O portal “Conversa
Afiada” reproduz editorial de Mino Carta, na
revista “CartaCapital” desta semana:
“Não quero que os ricos chorem, dizia o líder do PSD sueco, Olof Palme, quero
é que os pobres riam. Palme, social-democrata autêntico, foi primeiro-ministro
e crente denodado da igualdade social. Sublinho autêntico para que não seja
confundido com nossos social-democratas de fancaria.
Palme, assassinado por um demente, é um herói de outro tempo, quando a
religião do deus mercado ainda não vingara, dois impérios dividiam a terra e as
esquerdas da Europa Ocidental contribuíam de forma determinante para o
progresso dos seus povos. Não existiam oligarquias financeiras para mandar mais
que os governos nacionais, e anátemas eram lançados contra o chamado
“capitalismo selvagem”.
É do conhecimento até do mundo mineral que a crise dos dias de hoje foi
deflagrada pela aplicação dos mandamentos neoliberais, que ela não poupa o
Brasil e que os remédios aviados até agora pelos governos do ex-Primeiro Mundo
mostram-se incapazes de combater a origem do mal. Quando não cuidam,
abertamente, de proteger quem provocou o desastre, e mesmo de fortalecer-lhe o
poder.
Vivemos o tempo dos super-ricos e dos superpobres. A diferença entre uns
e outros tornou-se voragem infinda, abismo sem fundo. O Brasil também conta com
seus super-ricos, arrolados nas listas anualmente propostas ao espanto global.
Essa privilegiadíssima tigrada dispõe de fortunas calculáveis em bilhões e não
é fácil entender como se deu essa frenética, desenfreada multiplicação de
dinheiro, enquanto bilhões de seres humanos morrem de fome.
Sem pretender parafrasear Olof Palme, eu diria que os super-ricos me
incomodam muito menos do que os aspirantes a super-ricos. Medram no Brasil, em
diversos patamares da escada social, burgueses e burguesotes de diversos
calibres. Classes A e B1, digamos, sem excluir de pronto os anseios recônditos
de inúmeros remediados. Pergunto: que
ricões, ricos, riquinhos e sonhadores de riqueza são estes?
Algo é certo: não se trata dos
burgueses que fizeram a Revolução Industrial e a Revolução Francesa. Do meu
modesto ponto de vista, anoto que classe média tem um significado no Brasil e
outro em diversos cantos do globo. Claro, existem parâmetros econômicos para
medições precisas, embora pareça dilatada demais a separação entre limites
mínimo e máximo fixados no Brasil para figurar na categoria.
Coube à burguesia acabar com as monarquias por direito divino e selar de
certa forma, e de vez, o fim da antiguidade medieval. A classe média europeia é
uma larga maioria que incorporou e alargou os horizontes burgueses, em termos
de cultura no sentido mais amplo. Nada disso se aplica ao Brasil, onde a
casa-grande e a senzala, ou se quiserem, os sobrados e os mocambos, continuam
de pé, ao sabor de uma aparente contemporaneidade que não lhes abranda os
efeitos.
A ostentação do luxo é típica de uma herança resistente na ausência de
saber e verdadeiro refinamento, dramaticamente compensados por atitudes toscas
e mesmo vulgares. Há exceções, mas não passam disso. Não é por acaso que o
Brasil conta com um exército de mais de 7 milhões de empregados domésticos.
Recorde mundial estabelecido quando há décadas esse gênero de serviçal é cada
vez mais raro nos países democraticamente evoluídos. E nem se fale de
manobristas, passeadores de cachorros, babás. E assim por diante.
E que dizer da segurança privada, dos soturnos senhores de terno escuro e
gravata, escalados para a proteção de patrões em trajes esporte fino,
eventualmente de bermudas? Há, mundo afora, senhores graúdos que não dispensam
guarda-costas, capangas, jagunços. Não é simples distinguir, porém, quem manda
de quem obedece, e este não se perfila à porta de prédios e mansões, de lojas
de comércio retumbante ou de restaurantes hoje habilitados a figurar entre os
mais caros do planeta.
Sim, o país do futuro é estranhamente obsoleto e continua a pagar caro
por três séculos e meio de escravidão.”
6 comentários:
O Brasil se torna um país decadente antes mesmo de atingir o ápice, é o que percebo. Apesar de não ser muita coisa a minha conformidade, concordo com tudo o que está escrito. As classes médias no Brasil são quase que assaltantes,desavergonhadas,querem aproveitar o momento como se estivéssemos nos últimos dias da existência, fazem de tudo para chegar ao topo e com isso arrastam o restante da sociedade. Não têm uma moral como se pode notar nas classes médias Americanas - EUA, sim - e Européias. Não sou uma pessoa ideologicamente articulada, mas registro o que apreendo do momento em que vivo. Contudo, penso que todo o desregramento em que está mergulhada nossa sociedade tem por objetivo a sua própria dissolução.Chegaremos a tal nível de descontrole que não saberemos mais o que é certo e o que é errado. Já está difícil saber tal a iniquidade reinante e essa situação poderá abrir as portas para duas consequências, no mínimo: 1) A dissolução do País, causando a sua divisão ou 2) A um outro período de ditadura para tentar colocar as coisas no lugar.
Fluxo,
Não concordo. Essa "moral" que você admira na classe média norte-americana e europeia é muito discutível. Sobre isso, poderia encher páginas de exemplos. Cito o apoio quase unânime dessa classe média à invasão do Iraque, que causou direta e indiretamente um milhão de mortos. "Moral"? Verdadeiro genocídio! E por pretexto mentiroso (salvar o Mundo das armas atômicas, químicas e biológicas que ameaçavam a Humanidade).
Essa classe também é vítima da doutrinação da mídia direitista que é braço de escusos grandes interesses financeiros e econômicos internacionais. Os brasileiros também são atingidos por essa doutrinação que, por exemplo, leva você a vislumbrar a dissolução do Brasil ou a volta da ditadura da direita.
Maria Tereza
Quando me referi à moral quis dizer o que tange à construção de suas sociedades nacionais, da mesma forma que o artigo se refera à nossa sociedade e não a sua relação com outras sociedades. Vislumbro a divisão ou a volta à ditadura, sim, considerando até que é assim que agem, podendo até citar artigos ora postados que confirmam esse ponto de vista, tal como o de André Vltchek, que não havia lido ao postar o comentário.Voce erra quando fala que admiro, só digo que evitou um descontrole social, tal como vem acontecendo no Brasil. Até o momento, que me lembre, nunca como leitor eventual e não alinhado a qualquer ideologia, postei qualquer idéia defendendo genocídios, intervenções, assassinatos praticados seja por quem quer que seja.
Fluxo,
Agora compreendi seus pontos de vista. Creio corretos. Interpretei errado seu primeiro comentário.
Maria Tereza
Postar um comentário