboque do PSDB. Aí, veio o resultado: hoje, é um partido pequeno, que está desmilinguindo, porque nunca teve uma cara própria. Acho que o DEM está pagando por isso. O PMDB tem que tomar cuidado. Mas, como ele é um partido muito grande, cabe outra análise. O PMDB tem muitos índios e poucos caciques. Ele é forte nos estados, mas ainda não tem uma liderança nacional. E eles nem querem testar. O PMDB sempre estará no governo, independentemente de quem ganhe. Se a Dilma ganhar, é fundamental o PMDB para dar governabilidade. Se o Aécio ganhar, é fundamental o PMDB para dar governabilidade. Se o Eduardo ganhar, idem. E com qualquer outro partido, porque ele tem entre 20% e 25% dos deputados e senadores. Agora, ele não tem uma cara, uma liderança.
-O Temer disse que o partido terá candidato em 2018.
O certo é ter. Na política, o certo é cada partido ter o seu programa, suas ideias e lideranças. No segundo turno, faz a composição.
-As pesquisas do Ibope já revelam o perfil dessa nova classe C, esse novo eleitor?
Temos os jovens, e muitos participaram das manifestações, que ainda não são obrigados a votar e estão sem motivação para isso. Quanto à classe social, não trabalhamos muito com esse dado nas pesquisas. A pessoa mudou de classe, subiu um degrau, mudou de casa, adquiriu eletrodomésticos, mas não mudou de cabeça, não mudou de cultura, não mudou de amigos. A mudança de classe não significa que as pessoas ficaram mais cultas, mais pró ou contra o governo, mais gratas ou ingratas. E pode não haver mudança no voto, a probabilidade é o eleitor continuar pensando do jeito que já pensava. Alguns partidos, os mais elitizados e formadores de opinião, acham que o voto tem que ser obrigatório porque têm medo de que esse eleitor não vote. Mas a partir do momento em que o Brasil prioriza e acelera o processo de educação, um dia o voto obrigatório vai acabar.
-Deputados e senadores mudarão suas campanhas diante das manifestações?
As manifestações foram importantes, mas há outras coisas relevantes acontecendo no Brasil. O crescimento da internet, o julgamento do mensalão [e a continuação da proteção da Justiça aos partidos e políticos da direita, que, segundo o histórico,continuarão impunes], enfim, muita coisa mudou. É preciso tomar cuidado, porque qualquer candidato que apareça nessas manifestações para se aproveitar da situação pode provocar um efeito negativo na própria campanha. A não ser que seja alguém autêntico, que pense daquela maneira. Se for político tradicional, o efeito será contrário.
-A Dilma tem mais apoio do eleitorado feminino por ser mulher?
Acho que não. Há mais homens votando nela do que mulheres. Depois que a pessoa chega ao posto de presidente da República, ela não é avaliada por uma questão de gênero ou idade. Ela é avaliada como presidente.
-Dilma é favorita ou não?
As pesquisas estão dando 43% das intenções de voto para Dilma, 14% para Aécio e 7% para o Eduardo, no primeiro turno.
-No segundo turno, a vitória é dela?
Sim, mas ainda tem muita água para passar por baixo da ponte.
-Seria prematuro dizer que ela é a favorita?
Seria. Acho que quem está no poder leva uma vantagem de aparição. O jogo fica mais equilibrado durante a campanha tradicional. Só não leva vantagem se estiver muito mal avaliado, com uma rejeição enorme. Agora, não dá para saber o que vai acontecer. Todo mundo foi pego de surpresa no dia 4 de outubro com a decisão da Marina de apoiar o Eduardo Campos.
-As redes sociais na internet reduzem o peso da televisão?
A TV já anda meio chata e também precisando de uma reforma política. Tanto é que os programas, em si, não são tão vistos. O que são vistas são as inserções comerciais. Tudo o que é obrigatório não é legal. Você tem um aumento de pessoas com TV paga, e elas fogem da propaganda eleitoral. Já os comerciais entram naturalmente. E aí, a TV vale porque quem tem mais tempo, tem mais anúncios de 30 segundos. Quando se fala em aumentar o tempo de TV, é mais por conta dos anúncios. O programa mesmo só é visto na última semana por pessoas que ainda estão na dúvida sobre o candidato.
-E os debates?
Esses, sim, são importantes. Às vezes, eles não têm muita audiência, mas a repercussão é grande.
-O José Serra vai ser candidato ao governo de São Paulo?
Não acredito, mas até a convenção, no dia 30 de junho, pode haver mudança. O jogo se define no meio da Copa, e os partidos terão até o dia 5 de julho para registrar as chapas de presidente e vice. Se bem que a Marina Silva, por exemplo, cai cada vez mais nas pesquisas depois que saiu dos noticiários. Ela está diminuindo em relação ao Eduardo.
-E o Serra, não?
O Serra é mais conhecido, já disputou outras eleições. Mas a partir do momento em que o Aécio for aparecendo no noticiário, a tendência é (o Serra) cair.”
FONTE: entrevista com o presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, conduzida por Eduardo Miranda, Octávio Costa e Paulo Henrique de Noronha do jornal “Brasil Econômico” (http://brasileconomico.ig.com.br/noticias/eleitor-so-vai-se-ligar-na-eleicao-depois-da-copa_138043.html). [Trechos entre colchetes em azul adicionados por este blog ‘democracia&política’].
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