domingo, 7 de agosto de 2011

O RENASCIMENTO DA BASE DE ALCÂNTARA

Sistema de rastreador desenvolvido pela OMNISYS-THALES para o Centro de Lançamento de Alcântara

Por José Monserrat Filho, chefe da Assessoria de Cooperação Internacional da AEB:

“Já visitei o Centro de Lançamento de Alcântara (CLA) três vezes ao longo de 15 anos. A primeira vez ocorreu em 1996 -eu era o editor do “Jornal da Ciência”, da SBPC, e estudioso do direito espacial. A segunda, nos idos de março de 2004, mais precisamente no dia 24, quarta-feira, por ocasião da 4ª Reunião Regional da SBPC[¹] realizada na Universidade Estadual do Maranhão, em São Luís. E a terceira, agora, em 28 de julho de 2011, como convidado do Presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), Marco Antônio Raupp, para integrar a comitiva do [então] Ministro da Defesa, Nelson Jobim, em visita especial (e histórica) ao CLA.[²]

Creio ter algo a relatar sobre a evolução do centro, desde sua paralisia nos anos 90.

Em 2004, participavam da visita o então presidente da SBPC, Ennio Candotti; o então secretário regional da SBPC, Antônio de Oliveira; o professor da PUC/RJ e ex-diretor da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), Anselmo Pasqua; e o engenheiro Murilo Marques Barbosa, então assessor especial do Ministro da Defesa, José Viegas Filho. Éramos um grupo muito interessado nos graves problemas que o Programa Espacial Brasileiros enfrentava.

Ainda estávamos sob o impacto do fatídico acidente ocorrido seis meses antes, em 22 de agosto de 2003, no CLA, na plataforma de lançamento do VLS-1, na véspera da terceira tentativa de enviá-lo ao espaço, quando perderam a vida 21 técnicos e engenheiros[³].

Atônito com o que vira, escrevi, em 25 de março de 2004, o artigo "Base de Alcântara, uma riqueza ainda muito pouco explorada"[4].

Contei que fôramos "regiamente conduzidos e tratados pelo diretor do CLA, Coronel Francimar Nogueira Ventura, que se desdobrou para atender aos nossos questionamentos, com o auxílio de toda a sua equipe local"; ele nos apanhara no hotel, em São Luís, bem cedo pela manhã e nos trouxera de volta no fim do dia, acompanhando-nos o tempo todo. A hospitalidade era "a melhor possível". O melancólico vazio do CLA é que impressionava.

O Coronel Francimar fez questão de nos mostrar tudo, a começar pelo local da tragédia. Diante daquele monte de ferros retorcidos que lembravam uma nesga do apocalipse, procurou nos esclarecer como se dera a explosão. Era, claro, a explicação técnica dos fatos. Atrás deles -sabíamos nós-, havia a longa história das deficiências e da falta de apoio governamental, que, ao longo de [muitos] anos, levaram ao desastre como um lento rastro de pólvora. O ponto a que tínhamos chegado.

Daí que, no artigo, eu clamava: "Chegamos, como nunca antes, à hora da verdade. E ainda estamos nela, até inspirados no relatório sobre os resultados da investigação do terrível acidente. Tornou-se absolutamente imprescindível abrir à opinião pública a plenitude dos nossos problemas, deficiências e dificuldades. A realidade dói, mas é com ela que se constrói um novo rumo, mais seguro, mais produtivo e mais promissor, sem esquecer as conquistas do passado -muitas e fundamentais a seu tempo."

E dizia mais: "O que nos deixa aturdidos e perplexos é a complexidade dos problemas que cercam e atrasam o desenvolvimento do CLA, de valor incalculável no mundo de hoje. Pergunto-me quantos países se sentiriam felicíssimos se pudessem contar com uma base de lançamentos espaciais tão bem localizada e tão privilegiada quanto a de Alcântara. Muitos, com certeza, a começar por vários países avançados do Hemisfério Norte, com importantes atividades espaciais, mas com centros de lançamento que encarecem os vôos".

