quinta-feira, 28 de março de 2013

ÍNTEGRA DA ENTREVISTA MANIPULADA CONCEDIDA POR DILMA NA V CÚPULA DOS BRICS


[OBS deste 'democracia&política': Para melhor compreendermos a razão da manipulação e distorção das palavras da Presidenta Dilma, devemos lembrar que os grandes bancos e especuladores estrangeiros e nacionais (eufemicamente autodenominados "O mercado") querem assustar com a inflação para obterem a elevação da taxas de juros e, assim, ganharem ainda mais. Como a mídia e a oposição demotucana no Brasil sempre foram instrumentos desses interessados, houve a distorção e o "escândalo" que "abalou o mercado"...] 

“A resposta da presidenta Dilma Rousseff sobre o tema inflação, na entrevista concedida ontem, quarta-feira (27), em Durban, na África do Sul, durante a V Cúpula dos BRICS, tem mais de 4.200 caracteres e vai muito além do que foi divulgado [distorcido] pelos noticiosos. Antes das considerações que tiveram maior destaque na imprensa, a presidenta avaliou o cenário econômico, discorreu sobre commodities, produtividade do trabalho, redução de custo de produção (trabalho, energia, tributos) etc.

ENTREVISTA COLETIVA CONCEDIDA PELA PRESIDENTA DA REPÚBLICA, DILMA ROUSSEFF, APÓS DECLARAÇÃO À IMPRENSA - DURBAN/ÁFRICA DO SUL


Durban-África do Sul, 27 de março de 2013


 Presidenta: Mas esse método está ruim, não é? Chamado o “método manual”. Acho que vai ficar aí mesmo, está bom.

Jornalista: (inaudível)

Presidenta: Olha, eu vejo essas duas principais realizações como uma realização do Brasil, porque em Los Cabos nós tivemos uma atuação, no sentido de afirmar a importância tanto do Banco de Desenvolvimento do BRICS como esse “Acordo Contingente de Reserva”. Fazem parte de uma visão de aprofundamento do que são os BRICS. Os BRICS têm de ser um organismo de cooperação multilateral entre nossos cinco países que dê condições e dê suporte, apoio, para que as nossas economias se expandam.

Qual é o grande desafio das economias dos BRICS? É justamente ampliar seu investimento na área de infraestrutura, aí entendido no sentido amplo da palavra, abrangendo não só a logística, que é rodovia, ferrovia, portos, aeroportos etc., mas também energia, tanto energia elétrica quanto petróleo e gás, quanto também o suporte para essa extração de petróleo de gás, estaleiros etc., quanto também interconexão em banda larga.

Essa preocupação, em relação aos países em desenvolvimento, no caso nosso, de emergentes, é fundamental, porque os países desenvolvidos acumularam, ao longo de anos e, alguns deles, de séculos, um estoque de capital que está expresso numa determinada qualidade das rodovias, das ferrovias, está expresso numa quantidade de capital fixo acumulado. Para nós, é absolutamente indispensável, para que nós mantenhamos uma taxa de investimento elevada, esse investimento em infraestrutura, e também para o bem-estar da nossa população.

Então, vejam vocês, todos os países BRICS almejam, têm uma ambição, a do Brasil é se transformar numa nação de classe média. Ora, gente, uma nação de classe média, ela só vai existir se nós conseguirmos um padrão de crescimento e de renda per capita compatível com essa questão. O Brasil, é claro, tem diversidade menor, não é um país de um bilhão de habitantes, nós temos 200 milhões de habitantes, mas estamos entre a 6ª economia, a 7ª a 5ª, estamos por ali. Então, somos um país que tem de fazer esse esforço. O que o Banco dos BRICS é? O Banco de Desenvolvimento dos BRICS é mais um elemento nessa relação, é mais um elemento para expandir a nossa capacidade de ter recursos.

De outro lado, eu acho importantíssimo o “Acordo de Contingente de Reservas” porque nós estamos vendo, no mundo, grande volatilidade, grande flutuação. Nós vimos a crise do “Lehman Brothers” em 2008, nós vimos, recentemente, problema em Chipre, vimos tudo que ocorreu no ano passado com os países europeus.

