Robert Parry
Escrito por Robert Parry,
no “Consortium News”, sob o título original “The WPost’s Unbridled Arrogance”. Postado no “Redecastorphoto” traduzido
e comentado pelo “pessoal da Vila Vudu”
A DESAVERGONHADA ARROGÂNCIA DO “WASHINGTON POST” (digo: do “O Estado de S.Paulo”, p. ex.)
“Talvez mais que qualquer outra empresa jornalística, o ‘Washington
Post’ empurrou os EUA para a invasão ilegal do Iraque. Mas um editorial do ‘Post’,
que registrou, antecipado, o décimo aniversário da guerra, não admite qualquer
erro, nem lição a aprender . Escreve Robert Parry.
[Nota dos
tradutores: No Brasil, nem se pode(ria) dizer que só o 'Estadão' viva de tentar arrastar o
Brasil para trás, de volta às velhas neocatástrofes neoliberais tucanas (no
plano interno) e reacionárias norte-americanófilas (no plano internacional):
aqui, todas as empresas da imprensa-empresa (o chamado “jornalismo” [só rindo])
vivem de papagaiar agências noticiosas norte-americanas comerciais, nenhuma das
quais jamais fez outra coisa além de propaganda pró-EUA (o que equivale a dizer
“propaganda pró Israel e pró guerras e mais guerras). No Brasil, o problema é,
mesmo, todo o Grupo GAFE (Globo-Abril-FSP-Estadão).
Mas deve-se
registrar que, nos EUA, já se leem críticas de críticos consistentes, que já
não se satisfazem – como ainda se vê no Brasil – com vagos comentários
acadêmicos autoproclamados “críticos” sobre um vago conceito de “jornalismo”,
do qual se servem tanto “jornalistas” como “críticos” academizados e
professores do mesmo vago “jornalismo” e profissionais da mesma vaga “crítica”,
sempre conservadora.
(O lixo crítico produzido pelo ‘Observatório da Imprensa’ – especialistas
em observar o NADA – é exemplo típico [Nota da redecastorphoto])
Nos EUA, já
se leem comentários legitimamente críticos – críticos para transformar – que
começam a declarar que é mais que hora de demitir uma dúzia e meia de
propagandistas fascistizantes autodeclarados jornalistas. É excelente ideia! Só
assim se pode pensar em começar a implantar alguma ordem democrática, no
galinheiro das empresas comerciais do jornalismo [só rindo] brasileiro, as
quais, afinal, vivem de VENDER
notícias podres a consumidores, os quais, no Brasil, são necessariamente
ELEITORES.
De fato, se
se considera a crescente importância do Brasil no cenário internacional, é mais que hora de as empresas jornalísticas
brasileiras entenderem que não conseguirão continuar a ser, para sempre, o que
sempre foram, por aqui: organizações comerciais reacionárias, paroquiais,
sempre burramente conservadoras, veículo, só, de “saberes arrogantes”, que
escrevem e falam só para uma meia dúzia de eleitores udenistas já sem votos e
sem partido e sem candidato (chega a ser CÔMICO!) – um erro de concepção
empresarial que, bem feitas as contas, pode explicar os números DESPENCANTES de
leitores consumidores de jornais e de revistas vejas, no Brasil.
A quem,
diabos, interessaria a opinião de algum williamwaack, de alguma cantanhêde, de
alguma loprete, de algum augustonunes?! Por que alguém se interessaria por esse
tipo de opinião, que, afinal, é sempre a mesma, igualzinha em diferentes caras
e bocas?! Por que algum consumidor se interessaria por pagar por ISSO?!
O Brasil
está rico e maduro para ver surgir uma (UMA – e seria dona do mercado!) empresa
de jornalismo de boa qualidade. Não é preciso ser chinês, nem leninista, para
ver.
Qualquer marketeiro, qualquer mercadólogo,
qualquer crítico, qualquer professor de jornalismo, qualquer jornalista que não
tivesse alma reacionária e conservadora, já teria percebido isso.]