Centro de Controle (CLA)

"O fato concreto e por todos os motivos lamentável é que o Centro de Alcântara, onde o país já investiu centenas de milhões de dólares, continua subutilizado. Tudo o que de bom já fizemos com ele, seguramente representa uma percentagem mínima do muito que poderíamos ter feito, se tivéssemos há mais tempo tentado, com mais determinação e conhecimento de causa, aproveitar seu imenso potencial."

"Mas não se trata de chorar o leite derramado. Sem ignorar os erros do passado, há que enfrentar o dia de hoje e de amanhã. O CLA está ali, esperando por nossas iniciativas, nosso dinamismo, nossa criatividade. Ele é denso de possibilidades. Tem tudo para ser um dos melhores, mais eficientes e mais seguros centros de lançamento do mundo. E pode ser também um grande centro de pesquisas científicas e tecnológicas, além de um grande centro formador de recursos humanas em área de ponta."

"Ter tanto e aproveitar (relativamente) tão pouco -isso no mundo atual tem um nome duro e amargo: desperdício. Um luxo que um país pleno de carências como o Brasil não tem o direito de se permitir. Felizmente, há notícias e indícios importantes de que nos altos escalões do Governo federal há gente empenhada em mudar essa situação -sensatamente, moralmente e economicamente- insustentável."

"Já perdemos tempo demais. É hora de agir com toda a urgência possível e impossível. O grande futuro de Alcântara está nas mãos da presente geração de brasileiros responsáveis e empreendedores."

ALCÂNTARA, SETE ANOS DEPOIS

Na manhã de quinta-feira passada, 28 de julho de 2011, desembarquei no CLA com a mesma "ânsia natural e revitalizada de identificar sinais dessa renovação", como assinalara em 2004. Vi um centro bem diferente daquele de 2004. Há avanços e conquistas palpáveis, importantes obras em andamento, confiança no presente e no futuro. O clima é de franco otimismo. Mudança da água para o vinho.

Área de Lançamentos

A nova ‘Torre Móvel de Integração’ (TMI), praticamente pronta, erguida no mesmo lugar da plataforma destruída em 2003, deve ser inaugurada no início de 2012. Custou R$ 44 milhões. A interligação dos sistemas eletrônicos e de comunicação está sendo concluída. Testam-se os equipamentos eletrônicos e a integração dos sistemas de comunicação da TMI com a Casamata, responsável pelo monitoramento e preparação dos foguetes antes de cada lançamento.

Inaugurou-se oficialmente a nova e moderna ‘Sala de Controle dos lançamentos do CLA’, construída em três anos e já várias vezes testada, que acompanha todas as etapas de um lançamento, bem como a segurança de voo, telemedidas e localização. Sistemas digitais substituíram os analógicos, otimizando o rastreio dos foguetes e reduzindo a chance de interferências nos lançamentos. Toda a comunicação de dados segue agora por fibra ótica que evita interferências.

No ato de inauguração, simulou-se o funcionamento de toda a Sala de Controle -telemedidas, rastreio e monitoramento de voo.

Modernizou-se também a sala da Casamata. A renovação abrange o sistema de radar e o setor de meteorologia. Além do mais, o CLA foi dotado de sistema de perfiladores de vento com tecnologia que permite nova dinâmica na avaliação dos ventos verticais.[5]

Assim -garante o atual diretor do CLA, Coronel Ricardo Rodrigues Rangel-, o centro estará preparado para promover, em 2012, o primeiro voo de qualificação do novo foguete brasileiro, o VSL, modificado graças à cooperação com a Rússia.[6]

A RELEVÂNCIA DA EMPRESA ALCÂNTARA CYCLONE SPACE (ACS)

Os pontos centrais do Programa Espacial Brasileiro são o CLA e o programa da empresa Alcântara Cyclone Space (ACS), declarou o [então] Ministro Jobim para quem ainda tinha alguma dúvida. O presidente da AEB, Marco Antônio Raupp, bateu na mesma tecla: "Os dois pontos fundamentais do Programa Espacial Brasileiro são o CLA e a ACS. Em 2012, o CLA deverá lançar o novo VLS, e a ACS, o foguete Cyclone 4".

