O Estadão já foi melhor nisso…
Por Fernando Brito
"A desgraça do jornalismo “de campanha”, onde o denuncismo fala mais alto que a informação, é que ele é, antes de tudo, daquelas coisas para durar a existência, já agora não mais a de um dia do jornal, mas de alguns minutos no portal de notícias.
Manchete do "Estadão": Executivo diz à PF que empreiteira ( Queiroz Galvão) fazia doações a PT, PP, PMDB ‘e mais alguns’. E anuncia que Ildefonso Colares Filho “detalha em depoimento”.
Detalha?
Pelo menos no que se transcreve na matéria, não há um detalhe sequer.
O tal Ildefonso, perguntado sobre quais eram os critérios para as doações, diz que o primeiro deles era “o limite”, que deveria estar “aquém do permitido”.
Ora, para qualquer pessoa minimamente capaz de raciocinar vê que o cidadão, portanto, está falando de doações legais, sem o que não haveria razão de falar em “limite” ou “aquém do permitido”.
Tanto que não há uma vez, no texto, a palavra ilegal.
Assim, básico, elementar.
O que há é a negativa do executivo da empreiteira de que o atual diretor de Abastecimento da Petrobras, Júlio Cosenza, tenha recebido propinas.
Francamente, para arranjar uma manchete dizendo que a a empreiteira Queiroz Galvão “fazia doações a PT, PP, PMDB ‘e mais alguns'” não é preciso se dar ao trabalho de obter, com a ajuda de “policiais isentos”, cópia do depoimento de um executivo da empresa que foi preso, se não é para falar de doações ilegais ou propinas.
Basta acessar a página do TSE e ver a quem ela doou. Para saber, inclusive, quem são os “alguns”.
Além dos citados, são, em 2010: o PSDB, o então DEM, o PTB (da coligação de José Serra), o PR, o PSB, o PC do B e até o minúsculo PHS.
Isso, apenas nas doações para partidos. Nas feitas para candidato, repete-se o leque partidário.
Isso está lá no site do TSE desde quatro anos antes da “sensacional” revelação [em manchete] do Estadão.
Ou seja, os leitores do jornal – ao menos os que ainda querem ter alguma informação relevante – estão sendo vitimados por um jornalismo de quinta categoria, para garantir que o “espetáculo” não tenha intervalo.
Ou é má-fé, ou se trata de iludir a boa-fé do leitor, deliberadamente.
Deprimente…"
FONTE: escrito por Fernando Brito em seu blog "Tijolaço" (http://tijolaco.com.br/blog/?p=23130).
COMPLEMENTAÇÃO
À PF, executivo da Queiroz Galvão omite repasses ao PSDB e PSB
Por Cíntia Alves
"Preso na Operação Lava Jato falou em doações às campanhas do “PT, PMDB, PP e mais alguns”. PF não pressionou para saber que outros partidos receberam verbas, mas TSE mostra que PSDB e PSB foram contemplados
Do Jornal GGN
Na terça-feira (18), o blog do Fausto Macedo (no "Estadão") destaca a seguinte notícia: “Executivo diz à PF que empreiteira fazia doações ao PT, PP, PMDB e ‘mais alguns’”. A reportagem é sobre o depoimento do engenheiro civil Ildefonso Colares Filho, preso na sétima fase da Lava Jato. Ele atuou durante 40 anos na Queiroz Galvão, uma das construtoras investigadas na operação.
Colares disse à Polícia Federal que a Queiroz Galvão não participa do esquema de pagamento de propina a políticos e ex-dirigentes da Petrobras. Mas admitiu que a construtora mantinha contatos com agremiações, e até fez doações para o PT e aliados, além de “mais alguns” partidos. “Mais alguns”?
Não. O leitor que chegou até a última linha da matéria não descobriu que partidos, além dos citados, receberam doações da Queiroz Galvão em períodos eleitorais. E tampouco foi alertado sobre tais doações serem, via de regra, legais, conforme o engenheiro disse no depoimento à PF. Veja o trecho abaixo.
A leitura do depoimento explica, em parte, por que o Estadão não definiu quem são os “mais alguns” da manchete. Como se vê no fragmento acima (veja a íntegra aqui), a PF não pressinou o engenheiro por detalhes sobre os partidos que já receberam doações da Queiroz Galvão.
Mas uma consulta ao Tribunal Superior Eleitoral mostra que a Queiroz Galvão já doou milhões para o PSDB de Aécio Neves e o PSB de ex-governador Eduardo Campos, morto em uma cidente aéreo em agosto deste ano, e substituído na chapa presidencial pela ex-ministra Marina Silva. As duas siglas, ao lado do PT, protagonizaram a acirrada disputa eleitoral de outubro passado.
Doações ao PSB e PSDB
Segundo o demonstrativo das doações recebidas pelo diretório nacional do PSB em 2010, a Queiroz Galvão transferiu pelo menos R$ 6 milhões ao partido. Outros R$ 6 milhões foram destinados à legenda na campanha de 2012, quando o PSB tentava emplacar o prefeito de Recife para ganhar força na eleição de 2014.