Quatro
dias antes do décimo aniversário da Guerra do Iraque, o “Washington Post”
publicou editorial sobre a desastrada opção pela guerra, conflito que os
editores neoconservadores do “Post” promoveram com mentiras e
distorções, tanto antes da invasão quanto por anos a fio, dali em diante.
Contudo,
se alguém pensou que leria ali alguma confissão de culpa, pela longa litania de
erros e vícios que o jornal difundiu, ou alguma espécie de pedido de desculpas
aos que se opunham àquela guerra e foram diariamente demonizados nos editoriais
e colunas do “Post”, só encontrou desapontamento. Nem qualquer mínima
referência aos cerca de 4.500 soldados norte-americanos mortos, nem às centenas
de milhares de iraquianos massacrados.
Além
de dispensável reconhecimento de que o 10º aniversário daquela guerra “gerou muitos comentários sobre lições”,
os editores do “Post” nada disseram sobre o quê, no mínimo, eles mesmos
talvez tivessem aprendido. Em vez disso, mantiveram o tom de jornalismo de
propaganda e promoção do próprio jornalismo fracassante, “noticiando” um
pressuposto sucesso da invasão.
“Pela
primeira vez em décadas, o Iraque contemporâneo não representa qualquer ameaça
aos seus vizinhos” – “noticia” o “Post”.
Pois
também isso é só mentira, em dois fronts.
Primeiro, que o Iraque de Saddam Hussein já não
representava qualquer ameaça aos seus vizinhos desde a Guerra do Golfo de
1990-91, a menos que os editores do “Post” estivessem tendo um surto de
lembranças dos dias de glória de 2002-03, quando o jornal vivia de disseminar
as mentiras do ex-presidente George W. Bush sobre armas de destruição em massa.
Será que o “Post” ainda acredita nesses delírios?
Segundo, que o Iraque de hoje, em governo do
Primeiro-Ministro Nouri al-Maliki, tornou-se, sim, ameaça aos países vizinhos,
porque extremistas sunitas aliados à al-Qaeda, do oeste do Iraque, já
atravessaram a fronteira para a Síria, onde assumiram posição destacada na
violenta oposição ao governo do presidente Bashar al-Assad.
Mas
os editores do “Post”, querem que os leitores acreditem que a expedição
dos tresloucados neoconservadores à Bush ao Iraque teria sido imensíssimo
sucesso... até que o presidente Obama apareceu e estragou tudo... porque não
insistiu em manter a ocupação militar norte-americana no Iraque.
“A influência do Irã sobre o governo de
Maliki aumenta dia a dia, graças, em parte, ao fracasso do governo Obama que
não conseguiu qualquer acordo com Bagdá, para que uma força norte-americana lá
permanecesse” – escreveu o “Post”, tentando fazer crer que alguma
petulância, no governo Obama, teria impedido a continuada presença militar dos
EUA no Iraque, e tentando fazer não ver que o governo de Maliki impôs aos EUA
um “Acordo do Estado das Forças” inaceitável.
INFLUÊNCIA
PERDIDA
Na
fantasia que o “Post” divulga como se fosse notícia, contudo, esse
fracasso, que teria impedido que se mantivessem dezenas de milhares de soldados
dos EUA no Iraque, teria levado a terríveis consequências:
“Segundo
funcionários do governo dos EUA, o Iraque está permitindo que o Irã envie armas
para o regime sírio de Bashar al-Assad. Repetidos apelos de Washington, para
conter esse contrabando, não são ouvidos.”
A
verdade, como qualquer observador realista já teria notado, é que a fúria
sanguinária dos neoconservadores de Bush, que mal podiam esperar para entrar em
guerra e depor o regime de Hussein e dos sunitas, é que fez aumentar, como
faria sempre, inevitavelmente, a influência do Irã sobre o regime xiita que os
EUA impuseram no Iraque. Responsáveis por isso são os neoconservadores à Bush.
Pois o “Post” não faz outra coisa além de “noticiar” que a culpa seria
de Obama e só de Obama.
