O jornal norte-americano The New York Times publicou ontem o seguinte artigo de David Barboza, escrito em Xangai (China) (li no UOL):
A China está aproveitando a crise econômica para comprar freneticamente, investindo em energia e outros recursos naturais que poderão conferir ao país uma vantagem sem precedentes.
Alguns analistas econômicos dizem acreditar que os investimentos da China representam uma ameaça a concorrentes como os Estados Unidos. Na sexta-feira (20/02) a China anunciou a sua mais recente medida: um dos seus grandes bancos estatais, o Banco de Desenvolvimento da China, emprestará US$ 10 bilhões à gigante petrolífera brasileira Petrobras em troca de um compromisso de exportação de petróleo para a China.
Os chineses firmaram acordos semelhantes nesta semana com a Rússia e a Venezuela, o que elevou o total de investimentos de Pequim neste mês no setor petrolífero para US$ 41 bilhões. São investimentos importantes. As reservas de petróleo provavelmente ficarão novamente mais escassas assim que for retomado o crescimento global, e a China conta com uma base de sustentação que não tinha durante o último boom econômico, quando cresceu a um ritmo fenomenal, mesmo contando com acesso limitado a recursos.
Mas alguns analistas afirmam que os recentes investimentos da China são bem-vindos porque eles ajudarão a financiar um desenvolvimento muito necessário, ampliando o fornecimento mundial de petróleo e recursos naturais em um momento em que grande parte dos maiores bancos mundiais reluta em conceder empréstimos.
"É uma boa notícia porque muitos projetos têm sido adiados", afirma Philip Andrews-Speed, diretor do centro de políticas energéticas da Universidade de Dundee, na Escócia. "As companhias petrolíferas poderão agora contar com mais dinheiro para produzir petróleo".
Mas não é apenas petróleo. Neste mês, a maior produtora de alumínio da China concordou em investir US$ 19,5 bilhões na Rio Tinto, uma companhia de mineração australiana que é uma das maiores do mundo. Na última segunda-feira, a China Minmetals fez uma proposta de US$ 1,7 bilhão para a aquisição da OZ Minerals, também da Austrália, uma grande companhia de mineração de zinco.
A China está repleta de reservas monetárias - graças aos trilhões de dólares acumulados durante décadas com a venda de mercadorias ao Ocidente - em um momento em que os mercados de créditos estão apertados e os preços descendentes das commodities deixou as companhias de energia e de recursos naturais desesperadas por dinheiro. Para muitas dessas companhias, a China passou de pária a financiadora de primeira linha.
"Esta é uma diplomacia altamente enérgica", afirma Andrews-Speed. "Se você precisa de dinheiro, vá onde o dinheiro está e, hoje, a China é o local para a obtenção de dinheiro".
O presidente da China, Hu Jintao, viajou nesta semana à África na sua "Turnê de Amizade e Cooperação". A China tem grandes interesses nos recursos e na mineração naquele continente. O vice-presidente, Xi Jinping, visitou a América do Sul, reuniu-se com líderes do Brasil e da Venezuela, e assinou acordos de cooperação nos setores de petróleo e mineração.
A Venezuela contraiu um empréstimo de US$ 6 bilhões junto à China e concordou em ampliar as importações de petróleo ao país asiático, fazendo com que os investimentos totais de Pequim na nação sul-americana chegassem a US$ 12 bilhões. No Brasil, a China assinou um acordo de US$ 10 bilhões, do tipo "empréstimo-por-petróleo", que garante aos chineses um fornecimento de até 160 mil barris diários a preços de mercado.
E, nesta semana, em Pequim, o primeiro-ministro Wen Jiabao reuniu-se com o seu congênere russo depois que a China concordou em emprestar à enorme empresa petrolífera Rosneft, que enfrenta dificuldades, e à companhia de oleodutos Transneft, ambas russas, a quantia de US$ 25 bilhões em troca de 15 milhões de toneladas de petróleo cru por ano durante 20 anos.
Esses investimentos constituem-se nas maiores iniciativas da China desde 2005, quando uma companhia estatal petrolífera chinesa tentou sem sucesso adquirir a Unocal, a companhia petrolífera norte-americana, gerando preocupações quanto à possibilidade de que a China estivesse procurando monopolizar o consumo das reservas globais.
Mas desde aquela época o mundo mudou drasticamente. Os preços das commodities sofreram uma queda acentuada nos últimos meses, após um mercado em alta que foi parcialmente alimentado pela demanda voraz da China por energia e recursos naturais. E a China acumulou quase US$ 2 trilhões em reservas monetárias estrangeiras, o que proporciona ao país acesso fácil a capital.
"O que mudou na China foi o fato de o principal fator competitivo deles, o capital, ter aumentado", afirma Andrew Driscoll, analista de recursos do banco de investimentos CLSA. "Neste momento, muitas companhias estão implorando por capital".
A China deseja contar com reservas confiáveis de petróleo cru para alimentar o seu crescente setor de transportes; o país precisa de minério de ferro para a produção de aço, e de cobre e alumínio para construir residências e bens de consumo.
Os analistas afirmam que ainda há preocupações quanto à possibilidade de a China competir com outras nações, como os Estados Unidos e a Índia, por petróleo e outros recursos naturais.
Segundo os especialistas, a China poderá continuar fechando acordos neste ano no sentido de adquirir pequenas companhias de gás e petróleo, produtoras de minério e firmas de mineração.
Nesta semana, por exemplo, as ações da companhia de mineração australiana Fortescue Metals Group subiram após relatos de que a empresa negociava com a China um grande investimento para ajudar a companhia a expandir as suas operações.
Em muitos casos, a China firmou acordos em nações que contam com acesso a grandes reservas de petróleo e minerais, mas nos quais os países norte-americanos e europeus não se encontram bem posicionados, como partes da África e do Oriente Médio. Em um dos acordos fechados nesta semana, a China fez uma aliança com o governo de Hugo Chávez, o presidente da Venezuela, que condena a liderança norte-americana. Embora os acordos no setor petrolífero anunciados nesta semana variem em escala, os analistas dizem que eles garantem à China um fornecimento constante de petróleo durante as próximas décadas, em alguns casos a preços favoráveis.”
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