quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

É SAGRADO E IMPUNE O DIREITO DA IMPRENSA DE OFENDER COM RACISMO?

O jornal norte-americano "The New York Times" publicou ontem o seguinte artigo de Clyde Haberman. Li no UOL em tradução de Deborah Weinberg:


DIREITO DE OFENDER É SAGRADO

As opiniões diferem sobre o quão horroroso foi a charge de um chimpanzé no "New York Post" na semana passada, mas os pedidos para que o governo intervenha estão enganados.

Os cientistas descobriram que aproximadamente 98% do genoma humano é similar ao do chimpanzé. Contudo, a relação entre certo chimpanzé e um homem chamado Carl Whilhelm Baumgartner é ainda mais próxima.

Talvez você esteja se perguntando: Quem é esse Carl? Fique por aqui. Talvez você tenha ouvido falar sobre o chimpanzé.

Ele apareceu em um desenho grotesco na semana passada no "New York Post". O desenho se baseava em um chimpanzé verdadeiro que tinha atacado uma mulher em Connecticut e morreu com um tiro da polícia. A ilustração do Post por Sean Delonas mostra um chimpanzé estirado, furado de balas por dois policiais a sua frente. Um segura uma arma enquanto o outro diz: "Eles terão que encontrar outra pessoa para escrever o próximo plano de estímulo."

No mínimo, a charge foi totalmente vulgar, mesmo para um ilustrador cujo trabalho frequentemente é sinônimo de vulgaridade.

Mas teria sido intencionalmente racista?

Os críticos, como sempre liderados por Al Sharpton, insistem que sim, que era um ataque direto ao presidente Obama. Comparações vis de negros com chimpanzés e macacos são tão antigas quanto a república. Este chimpanzé, na opinião dos críticos, claramente representava o primeiro presidente afro-americano, a principal figura por trás do novo programa de estímulo. Para alguns a questão era mais grave, e o jornal, com efeito, estava sugerindo que Obama deveria levar um tiro.

Absurdo, responderam os editores do "Post": o ponto era meramente que o plano de estímulo foi tão mal concebido que era como se tivesse sido escrito por um chimpanzé. Ainda assim, em meio ao calor das críticas, o jornal fez um editorial com uma espécie de pedido de desculpas. De forma alguma tranquilizou os críticos, que pediram, entre outras coisas, que leitores e anunciantes boicotassem o jornal.

Como era de se esperar, nem todos afro-americanos compartilharam a revolta ou acharam que a charge representava Obama. O governador David A. Paterson, que é negro, disse que aceitava o pedido de desculpas do "Post". Quanto ao "convite ao assassinato", como o desenho foi descrito por Benjamin T. Jealous, presidente da Naacp, é um crime federal ameaçar a vida do presidente. Se o serviço secreto considerasse o desenho uma ameaça, seus agentes presumivelmente teriam baixado no jornal. Eles não apareceram.

Os protestos continuam, porém. Certamente, todo mundo tem o direito de recusar-se a comprar um jornal. Mas Sharpton foi além. Ele quer que a Comissão Federal de Comunicações examine a licença que permite a Rupert Murdoch ter dois jornais (o "Post" e o "Wall Street Journal") e duas estações de televisão (Wnyw e Wwor) na região de Nova York .

Normalmente, no que concerne tais licenças, a questão é se uma única mão controla canais variados da mídia em determinado mercado. Entretanto, Sharpton acredita que o conteúdo do editorial é razão para pedir que o governo interceda "Como você pode continuar a ter essas licenças se você não compreende o que pode ofender uma grande parte dos afro-americanos -e brancos, diga-se de passagem?" Disse ele a um entrevistador da CNN.

Isso nos leva a Carl Wilhelm Baumgartner. Não esquecemos dele.

Ele nasceu na Alemanha em 1895 e tornou-se americano naturalizado em 1932. Entretanto, ele era admirador ardente de Hitler e dos nazistas e isso levou o governo a tentar retirar sua cidadania americana na Segunda Guerra Mundial. A Suprema Corte impediu tal tentativa.

Em uma passagem memorável da opinião da maioria dos juízes em 1944, o juiz Félix Frankfurter (que era judeu e dificilmente fã dos nazistas) escreveu: "Uma das prerrogativas da cidadania americana é o direito de criticar homens e medidas públicas - e isso não significa apenas críticas informadas e responsáveis, mas a liberdade de falar com ignorância e sem moderação". É um direito americano expressar "opiniões tolas ou até sinistras", continuou Frankfurter.

Nesse respeito, o DNA do chimpanzé do cartum não é diferente do de Baumgartner. Se o governo não deve perseguir o cidadão porque ele reverencia Hitler, provavelmente vai querer pensar duas vezes antes de perseguir um jornal por causa de um desenho imbecil.”

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