Por Fernando Brito, no "Tijolaço"
"O (ótimo) blog do economista Fernando Nogueira da Costa reproduz artigo, publicado no jornal "Valor Econômico", no final do ano passado, sobre um fenômeno muito curioso.
Aliás, até irônico, enquanto uma mídia de mentalidade elitista se escandaliza com o rolezinho dos jovens de periferia nos shoppings de São Paulo.
É o avanço das lojas de franquia – base do comércio dos shoppings – nas áreas de favela e periferia dos centros urbanos.
Ao contrário da garotada, eles não estão lá para “zoar e dar beijo na boca”, mas para ganhar dinheiro.
Cuja cor, qualquer que seja, é muito apreciada.
Inclusão Mercantil: Potencial de Consumo nas Favelas Brasileiras
Kátia Simões (Valor, 29/11/13) informa que “uma massa de renda igual ao consumo total de países como Paraguai e Bolívia, nada menos do que R$ 63,2 milhões, e uma população de 11,7 milhões de consumidores, o equivalente ao quinto maior Estado de país. Essa é a realidade das favelas brasileiras e o cenário que muitos empreendedores esperam conquistar nos próximos anos. Algumas redes de franquias saíram na frente, embaladas pelo movimento de pacificação das comunidades no Rio de Janeiro e o crescimento do poder de compra das classes C e D, que neste universo representa 65% dos habitantes.
“No início dos anos 2000, quando a marca chegou ao Brasil, nosso projeto era expandir em regiões voltadas à classe A/B. Sequer imaginávamos que pouco mais de uma década depois abriríamos lojas em comunidades”, salienta Roberta Damasceno, gerente nacional de expansão da Subway. “À medida que fomos crescendo no país, fomos ganhando espaço em regiões mais populares com respostas muito positivas, o que nos incentivou a subir o morro.” A primeira unidade em comunidade foi aberta há dois anos, na Rocinha, na sequência, veio Rio das Pedras e até janeiro de 2014 a Subway marcará presença, também, no Complexo do Alemão. Os resultados, de acordo com a executiva, superaram as expectativas. Nos primeiros meses, o faturamento chegou a ser 30% superior ao registrado nas demais lojas e as filas eram constantes na porta.
Embalada pelo bom desempenho nas comunidades cariocas, a rede de sanduíches americana se prepara para expandir, a partir de 2014, em regiões mais afastadas do ABC paulista, de Salvador e nas cidades satélites de Brasília. “Nosso maior desafio é encontrar espaços grandes disponíveis e a preços aceitáveis, porque nossas lojas têm em média 80 metros quadrados”, declara Roberta. “A valorização imobiliária nas comunidades cresceu muito e alugar um espaço na Rocinha custa tanto quanto no asfalto, às vezes até mais”. Hoje, a Subway conta com 1.321 lojas no Brasil, distribuídas em 400 cidades e espera crescer pelo menos mais 300 unidades em 2014, algumas em regiões mais populares.
Renato Meirelles, sócio do Instituto Data Popular, ressalta que encontrar um ponto é, sem dúvida, um dos grandes desafios de redes que desejam crescer em comunidades. “A oportunidade é gigantesca, mas engana-se quem acredita que a concorrência é baixa e os pontos fartos e baratos”, alerta. “No Rio, por exemplo, as comunidades são verticalizadas, o que dificulta o acesso e a disposição de áreas para unidades de grande porte, por exemplo. Já em Salvador e São Paulo, são mais horizontalizadas, facilitando o processo”.
A concorrência também não é das menores. Segundo Meirelles, do total de brasileiros morando em favelas,aproximadamente 20% vivem economicamente da exploração de um pequeno negócio. Pesquisa feita pelo Data Popular, com apoio do Sebrae, revela que 47% dos empreendedores iniciaram na atividade atual há menos de três anos, reflexo direto do incremento do poder de consumo registrado no país nos últimos tempos.
Presente na Rocinha há cinco anos, o Bob’s, com mais de mil pontos de venda no país, vê com bons olhos a chegada de novos varejistas por lá. “Desde que abrimos a primeira franquia da rede no morro não tivemos nenhum tipo de problema, pelo contrário, a comunidade valoriza muito quem oferece produto e serviço de qualidade“, assegura Marcello Farrel, diretor geral da marca. “Para atingir uma gama grande de consumidores, temos sanduíches a partir de R$ 4, o que torna o nosso negócio acessível a todos”. A marca vive um momento deinteriorização, seguindo em direção a cidades entre 60 mil e 80 mil habitantes, e para bairros distantes, mais populares, porém com bom potencial de consumo, como Queimados e Mesquita, ambos no Rio de Janeiro.
Na visão de Beto Filho, presidente da ABF Rio, um dos segredos do bom desempenho das redes nas comunidades está na escolha do franqueado. “Quando o parceiro é da comunidade ou conhece bem a região, facilita a escolha do ponto e a própria operação”, observa Filho. “Para o franqueador, o ponto é igual a qualquer retorno, se a viabilidade é boa, por que não investir?”
Demanda tem de sobra, principalmente para as áreas de serviços e educação. Outro cuidado é investir na contratação de mão-de-obra local. Além da boa disponibilidade, ainda há muita resistência por parte das pessoas em se deslocar para trabalhar na comunidade.
Esta é a receita da rede VestCasa, especializada em cama, mesa e banho, com 120 lojas, 60% em bairros populares. Inspirada no bom desempenho alcançado pelas unidades da Rocinha e Rio das Pedras, o franqueador Ahmad Yassin se prepara para inaugurar ainda em dezembro uma loja de 60 metros quadrados na comunidade de Paraisópolis, em São Paulo. “Nossa estratégia é estar o mais próximo possível do nosso público-alvo, as mulheres das classes C/D“, afirma Yassin.
“Deste modo, as favelas se ajustam plenamente ao nosso projeto, já que concentra boa parte desta população“. Hoje, a rede tem três lojas em comunidade e seis em cidades com menos de 30 mil habitantes. Em todas procura recrutar e treinar mão de obra local, pessoas que conhecem bem a região, que fazem uma boa divulgação boca a boca e têm o desejo de trabalhar próximo de casa. “O faturamento das lojas assemelha-se às demais, na casa dos R$ 70 mil mensais“, afirma o empreendedor, observando que vem crescendo o interesse dos moradores das comunidades em se tornar um franqueado, um movimento que há poucos anos não existia.
Há 12 anos, Sila Vieira, Carlos Pedro e Elaine Ramos tinham por missão correr o Morro dos Macacos, no Rio de Janeiro, batendo de casa em casa para completar as entrevistas para o senso do IBGE. O desafio era grande mesmo para quem, assim como eles, nascera e crescera na comunidade. Becos e vielas muitas vezes se fundiam e o risco de alguém ficar fora do recenseamento era grande. Foi quanto eles perceberam que poderiam transformar o desafio em uma oportunidade de negócio, afinal os Correios também tinham dificuldades para encontrar os moradores."
FONTE: por Fernando Brito, no "Tijolaço".
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