O
editorial do “Post”, então, retoma sua ininterrupta campanha para
pressionar o governo Obama na direção de mais uma guerra, desta vez contra a
Síria –e acusa o presidente de ser
“mole”, pouco viril:
“A
guerra civil na Síria, e a passividade da resposta do governo Obama a ela,
reforçaram essas tendências negativas. Maliki teme que a queda do governo de
Assad leve a um governo de sunitas, que apoiaria a insurreição sunita em parte
do Iraque. (...) Como outros líderes em todo o Oriente Médio, Maliki percebe
que os EUA não dão sinais de interesse em defender os próprios interesses na
região, seja atacando para conter o banho de sangue na Síria, seja atacando
para conter as intervenções do Irã. O risco de tumulto ainda maior, ou, mesmo,
de nova guerra civil no Iraque, é um dos fatores que obrigam os EUA a
empreender ação mais agressiva para pôr fim à guerra na Síria.”
O
“Post”, então, resume a causa a favor da qual trabalha, e sugere que
Obama teria traído a grande vitória que os neoconservadores, como o “Post”
delira, teriam obtido no Iraque:
“O
presidente Obama várias vezes deu a impressão de ter virado as costas ao Iraque,
e muitos norte-americanos, compreensivelmente, simpatizam com ele. Mas um
fracasso no envolvimento com a frágil situação que os soldados dos EUA deixaram
para trás põe sob grave risco interesses dos EUA e traem os muitos
norte-americanos que morreram para defendê-los”.
Chama
particularmente a atenção, no editorial do “Post“ – o qual, curiosamente
apareceu quatro dias antes do 10º aniversário da Guerra do Iraque – é que o
principal jornal da capital dos EUA ainda vive sob num delirante mundo de fantasias
neoconservadoras ou, no mínimo, recusa-se a ver realidades chaves do Oriente
Médio.
Na
Neoliberalândia, o grande erro dos EUA não foi ter suposto que obrigariam os
iraquianos a aceitar ocupação militar norte-americana eterna. O grande erro
teria sido Obama não aceitar o “convite” de Israel para bombardear o Irã e
enfiar-se, até o pescoço, em outro sorvedouro de sangue, na Síria. Os EUA, para
os jornais da Neoliberalândia, teriam de dar prosseguimento ao grande projeto
dos neoliberais neoconservadores para “mudanças de regime”, várias, em todo o
Oriente Médio.
O
editorial do “Post”, intitulado “Iraq, 10 years later, is less
threatening but riven by turmoil”, não
faz qualquer autorreflexão sobre os inúmeros erros factuais que o jornal
difundiu sobre as inexistentes armas de destruição em massa; não se veem pedido
de desculpas por ter enganado os leitores e por ter induzido a erro tanta
gente; nem qualquer reconhecimento do fato de que o jornal foi cúmplice de uma
invasão criminosa. Os editores do jornal não dão qualquer sinal de ter
aprendido coisa alguma, da tragédia para a qual tanto contribuíram para
empurrar os EUA, há dez anos.
A
incompetência e a incapacidade para escrever, pelo menos, que fosse, um
necessário mea culpa são incômodas e perturbadoras, por elas mesmas. De
fato, se o “Post” ainda fosse organização jornalística séria,
comprometida com os princípios do jornalismo comercial sério, já teria, pelo
menos, promovido um remodelação na equipe de editores. E não conservaria lá
aqueles mesmos profissionais que tanta vergonha atraíram sobre a empresa, ao
errar tão completamente no caso da Guerra do Iraque.
Fred
Hiatt
De
fato, é pior que isso: os editores do “Post” insistem em pontificar com
a mesma arrogância, contra fatos sobejamente conhecidos, não conseguem ver
sequer os próprios erros, bem conhecidos, já, de tantos leitores, são
impermeáveis – mais que muitos leitores – à própria incompetência e à própria
imoralidade.
Nesse sentido é que se pode dizer que o “Washington Post” já se
converteu em ameaça muito real aos EUA e ao mundo. [Para mais detalhes, ver “Why
WPost’s Hiatt Should be Fired” [Porque Hiatt, editor do ‘Post’, deve ser demitido].”
FONTE: escrito por Robert Parry,
no “Consortium News”, sob o título original “The WPost’s Unbridled Arrogance”.
Postado no “Redecastorphoto” traduzido e comentado pelo “pessoal da Vila Vudu”
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