“Enquanto os governos lutam para encontrar formas de driblar a persistente crise financeira global, o modelo de desenvolvimento do Brasil oferece um caminho alternativo de recuperação e crescimento, de acordo com alguns economistas e políticos estrangeiros
(Reprodução de matéria publicada em inglês pela agência
internacional de notícias "Inter Press Agency" (IPS- Inter Press Service), no dia
15 de janeiro, com link no final deste texto)
“O Brasil
oferece esperança para nações africanas e europeias, pois mostrou que você pode
obter êxito com a globalização (“succeed at globalisation)”, optando não apenas
pelo crescimento, mas também por melhor distribuição de riqueza”, afirma o
economista do Togo Kako Nubukpo à IPS. O ex-diretor de análise econômica e
pesquisa da “West African Economic and
Monetary Union” (WAEMU, União
Econômica e Monetária dos Países da África Ocidental) esteve em Paris para
participar, durante dois dias, do “Fórum
para o Progresso Social” (Forum for Social Progress) que ocorreu liderado
pelo ex-presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, pela atual presidente,
Dilma Roussef, e pelo presidente da França, François Hollande.
Concentrado em como “optar pelo crescimento” e “sair
da crise”, o fórum também foi um espaço para especialistas progressistas
chamarem a atenção para um novo tipo de administração pública que “coloca as pessoas como prioridade” e garante
a sustentabilidade ambiental.
“O Brasil nos
mostrou que o desafio é ter o máximo de consideração às aspirações das pessoas,
pois com uma liderança esclarecida podemos vencer no processo de
desenvolvimento”, afirmou Nubukpo.
“Hoje, na
África, temos a impressão de que nossos líderes estão mais preocupados com o
Fundo Monetário Internacional e com o Banco Mundial que com nosso próprio povo”.
Nubukpo e outros participantes enaltecerem a
“utilidade” do fórum, mas o próprio Lula disse que estava cansado de encontros
que simplesmente discutiam a crise. Em discurso inflamado, ele convocou os
governantes a encontrar a coragem para adotar soluções “óbvias”, especialmente
com relação à pobreza.
“Se um
governante não pode oferecer democracia, dignidade e esperança ao seu povo,
para que servem os governos?”, ele questionou.
Descrevendo como ele se dedicou aos planos para
tornar o Brasil um ator respeitado no cenário mundial, Lula falou sobre
políticas que foram elogiadas e criticadas (lauded and criticised). Sua
administração instituiu notavelmente o programa “Bolsa Família”, um sistema
nacional de transferência em dinheiro para auxiliar famílias pobres a manter
seus filhos na escola.
O governo também criou o programa ProUni, pelo qual
estudantes de baixa renda (low-income students) recebem bolsas escolares para
frequentar a universidade, com a meta de formar trabalhadores mais capacitados
para o país.
Alguns críticos dizem que as medidas tiveram
consequências não previstas, como famílias que enviam crianças para a escola
apenas para obter o auxílio, mas Lula defendeu as políticas.
“Eu tinha a
convicção de que era necessário fazer algo diferente do que já tinha sido feito
no Brasil”, ele disse no fórum, que foi organizado também pela fundação
francesa “Jean-Jaurès” e pelo “Instituto Lula”, uma organização fundada por
Lula depois que ele saiu da presidência, em 2011.
“Decidimos
pagar a Bolsa Família por agências bancárias, com o uso de cartões magnéticos
que eram entregues às mulheres de cada lar (e não aos homens, que podiam gastar
o dinheiro em cerveja), e isso representou uma revolução para a criação de
contas bancárias para correntistas de baixa renda”, ele acrescentou.
Uma das metas do Instituto Lula é “aproximar o Brasil e a África” e “melhorar a integração do Brasil com a
América Latina”, dois objetivos que o ex-presidente considera que mudarão o
status quo global.
“É necessário
construir novos paradigmas para que possamos discutir problemas de comércio e
não fiquemos presos à visão tradicional, que nos faz recorrer aos Estados
Unidos ou à União Europeia para resolver nossos problemas”, ele defendeu.
De acordo com Lula, se os países industrializados
fizessem mais pela África, eles também poderiam se beneficiar disso no futuro.
“Por que o mundo desenvolvido, que está
enfrentando um problema de consumo, não amplia o financiamento a longo prazo
para países africanos a taxas de juros mais baixas, de forma que eles possam
desenvolver as próprias indústrias e agricultura?”, ele perguntou.
Lula afirmou que o oceano entre a América Latina e
a África deve ser visto como um condutor para o comércio, e não uma barreira
para ele.
O africano Bruno Ondo Mintsa, ativista contra a
pobreza (anti-poverty activist) e presidente da “Association Printemps du Quart-Monde”, contou à IPS que o “milagre
brasileiro” foi uma fonte de motivação para africanos.
Para a África, que tem imensa riqueza natural, mas
continua a ser atingida pela pobreza miserável, o “Brasil mostra que o problema é de democracia, de administração pública
e distribuição de riquezas”, afirma Mintsa. “É um escândalo que um continente rico como a África tenha pessoas
vivendo em tal pobreza”.
Para alguns socialistas europeus, o Brasil é
exemplo de um meio termo entre o que o presidente francês Hollande chamou de “rejeição absoluta à globalização e aceitação
ingênua até de suas consequências (mais) extremas”.
“Embora
estejamos em busca de crescimento, sabemos bem que o tipo de crescimento que
tivemos antes da crise não é mais sustentável”, afirmou Hollande para os
participantes do fórum.
A solução não será encontrada no passado, ele
acrescentou. Em vez disso, “Temos que
criar uma nova era”.
De acordo com Hollande, as prioridades devem ser o
crescimento, empregos para os jovens, transição de energia e luta contra
desigualdades. Ele conhece bem os perigos de ignorar essas áreas fundamentais: o desemprego cresceu na França para 10,3 por
cento no terceiro trimestre deste ano, o índice mais alto em 13 anos, e entre
os jovens essa taxa se aproxima de 25 por cento.
Quando o “Fórum para o Progresso Social” começava,
a “National Conference for the Fight
Against Poverty” do próprio governo francês chegou ao fim com o anúncio de
um ambicioso plano de dois milhões de euros para a recuperação.
Esse plano inclui o aumento de apoios de receita,
extensão da saúde nacional gratuita, criação de lares de emergência e alocação
de fundos para jovens desempregados entre 18 e 25 anos. Alguns políticos da
oposição criticaram o plano como esmola, mas ativistas afirmaram que já era
hora de os pobres receberem verdadeira atenção política.
“A França
pode aprender muito com o Brasil”, ressaltou o médico e professor francês,
Dr. Alain Goguel para a IPS. “Nós
amparamos os bancos com trilhões, mas relançar a economia ajudando o pobre é
uma ideia original. Se ela funciona, deve ser imitada”.
FONTE: matéria
publicada em inglês pela agência internacional de notícias “Inter Press Agency”
(IPS- Inter Press Service), no dia 15 de janeiro. O artigo original, em inglês
pode ser lido no link: www.ipsnews.net/2012/12/brazils-economic-model-offers-ray-of-hope. Postado
pelo portal do PT com apoio do “Instituto Lula” (http://www.pt.org.br/noticias/view/agencia_inter_press_modelo_economico_do_brasil_oferece_um_raio_de_esperanca). [Imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’].
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