Por
Delfim Netto, no jornal “Valor”
“É
difícil ignorar a estagnação do PIB per capita em 2012. É fácil transformá-la
na "síntese" do fracasso da política social e econômica do governo
Dilma Rousseff, o que, obviamente, é um equívoco.
O
ano de 2012 distinguiu-se pelo enfrentamento de velhos e antigos obstáculos ao
crescimento e importante aumento dos gastos com educação e saúde, que são, na
realidade, investimento para aumentar o futuro padrão de vida e a produtividade
dos cidadãos. O "ativismo" que se critica está na direção correta. O
que tem faltado é uma relação "arrogância-competência"
mais harmônica dos agentes públicos que fazem a interface com o setor privado
de infraestrutura. Isso não tem nada a ver com a qualidade da administração da
política econômica!
Estamos
no nascimento de 2013. O que será não está escrito nas estrelas e muito menos
nos modelos de nossos catastrofistas. Será o que soubermos e pudermos fazer
dele: o governo e o setor privado, cada
um nos limites das competências fixadas pela Constituição.
Nenhum
dos dois pode fazê-lo sozinho. Ao primeiro, cabe formular os objetivos, mas
resignar-se a sua baixa capacidade de executá-los fisicamente, e aceitar que
seu bom desempenho depende de tratamento amigável com relação ao segundo,
transferindo-lhe, com leilões inteligentes, os investimentos de infraestrutura
e controlando-o através de agências reguladoras, que estimulem a competição,
sejam estáveis e blindadas à política partidária.
A
passagem ao setor privado de monopólios "naturais" é uma questão
política e técnica altamente complexa e contaminada pelo fato que eles, quando
não controlados, são ainda mais cruéis nas mãos do setor privado. Mas é preciso
lembrar que, quando os sindicatos desses setores combatem a privatização, não
se trata de questão técnica e muito menos "ideológica": trata-se do "interesse" dos que
sabem que vão perder o conforto dos benefícios que recebem à custa dos
consumidores, que não têm alternativa.
Dentro
do quadro institucional delineado por tais restrições, os estímulos ao setor
privado devem ser universais e promovidos pelos preços relativos construídos no
mercado. Os subsídios (que devem ser
claramente consignados no Orçamento) devem ser reservados àqueles projetos
que, sem nenhuma dúvida, possuem taxa de retorno social maior do que a do
mercado, como é, seguramente, o caso de alguns projetos de infraestrutura.
Não
há justificativa social ou econômica para subsidiar "ganhadores escolhidos" para criar gigantescos oligopsônios e
oligopólios privados em detrimento, mais dia menos dia, dos interesses dos
consumidores como já estamos vendo. E, muito menos, proteger fortemente setores
de insumos básicos, sem levar em conta os seus efeitos sobre as tarifas
efetivas dos bens que os consomem.
Todas
essas preocupações parecem estar na atual política governamental ativa. Essa
busca, ainda, aumentar a igualdade de oportunidades para todos os cidadãos e
diminuir os efeitos cíclicos sobre o nível de emprego.
É
uma ilusão pensar que, deixada a si mesma, a organização natural dos mercados
levará a um equilíbrio eficiente. Ilusão maior ainda é imaginar que exista uma
receita universal produzida pela "ciência econômica". Na organização
do mundo, Deus foi duro com os economistas: deu-lhes
como objeto de estudo o homem, um átomo que pensa, que imita, aprende, inova e
transmite sua experiência. Dessa forma, em cada momento ele é mais rico e
diferente do que no anterior, pela acumulação da informação e imersão social.
As
implicações desse fato para a economia são fundamentais: nunca há equilíbrio. Nunca o futuro será igual ao passado. Cada
observação de uma série de tempo não é uma amostra extraída ao acaso de uma
"urna" que contém os seus estados possíveis. Não há, como no mundo
físico, a estabilidade do universo observável, onde, para todos os fins
práticos, o presente reproduz o passado e este antecipa o futuro, um processo
ao qual se dá o nome de "ergódico".
Como
o agente econômico incorpora as informações do passado, e está sempre
aprendendo no presente, o futuro não poderá ser a repetição de nenhum dos dois.
Ele vive um processo "não ergódico".
Essas
observações pedestres tiram toda a esperança de que possa existir uma teoria
econômica universal, independente da história e da geografia, que permita
colocar a política social e econômica no "piloto automático", como,
por exemplo, o famoso "tripé" a que se apegam com vigor quase
religioso alguns de nossos mais notáveis sacerdotes.
Por
outro lado, os enormes conhecimentos acumulados nos últimos 250 anos, e a
experiência histórica vivida, não autorizam a pensar que o voluntarismo que os
ignora possa manter um voo longo e bem-sucedido.
Com
a estagnação do PIB per capita em 2012, é mais fácil distinguir o seu nível da
sua taxa de crescimento. O nível é definido pelo que está aí:
1)
a confiança entre o setor privado e o governo, as instituições, o ambiente
macro e microeconômico e social;
2)
o estoque de mão de obra empregado e a sua utilização; e
3)
o estoque de capital (infraestrutura, máquinas, equipamentos etc.) e a sua
utilização.
A
taxa de crescimento depende da modificação para melhor dessas três
condicionantes, todas sensíveis a manobras inteligentes do governo em 2013. É
isso que o definirá.”
FONTE: escrito por Antonio Delfim Netto, professor
emérito da FEA-USP, ex-ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento. Publicado
no jornal “Valor Econômico” e transcrito no portal de Luis Nassif (http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/delfim-netto-e-o-ativismo-da-politica-economica). [Imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’].
2 comentários:
Pois é Maria Tereza, leia, então, meu comentário...
http://democraciapolitica.blogspot.com.br/2013/01/gigantesca-obra-de-transmissao-de.html
Probus,
Li e achei ótimo. Ver minha resposta ao seu comentário na postagem sobre transmissão de energia na Amazônia.
Maria Tereza
Postar um comentário