Por Eduardo Guimarães
“Nos anos 1990, o governo Fernando
Henrique Cardoso vendeu por cerca de cem bilhões de dólares um portfólio de
patrimônio público que, à época, valia, no mínimo, o triplo. Para que se possa
mensurar o tamanho do roubo de patrimônio, a mineradora então chamada Vale do
Rio Doce foi vendida a estrangeiros por cerca de um ano de faturamento.
Esse processo de entrega do
patrimônio público a grupos econômicos estrangeiros a preço vil ficou conhecido
como “A Privataria Tucana” e virou um livro que relata o rápido enriquecimento
do condutor das privatizações, o tucano José Serra.
O resultado da “Privataria Tucana”
foi tão desastroso para o país que a maioria dos brasileiros (62%) acabou
rejeitando a privatização de serviços públicos, segundo apontou pesquisa realizada pelo jornal O Estado
de São Paulo em
parceria com o instituto IPSOS.
Segundo a pesquisa, apenas 25% dos
brasileiros aprovam as privatizações da era FHC. A percepção é a de que elas
pioraram os serviços prestados à população nos setores de telefonia, estradas,
energia elétrica, água e esgoto. As mais altas taxas de rejeição (73%) estão no
segmento de nível superior e nas classes A e B.
No início do processo, em dezembro
de 1994 (ano em que FHC se elegeu
presidente pela primeira vez), pesquisa IBOPE sobre privatização mostrou
que 57% eram a favor e só 31% eram contrários. Em março de 1995, outra pesquisa
IBOPE atestou que 43% dos brasileiros eram a favor das privatizações e 34% eram
contrários.
A mudança de opinião dos brasileiros
sobre as privatizações ocorreu a partir da década passada, lá pelo fim do
governo FHC (2002), quando o resultado da venda a qualquer preço do patrimônio
público se mostrou um desastre.
Hoje, graças aos contratos que o
ex-presidente tucano assinou, temos, por exemplo, a telefonia e a energia
elétrica entre as mais caras do mundo.
Desde a eleição presidencial de 2002
(que escolheu o sucessor de FHC), o
PSDB já foi derrotado três vezes e tais derrotas tiveram íntima relação com o
que ficou conhecido como “Privataria Tucana”, que até hoje inferniza o país com
os maus negócios que os tucanos fizeram ao venderem patrimônio público a
qualquer preço e de forma açodada nos anos 1990 sob a alegação de que os
recursos oriundos daquelas vendas nos dariam educação, saúde etc. de “Primeiro
Mundo”.
Além de isso não ter ocorrido, o
dinheiro da “Privataria Tucana” virou pó, pois até hoje ninguém sabe onde foi
parar apesar de existir muita suspeita (inclusive documentada) sobre seu
destino.
Corte para o presente. Em recente
ato político organizado pelo PSDB para criticar a gestão da Petrobras nos
governos petistas que sucederam os de seu partido, o senador Aécio Neves
(PSDB-MG) defendeu mudanças no modelo adotado para explorar as reservas de
petróleo do pré-sal que foi estabelecido pelo governo Lula e continuado pelo
governo Dilma Rousseff.
Aécio quer a volta do modelo de
exploração do governo FHC, que afirma ser “muito mais eficiente”.
Em 1997, os tucanos acabaram como o
monopólio brasileiro na exploração de campos de petróleo, venderam grande parte
da Petrobrás e adotaram o regime de concessão para a exploração, obrigando a
empresa brasileira a competir com grupos estrangeiros para ter acesso a novas
reservas.
Após o governo Lula investir e
recuperar a Petrobrás, que durante o governo FHC perdeu muito valor por conta
do modelo de concessão e pela perda do monopólio, em 2006 a empresa anunciou
que descobrira uma reserva gigantesca no mar territorial sudeste do Brasil.
Apenas com a descoberta dos três
primeiros campos do pré-sal – Tupi, Iara
e Parque das Baleias –, as reservas brasileiras comprovadas, que eram de 14
bilhões de barris, aumentaram para 33 bilhões de barris. Além disso, as
reservas possíveis e prováveis seriam de 50 a 100 bilhões de barris, o que deve
fazer do Brasil um dos maiores produtores de petróleo do mundo, com todas as
condições de integrar a OPEP, se quiser.
Em 2010, o ex-presidente Lula propôs
um novo modelo para ampliar o controle brasileiro sobre o pré-sal. O novo
regime foi chamado de “partilha” porque permite que o governo fique com a maior
parte dos lucros obtidos com o petróleo e torna obrigatória a participação da
Petrobras na exploração de todos os campos.
Devido ao gigantismo da descoberta
da “nova” Petrobrás, agora fortalecida por Lula, foi criada a empresa “Pré-Sal
Petróleo S.A”. (PPSA), a fim de gerir os contratos de partilha de produção
celebrados pelo Ministério de Minas e Energia e a gestão dos contratos para a
comercialização de petróleo.
O regime de partilha na exploração
dessa riqueza imensa, que os investimentos da década passada permitiram que a
Petrobrás localizasse sob o leito do mar em águas profundas, é impositivo, pois
além de o Estado – e, portanto, o povo
brasileiro – ficar com quase todo o lucro advindo da exploração, nesse
regime é possível dosar a extração da riqueza.
O regime de concessão foi implantado
pelo governo FHC porque a Petrobrás não recebia investimentos, estava exposta à
concorrência predatória das megaempresas petrolíferas estrangeiras e, assim,
não tinha como prospectar novas reservas de petróleo.
Assim, áreas que a empresa
brasileira acreditava ser produtivas eram entregues à iniciativa privada sob
regime de concessão, ou seja, quem explorava era dono do petróleo encontrado,
se fosse encontrado, e ficava com quase todo o lucro, pagando apenas um
percentual ao país e levando o resto embora.
