Li hoje no site “Vi o Mundo” o seguinte texto escrito por Andrea Palladino, em “O Malfazejo. A autora nasceu na Itália, é jornalista e documentarista, tem feito trabalhos na América do Sul, como os Direitos Humanos no Brasil e a questão da demarcação das terras da Raposa Serra do Sol:
EM ROMA, CIGANOS FICHADOS COMO BANDIDOS
“Os Rom são uma etnia cigana. Concentram-se em campos nômades na região do Lácio, que fica perto de Roma. O novo secretário da cidade, nomeado pelo governo Berlusconi, deve anunciar em breve um novo regulamento para os ciganos da região.
O secretário de segurança afastado em 2008 deixou o cargo porque havia se recusado a fichar os ciganos como se fossem delinqüentes. Cerca de 500 mil ciganos foram exterminados na Europa na Segunda Guerra.
O REGULAMENTO DO CAMPO
Faltam dois dias, estão passando o óleo nos portões, colocando o arame farpado, escondendo os fornos. Dois dias, quarenta e oito horas. As últimas duas noites para receber os parentes, para aquecer-se na frente do fogo, para cantar, aproveitar a vida, fazer amor com as próprias mulheres e homens, deixar que as crianças brinquem. Poucas horas e o secretário de segurança de Roma, Pecoraro, assinará o regulamento do campo.
Nomearam-no por isso mesmo, o secretário anterior era um molenga, digamos a verdade. Agora, às dez da noite, fecharão o campo. Ninguém poderá entrar, ninguém sairá. Os canhões de luz e os militares com os fuzis desfilarão na frente dos muros, dos arames farpados. Nenhum parente, nenhuma amante. Querem o silêncio.
O novo regulamento do campo proíbe tudo. Não podes te afastar por mais de 6 meses, se roubas uma maçã no supermercado deverás vagar para sempre sozinho, fora dos campos. Não podes fazer fogo, porque polui. Nenhum carro, nada de motos. Todos fichados, todos os visitantes identificados. Nos bancos de dados da polícia constará: "Chegado ao campo no dia 20 de fevereiro de 2009, às 16.51″.
Imaginem ao menino rom que convida um colega de escola em casa, para fazerem juntos as tarefas: "lembre de trazer a carteira de identidade". E nada de jantar, porque às 22h, visitantes fora.
Regulamentos, normas, códigos. Para serem anotados e respeitados. E quem errar irá embora para sempre, abandonará a família, o camper, a vida. À segurança interna se ocuparão os novos kapo, os vigias armados. Serão eles que deverão intervir se alguém levanta a voz, se suspeitam que aquele cobre na frente do barracão possa ter sido roubado.
Mesmo a prisão, os Rom do Lácio deverão pagá-la. Farão pedido à prefeitura, pagarão o aluguel, a água, os impostos, a luz. Quem não pagar é melhor que não apareça no campo.
Serão zumbis que caminharão nas nossas estradas. Fora dos campos, fora dos países do leste, onde os primos dos fascistas italianos os perseguiram, os incendiram, os insultaram.
Fora das cidades, fora das escolas do centro, fora de Roma.”
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