Muros
e mais muros vão “garantindo” o afastamento dos palestinos de suas terras impune
e continuamente invadidas e ocupadas por Israel
O
QUE HAVERÁ, AFINAL, QUE VALHA A PENA VER?
Por Robert Fisk, no jornal inglês “The
Independent
Robert Fisk
“Será
o quê? Tragédia, farsa ou turismo? Obama é turista, diz o Davy Crockett da
vanguarda do jornalismo norte-americano e rei-filósofo do ‘New York Times’
(codinome T. Friedman, Esq.). Mas, não, Friedman errou. O vencedor do ‘Prêmio
Nobel de Belos Discursos’ terá de ser, no mínimo, um superturista – com 10 mil
guias turísticos israelenses e norte-americanos armados a cercá-lo, só em
Jerusalém. O caso é que, Sr. Presidente... há o muro. Não. É ‘O Muro’. Falo
daquela paliçada otomana de cada lado da Porta de Damasco.
Muros gigantescos protegem as terras roubadas
Mas,
claro: se realmente chegar à Gruta da Manjedoura, Obama não terá como não ver –
será que fechará os olhos? Nem uma
espiadinha? – o muro real (codinome:
barreira/cerca de segurança). É verdade: Berlusconi declarou que não viu.
Mas até Mussolini perceberia, pelo menos o gigantismo fascista daquele muro. É.
As coisas são o que são. O presidente excepcional deve “engajar” o público
jovem. Por sobre as cabeças dos donos do mundo, levará “A Palavra” aos
jovens. O caso é que os jovens, da variedade israelense e palestina, não dão
sinal de confiar muito naquela conversa.
Barack Obama em Israel
Mas
Obama dá dó. Que outro estadista, antes de viajar a Israel, reuniria grupo
seleto de líderes da comunidade judaica dos EUA e prometeria – de fato, insistiria, ansioso por convencer –
que não tomaria iniciativa alguma, que não se preocupassem?
Todos
lembramos a ‘Humilhação de Santo Barack’. Quando falou das fronteiras de 1967
na Casa Branca, e Netanyahu interrompeu-o e lhe disse que não, não. Que
esquecesse. E Obama lá ficou, sentado, miserabilente [1], parecendo um trapo vivo, triturado
pela Britadeira Benjamin. Fim de papo, então, sobre fronteiras de 1967 e
Resolução 242 do Conselho de Segurança da ONU. Mas, afinal... Obama ouve os
conselhos do conselheiro que se revelou o maior fiasco da política externa dos
EUA desde Joseph Kennedy: o muito
aclamado zero à esquerda, inutilidade além de qualquer esperança, Dennis Ross.
Teremos
de tolerar os clichês de sempre, é claro, tanto de Santo Barack como dos sapos
do brejo da imprensa. Esse infame processo de paz tem de ser posto “de volta nos trilhos”, ou talvez ouçamos
falar do “mapa do caminho” – o qual,
parece, jamais é posto “de volta nos
trilhos”, porque trem não anda em tapetes vermelhos de pistas de
aeroportos. E não esqueçam o Irã, sobre o qual nosso herói dirá a todos os
israelenses que vir que “todas as opções
estão sobre a mesa”. E por que, santo deus, “sobre a mesa”?! É claro que as opções estão em ‘bunkers’,
talvez, até, nos não mencionáveis, indizíveis silos nos quais a Britadeira
Benjamin mantém trancados seus mais de 250 mísseis nucleares. Mas, aí, alguém
nos lembrará de todos os Macbeths salpicados pela região. Não o degolador de
Riad, é claro, porque, esse, é amigo da gente, mas, com certeza o doido de
Teerã; ou Mursi, aquela coruja; ou o outro, no palácio presidencial em Damasco;
e mais aquele bando de salafistas Calibãs –
ou serão Talibãs? – na espreita para destruírem a civilização ocidental (da qual Israel faz parte, ou já não faz?).
Oh
yes, vai ser briga de foice no escuro, se Obama não
prestar atenção. Os israelenses esconderam os palestinos bem longe, atrás de “O
Muro”; e o único líder palestino histórico (esqueçam
Abbas) que Obama verá será o velho Grande Mufti, sentado ao lado de Hitler
numa fotografia no memorial do Holocausto, como se al-Husseini tivesse
contagiado, com nazismo, todos os palestinos, para sempre.
E
Blair? Será que dará as caras? Deus nos proteja de Blair! Já corre sangue de
Cristo demais no Oriente Médio, sem aquele Dr. Fausto por lá! E fica-se a
conjecturar se alguém se atreverá a dizer que ali vivem palestinos, sob
ocupação de israelenses incondicionalmente apoiados por Santo Barack e seus
escudeiros. Mas talvez ele cite o “processo
de paz”, talvez tente. O “redeslocamento”
da política externa dos EUA. É. Como o “redeslocamento” de
Napoleão, fugindo de Moscou; ou como o “redeslocamento”
dos britânicos, de Dunquerque. Fica-se com pena dos palestinos. E dos
israelenses.”
NOTA
DOS TRADUTORES
[1]
“Orig. [e Obama lá ficou, sentado], as mimsy as
a borogrove. São duas palavras inventadas por Lewis Carroll, que aparecem
em “Alice através do espelho”, tão intraduzíveis que sempre se pode
inventar mais uma tradução. Por exemplo, “Jabberwocky”, outra das palavras
inventadas por Carrol, para designar um monstro esquisitíssimo, foi traduzida,
por Augusto de Campos, ao português, como “Jaguadarte”. Campos explicou sua
tradução: “o jaguadarte é mistura de
“jaguar” e “espadarte” com “arte”. Gostei, porque ficou com certo ar de
monstro brasileiro”.
Sem
o talento de poeta de Campos, fizemos o que pudemos. Se mimsy, como
explica Carrol, é combinação de miserable e flimsy [“miserável” e “transparente”],
inventamos “miserabilente”.
O borogove aparece
definido por Humpty Dumpty como “um pássaro magro e caído, com penas
espetadas para todos os lados – parecido com um trapo vivo”. Usamos, para borogove
a segunda parte da definição de Humpty Dumpty, visualmente muito eloquente.
FONTE: escrito por Robert Fisk, no jornal inglês “The Independent”, sob o título original “World
Focus: The eyes of the world are trained on Israel. But will there be anything
to see?”. Publicado no blog “Redecastorphoto”, traduzido pelo “pessoal da Vila Vudu” (http://redecastorphoto.blogspot.com.br/2013/03/robert-fisk-os-olhos-do-mundo-sao.html). [Imagens
do Google adicionadas por este blog ‘democracia&política’].
Nenhum comentário:
Postar um comentário