Em 2009, agora com as megareservas
de petróleo confirmadas, não havia sentido em entregá-las a empresas
estrangeiras e privadas sob regime de concessão porque não havia risco de
perfurarem e não encontrarem nada.
Com as reservas do pré-sal
confirmadas, seria um crime entregá-las a empresas privadas, a maioria
estrangeiras, que só teriam que ir lá, perfurar e extrair o petróleo sem correr
risco de gastar dinheiro com a prospecção e não encontrar nada.
A argumentação do PSDB e, mais
especificamente, de seu provável candidato a presidente na eleição do ano que
vem é a de que “Nenhum leilão para a
exploração do pré-sal foi realizado desde a mudança das regras, e nos últimos
anos surgiram dúvidas sobre a capacidade da Petrobras de financiar os
investimentos exigidos pelo novo regime.”
Vale um parênteses: o primeiro leilão do pré-sal está marcado
para novembro deste ano.
Retomando. O tucano ainda afirma que
“A partilha estagnou a produção,
afugentou investidores e descapitalizou a empresa” e que “O que parecia ser um bom negócio hoje é um
ônus para a Petrobras.”
Aécio ainda defendeu o fim da
obrigatoriedade da participação da Petrobras nos futuros campos. “Descapitalizada, a Petrobras vai ter de
buscar dinheiro no mercado com juros cada vez maiores”, afirmou.
Não existe o menor sentido nessas
premissas. Descapitalizada a empresa brasileira estava quando o PSDB governou.
A Petrobrás é uma das empresas mais
capitalizadas do planeta. Ano passado, por conta da paralisação de algumas
plataformas marítimas de exploração a fim de passarem por manutenção, seu lucro
caiu de cerca de 30 bilhões de reais para cerca de 20 bilhões – no último ano do governo FHC, o lucro da
empresa foi de 7 bilhões.
A premissa de que a Petrobrás terá
que ir buscar recursos no mercado internacional a juros altos é uma falácia.
Mesmo que tenha que recorrer ao mercado internacional, as empresas brasileiras
têm acesso hoje aos financiamentos internacionais mais baratos do mundo, mais
até do que países ricos como a Itália, pois o conceito do Brasil pelas agências
de classificação de risco é o de “investment grade”, ou “grau de investimento”.
Além disso, só faria sentido buscar
uma rápida exploração do pré-sal se houvesse risco de evaporar o petróleo que o
Brasil tem sob seu mar territorial. O regime de partilha determinado pelo
governo Lula, aliás, pretende justamente controlar o ritmo da exploração para
que não seja muito rápido, ou predatório.
As grandes petrolíferas estrangeiras
estão salivando pelo pré-sal brasileiro. Não foi por outra razão que se
reuniram com José Serra durante a campanha eleitoral de 2010, quando ele lhes
prometeu que, se fosse eleito, reverteria a política nacionalista do governo
Lula.
Em verdade, a eleição de um tucano
para entregar o pré-sal faz salivar até o grande empresariado brasileiro, que,
como o estrangeiro, também está de olho nos grandes negócios com altíssima
rentabilidade que a exploração predatória daquelas reservas propiciaria.
Aliás, os setores da imprensa
alinhados com o PSDB já falam até em privatizar a Petrobrás – e não só ela – de uma vez, sem mais
delongas. Artigo do comentarista de economia de “O Globo” Carlos Alberto
Sardemberg, publicado na semana que findou, prega exatamente isso. Abaixo, um
trecho do texto:
—–
“Não é por nada, não,
mas se a gente pensar seriamente na história recente da Petrobras, sem paixões
e sem provocações, vai acabar caindo na hipótese maldita, a privatização. (…) Não há como garantir uma gestão
eficiente das estatais — e sem falar de corrupção. Logo…”
—–
Ao longo do texto, Sardemberg se
desmancha em elogios à política do PSDB que fez a Petrobrás chegar ao último
ano do governo FHC com receita de 60 bilhões de reais contra os 280 bilhões de
2012. É um dos analistas econômicos da grande mídia mais identificados com as
teorias do PSDB.
A gestão da Petrobrás pelo PSDB foi
um desastre. Sem investimentos do Estado e exposta à concorrência predatória
das petrolíferas gigantes internacionais, a empresa começou a sofrer com
desastres como o naufrágio da plataforma P36, que custou 700 milhões de reais
ao país.
A P-36 foi a maior plataforma de
produção de petróleo no mundo antes de seu afundamento em março de 2001. A
plataforma custou 350 milhões de dólares ao país. Além da perda financeira, 11
pessoas morreram em um desastre causado, exclusivamente, por falta da
manutenção (como a que a Petrobrás fez no ano passado em suas plataformas e que
reduziu seu lucro).
No total, os desastres em campos de
exploração da Petrobrás durante o governo FHC, causados pela forte
descapitalização da empresa que os tucanos lhe impuseram, geraram prejuízos ao
país da ordem de 1,5 bilhão de reais.
Ano que vem, o Brasil correrá de
novo o risco de ver essa praga de gafanhotos chamada PSDB ter chance de retomar
o Poder a fim de saquear o país de novo. E depois acusam este blogueiro [Eduardo
Guimarães] de ser “muito governista”. Enquanto esses piratas ameaçarem o país
com sua eleição, todo cidadão consciente tem que ser “muito governista”, a fim
de impedir a “Privataria Tucana II”.
FONTE:
escrito por Eduardo Guimarães em seu blog “Cidadania” (http://www.blogdacidadania.com.br/2013/03/privataria-tucana-ressuscita-e-quer-entregar-o-pre-sal/).
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