Nos dois pleitos citados, o tesoureiro era Márcio Luis França Gomes, mais conhecido como Márcio França. Ele foi eleito vice-governador de São Paulo em 2014, e também colheu fundos para a campanha de Marina Silva.
O diretório nacional do PSDB também recebeu mais de R$ 6 milhões da construtora em 2010, quando José Serra disputou contra Dilma Rousseff (PT) a corrida presidencial daquele ano.
Nesta eleição, pelo menos seis das nove grandes empresas (Odebrecht, OAS, UTC, Queiroz Galvão, Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa) sob investigação na Operação Lava Jato financiaram a campanha de Aécio Neves. Algumas delas também se repetem nas prestações de contas do PSB.
Em 2010, o PSDB era presidido por Sérgio Guerra. Morto em março deste ano, Guerra apareceu recentemente no noticiário como possível receptor de propina, segundo delatou Paulo Roberto Costa nos depoimentos da Operação Lava Jato. No caso, Guerra, então senador em 2009, teria sido pago para esvaziar uma CPI.
No âmbito da Operação Lava Jato, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, já sinalizou que o principal legado dessa investigação precisa ser a reforma política. As doações de empresas privadas a partidos políticos - todos receberam este ano, com exceção do PSOL - além de moralmente questionáveis, podem configurar algum tipo de lavagem de dinheiro desviado dos cofres públicos."
FONTE da complementação: escrito por Cíntia Alves, no "Jornal GGN" (http://jornalggn.com.br/noticia/a-pf-executivo-da-queiroz-galvao-omite-repasses-ao-psdb-e-psb).
Colares disse à Polícia Federal que a Queiroz Galvão não participa do esquema de pagamento de propina a políticos e ex-dirigentes da Petrobras. Mas admitiu que a construtora mantinha contatos com agremiações, e até fez doações para o PT e aliados, além de “mais alguns” partidos. “Mais alguns”?
Não. O leitor que chegou até a última linha da matéria não descobriu que partidos, além dos citados, receberam doações da Queiroz Galvão em períodos eleitorais. E tampouco foi alertado sobre tais doações serem, via de regra, legais, conforme o engenheiro disse no depoimento à PF. Veja o trecho abaixo.
A leitura do depoimento explica, em parte, por que o Estadão não definiu quem são os “mais alguns” da manchete. Como se vê no fragmento acima (veja a íntegra aqui), a PF não pressinou o engenheiro por detalhes sobre os partidos que já receberam doações da Queiroz Galvão.
Mas uma consulta ao Tribunal Superior Eleitoral mostra que a Queiroz Galvão já doou milhões para o PSDB de Aécio Neves e o PSB de ex-governador Eduardo Campos, morto em uma cidente aéreo em agosto deste ano, e substituído na chapa presidencial pela ex-ministra Marina Silva. As duas siglas, ao lado do PT, protagonizaram a acirrada disputa eleitoral de outubro passado.
Doações ao PSB e PSDB
Segundo o demonstrativo das doações recebidas pelo diretório nacional do PSB em 2010, a Queiroz Galvão transferiu pelo menos R$ 6 milhões ao partido. Outros R$ 6 milhões foram destinados à legenda na campanha de 2012, quando o PSB tentava emplacar o prefeito de Recife para ganhar força na eleição de 2014.
Nos dois pleitos citados, o tesoureiro era Márcio Luis França Gomes, mais conhecido como Márcio França. Ele foi eleito vice-governador de São Paulo em 2014, e também colheu fundos para a campanha de Marina Silva.
O diretório nacional do PSDB também recebeu mais de R$ 6 milhões da construtora em 2010, quando José Serra disputou contra Dilma Rousseff (PT) a corrida presidencial daquele ano.
Nesta eleição, pelo menos seis das nove grandes empresas (Odebrecht, OAS, UTC, Queiroz Galvão, Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa) sob investigação na Operação Lava Jato financiaram a campanha de Aécio Neves. Algumas delas também se repetem nas prestações de contas do PSB.
Em 2010, o PSDB era presidido por Sérgio Guerra. Morto em março deste ano, Guerra apareceu recentemente no noticiário como possível receptor de propina, segundo delatou Paulo Roberto Costa nos depoimentos da Operação Lava Jato. No caso, Guerra, então senador em 2009, teria sido pago para esvaziar uma CPI.
No âmbito da Operação Lava Jato, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, já sinalizou que o principal legado dessa investigação precisa ser a reforma política. As doações de empresas privadas a partidos políticos - todos receberam este ano, com exceção do PSOL - além de moralmente questionáveis, podem configurar algum tipo de lavagem de dinheiro desviado dos cofres públicos."
FONTE da complementação: escrito por Cíntia Alves, no "Jornal GGN" (http://jornalggn.com.br/noticia/a-pf-executivo-da-queiroz-galvao-omite-repasses-ao-psdb-e-psb).
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