Tem uma característica dos BRICS, e ela está expressa nessa crise, é que nenhum país BRICS sofreu nenhuma crise, nem bancária, nem financeira. Então, o acordo contingente de reservas de 100 bilhões é muito significativo, porque ele é mais uma contribuição para essa estabilidade das moedas dos cinco países BRICS. Então, essas duas questões, eu acho, são as mais relevantes em termos de medidas. Mas tem algumas iniciativas fantásticas. Eu acho que o “Fórum Empresarial dos BRICS”, eu não sei se vocês tiveram permissão para entrar... É uma pena, porque foi muito interessante. Talvez porque o espaço não era muito grande e estava bem cheio. Mas ele é muito importante porque ele coloca em contato empreendedores de vários continentes e de economias muito pujantes. Então, eu também acredito muito nessa questão do Fórum dos empreendedores, acho que um dos fatores que vai impulsionar o desenvolvimento dos países BRICS é o setor privado. Então, um passo importante é dado quando você articula o setor privado. E o Fórum acadêmico também. Nós estamos muito satisfeitos e vamos pegar essa oportunidade. A segunda reunião dos BRICS vai ser em território brasileiro no ano que vem, entre março e abril do ano que vem. É a segunda reunião dos BRICS, da Cúpula dos BRICS, porque já teve uma no Brasil.

Jornalista: Já tem a cidade?

Presidenta: Não, ainda não tem a cidade. Vamos anunciar, temos um prazo para anunciar.

Jornalista: Presidente, muita gente está preocupada porque diz que há pressões inflacionárias no Brasil e que isso deveria fazer...

Presidenta: Vocês vão fazer perguntas dos BRICS ou do Brasil?

Jornalista: É sobre os BRICS, é porque a senhora está falando muito da questão do crescimento, da importância que os países têm de manter o crescimento. Mas, ao mesmo tempo, o Brasil, que é um dos principais dos países dos BRICS, está se falando muito da necessidade de medidas que reduziriam o emprego, que estaria fazendo pressão inflacionária. O que a senhora acha desse tipo de.medida ?

Presidenta: Eu, geralmente, nas questões específicas sobre inflação eu deixo para ser falada pelo ministro da Fazenda, mas eu vou te adiantar algumas questões. Eu não concordo com políticas de combate à inflação que olhem a questão da redução do crescimento econômico, até porque nós temos uma contraprova dada pela realidade. Nós tivemos um baixo crescimento no ano passado e houve um aumento da inflação porque teve um choque de oferta devido à crise. Um dos fatores era externo. Não tem nada que nós possamos fazer internamente, a não ser expandir a nossa produção, para conter o aumento dos preços das commodities derivado da quebra de safra nos Estados Unidos. Então,... você não escutou isso vindo do governo, nós não achamos que há essa relação desse problema inflacionário que o Brasil teve com esse aumento do pleno emprego. Você vai resolver [a inflação] não é reduzindo o crescimento, [reduzindo] o pleno emprego... O Brasil também tem as suas dificuldades, nós temos uma demanda grande por emprego mais especializado, de maior qualidade, e temos uma sobra de emprego não especializado.

Então, o que nós estamos fazendo, nós estamos fazendo junto com o setor privado, um grande programa de formação profissional. O que vai baixar o custo do trabalho, primeiro, vai ser o aumento da produtividade através da ampliação da capacitação profissional, com o PRONATEC,  com 8 milhões de vagas. Segundo, nós estamos utilizando um método que eu acho que é muito importante, porque todo mundo defendia a redução de impostos no Brasil, todo mundo defendia. Nós estamos desonerando a folha de pagamento, justamente para quê? Para diminuir a pressão sobre o custo do trabalho.

A desoneração da folha de pagamento, vocês devem se lembrar, começou com pouquinhos setores que aderiram. Hoje, todos os setores querem aderir, ou a grande maioria dos setores. Nós já temos em torno de 42, e vai para 44, e já estamos preparando, num determinado horizonte, porque a gente só pode desonerar, pela “Lei de Responsabilidade Fiscal”, quando você tem os recursos para isso. Então, já previmos desoneração para 2015.

Então, tem vários fatores. A redução do custo de energia, ela não foi feita só por uma questão de redução das pressões inflacionárias, foi feita, sobretudo, por uma questão de justiça, por quê? Nós somos um país com grande capacidade hídrica, com uma característica: nós temos velhas senhoras, velhas senhoras que são as grandes usinas hidrelétricas e seus reservatórios. Essas velhas senhoras, elas são velhas. O que significa que elas podem ser velhas? Elas, às vezes, duram mais de 100 anos; nós não sabemos quanto dura uma hidrelétrica, e você consegue pagá-la bem antes do tempo do envelhecimento delas. Elas ainda estão com seus 50 anos, ou seus 25, ou seus 30 anos, e já foram pagas. Então, elas vão durar bastante.

