Por Paulo F., da [imprensa estatal alemã] “Deutsche Welle
(DW)”
[OBS deste blog ‘democracia&política’:
deve-se ler este artigo sabendo que para o governo alemão, e para a direita das
grandes potências em geral (grandes conglomerados financeiros e econômicos, inclusive de mídia),
não é conveniente que o Brasil ocupe mercados na América Latina, África etc, antes dominados
por eles. Assim, nas entrelinhas deste texto, criticam e denigrem (“neoimperialismo”, “colonialismo”, "rejeição") a expansão do comércio exterior brasileiro].
“Em
sua trajetória de ascensão no cenário internacional, o Brasil encontra-se sob
ameaça de desenvolver uma imagem neocolonialista em países da América Latina e
África.
No
início, os uruguaios ainda gostavam da cerveja brasileira. As filiais do Banco
Itaú na capital Montevidéu tampouco eram um problema. Porém, em 2006, quando as
firmas brasileiras passaram a comprar os armazéns frigoríficos do país, muitos
ficaram desconfiados. De uma hora para outra, o grosso dos negócios com a carne
bovina, campeã de exportações do país, encontrava-se em mãos brasileiras.
Frigoríficos
no Uruguai, plantações de soja no Paraguai, usinas hidrelétricas no Peru: as empresas do Brasil conquistam a América
do Sul. E com cifras de impor respeito. Segundo dados do Ministério das
Relações Exteriores, o total das exportações nacionais para o restante da
América Latina e o Caribe saltou de 11,5 bilhões para 57 bilhões de dólares,
entre 2002 e 2011. Isso situa a região como segundo mais importante mercado
para o comércio externo brasileiro, depois da Ásia.
ADMIRAÇÃO E REJEIÇÃO
Porém,
os demais latino-americanos observam com ceticismo a ascensão econômica do
país. "Em muitos aspectos, os países
veem o Brasil com um olhar semelhante ao que a América do Sul tinha sobre os
Estados Unidos", expõe Oliver Stünkel, professor de Relações
Internacionais na Fundação Getúlio Vargas,
em entrevista à “DW Brasil”. "É uma
mistura de admiração e rejeição."
O
clima político é especialmente tenso no Paraguai. A atitude brasileira após [o
golpe da direita contra o] então presidente Fernando Lugo, em junho de 2012,
ainda é encarada como uma intervenção descabida. "Quando o Brasil pressionou para que o Paraguai fosse suspenso do
mercado comum MERCOSUL, voltou a aflorar o sentimento de que o país se comporta
como uma potência colonial", explica Stünkel.
O
ex-ministro brasileiro do Exterior [governo FHC] Luiz Felipe Lampreia também
classifica [como a direita demotucana brasileira] como uma gafe diplomática o
comportamento de seu governo na época. "Essa decisão política despertou um grande mal-estar no Paraguai",
admitiu em entrevista à DW.
No
entanto, o diplomata considera absurda a acusação de que o Brasil estaria se
comportando de forma colonialista. "Os
brasileiros pagam impostos, exportam mercadorias e criam postos de trabalho,
tanto no Paraguai como no Uruguai ou na Bolívia", contra-argumenta
Lampreia.
ÁFRICA COMO ALVO PREFERENCIAL
Quer
como amigo, quer como inimigo, a expansão econômica e política do Brasil segue
a passos largos. A mineradora Vale S.A. pretende investir no exterior, até
2014, um total de 9,6 bilhões de dólares, em especial em países africanos como
Moçambique, Angola e Zâmbia. Com 17 mil funcionários, a multinacional Odebrecht
é a maior empregadora privada de Angola. E a semiestatal Petrobras explora
petróleo em Angola e na Nigéria.
A
expansão brasileira no continente africano é fruto de intenção política. Lá, o
gigante sul-americano está representado com, no mínimo, 37 embaixadas. E, ao
oferecer créditos acessíveis, o Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) também ajuda a
financiar grandes projetos domésticos.
O
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou os países ao sul do Saara mais
de uma dezena de vezes durante seus dois mandatos, de 2003 a 2011. Também sua
sucessora Dilma Rousseff segue apostando na cooperação sul-sul. Com resultados
palpáveis: de 2000 até agora, o volume anual de negócios Brasil-África cresceu
de 4,2 bilhões para mais de 20 bilhões de dólares.
MAIS UMA NAÇÃO IMPERIALISTA?
Entretanto
também na África lusófona a expansão brasileira gera tensões. Em julho de 2010,
manifestantes enfurecidos invadiram a mina de ferro da Vale S.A. na Guiné, por
violações dos direitos dos trabalhadores. Também em Moçambique, no leste
africano, pequenos agricultores protestaram no último ano contra a empresa
mineradora, por desalojá-los a fim de dar lugar à exploração de carvão mineral
em Moatize.
"Em Moçambique, a relação da Vale com a
população local é tão ruim que, para muitos, a atual imagem do Brasil é pior do
que a de Portugal da época colonial", escreveu Carlos Tautz para [o
jornal tucano de oposição] “O
Globo”. Se o
governo não lembrar as firmas brasileiras do respeito às normas internacionais,
no futuro o Brasil será percebido "como
mais uma nação imperialista", advertiu o jornalista.
O
professor Oliver Stünkel, contudo, não partilha essa opinião. "A reputação do Brasil na África é muito boa.
Para o país, ainda se desenrola o tapete vermelho", afirma o perito econômico.”
FONTE: por Paulo F. na agência estatal alemã “Deutsche
Welle”. Postado no portal de Luis Nassif com texto de Astrid Prange de Oliveira
(av) e revisão de Francis França (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/ascensao-do-brasil-pode-interferir-na-relacao-com-vizinhos).
[Título, observação, imagem do Google e trechos entre
colchetes adicionados por este blog ‘democracia&política’]
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