Em visita à Ucrânia (4-8 de julho), à frente de missão técnica, Raupp conheceu a tecnologia usada no Cyclone 4 e voltou "muito otimista". A fabricação do foguete está bem adiantada. A parte brasileira deve acelerar a construção das instalações no CLA a ele destinadas.

SATÉLITES GEOESTACIONÁRIOS, MAIOR AUTONOMIA E MAIOR ORÇAMENTO

A visita ministerial ao CLA buscou conseguir novos recursos para o Programa Espacial Brasileiro como um todo, afirmou o Ministro Jobim, até porque em janeiro deste ano houve corte de R$ 50 milhões no orçamento destinado à C&T; resultado: o CLA reduziu de 14 para sete o número de lançamentos previstos para 2011.

Os ministros visitantes concordaram com dois pontos essenciais:

1) a forte base tecnológica já instalada no CLA permite efetuar lançamentos complexos; e

2) isso exige novos recursos financeiros para completar a capacidade operacional do CLA.

Não por acaso, a visita foi definida como "a base do relatório para solicitarmos novos investimentos à Presidente Dilma Rousseff". Sabe-se que ela assumiu as atividades espaciais como uma das maiores prioridades de seu governo, ao lado das áreas nuclear e de informática. O Ministro Paulo Bernardo acredita que "a presidente Dilma dará luz verde aos novos investimentos".

Aliás, o Ministério da Defesa já tem pronta a exposição sobre a necessidade inadiável de dois satélites geoestacionários estratégicos de comunicações, a ser apresentada à Presidente. Os dois satélites, com lançamentos planejados para 2014 e 2019, demandam, obviamente, investimentos de monta. A ideia é de comprá-los de uma das empresas internacionais do setor, mediante licitação. Mas o Ministro das Comunicações fez questão de ressaltar: "No futuro, criaremos nossos próprios satélites geoestacionários."

MAIS ÁREAS DE LANÇAMENTO, MAIS FONTES DE RIQUEZA

O excelente sobrevoo de helicóptero oferecido aos visitantes sobre a zona do CLA atual e toda a região norte de Alcântara, às margens do Oceano Atlântico, deixou clara a possibilidade de se ampliar de três para 15 o número de áreas de lançamento. A região é praticamente desabitada, não parece favorecer a agricultura e pode, sim, ser objeto de acordo com os habitantes de Alcântara para que eles tenham acesso ao mar quando não houver lançamentos programados.

Esse é um dos melhores locais do planeta para todo tipo de lançamento espacial. Podemos e devemos aproveitá-lo com competência e urgência. É riqueza natural inestimável, capaz de favorecer a própria Alcântara, o Estado do Maranhão, a região Nordeste e o Brasil inteiro.

Resumo e apelo da história. Estamos diante de um renascimento de Alcântara. Não temos nem mais um minuto a perder.”

REFERÊNCIAS:

[1] Os Ministros Paulo Bernardo, das Comunicações, e Moreira Franco, da Secretaria de Assuntos Estratégicos, também participaram da visita organizada pelo Ministério da Defesa às instalações do CLA. Da AEB, além do Presidente Marco Antônio Raupp, estavam o Diretor de Satélites, Aplicações e Desenvolvimento, Thyrso Villela, e o Diretor de Transporte Espacial e Licenciamento, Nilo Sergio de Oliveira Andrade, ex-Diretor do CLA.

[2] Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), criada em 1948.

[3] Todos pertenciam aos quadros do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE), então vinculado ao Centro Técnico Aeroespacial (CTA) -hoje Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), subordinado ao Comando da Aeronáutica.

[4] Publicado no JC e-mail nº 2491 (Jornal da Ciência eletrônico da SBPC), edição de 25 de março de 2004.

[5] Ver: .

[6] Jornal "O Estado do Maranhão", de 29/07/2011.”

FONTE: escrito por José Monserrat Filho, chefe da Assessoria de Cooperação Internacional da Agência Espacial Brasileira-AEB. Publicado no site “DefesaNet”  (http://www.defesanet.com.br/space/noticia/2196/O-Renascimento-de-Alcantara) [imagens do google adicionadas por este blog].