Por que pode reduzir o preço da energia no Brasil? Porque, sobretudo, quando vencem os contratos de concessão, você tem de retribuir o que o povo fez, pagando sua conta de luz, você retribui. Como que você retribui? Diminui o que era antes pago sob a forma de amortização de capital. Então, vários mecanismos foram feitos.

Recentemente, desoneramos a cesta básica. Eu já tive perguntas de vocês dizendo o seguinte: “Ah, mas será que os empresários passaram para o preço?” Nós estamos vendo um progressivo repasse ao preço, principalmente quando rodar os estoques, você vai ter isso de uma forma mais forte. Mas o governo está olhando, está conversando, está persuadindo, porque se todo mundo pede para a gente reduzir tributo, não é correto que alguns fiquem com os ganhos disso. É fundamental que seja repassado para o povo brasileiro no seu conjunto.

Então, eu acredito o seguinte: esse receituário que quer matar o doente em vez de curar a doença, ele é complicado, você entende? Eu, [se adotá-lo,] vou acabar com o crescimento do país. Isso daí [de matar o paciente] está datado; eu acho que é uma política superada. Agora, isso não significa que o governo não está atento e, não só atento, acompanha diuturnamente essa questão da inflação. Nós não achamos que a inflação está fora de controle. Pelo contrário, achamos que ela está controlada e o que há são alterações e flutuações conjunturais. Mas nós estaremos sempre atentos.

Agora, por favor, por favor, vamos falar aqui...

Jornalista: O encontro com o Xi Jinping, qual a expectativa da senhora?

Presidenta: Olha, eu tenho uma ótima expectativa de encontro com o Xi Jinping. Neste período [da Cúpula], eu já falei com ele várias vezes. Até porque, em alguns momentos, demora alguma reunião, e eu fiquei muito tempo conversando com ele. Inclusive, ele me disse uma coisa interessante: ele conhece a Amazônia. Porque ele esteve no Brasil – nós fizemos a conta – em 2009, inclusive ele ia ser recebido pelo José Alencar, mas o José Alencar teve a segunda operação, e ele visitou, então, a Amazônia – ele teve reunião com o governo e visitou a Amazônia – e ficou muito impressionado. Porque a qualquer um de nós impressiona. Obviamente, um chinês também se impressiona com aquela quantidade de floresta e de água.

Mas eu tenho uma ótima perspectiva. Não posso antecipar porque seria um exercício de bola de cristal. Eu até pediria, se vocês me perguntarem isso, para vocês me darem a bola de cristal, e aí eu faço a consulta aqui, ao vivo e a cores.

Jornalista: Mas investimento em infraestrutura é uma prioridade (...)?

Presidenta: De todos nós. O grande tema deste encontro é o investimento em infraestrutura. Inclusive, é uma questão que eu vou discutir com eles. Eu posso dizer que eu vou discutir isso porque nós já fizemos algumas tratativas. Primeiro, a gente ia fazer uma exposição do nosso programa lá na China, mas eles estavam querendo vir no Brasil. Em definitivo, vou acertar se nós vamos ou eles vêm. É por agora essa reunião. Esse é o tema central do encontro.

Jornalista: Porque o Brasil cresceu menos que os outros países do BRICS?

Presidenta: Olha, o Brasil teve de fazer seu ajuste. Nós, este ano, estamos meio na contracorrente. Se você for olhar o desempenho das economias, o que você vai ver? Você vai ver que começou [2012 com] um decréscimo. No final, agora, no final de 2012, nós começamos a levantar.

Então, os ritmos não são sempre sincronizados. Eu acredito que nós vamos ter uma situação, este ano, um pouco diferente. Tirando a China, porque a China, se você for ver, ela caiu de um patamar muito alto. 7,5 % para a China não é um... ou seja, não é um crescimento muito alto, não é?

Jornalista: (inaudível)

Presidenta: É, mas somos diferentes. Eles têm 1 bilhão e 300 milhões [de habitantes] e eu tenho [o Brasil], graças a Deus, 200 milhões. Obrigada.”

Veja a integra da entrevista (14min19s) da Presidenta Dilma:


FONTE: Blog do Planalto (http://blog.planalto.gov.br/veja-a-integra-da-entrevista-coletiva-concedida-por-dilma-na-v-cupula-dos-brics/). [Trechos entre colchetes adicionados por este ‘democracia&política’].

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