Li hoje no blog do Noblat o seguinte artigo de Ateneia Feijó, jornalista e escritora. Trabalhou nos principais jornais e revistas do país - entre eles a extinta Manchete, o Jornal do Brasil e o Correio Braziliense:
GENTE BRASILEIRA
“Há duas semanas (10 de fevereiro) escrevi o artigo Não é para qualquer país, referindo-me à briga judicial dos quilombolas com a base espacial de Alcântara, no Maranhão. No final, fiz a pergunta: custa tanto aos quilombolas ceder 5 mil hectares?
Citada no artigo, a ONG Justiça Global [financiada por ONG norte-americanas, segundo sua página na internet] respondeu para o blog (21 de fevereiro), com um texto titulado Progresso a custo de quê?, com uma outra pergunta. "O que vale mais: a melhor base espacial do planeta, ou o direito de nossa gente?"
Vamos por partes.
A base em Alcântara é considerada a melhor do planeta devido à sua localização no globo terrestre, que barateia o lançamento de foguetes transportadores de satélites. A expansão do seu centro de lançamento é um projeto comercial, sim. E se estivesse bem desenvolvido, o Brasil não teria gastado tanto para lançar seus satélites de outros países e nem precisaria pagar por futuros lançamentos; ao contrário, estaria até cobrando aluguel de clientes estrangeiros. Sem esquecer que, além de proporcionar excelentes negócios, a base é muito importante para o desenvolvimento da nossa ciência e da nossa tecnologia.
Conheço Alcântara. Lá estive, como repórter, em 1982.
Comoveram-me as caixeiras vestidas de vermelho, rufando seus tambores em louvor ao Divino. Conversei com Oscarina, a caixeira-mor atormentada pelo que escutara sobre "uns foguetes".
Na época, visitei e ouvi outros descendentes de ex-escravos, moradores há uns duzentos anos na região. Portanto, incontestável: eles são quilombolas. Ponto. Já havia afirmado isso no artigo anterior.
O verbo ceder na pergunta que finalizou o meu artigo também deixou explícito que os reconheço como os donos dos 78,1 mil hectares. Mais da metade do município de Alcântara! Daí, por que não imaginar uma ação conciliadora por parte desses proprietários? Que estabeleceriam obviamente acordos e contrapartidas para facilitar, no fim das contas, a realização de um grande projeto espacial que beneficiaria todos os brasileiros?
Afirmar que "o que está por trás disso tudo é a resistência de uma parcela da elite nacional - reproduzida em setores do governo e da mídia - em aceitar que pessoas humildes e negras detenham títulos de propriedade" me parece um pouco de delírio. Quanto mais pessoas humildes e negras tiverem seus títulos de propriedade melhor para todos. No caso, alguém tem de esclarecer a essas pessoas o valor estratégico da propriedade delas. A partir daí, que se abram as negociações. A vantagem de um país capitalista é exatamente a de ninguém se importar com classe social, tipo de pele, feitio de cabelos ou cor de olhos dos proprietários.
No Rio de Janeiro, por exemplo. A maioria dos cariocas deseja que antigos moradores de favelas, algumas com paisagens deslumbrantes, tenham logo seus títulos de propriedade. Regularizar e melhorar a situação de vida deles é bom para a cidade inteira.
Outro exemplo: o metrô. Para a construção de uma ferrovia subterrânea urbana são desapropriados terrenos, casebres, prédios, mansões...
Mas concordo que o pensamento racista e excludente ainda existe.
Porém, esse tipo de pensamento tem a ver com ignorância e com pessoas idiotas: ricas ou pobres. Felizmente a diversidade étnica dentro das nossas próprias famílias e nas nossas ruas comprova a expansão da miscigenação. Ou seja, demonstra que a forma odiosa do pensamento racista está sendo ultrapassada. Por isso, não entendo certos grupos no Brasil empenhados em atiçar a intolerância nas mentalidades perversas, em vez de tentar neutralizá-las.
Ainda não respondi a pergunta. "Afinal, o que nos vale mais: a melhor base espacial do planeta ou o direito de nossa gente?" Para mim, vale mais se ter ao mesmo tempo os direitos de nossa gente brasileira e a nossa base espacial funcionando... Para a auto-estima e o bem-estar das próximas gerações de descendentes dos ex-escravos de Alcântara.”
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