Um comentário:

Probus disse...

Pô, eu deixei tão escondidinha esta matéria "naquele" comentário...

Deixei-a-a tão isoladinha... Rsrsrs

Te amo Maria Tereza, adoro suas postagens, você faz observações e ponderações, isso nos é muito elucidativo. Eu sabia que você ia adorar esta matéria, foi só para eu me certificar se você ia ler minhas ponderações sobre o UNASUL, parece que você leu e, foi eu quem enviou ao Osvaldo Bertolino.

Eu já havia discutido este assunto inúmeras vezes contigo, este texto sobre o Renascimento de Alcântara é de fazer qualquer um chorar. Dele todo eu destaco:

"...o centro estará preparado para promover, em 2012, o primeiro voo de qualificação do novo foguete brasileiro, o VSL, modificado graças à cooperação com a Rússia."

Eu sempre disse que nossa salvação estaria no Kremlin e, que o Putin iria dar uns "conselhos" aos ucranianos, lembra???

http://democraciapolitica.blogspot.com/2010/04/embraer-ja-incomoda-boeing.html?ext-ref=comm-sub-email

Mas, é de suma importância saber até aonde pode cooperar conosco também o Jiabao e, amanhã vem um profundo conhecedor de Inovação Tecnológica e, eles vão mandar um neto da Chita ao espaço...
Seria importante manter esta pauta com eles.

06/08/2011: Vice-ministro de Exteriores iraniano visitará Brasil na 2ª feira
http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/efe/2011/08/06/vice-ministro-de-exteriores-iraniano-visitara-brasil-na-2-feira.jhtm

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Os avanços tecnológicos do Irã
Enviado por luisnassif, qua, 20/07/2011 - 18:33
Por Eugênio Issamu

Muito legal a notícia, mas deveria mostrar tabela, eu gostaria muito de saber qual posição ocupa a nação Persa, o Irão. Nós, brasileiros, que recentes somos, temos muito a aprender com aquela terra de 5.000 anos de história.

09/07/2010: De robôs a mísseis, Irã desenvolve tecnologia própria
http://www.agenciamagistri.com.br/postagem.php?POS_RowID=41

27/06/2011: Irã planeja enviar macaco ao espaço no começo de agosto
http://g1.globo.com/mundo/noticia/2011/06/ira-planeja-enviar-macaco-ao-e...

08/03/2010: Ministro Rezende firma acordo de C&T com Irã e visita a Jordânia
http://www.sbfisica.org.br/v1/index.php?option=com_content&view=article&id=152:ministro-rezende-firma-acordo-de-cat-com-ira-e-visita-a-jordania&catid=68:marco-2010&Itemid=270

Brasil e Irã estudam cooperação em Ciência, Tecnologia e Inovação
http://www.lnls.br/interna-330/home.aspx

20/07/2009: Quem é quem na política iraniana
http://taborita.blogspot.com/2009/07/quem-e-quem-na-politica-iraniana.html

Iranianos e brasileiros debatem TICs e nanotecnologia
http://realidade.org/forum/index.php?topic=10368.0;wap2

18/06/2011: Irã planeja 3 novos satélites em órbita
http://www.guerrasionista.com/pt/category/ciencia/

12/08/2010: Irã fabrica mundo lança militar mais rápido será equipada com mísseis e torpedos

09/02/2010: Irã inicia a produção em massa de bombarderos no tripulados de alta tecnologia

08/02/2010: O Irã testou com sucesso sua primeira aeronave invisível ao radar

04/02/2010: Irã lança seu terceiro satélite em Kavoshgar espaço '3'

http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/os-avancos-tecnologicos-do-ira

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Esta matéria abaixo, publicada no Portal "O outro lado da notícia" também é sugestão minha ao Bertolino, eu também postei os vídeos no Portal Luis Nassif no link acima em um comentário meu, sugiro, portanto, os EXCELENTES vídeos do... Rupert.. Murdoch... e sua... FOX NEWS... São MAGNÍFICOS.

Uma outra visão do Irã
http://www.outroladodanoticia.com.br/inicial/18500-uma-outra-visao-do-ira.html